3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Esta é uma das odes do mestre John Ford à Cavalaria americana. A ação se passa em 1876, logo após a batalha de Little Big Horn, em que os índios de várias nações reunidos arrasaram com a empáfia e com a vida dos militares chefiados pelo general Custer. Índio bom, para mestre Ford em 1949, se não era índio morto, era no mínimo índio bem guardado nas reservas, sem as Winchesters, sem arco e flecha.
O filme abre com uma voz em off – uma voz empostada, falsa, de locutor de antigamente – dizendo o seguinte:
“Custer está morto. E, junto ao estandarte ensangüentado da imortal 7ª Cavalaria, jazem 212 oficiais e soldados. Os sioux e os cheyennes estão no caminho. Através do telégrafo militar, as notícias do massacre são espalhadas por toda a longa extensão dos territórios até o Sudoeste. Pelas diligências até as cem colônias e mil fazendas que sofrem a ameaça de um levante indígena. Outra derrota como a de Custer, e só depois de cem anos outra diligência ousaria atravessar as pradarias. Da fronteira com o Canadá até o Rio Bravo, 10 mil índios – kiowas, comanches, arapahos, sioux e apaches – estão unidos numa guerra contra a Cavalaria dos Estados Unidos.”
E, ao final do filme, a mesma voz empostada vai encerrar assim a história: “Eles (os soldados da Cavalaria) são sempre os mesmos: homens em azul sujo de poeira e apenas uma página fria nos livros de história para marcar sua passagem. Mas em todos os cantos por onde eles cavalgaram – e por todas as batalhas que eles lutaram -, aquele lugar se transformou nos Estados Unidos”.
Uns 15 anos depois que Ford fez este filme, o jovem Bob Dylan ironizaria em versos amargos essa mesma visão americana de quem se julga eleito por Deus, está sempre certo e os inimigos estão sempre errados: “A Cavalaria atacava, e os índios caíam, a Cavalaria atacava, e os índios morriam; o país era jovem, com Deus do seu lado”.
Muito bem. Assim colocada a ideologia da coisa – uma ideologia supremacista que o próprio cinema americano condenaria bravamente mais tarde, em filmes como Pequeno Grande Homem e Dança com Lobos, e pela qual o próprio Ford se desculparia em Crepúsculo de uma Raça/Cheyenne Autumn -, e tentando abstrair dela, vamos ao filme que acontece entre uma bravata do narrador no começo e outra ao final: o filme é uma beleza. É cinema puro, na sua essência.
Não há propriamente uma história, uma trama, um enredo, como bem notou a sempre afiada Pauline Kael: “O tema é o ônus do comando, e o herói, o capitão de cavalaria (John Wayne), um oficial em sua última missão antes de se aposentar, é um homem que, ao contrário de Custer, é bom de serviço. Como outros westerns de Ford desse período, de larga escala, não é propriamente um filme de ação, mas um filme visual, com pontos vagarosos e cenas grandiosas”.
Um filme baseado no visual, com cenas grandiosas. Todo o visual é grandioso, neste filme. A imensa maior parte dele é feita em planos gerais, as tomadas em que cabem vastas paisagens, multidões de soldados, multidões de índios. E que paisagens – a beleza agressiva das impressionantes formações rochosas do Monument Valley, o lugar preferido de John Ford, uma imensidão de terra que não acaba nunca e seguramente impressionava o filho de imigrantes da Irlanda, aquela ilhota pequenina.
Outras odes de Ford à Cavalaria foram filmadas em preto-e-branco. Neste filme aqui ele optou pelas cores – e bota cor nisso. Há pôr-de-sol em que o céu fica mais vermelho do que sangue. O azul daquele céu é mais azul que na baladinha do jovem Roberto Carlos. Não foi à toa que o filme ganhou o Oscar de melhor fotografia. É um banquete visual.
