Nota:
Anotação em 2010: Costa-Gavras foi extremamente rápido no gatilho. O agente americano Dan Mitrione foi assassinado pelos tupamaros em Montevidéu no dia 10 de agosto de 1970; em dezembro de 1972 o filme que reconstituía todo o episódio estreou na Europa.
O cineasta mais político da História, grego radicado na França, autor de filmes produzidos nos mais diversos países, levou pouco mais de dois anos para pesquisar sobre o seqüestro e a morte de Dan Mitrione, toda a situação política do Uruguai naquele final da década de 60, início dos anos 70, e fazer seu filme.
Tudo indica que a recriação dos fatos é a mais fiel possível. É um ótimo filme; e, além disso, é um filme importante, da maior relevância, exatamente por reconstituir aquele período turbulento na história recente do Uruguai e também do Brasil – o Brasil é citado diversas, diversas vezes ao longo do filme.
Costa-Gavras abre seu Estado de Sítio com uma longa seqüência que mostra, com vários planos gerais, estradas e ruas de uma capital tomada por militares e policiais; há barreiras nas estradas, nas grandes avenidas, e as pessoas – nos carros, nos ônibus, nos caminhões – têm que mostrar seus documentos, ser revistadas, diante de soldados que portam fuzis. Em uns três, cinco minutos, o cineasta apresenta o quadro desolador, apavorante, de um país autoritário, ditatorial, militarizado, um país paralisado por uma busca frenética por inimigos do regime. Esses inimigos, saberemos logo em seguida, são os tupamaros – o grupo guerrilheiro de extrema esquerda criado ainda no início da década de 60.
Um filme político com atmosfera de thriller
É uma bela abertura, um belo começo de narrativa. Costa-Gavras é um diretor de filmes políticos que sabe criar uma atmosfera de thriller, de filmes de ação.
Num carro abandonado, um policial encontra um homem morto; a informação chega rapidamente até as altas esferas do regime. O morto é um cidadão americano, Philip Michael Santore, funcionário da A.I.D., uma agência do governo de Washington. Era o homem que todas as forças de segurança procuravam libertar.
Vemos então uma sessão do Parlamento do país, em que, com a ausência de parte dos deputados (não se explica, mas é claro que são os de esquerda), aprova-se a proclamação de feriado nacional em homenagem ao americano morto. E passamos para a cerimônia pública na principal catedral da capital, a que estão presentes, conforme nos informa o repórter de uma emissora de TV, os ministros de Estado, os chefes de todas as forças armadas e todo o corpo diplomático. O repórter comenta que é desagradável notar que as áreas reservadas aos reitores das universidades públicas, ao corpo universitário, estão vazias; a cerimônia é conduzida pelo núncio apostólico; o arcebispo, a principal figura da Igreja Católica no país, não está presente.
Sem precisar explicitar, Costa-Gavras nos mostra, nestes momentos iniciais do filme, que a esquerda – no Parlamento, nas universidades, na Igreja – não compactuam com as homenagens ao morto.
Oficialmente, o morto, Philip Michael Santore (interpretado pelo grande Yves Montand, que trabalhou com Costa-Gavras também em Z e A Confissão), estava no país para ajudar as autoridades policiais a organizar o trânsito e o deslocamento de figuras do governo.
Segundo a versão da esquerda, Santore estava ajudando a polícia, sim, ensinando como localizar, prender e torturar os inimigos do regime.
Com competência extraordinária, ele subverte a ordem cronológica
Estamos ainda no ofício religioso pelo americano morto quando Costa-Gavras começa a subverter a ordem cronológica com rápidos flashbacks que mostram Santore e a família chegando ao país, chegando a outros países. Em todos os seus filmes, o cineasta usa esse recurso de incrustrar rápidos flashbacks na narrativa. Faz isso sem didatismo, mas com uma competência extraordinária – é tudo absolutamente claro, límpido.
Com uns 10, 15 minutos, no máximo, de narrativa, há um flashback para a segunda-feira anterior – nesse momento, um letreiro nos informa que é segunda-feira; ao longo da ação, teremos novos letreiros informando em que dia da semana estamos.
