Terapia do Amor / Prime


Nota: ★★★½

Anotação em 2007, com complemento em 2008: Eis aí uma bela, deliciosa comédia romântica, das melhores dos últimos muitos e muitos anos, feita com muita inteligência, sagacidade, brilho.

A fabulosa Uma Thurman nunca esteve tão linda quanto neste filme, como Rafi, uma mulher independente que, depois de terminar uma relação um tanto longa, se vê, meio sem querer, apaixonada por um garoto bem mais novo. O garoto, David (Bryan Greenberg), é boa gente, bem intencionado, está apaixonado também – quem não se apaixonaria por Rafi-Uma Thurman?

Não há grandes dramas na relação deles, inicialmente – apenas as coisinhas miúdas que necessariamente interferem no relacionamento de uma mulher de 37 com um rapazola de 23 – as diferenças de gosto, de hábitos, de forma de olhar a vida. As diferenças vão sendo mostradas com sensibilidade, delicadeza e graça. Tudo é pontuado com piadas gostosas, espertas.

Rafi tem uma terapeuta, uma psicóloga bem treinada, boa profissional, educada, gente fina, Lisa – e Meryl Streep, esse prazer de se ver, está esplendorosa no papel da mulher madura que vai ouvindo da paciente os mais ínfimos e íntimos detalhes do novo relacionamento com o garoto mais novo.   

Quando a trama se complica (e, embora a complicação seja ridiculamente revelada até mesmo na resenha da capa do DVD, é um absurdo ver o filme pela primeira vez já sabendo dela), a personagem da psicóloga Lisa se agiganta. Meryl Streep, essa atriz perfeita no drama pesado e na comédia ligeira, dá um show de interpretação, coisa de gente grande, um brilho. Tanto, mas tanto, que revimos o filme nem três meses depois de ver pela primeira vez, em boa parte pelo prazer de assistir ao show de Meryl Streep.   

O final do filme é absolutamente glorioso, ao som da versão americana da jóia Que reste-t-il de nos amours?, de Charles Trenet, que François Truffaut usou até para dar o título de seus Baisers Volés, Beijos Roubados, de 1968, a terceira parte da história de seu alter ego Antoine Doinel.

A letra original de Trenet é nostálgica, passadista, de quem no outono da vida olha para trás, para a juventude distante, com saudade e um gosto ruim de que o que era doce acabou-se. (“Que reste-t-il de nos amours? Que reste-t-il de ces beaux jours? Une photo, vieille photo de ma jeunesse. Que reste-t-il des billets doux, des mois d’ avril, des rendez-vous? Un souvenir qui me poursuit sans cesse. Bonheur fané, cheveux au vent, Baisers volés, rêves mouvants. Que reste-t-il de tout cela?, Dites-le-moi.”)

É uma belíssima canção, um clássico finíssimo. Mas a versão americana, feita por um Albert A. Beach, é completamente diferente da original – é uma visão agridoce, suave, terna, companheira, cúmplice, do fim de caso, uma saudação à vida nova da/o ex-companheira/o que vai começar, haverá de começar. (“I wish you bluebirds in the spring to give your heart a song to sing, and then a kiss, but more than this I wish you love. And in July, a lemonade to cool you in some leafy glade. I wish you health, and more than wealth, I wish you love. My breaking heart and I agree that you and I could never be, so with my best, my very best, I set you free. I wish you shelter from the storm, a cozy fire to keep you warm, but most of all, when snowflakes fall, I wish you love.”)

E a sensação que o espectador tem é de que a letra maravilhosa feita em cima da belíssima canção de Trenet foi escrita especialmente para o filme.

Um brilho.   

Terapia do Amor/Prime

De Ben Younger, EUA, 2005.

Com Uma Thurman, Meryl Streep, Bryan Greenberg

Argumento e roteiro Ben Younger

Música Ryan Shore

Produção Stratus e Focus Features

Cor, 105 min. 

7 Comentários para “Terapia do Amor / Prime”

  1. Estou com uma vontade louca de ver esse filme. Pegarei o DVD neste fim de semana.Comentarei mais depois.

  2. Não gostei tanto desse filme… não sei se pq, como vc disse, a resenha da capa do dvd já entrega o ouro (que raiva!), mas achei apenas mediano. É o tipo de filme que por ter sido muito falado, a gente acaba esperando muito e no final se decepciona. As melhores cenas são mesmo com a Meryl Streep e tb as mais engraçadas. Eu precisaria assistir de novo pra ver se tiro essa má impressão.

  3. Amei os detalhes da música do final. Gostaria de saber por quê o título americano é PRIME!

  4. Flavia, “prime” tem diversos significados: primeiro, prioritário, principal – e também juventude, os dias da juventude, os tempos da juventude. Me parece que esse é o sentido do título original.

    Um abraço!

    Sérgio

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