3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Não dá para ficar indiferente diante de A Imperatriz Galante, ou A Imperatriz Vermelha, que Josef von Sternberg dirigiu em 1934 com a estrela que criou, Marlene Dietrich. Ele judeu austríaco, ela alemã, já viviam então nos Estados Unidos, para onde se mudaram quando o nazismo começava a mostrar suas garras.
O primeiro título citado, A Imperatriz Galante, foi o usado no lançamento do filme no Brasil, e é o que está nos livros brasileiros; o segundo, A Imperatriz Vermelha, é o do lançamento do filme em DVD, pela Classicline (foto abaixo), em 2009 – 75 anos anos depois que ele foi feito.
Tem algumas coisas bastante ridículas – a então grã-duquesa Catarina mordiscando pedaços de palha para impedir o avanço sobre ela do nobre da corte (ou, na verdade, para incentivá-lo a avançar) é apenas uma delas.
Mas, tirando essas coisinhas, é um filme é importante, impactante. E a história da mulher que se transformaria na imperatriz Catarina II, a Grande, da Rússia (1729-1796), é absolutamente fascinante. Ao ver o filme, fiquei achando que boa parte daquela história romanesca, fantástica, praticamente inverossímil, tivesse sido inventada por roteiristas de imaginação fértil. E me surpreendi tremendamente ao ver, depois, que, ao contrário, o que o filme mostra é realmente História, baseia-se em fatos reais.
Um filme moderníssimo, à frente do tempo
O filme tem coisas ousadas, avançadíssimas para a época. Mary, cada vez mais atenta, cada vez mais observadora (talvez até por minha influência, quem sabe?), ficou pasma com a “modernidade” do filme. Sternberg usa milhares e milhares de figurantes, em gigantescos planos gerais, de fazer inveja a um Cecil B. de Mille. É tanta gente que o número de figurantes está explicitado nos créditos iniciais; pelo que eu saiba, isso é um caso único na história. Aparece lá: Elenco – o nome dos principais atores, e, embaixo, a cifra: “and a supporting cast of 1000 players”.
A direção de arte – do próprio Sternberg – criou cenários magníficos, estupendos, que fogem absolutamente de qualquer tipo de realismo: os palácios russos de meados do século XVIII que o filme mostra são povoados por estátuas surrealistas, que mais parecem louvações medievais ao diabo. Há portas gigantescas, fenomenais, que misturam ícones da Igreja Ortodoxa e elementos absolutamente surreais. Os tronos parecem coisa de outro planeta, como se fosse um filme de ficção científica.
Na montagem, Sternberg abusa das fusões de imagens; a seqüência, bem no início do filme, em que vemos um desenrolar da história de alguns séculos da Rússia, passando por Ivan, o Terrível, e Pedro, o Grande (a futura czarina está ouvindo o pai contar a ela um pouco da história daquele país estranho e distante), é acachapante, brilhante, genial.
E há também todas as diversas alusões a trepadas fora do casamento – algo que o Código Hays, então em vigor, proibia terminantemente. No entanto, está tudo lá. Trepa-se muito no filme – só não há sexo no nobérrimo matrimônio de Catarina com o grão-duque, mais tarde czar Pedro III.
Uma estrela esplendorosa, por quem as câmaras se apaixonam
E há ainda a presença radiante, radiosa, esplendorosa, de Marlene Dietrich, uma das maiores estrelas do primeiro século de cinema em todo o mundo. A capinha do DVD traz uma frase atribuída à Variety, a revista que há décadas é a bíblia dos produtores de Hollywood: “Marlene Dietrich nunca esteve tão bonita como aqui”. Tão bonita quanto, até pode ser – mas mais bonita do que neste filme, realmente não me lembro de ter visto. Ela está esplendorosa.
Na seqüência do casamento da princesa prussiana com o grão-duque – aliás, uma seqüência toda ela impressionante –, Sternberg faz dois ou três big-close-ups do rosto da atriz que ele transformou em estrela, o rosto coberto por um véu branco, de babar, históricos, antológicos. E que beleza, que poder tem aquele rosto, que de fato foi feito para deixar apaixonadas as câmaras de cinema que passassem à sua frente.
Não é à toa que as câmaras de Hitchcock, de Orson Welles, de Billy Wilder, de David O. Selznick (o cara era mais que um simples produtor, era o autor dos seus filmes), de Rouben Mamoulian, de René Clair, de Fritz Lang se apaixonaram por Marlene Dietrich.