Naquela segunda-feira do início de agosto, diversos grupos de militantes tupamaros, em ações bem coordenadas, roubam (“expropriam” em nome do povo, segundo a versão deles) vários carros e peruas, em diferentes locais de Montevidéu, e em seguida seqüestram um cônsul brasileiro, Campos (Rafael Benavente), e Philip Michael Santore. No momento do seqüestro, Santore leva um tiro no ombro; no local onde os dois estrangeiros serão mantidos prisioneiros, os seqüestradores tratarão da ferida do americano.
O que virá a seguir é a semana em que os tupamaros mantiveram em cativeiro o cônsul brasileiro e o agente americano. Acompanharemos os longos interrogatórios a que Santore será submetido; os tupamaros queriam dele a confissão de sua verdadeira missão no país; demonstram ter tanta informação sobre seus movimentos quanto ele mesmo. Nos interrogatórios, haverá muita discussão ideológica entre o representante do imperialismo ianque e os representantes do povo oprimido – para usar o linguajar de uma das partes.
Em seu primeiro comunicado anunciando o seqüestro, os guerrilheiros exigem a libertação imediata de todos os presos políticos do país, em troca da liberdade dos funcionários estrangeiros. Caso o governo não cumpra a exigência, os prisioneiros serão justiçados.
Um nome trocado, a ausência da palavra Uruguai. O resto é real
Costa-Gavras e seu co-roteirista Franco Solinas tiveram o cuidado de trocar o nome de Dan Mitrione para Philip Michael Santore, e de não mencionar explicitamente a palavra Uruguai (só rapidamente, na escada de um avião, em duas ou três cenas, veremos escrita a palavra Montevideo).
Tirando esses dois pequenos cuidados, o que o filme mostra é, repito, a reconstituição mais fiel possível do episódio acontecido no início de agosto de 1970.
E aí seria bom lembrar alguns fatos. Brasil e Argentina, os dois vizinhos grandes que cercam o pequeno Uruguai, viviam sob violentas ditaduras militares de direita. A ditadura instalada no Brasil em 1964 havia sofrido um golpe dentro do golpe em 1968, e o regime havia se radicalizado bastante; diversos grupos armados de extrema esquerda assaltavam bancos e atacavam alguns alvos militares. Torturavam-se brutalmente os presos. Na Argentina, a ditadura havia se instalado em 1966; apenas em 1973 os militares permitiriam eleições, que levariam de volta ao poder o ex-ditador Juan Domingo Perón. Novo golpe viria em 1976.
No Uruguai, o presidente era civil – mas era um governo totalmente dominado, tutelado pelos militares, embora com o Parlamento ainda funcionando. Em 1968, o presidente Jorge Pacheco havia declarado um estado de emergência, com a suspensão de várias liberdades civis e garantias individuais. Vem daí o título do filme – era praticamente um estado de sítio, expressão mais conhecida pelo público europeu do que estado de emergência.
Naquele ano de 1970, pela primeira vez no continente foi eleito, democraticamente, um marxista, Salvador Allende, no vizinho Chile. O temor da ampliação da influência comunista na América do Sul era imenso. Os governos ditatoriais anticomunistas ferrenhos dos três países, Brasil, Argentina e Uruguai, eram apoiados pelos Estados Unidos. As autoridades de segurança dos três países agiam muitas vezes em estreita colaboração – e com a presença de técnicos vindos dos EUA.
O filme mostra, numa seqüência chocante, como se ensinavam no Brasil técnicas de tortura. Vê-se uma bandeira brasileira, vêem-se fardas do Exército brasileiro. Antes de ser deslocado para o Uruguai, Philip Michael Santore havia trabalhado no Brasil – e, de fato, Dan Mitrione trabalhou como agente americano junto à polícia, primeiro em Belo Horizonte e depois no Rio de Janeiro, entre 1960 e 1967.