E, sim, há uma pequena historinha. Em meio àquele ambiente de temor por uma revolta dos índios, o capitão Nathan Brittles (o personagem de John Wayne), poucos dias antes de se aposentar, é encarregado de levar até um lugar distante, onde passa a diligência para o Leste, a mulher e a sobrinha de seu oficial superior, o major Mac Allshard (George O’Brien). A sobrinha, Olívia (Joanne Dru), tipinho faceiro, alimenta ao mesmo tempo as esperanças amorosas de dois dos comandados do capitão, o tenente Cohill (John Agar) e o sargento Tyree (Ben Johnson), o que provoca ainda mais tensão no grupo; no caminho, a patrulha vai encontrar uma família e um pequeno grupo de soldados recém-atacados por índios.
Mas, de fato, mais que essa pequena história, o que conta é a paisagem inóspita que está sendo desbravada, e as personalidades daquela gente.
John Ford e John Wayne capricharam na composição do capitão Brittles. Respeitado, amado e temido por todos os subalternos, é uma figura ao mesmo tempo dura e bem-humorada, de uma maneira peculiar. Conta os dias para a aposentadoria – a cada manhã, risca na folhinha o dia que passou -, pensa em se estabelecer na Califórnia, mas, ao mesmo tempo, está cansado de saber que sua vida fora da Cavalaria – à qual dedicou 40 de seus 60 anos de idade – não terá graça alguma. Caminha para a aposentadoria fingindo uma alegria que não tem. Firme, forte, duro, severo, rígido, torna-se meigo, suave, ao regar as plantas que cercam o túmulo da esposa, Mary, e conversa longamente com ela ao pôr-do-sol.
John Wayne estava com 42 anos quando interpretou o capitão Brittles com seus cerca de 60 anos, e o povo da maquilagem teve que botar uma mecha de cabelos prateados na sua cabeleira, mais um bigodinho marrom. Saiu-se muito bem no papel, o grande caubói. É absolutamente fascinante, por exemplo, a cena em que, para poder ler a dedicatória do relógio de prata que acaba de receber de presente da tropa, ele, timidamente, retira um óculos de dentro da jaqueta azul da Cavalaria.
Grande John Wayne, grande John Ford.
Legião Invencível/She Wore a Yellow Ribbon
De John Ford, EUA, 1949
Com John Wayne, Joanne Dru, John Agar, Ben Johnson, Harry Carrey Jr., Victor McLaglen, Mildred Natwick
Roteiro Frank S. Nugent e Laurence Stallings
Baseado nas histórias War Party e The Big Hunt, de James Warner Bella
Fotografia Winton C. Hoch e Charles P. Boyle
Música Richard Hageman
Produção Argosy Pictures, RKO.
Cor, 103 min
***
Caros Senhores,
Bom dia,
Gostaria de maiores informações de como poderei adquirir alguns filmes relacionados nos sites.
Desde já agradeço toda a colaboração,
Atenciosamente,
Eduardo Cavalcante
Caro Eduardo, há diversos bons sites de venda de DVDs. Aí vão alguns:
2001video.com.br
americanas.com.br
cdpoint.com.br
fnac.com.br
livrariacultura.com.br
saraiva.com.br
O Filme tem belas paisagens e uma excelente atuação por parte de John Wayne.
muito bom!
Olá, sou de Portugal e pergunto se me consegue saber qual o nome de um filme que já vi há muitos anos (1960’s) sobre um forte, penso que Fort Knox, onde o capitão da cavalaria vai buscar os piores criminosos e bandidos para defender o forte dos índios que tinham massacrado todas as guarnições anteriores, é um filme soberbo sobre liderança.
Muito Obrigado.
Francisco, muito obrigado por sua mensagem. Infelizmente, não vou poder ajudá-lo: não reconheci, de forma alguma, a história que você menciona; seguramente não vi o filme, nem havia ouvido falar dessa trama. Uma pena.
Você não se lembraria do nome de um ator, sequer, não é? Claro que isso facilitaria muito. Mas provavelmente você viu o filme muito jovem, e não tem lembrança de nome algum, não é isso?
De novo, peço desculpas por não poder ajudá-lo.
Sérgio