E ainda tem o fato de que ela na verdade interpreta dois papéis diferentes, distintos, quase opostos – a jovem Catarina não tem nada a ver com a Catarina madura, são duas mulheres em uma. É verdade que a interpretação dela não me parece boa, nem como a jovem ainda inocente e assustada com o mundo que vê, nem como a madura, uma mulher decidida, firme, poderosa, a ambição feito gente.
Mas, a rigor, nenhuma interpretação do filme pode ser considerada propriamente boa. Isso tem tudo a ver com o tom que Sternberg escolheu para contar a história da czarina que veio da Prússia. É um tom abertamente satírico – é tudo uma grande, imensa, deslavada caricatura.
Toda a Rússia que o filme descreve é uma exagerada caricatura, um mundo doido, incompreensível, distante anos-luz das civilizações tais quais as conhecemos, um império tirânico, de imperadores absolutistas de deixar o Rei Sol francês, o de “o Estado sou eu” – ou um Lula, para aproveitar a deixa – parecendo um gentil, humano, doce, suave democrata.
Muito bem. Essas são minhas primeiras impressões. Agora vamos aos fatos.
Peço desculpas, mas os parágrafos abaixo contêm estragas-entregas-spoilers
Nos letreiros iniciais, está dito que a história se baseia num diário de Catarina II. No entanto – repito –, a trama é tão absolutamente novelesca que a gente fica complemente de pé atrás. O grão-duque Pedro, herdeiro do trono russo, com quem ela se casa, é interpretado por Sam Jaffe de uma forma caricatural demais – é o mais arrematado débil mental. A mãe dele, a czarina Elizabeth Petrovna (Louise Dresser), filha do czar Pedro, o Grande, é uma brutamontes malvada, uma absolutista a não mais poder. Catarina apaixona-se pelo nobre que vai à Prússia levá-la para Moscou para o casamento com o grão-duque, um tal conde Alexei (John Lodge) – que por sua vez come a czarina Elizabeth. (Embora a expressão mais exata seja “é comido por ela”.)
Catarina fica absolutamente repugnada pelo noivo e depois marido, e não encosta nele – que por sua vez se encosta na condessa Elizabeth (Ruthelma Stevens). Como tem que prover o trono russo de um herdeiro, e porque fica ofendida ao saber que seu amado conde Alexei é comido pela czarina, Catarina dá para o primeiro que aparece – um tenentinho que faz a ronda do palácio – e é dessa união que sai seu filho. Mais tarde, Catarina dará para um capitão, que tem o sugetivo nome de Orloff. (Não, não, o tenente não se chama Smirnoff.)
Diante de tudo isso, eu digo: truco! Qual é, meu, o filme quer dizer então que o czar seguinte de todas as Rússias é o filho bastardo, ilegítimo, de uma alemoa com um tenentinho??? E que Catarina II teve como amante, às claras, um militar?
Fui então à gloriosa Britannica, antes de me aventurar na menos confiável Wikipedia. A vetusta Encyclopaedia centra-se, é claro, na atuação de Catarina II como czarina, entre 1762 e 1796 – e o filme não pega esse período; Sternberg acompanha Catarina desde criança até ela assumir o trono, em 1762. Mas a Britannica confirma muito do que o filme mostra; confirma que ela foi amante de um militar chamado Orloff (entre outros), e que ela permitiu que o marido – definido pela Britannica como “errático”, uma forma britanicamente polida para confirmar o personagem que o filme mostra – fosse assassinado.
Ué! Será que aquela novela mexicana, aquela trama hollywoodiana, aquela sacanagem nelson-rodriguiana toda tem mais verdade do que parece?
As indicações são de que, ao contrário do que eu supus, a louca trama mexicana, hollywoodiana, nelson-rodrigueana de fato se baseia em verdades.
Petro Primo Catharina Secunda – assim, em latim
A história da Rússia imperial foge ao escopo de um comentário sobre um filme. Mas o filme é tão fascinante, e a Rússia, a história da Rússia, são tão mais fascinantes ainda, que vou me permitir aqui uma tentativa de repassar alguns fatos históricos, com base na Britannica e na Wikipedia.