O Uruguai recriado no Chile, o Chile recriado no México
Nos créditos finais de Estado de Sítio, mostra-se ao espectador que a trilha sonora é de Mikis Theodorakis, um dos dois grandes compositores gregos da segunda metade do século XX, ao lado de Manos Hadjidakis, e que a música é executada pelo “conjunto sul-americano Los Colchakis”. Conheço um pouquinho (para ser falsamente modesto) de música latino-americana, e nunca tinha ouvido falar nesse conjunto; de resto, as canções criadas por Theodorakis, que teve grande ligação com a música chilena, têm um forte toque andino – seriam, portanto, mais apropriadas a um filme sobre o Chile, a Bolívia ou o Peru do que propriamente para um filme sobre o Uruguai. Mas isso é um detalhinho sem qualquer importância.
Um detalhe importante que surge também nos créditos finais é o agradecimento a duas empresas – a Lan Chile e a Fiat Chile. Eu não sabia disso (se já soube algum dia, tinha me esquecido completamente), mas pelo menos parte do filme de Costa-Gavras sobre o Uruguai foi filmada no Chile. E é isso mesmo, confirma o iMDB: o filme foi rodado em Valparaíso, Viña del Mar e Santiago.
Nenhum problema. Ao contrário. Nada mais natural que o filme não pudesse ser rodado, em 1972, no Uruguai ainda sob ditadura; teria que ser mesmo no Chile, então governado pela Unidade Popular de Allende.
O irônico, o triste, o doloroso é que, dez anos depois, em 1982, Costa-Gavras tenha tido que fazer um filme denunciando a monstruosidade da ditadura militar de direita que se abateu sobre o próprio Chile, em setembro de 1973 – apenas um ano depois que Estado de Sítio foi filmado. Missing se passa em Viña del Mar e Santiago, basicamente – e o cineasta teve que recriar o Chile no México.
Quem quisesse fazer um filme mostrando a trágica transformação da Venezuela em ditadura também não poderia filmar lá. Teria, em 2010, que recriar a Venezuela na Colômbia, ou no Peru.
Costa-Gavras denunciou ditaduras de esquerda e de direita
Vendo o filme agora, depois de quatro décadas em que praticamente tudo mudou na América Latina, me lembrei, em especial nos trechos que se referem diretamente ao Brasil, do belo e importantíssimo documentário Cidadão Boilesen, de 2009, que retrata como, exatamente naquela época, final dos anos 60, início dos 70, o empresário dinamarquês de nascimento teve importante papel na captação de financiamento para o aparelho repressivo montado pelos militares e pela polícia em São Paulo. Um filme complementa o outro, na reconstituição daquelas páginas infelizes da nossa história.
Cidadão Boilesen, na minha opinião, faz a denúncia dura e direta contra a ditadura militar e contra os empresários civis que a apoiaram durante todo o tempo – mas não demonstra apoio incondicional aos que optaram pela luta armada para combatê-la.
Em Estado de Sítio, ao contrário, há diversos momentos em que aparece muito nítida a total simpatia de Costa-Gavras pelos guerrilheiros de esquerda.
Além deste aqui, Costa-Gavras fez outros filmes condenando as ditaduras de direita – a dos coronéis gregos, em Z, de 1969, a dos militares chilenos em Desaparecido – Um Grande Mistério/Missing, de 1982. Mas fez também A Confissão/L’Aveu, de 1970, em que denuncia os crimes da era stalinista na Checoslováquia de meados dos anos 50 a meados dos anos 60. É uma credencial e tanto, esta. Defender algumas ditaduras e atacar outras, por simpatia ideológica, é, muito mais do que falta de coerência, falta de caráter, de vergonha na cara. Costa-Gavras não comete esse crime.
Quase tudo mudou – mas algumas coisas ficaram iguais
Então: quase tudo mudou, na América Latina. Não há, no continente, nenhuma ditadura de direita apoiada pelos Estados Unidos. O Uruguai elegeu presidente em 2009 um ex-militante tupamaro. O Chile foi governado durante três mandatos consecutivos por uma coalizão de esquerda. Há 16 anos o Brasil é governado por presidentes que combateram a ditadura militar, e os principais candidatos às eleições presidenciais de outubro de 2010 igualmente combateram a ditadura implantada em 1964 – um teve que se exilar e depois dedicou-se à luta política; a outra participou da luta armada.
