Vivendo e Aprendendo / Smart People


2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2009: Peguei para ver este filme por causa de Ellen Page, essa menina extraordinária, que dá show de interpretação em Menina.má.com/Hard Candy, Um Crime Americano e Juno. Assim que apareceram os créditos finais, Mary sentenciou que a) é um filminho bem assim, assim, e b) é o mais fraco dos filmes dessa maravilhosa atriz. Ela tem razão.

Não é que seja um filme propriamente ruim. Não é. É até bem intencionado: tem a qualidade de defender uma boa moral.

asmart2É mais um filme sobre famílias disfuncionais; passa-se no meio universitário de Pittsburgh. O protagonista é um professor universitário de literatura inglesa, Lawrence Wetherhold – um sujeito chato de galocha, pretensioso, pomposo, metido a besta, que se acha o maioral, o umbigo do mundo, como tantos intelectualóides, acadêmicos ou não. Não dá a menor importância aos alunos – limita-se a recitar para eles um monte de conceitos abstratos em linguagem empolada. É aquela velha história: se você falar numa linguagem clara, poderão achar que você não é erudito o suficiente, inteligente o suficiente – então, dá-lhe empolação.

Lawrence é interpretado por Dennis Quaid, um ator que acho simpático, mas que é bastante irregular. Dennis Quaid me pareceu meio esquisito neste filme – parece estar com o cabelo e a barba tingidos, ou fez alguma plástica que não deu muito certo. Me pareceu também que está mal dirigido – e não só ele, mas todo o elenco. Apesar disso, ele consegue construir um personagem extremamente antipático – e era isso que se esperava mesmo, porque, como já disse, o tal professor Lawrence é um chato de galocha.

É viúvo; perdeu a mulher, bela e inteligente, quando ela era ainda bem jovem, e, aparentemente, a falta da mulher ajudou a piorar essa personalidade egocêntrica, pomposa, que ele exibe hoje. Lawrence tem dois filhos. Vanessa (a personagem da gracinha da Ellen Page) segue os passos do pai, seu modelo de vida: é extremamente estudiosa, seu maior valor na vida é o conhecimento acadêmico; está se preparando para fazer faculdade, e veremos, lá pelo meio do filme, que foi aceita em Stanford, uma das melhores universidades do país. Como o pai, enxerga o resto da humanidade do alto de uma torre de marfim, com profundo desprezo por aqueles seres inferiores.

Por não agüentar a companhia desses dois sujeitos pretensiosos – o título original, é bom que se lembre, é Smart People, gente inteligente –, o irmão de Vanessa, James (Ashton Holmes), cascou fora de casa, vive na ala residencial do colégio em que estuda.

asmart1Bem no início do filme, reaparece na vida da doce família Wetherhold a ovelha negra Chuck (Thomas Haden Church, na foto com Ellen Page), irmão de criação de Lawrence e em tudo o seu oposto. Nunca deu certo em emprego, pula de uma atividade para outra, está sempre duro, precisando de dinheiro, bebe bastante, come bastante – e é feliz.

Também bem no início do filme, Lawrence leva um tombo feio e vai parar no hospital, onde é atendido por uma médica jovem e bonita, Janet (Sarah Jessica Parker, a atriz do Sex in the City), que no passado foi aluna dele e teve por ele uma paixonite. 

Isso posto, personagens devidamente apresentados, com uns 15 minutos de filme o espectador se pergunta: tá legal, então vamos ver agora de que maneira esse babaca desse professor e essa babaca da sua filha-cópia vão aprender algumas lições na vida.

E é aqui que entra o que chamei de boas intenções do filme, sua boa moral. Porque é claro que Lawrence e Vanessa em algum momento vão aprender que aquela torre de marfim que construíram em sua imaginação é uma bobagem; vão aprender que, mais do que conhecimentos, o que vale na vida são as amizades, afetos, relações humanas, amor. 

A trilha sonora é bem gostosa, agradável – um violão folk acompanha suavemente quase todas as cenas, e diversas boas canções, de autoria desse Nuno Bettancourt, de quem eu nunca tinha ouvido falar, são apresentadas. Nuno Bettancourt, vejo no iMDB e no AllMusic, é português dos Açores, e foi criado em Boston, para onde sua família emigrou quando ele tinha quatro anos; é tido como um virtuoso na guitarra, e fez parte do conjunto Extreme, uma coisa absolutamente fora da minha área de interesse e conhecimento.

Foi o primeiro filme desse diretor Noam Munro, nascido em Israel, em 1961 – o filme não traz nenhuma referência a temas judaicos. É também o primeiro roteiro assinado por Mark Poirier.

Então é isso. Nada marcante, nada fundamental – mas tem até alguns momentos agradáveis, e a moral, felizmente, é boa, é positiva. E a verdade é que, mesmo num filme assim, assim, é uma alegria ver Ellen Page, esse imenso jovem talento.

Vivendo e Aprendendo/Smart People

De Noam Murro, EUA, 2008

Com Dennis Quaid, Sarah Jessica Parker, Ellen Page, Thomas Haden Church, Ashton Holmes, Christine Lahti

Argumento e roteiro Mark Poirier

Música Nuno Bettancourt

Produção Grovenor Park, Groundswell

Cor, 95 min

**1/2

Título em Portugal: Smart People

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