Diz a Britannica, no verbete sobre Catarina II, a Grande, da Rússia (e aqui é preciso lembrar que Pedro, o Grande, governou de 1682 a 1725, e Catarina, a Grande, de 1762 a 1796):
“Como imperatriz da Rússia, Catarina II continuou o trabalho de seu predecessor, Pedro, o Grande: Pedro deu à Rússia ‘uma janela para a Europa’, e Catarina escancarou as portas; Pedro forçou a Europa a reconhecer a existência de uma Rússia forte e independente, e Catarina estabeleceu a Rússia como uma grande força européia; Pedro destruiu a antiga cultura russa a fim de introduzir a cultura ocidental, e Catarina preparou o terreno para uma cultura nacional influenciada pela Europa mas verdadeiramente russa. A mulher que ganhou o nome de Catarina, a Grande, estava consciente de seu papel na história da Rússia quando mandou erguer uma estátua de Pedro, o Grande, trazendo a inscrição: ‘Petro Primo Catharina Secunda’ (Pedro primeiro, Catarina segunda).
“Os nomes de Pedro e Catarina ficaram para sempre ligados nas mentes da maioria dos russos, até mesmo dos russos soviéticos. Pedro inspira um respeito mais profundo, mas os russos continuam a admirar Catarina, a alemã, a usurpadora e devassa, e a vêem como uma fonte de orgulho nacional.”
Mais adiante, a Britannica legitima mais fatos que o filme mostra. Catarina – nascida Sophie Friederike – foi escolhida, quando tinha 14 anos, para ser a esposa do neto de Pedro, o Grande, herdeiro do trono russo. “Em 1744, Catarina chegou à Rússia, assumiu o título de grã-duquesa Catarina Alekseyevna, e casou (com o grão-duque herdeiro do trono) no ano seguinte. O casamento foi um completo fracasso; os 18 anos seguintes foram cheios de trapaça, humilhação e desapontamento para ela. A Rússia era na época governada pela filha de Pedro, o Grande, a imperatriz Elizabeth, cujo reinado de 20 anos estabilizou a monarquia. Muito devotada aos prazeres e à luxúria, desejosa de dar à sua corte o brilho de uma corte européia, Elizabeth preparou o caminho para Catarina.”
Mais adiante, a seriíssima Britannica confirma que, enquanto o marido ainda vivia, Catarina teve pelo menos três amantes – e que há muitos indícios de que nenhum de seus filhos seja de Pedro III.
Depois da morte de Catarina, em 1796, o trono ficou com seu filho mais velho, Paulo I. Está lá, nas enciclopédias, tanto a vetusta Britannica de papel quanto na Wikipedia: Paulo I de todas as Rússias ao que tudo indica era mesmo um filho ilegítimo, sem uma gotinha sequer do sangue azul de Pedro, o Grande!
Vivendo e aprendendo, e depois esquecendo!
Paulo I reinou entre 1796, ano da morte da mãe, Catarina, até 1801. De 1801 a 1825 o czar de todas as Rússias foi seu filho primogênito – neto, portanto, de Catarina com alguém que não era da linha sucessória dos czares de todas as Rússias -, Alexandre I, que passou para a história como Alexandre, o Abençoado.
Um personagem de Guerra e Paz
Alexandre, o Abençoado, nascido em 1777, e que governou o império russo no conturbadíssimo período das guerras napoleônicas no início do século XIX, é um personagem importante da História por trás da trama de Guerra e Paz, o maior romance que já foi escrito no planeta. O conde Liev Tolstói não demonstra grandes amores por ele; na verdade, muito ao contrário. Mostra que todos os russos, dos nobres mais ricos aos mujiques mais miseráveis têm profunda adoração por ele, porque ele é o czar – e aí boto minha colherinha pra comentar: eta povo pra adorar um czar, aquele lá. Adorou Ivan, o Terrível, Pedro, o Grande, Catarina II, a Grande, Alexandre, o Abençoado, Lênin, Stálin, Brejnev, Vladimir Putin. Só não adorou Gorbachev, sujeito mais chegado a um vamos cair na real que a um falso império, a uma falsa noção de poderio planetário.
Mas o conde Liev Tostói, eu dizia, pinta o czar Alexandre, o Abençoado, como um sujeito indeciso, que segue o que lhe dizem os seus conselheiros; e, como os conselheiros mudam, e a História, impiedosa, reserva amanhã a guilhotina para o líder que até o dia de ontem mandava guilhotinar os inimigos, Alexandre, o Abençoado, ora ia para lá, ora ia para cá; ora se aliava à Prússia e à Áustria para combater Napoleão, ora se aliava a Napoleão, que depois invadiria a própria Rússia e chegaria a tomar Moscou, feito de que nem Hitler seria capaz.