Quase tudo mudou, e muita coisa mudou para bem melhor.
E, no entanto, muita coisa mudou para ficar quase igual a antes. Uma ditadura se mantém intacta – a de Cuba. E, abençoados pela ditadura cubana e por um renitente esquerdismo velho, senil e ginasiano, presidentes ditos “de esquerda” atacam, cada um a seu estilo e grau, as liberdades básicas, na Venezuela, na Bolívia, na Argentina, na Nicarágua, no Equador. As atitudes do bufão Chávez são bem pouco diferentes das de Pinochet: censura à imprensa, prisão de opositores, Judiciário e Legislativo manietados.
Costa-Gavras não comete o crime de defender algumas ditaduras e atacar outras, por simpatia ideológica. Mas um bando de gente faz isso no Brasil, e em toda a América Latina. Um bando de gente a quem falta caráter, vergonha na cara.
Estado de Sítio/État de Siège
De Costa-Gavras, França-Itália-Alemanha Ocidental, 1972
Com Yves Montand (Philip Michael Santore), Renato Salvatori (capitão Lopez), O.E. Hasse (Carlos Ducas), Jacques Weber (Hugo), Jean-Luc Bideau (Este), Maurice Teynac (ministro do Interior), Yvette Etiévant (senadora), Evangeline Peterson (sra. Santore), Harald Wolff (ministro de Relações Exteriores), Nemesio Antúnez (president da República)
Roteiro Costa-Gavras e Franco Solinas
Fotografia Pierre-William Glenn
Música Mikis Theodorakis
Produção Reggane Films, Euro International Film, Unidis
Cor, 115 min
***
Boa a matéria, mas igualar o chavismo com a ditadura ultra-sanguinária do Pinochet é um completo disparate. A impressão que passa é a de alguém que confundiu um agastamento específico com o presidente da Venezuela (eleito, por sinal) à frente da observação dos fatos, sem ter o cuidado de graduá-los. A outra possibilidade, a do autor da matéria ser alguém seduzido pela conversa da grande midia brasileira, que tenta desqualificar todos os governantes latino-americanos que não rezem pela cartilha de Washington como se fossem ditaduras, prefiro não acreditar, até pelo quanto escrito na maior parte do texto. Um abraço.
Sim, a graduação, a graduação. É uma forma de ver as coisas. Podemos fazer a graduação em números absolutos, ou também em percentual. Pinochet e a junta argentina mataram mais, em termos percentuais, do que os militares do golpe de 1964 – e daí poderíamos dizer, como disse a Folha de S. Paulo, que o Brasil teve não uma ditadura, e sim uma ditabranda? Mao matou mais gente que Pinochet, em números absolutos. Seria então Pinochet, comparado a Mao, um ditabrando?
Ditadura é ditadura. Chávez acabou com a independência do Judiciário, acabou com a liberdade de imprensa, fechou emissoras de rádio e TV; se a oposição vence em Caracas, o governo tira poderes e autonomia da prefeitura de Caracas. Nacionaliza empresas, persegue dissidentes. A Venezuela vive sob uma ditadura. Recursar-se a enxergar isso é cegueira ideológica, pura e simples.
Sérgio Vaz
Concordo com o Sérgio. Certamente o Jorge é estudante de jornalista e acha que tudo o que jornal fala é mentira, manipulado. Pode ser…Então, vai lá morar na Venezuela para ver se gosta. Vai gostar se for funcionário público, vai adorar.Mas não use ar condicionado e não tome mais de um banho por dia, pois é um absurdo gastar tanta energia assim. Luz acesa, só depois das 21h heim!
