3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2010: Gostosa comédia de Steven Soderbergh, com uma atuação brilhante de Matt Damon. Não é uma comédia daquelas em que o espectador dá gargalhadas; a comicidade é sutil, leve. A história é tão absolutamente doida que o espectador pode levar um tempinho para entender o espírito da coisa.
Bem – confesso que comigo aconteceu isso.
É uma daquelas histórias tão absurdas, tão malucas, que a gente pode achar que é invenção de um roteirista criativo demais sob o efeito de um alucinógeno danado de potente – só que se baseia em fatos reais.
Um letreiro nos avisa isso de cara – o filme se baseia em uma história real, embora alguns personagens e situações tenham sido modificados.
Matt Damon – que já havia trabalhado com o diretor Soderbergh na trilogia iniciada com a refilmagem de 11 Homens e um Segredo – faz o papel de Mark Whitacre, um especialista em biotecnologia que tem um alto cargo numa empresa chamada ADM, de tecnologia de alimentos, numa pequena cidade de Illinois. Seu cargo o faz viajar constantemente a países da Europa e ao Japão, para contatos com outras empresas da área, como a Ajinomoto.
A ADM está tendo sérios problemas exatamente na área em que Mark é especialista, um subproduto do milho. Ele diz a seus superiores que está em contato com um técnico japonês seu conhecido, que garante que a Ajinomoto botou um homem de sua confiança para trabalhar na ADM e colocar no material da empresa um vírus que atrapalha a produção. Por US$ 10 milhões, o tal técnico japonês – diz Mark – poderá revelar a identidade do espião industrial e ao mesmo tempo fornecer um antídoto contra o vírus.
Os superiores de Mark decidem chamar o FBI – se estão sendo vítimas de espionagem industrial de um concorrente estrangeiro, que o FBI os ajude. Um agente do FBI da pequena cidade, Brian Shepard (Scott Bakula), entra na história, e quer botar escuta no telefone da casa de Mark, para gravar as conversas dele com o tal japonês.
Daí a pouco Mark estará se oferecendo ao FBI para ser informante deles a respeito de graves crimes cometidos pelos diretores da empresa em que trabalha – que incluem pagamento de propina e conspiração para o estabelecimento de preços com as companhias estrangeiras competidoras, ou seja, formação de cartel.
E tudo isso é apenas o comecinho da história, a tal ponta do iceberg. O que virá depois parece de fato peça da ficção mais maluca que se possa imaginar.
Afinal de contas, o que há de verdade nas histórias de Mark? É tudo mentira, invenção? Ou parte é verdade, e parte é invenção de uma mente extremamente criativa? Por que ele faz o que faz? O espectador leva um tempinho até ter os dados para responder a essas questões.
Soderbergh bem que tentou ajudar o espectador ao botar o ponto de exclamação no título original – The Informant! Os distribuidores brasileiros foram ainda além, mantendo a exclamação e acrescentando o Des.
Essa situação absurda, literalmente doida – e no entanto baseada em fatos reais – me fez lembrar de dois outros filmes: O Vigarista do Ano/The Hoax, de Lasse Hallström, de 2006, e Agarre-me Se Puder/Catch me if You Can, de Steven Spielberg, de 2002. O Vigarista do Ano conta a história real de Clifford Irving, o jornalista (interpretado por Richard Gere) que inventou uma biografia autorizada do milionário excêntrico e totalmente avesso a contatos com jornalistas – e conseguiu convencer uma grande editora de Nova York que aquele monte de mentira era autêntico. Agarre-me Se Puder conta história real de um dos maiores falsários da história dos Estados Unidos, interpretado por Leonardo DiCaprio.
São, essas três histórias, mais fantásticas, inacreditáveis, inverossímeis que qualquer ficção – e no entanto aconteceram!
A trilha sonora vai realçando o humor sutil
Numa comédia de humor extremamente sutil, intelectual, sem qualquer piada óbvia ou escrachada, o que mais dá o tom cômico – especialmente na primeira metade do filme, quando o espectador ainda não tem elementos para saber exatamente o que está acontecendo – é a música criada por Marvin Hamlisch. É uma delícia: ela vai pontuando a narrativa, e realçando o nonsense, o absurdo das situações.
Outra bela sacada do roteirista Scott Z. Burns e do diretor Soderbergh foi colocar o próprio Mark Whitacre como o narrador da história. As frases do personagem, ao longo de todo o filme, são espertas, sutilmente engraçadas.
Mas é Matt Damon, sem dúvida, a melhor coisa deste bom filme. Ele está extraordinário – é uma interpretação de se aplaudir de pé como na ópera. O fato – muito comentado – de ele ter engordado vários quilos para fazer o papel é de menos: os gestos, a voz, as expressões faciais é que são fascinantes. E todos os demais atores estão uniformemente muito bem. Matt Damon, assim como o compositor Marvin Hamlisch, foi indicado ao Globo de Ouro.
O Desinformante!/The Informant!
De Steven Soderbergh, EUA, 2009
Com Matt Damon (Mark Whitacre), Scott Bakula (Brian Shepard), Joel McHale (Bob Herndon), Melanie Lynskey (Ginger Whitacre), Rick Overton (Terry Wilson), Tom Papa (Mick Andreas)
Roteiro Scott Z. Burns
Baseado no livro de Howard Braunstein
Fotografia Peter Andrews
Música Marvin Hamlisch
Produção Warner Bros Pictures, Participant Midia, Groundswell Productions
Cor, 108 min
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Título em Portugal: O Delator!
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