Guerra e Paz, escrito entre 1865 e 1869, mesclando fatos históricos e fictícios ocorridos entre 1808 e 1812, tem mais personagens do que o filme de Josef von Sternberg tem figurantes, mas os três principais são o conde Piotr Bezukov, a condessa Natasha Rostovna e o príncipe Andrei Nikolaievich Bolkonski. O pai de Andrei, o velho príncipe Nikolai Andreievitch Bolkonski, um general reformado, riquíssimo, respeitadíssimo, é conhecido como “um nobre dos tempos de Catarina”; diversas vezes há no livro referências a isso, “um nobre dos tempos de Catarina”. É uma indicação importantíssima, fidedigna, da aura de respeito que se tinha na Rússia Imperial pela imperatriz interpretada no filme por Marlene Dietrich.
Sternberg e Marlene, como Pigmalião e Eliza Doolittle
Ah, sim, o filme – esta anotação é para falar do filme, cacilda!
Isto aqui já está imenso, até parece Guerra e Paz, mas é preciso falar de Marlene Dietrich e Josef von Sternberg. É bastante irracional este site de filmes não ter uma linha sobre filmes importantíssimos, fundamentais, e ter um guerra-e-paz sobre um filme hoje obscuro feito em 1934. Mas fazer o quê?
Josef von Sternberg (1894-1969) já era um diretor famoso, de grande prestígio, com vários filmes no currículo, feitos a partir de 1925 em Hollywood, quando, no finalzinho da década de 20, em viagem à Alemanha, viu pela primeira vez Marlene Dietrich, então com uns 28 aninhos (ela é de 1901). Marlene estava começando carreira no teatro, em Berlim; trabalhava numa peça chamada Duas Gravatas, de Georg Kaiser – representava uma americana e dizia uma única frase: “Posso convidar todo mundo para jantar comigo esta noite?”
Ele procurou o nome da jovem atriz iniciante no programa.
“Não é verdade que ele correu para os bastidores, assim que acabou a apresentação, para me conhecer”, conta a atriz, em seu livro Marlene Dietrich (autobiografia). “Também é falso que ele tenha me contratado, sem mais nem menos, para o papel feminino principal em O Anjo Azul. Não. Mas é verdade que, daquele momento em diante, ele só tinha uma idéia na cabeça: tirar-me do teatro e fazer de mim uma atriz de cinema, de me pigmalionizar.”
Era o finalzinho dos anos 20 – distraída, pouco metódica, Marlene não costuma dar direitinho as datas dos fatos que descreve em sua autobiografia. Mas ela escreve bem, e escreve frases maravilhosas, como esta aqui:
“Meu primeiro encontro com Sternberg, contudo, não me impressionou. Quando a gente é jovem e tola (coisas que geralmente coincidem), a gente não tem sensibilidade para pessoas extraordinárias.”
Uau! Grande Marlene!
Em 1930, Sternberg fez com ela O Anjo Azul, e o mundo babou.
Em seguida, o diretor voltou para Hollywood, e ficou tentando convencer Marlene a ir para lá. Ela conseguiu resistir alguns meses, mas, ainda em 1930, os dois fizeram Marrocos (com Gary Cooper). Em seguida vieram, pela ordem, Desonrada (com Victor McLaglen), O Expresso de Xangai, A Vênus Loura (com Cary Grant) e este The Scarlet Empress. E continuariam depois a trabalhar juntos em novas parcerias. Na galeria de astros com quem contracenou, Marlene incluiria John Wayne, James Stewart, Tyrone Power, Charles Boyer, Melvyn Douglas, George Raft…
Na autobiografia escrita em 1987, Marlene diz: “A Imperatriz Galante é hoje um clássico. Contudo, em 1934, não obteve o sucesso esperado. Sabemos que esse filme estava muito avançado à sua época. Este é certamente também o motivo pelo qual é mostrado nos museus de filme e nos programas das cinematecas, mas também pelo qual milhões de espectadores continuam a assisti-lo nos cinemas. As gerações mais novas deliram com A Imperatriz Galante. Jovens escrevem-me, falam dos figurinos – sobretudo das minhas botas, que além de tudo ainda eram brancas! -, de outros detalhes impressionantes da obra que eles aparentemente entenderam perfeitamente… muito melhor que o público daquela época. Ficam fascinados também pela direção de arte, que naturalmente foi de Sternberg. Mas ele não acreditava muito em A Imperatriz Galante: ‘Se esse filme for um fracasso’, disse, ‘então que seja um grandioso fracaso, os críticos vão vociferar. Mas prefiro ver vocês em um grandioso fracasso do que em um filme mediocremente ruim’. Sternberg tinha razão: a fúria dos críticos foi imensa.”