Daqui a pouco vc vai ganhar um carnê para comprar leite e pão. Coma pouco, gordo hj em dia é ultrapassado. Realmente, em uma ditadura, o indivíduo aprende a ser regrado na cartilha do governo. Vai lá amigo, se não consegue mudar nem o Brasil, vai lá tentar na Venezuela, Cuba, China…aluga um braquinho e vai que vai. Cuidado com os tubarões.
Não há ditadura na Venezuela. Muita coisa pode ser questionada por lá, mas Chávez faz o que faz de maneira absolutamente democrática, e dizer o contrário é desinformação. Tampouco há ditadura no Equador, na Bolívia, na Argentina, etc. O que aconteceu no continente nas décadas de 60 e 70 é bem diferente do que acontece hoje. A comparação entre os dois momentos é leviana.
Também José Serra não se “exilou” do país. Ele foi ao Chile, sim, mas não era exílio nenhum. Ou alguém seria louco de se exilar da ditadura brasileira sob a ditadura de Pinochet? Quando Serra chegou lá, Pinochet em breve tomaria o poder, e nem por isso ele e seu amigo FHC foram embora. Não eram, nem nunca foram, todo esse perigo.
Quanto aos governos “de esquerda” do Brasil e do Chile, não romperam com seus algozes. Os militares torturadores e assassinos do Brasil ainda estão no governo. No Chile, a Concertación continua a política neoliberal de Pinochet. Como disse o autor, nem tudo mudou na América Latina.
Estava há muitos dias querendo responder a esse comentário. Hoje, por coincidência, li um texto do Carlos Brickman que diz exatamente o que eu pensava dizer:
“Existe gente que é contra a luz elétrica, a água encanada e a vacinação. Está no seu direito – tanto de ser contra, como de fazer propaganda contrária.
Há gente que defende regimes autoritários, Bin Laden, jornais bonzinhos. Está no seu direito – tanto de ser a favor, como de fazer propaganda favorável.
Nos dois casos, existem limites éticos a ser observados. Mentir está fora dos limites éticos.”
É um direito de todos achar o que bem entender – que a Venezuela tem democracia até em excesso, que Papai Noel existe, que Maradona é melhor que Pelé, que o regime iraniano é uma maravilha. Agora, reescrever a História é demais.
Serra saiu do país em 1964, passou pela Bolívia e pela França; voltou em 1965, mas naquele mesmo ano exilou-se no Chile, de onde saiu após o golpe de Pinochet em 1973. Chegou a ser preso, mas conseguiu depois se refugiar na Embaixada da Itália, onde ficou por oito meses aguardando um salvo-conduto.
Fernando Henrique exilou-se no Chile e na França; de volta ao Brasil, em 1968, assumiu a cátedra de Ciência Política da USP, mas foi afastado do cargo pelo Decreto-lei 477, e depois deu aulas no Chile, na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Ah, sim: e a frase “Ou alguém seria louco de se exilar da ditadura brasileira sob a ditadura de Pinochet?” seria de fazer rolar de rir, se não fosse trágico o fato de o rapaz não saber a diferença entre 1965 e 1973.
Sérgio, gosto muito do seu blog e dos seus comentários sobre os filmes. Só quis dizer o que eu pensava. Sendo mal educado como foi, você me censura tanto quanto as ditaduras que quer criticar. Sua opinião não é lei, respeite a dos outros. Quanto a Serra, seu exílio é muito mal explicado. Ele foi ao Chile e lá trabalhou na CEPAL, o que é uma ótima oportunidade de exílio, e de lá “fugiu”, quando houve o golpe de Pinochet, justamente… para o país que promoveu o golpe de Pinochet. Segundo se especula, ele teve auxílio da CIA, que foi quem planejou o golpe. Parece que nem todo “esquerdista” teve o seu “green card”, não é? Parece, afinal de contas, bem óbvio que ninguém que lutasse contra uma ditadura na América Latina se exilaria nos EUA. O fato é que há controvérsias quanto a seu engajamento político na época, mas isso não muda o fato de que Serra não faz política de esquerda, nem ele, nem FHC, nem o PSDB.
Isso, pelo menos, é o que me parece. Posso estar errado, pois, como todos, eu erro às vezes, mas isso não faz de mim um “mentiroso”, como você maldosamente insinuou. Você não me conhece, nunca nem viu minha cara, então faça o favor de não se especular sobre a minha honestidade. Eu não acusei você de nada, não fui agressivo, não lhe ofendi. Apenas discordei de você. Faça o favor de me tratar com o mesmo respeito com que lhe trato. Fora o comentário desrespeitoso e mal educado que você me fez, a conversa aqui foi bastante interessante. Discutir o passado de Serra é relevante, principalmente neste momento de nossa política em que ele se gaba de seu passado de “luta”, e acusa Dilma de “terrorista”. Também, e principalmente, são muito interessantes seus comentários sobre o filme de Costa-Gravas. Parabéns pelo blog.
Sério mesmo que depois de ler todo esse texto, que Tava achando ótimo,, me aparece essa comparação bizarra no final de que Venezuela e Cuba ainda continuam ditaduras? Compara também as torturas e os desaparecimentos aos milhares que ocorreu nas ditaduras cívico-militares daquela época. Se alia ao Bush entAo e diz que Chavez ta comprometendo a democracia em toda a America Latina. Ele foi eleito pelo povo e faz uma ótima política nacional desenvolvementista no país
Baixar o Filme – Estado de Sítio – http://mcaf.ee/daqj4
tenho o DVD Estado de Sitio o filme é muito parcial pois não mostra a ação completa do grupo tupamaros com assalto assassinato e sequestros é muito conivente com um bando de matadores treinas na clandestinidade.
Em especial atenção ao comentário pelo Sr. Jorge em 29 de Maio de 2010 e àqueles que comungam com essa forma de pensar:
Aparentemente, o motivo do desconforto com o texto sobre o filme se deve à terminologia utilizada pelo autor desse mesmo texto no que diz respeito à vivência do chavismo na Venezuela. Tanto que logo no início, já se diz ser um disparate equiparar as práticas do regime venezuelano àquelas do regime ditatorial chileno da década de 1970 do século passado.
Inusitado é que se diga ser um disparate essa equiparação, no momento em que o Sr. Jorge soma ao seu manifestado incômodo um entendimento de que o autor desse texto seria apenas mais um indivíduo incauto a ser influenciado por um poder midiático supostamente alinhado aos interesses particulares do governo norte-americano.
Já se passaram dez anos desde o comentário do Sr. Jorge foi feito e, desde então, foi possível que mais propriedade fosse conferida ao entendimento de que o regime que instalou na Venezuela adota práticas ditatoriais. Não apenas isso: A difusão da insurgência bolsonarista passou pela adoção de retóricas viciadas, como é o caso quando se recorre ao simplismo de se desqualificar a atuação profissional dos grandes veículos de comunicação. Na medida em que se começou a dizer que esses mesmos veículos guardam algum tipo de afinidade ideológica com o petismo, foi possível expor com mais nitidez a rasura de se recorrer a esse tipo de leviandade retórica por conta de um incômodo gerado por uma crítica a um ideário afim.
A confrontação de ideias é um elemento basilar a sustentar a consolidação do estado democrático de direito. No entanto, a persistência em se recorrer a simplismos como esse representam ser uma ameaça à saúde do ambiente democrático. E justamente por se projetarem como oponentes de práticas estranhas ao bem-estar da população no que diz respeito à manutenção de boas relações institucionais, por parte do Poder executivo, é que o Sr. Jorge e seus correligionários precisam de uma remodelação retórica que não passe, necessariamente, por desqualificações. Esse tipo de prática sim, concorre para a manipulação e a persuasão dentro do ambiente democrático. Acredito que isso deveria ter se tornado evidente há mais tempo.
Ainda assim, lamento muito que esse tipo de atitude insista em perdurar na vida pública brasileira. Mais por conveniência em relação aos interesses dos que se beneficiam de tamanha polarização política do que em nome do melhor interesse de cada cidadão enquanto sujeito político.