Dois detalhinhos, também retirados do livro Marlene Dietrich (autobiografia):
O ator que faz o conde Alexei, o principal papel masculino do filme, não era um ator. “Sternberg procurou um rosto e uma figura bem determinados, que não se achavam entre os atores de Hollywood. Ele optou pelo advogado John Lodge. John Lodge era uma cavalheiro e um homem culto, jamais tinha atuado, mas correspondia à noção que Sternberg tinha na cabeça, e mostrou-se bastante convincente no papel. (…) John Lodge ficou nosso amigo e ganhou a consideração ilimitada de Sternberg. Depois não fez mais nenhum filme, mas estou certa de que algumas semanas como ator não lhe fizeram mal. Ele é um homem demasiadamente inteligente para arrepender-se do passado.”
Ela é fantástica, Marlene. Tem sempre uma frase inteligente, elegante, para pontuar os fatos que narra.
O outro detalhinho: quem interpreta a jovem Catarina criança, quando ainda era a alemã Sophie Friederike, em uma seqüência bem rápida no início do filme, é Maria, a filha de Marlene Dietrich. Está lá no letreiro do elenco, aquele mesmo que fala em “e um elenco de apoio de 1000 atores”: Maria. Assim mesmo, só o prenome.
E a orgulhosa mamãe alemã escreve, na autobiografia: “Ele (Sternberg) deu a Maria o papel de Catarina, a Grande, quando criança. Ela disse sua única fala – ‘Eu quero ser bailarina’ em perfeito inglês e ouviu todos os diálogos como uma atriz profissional. Sternberg sorriu excepcionalmente e abraçou-a.”
A Imperatriz Vermelha/A Imperatriz Galante/The Scarlet Empress
De Josef von Sternberg, EUA, 1934
Com Marlene Dietrich, John Lodge, Sam Jaffe, Louise Dresser, Ruthelma Stevens
“Baseado num diário de Catarina II, adaptado por Manuel Komroff”
Fotografia Bert Glennon
Música W. Franke Harling, John Leipold, Berhard Kaun
Produção Paramount
P&B, 104 mim
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Ói, Sérgio. Você anda dizendo por aí que Guerra e Paz é o maior romance que já foi escrito no planeta. Quando eu era menino a gente brincava dizendo: gosto não se discute, dizia uma velha chupando o nariz da outra, arre! Tem um romance que nocauteia o Guerra e Paz: Os Irmãos Karamázovi.
Costumo dizer que ler Tolstói é passear numa campina florida, ler Dostoiévski é escalar uma montanha.
Jorge, você sabe que tenho imenso respeito por você, por diversos motivos – até pelo fato de que você é muito mais culto do que eu. E quero dizer que há alguns anos reli Os Irmãos Karamázovi – e, evidentemente, adorei. Estou agora – há meses, é verdade, e ainda vou levar outros meses – relendo o Guerra e Paz, que era uma das coisas que eu queria fazer antes de morrer. E, com todo o respeito que tenho por você, devo dizer: Guerra e Paz é melhor. É o melhor romance que já foi feito.
Hê hê… Eu queria fazer uma resposta brincalhona. Acabou ficando com um tom sério. Não era pra ser assim.
Na verdade, deixe eu mineirar, tucanear, já que não consigo fugir da minha mineirice e do meu tucanismo: você prefere Os Irmãos Karamázovi porque você é mais metafísico. Eu prefiro Guerra e Paz porque sou mais pé na terra, apegado à História, à política. Capricórnio.
Agora, campina florida é a vovozinha, com todo o respeito merecido pela Dona Teles!
Respeito todos os comentários sobre o filme, contudo a atriz e cantora Marlene Dietrich não ficou devendo nada à arte, pelo contrário, a arte é quem tem uma enorme dívida com ela e também com Chaplin, com Hepburn, com Tracy, Com Signoret, Com … Com… Com…
Caro Sérgio, vê se entendi: a autobiografia de Marlene Fifi se chama Marlene Dietrich ou Autbiografia? Porque aqui e no Anjo Azul eu entendi em cada um uma coisa. Obrigado
Caro Heitor, o livro de Marlene Dietrich se chama, na edição brasileira, “Marlene Dietrich (autobiografia)”, como está dito no texto acima, No original alemão é “Ich bin, Gott sei Dank, Berlinerin”. Não sei coisa alguma de alemão, mas acho que dá para arriscar que a tradução literal seria “Eu sou, graças a Deus, berlinense”.
Sérgio