2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2001: Enfim, vejo o filme que esnobei na época do lançamento, porque não queria saber dessa coisa de pornôzinho disfarçado. É um bom thriller, muito bom thriller, sem dúvida. A, digamos assim, licenciosidade da personagem de Sharon Stone serve para avançar sobre alguns tabus que restavam no cinemão americano. O roteiro desse Joe Eszterhas repetiu esquemas que ele já havia usado em O Fio da Suspeita/The Ragged Edge, de 1985. Mas isso não diminui o impacto. É um bom filme – e a cruzada de pernas de La Stone é, merecidamente, a mais falada e badalada da história.
Anotação em 2008: Revi o filme agora; ia passar na TV, resolvi rever. Não me lembrava de quando tinha visto, nem o que tinha achado na época. Fiquei o tempo todo, ou quase o tempo todo, com uma sensação de incômodo. Mais que um thriller, mais que um policial, o filme é mesmo, de fato – me peguei pensando quase o tempo todo -, um pornô. Poderia perfeitamente ficar, nas locadoras de vídeo, na prateleira dos pornôs.
Ou estarei ficando moralista, careta, babaca, depois de velho?
Pode ser. Pode ser.
Mas a verdade é que o filme pretende, o tempo todo, ser o mais ousado possível. Como se esse Joe Eszterhas, o roteirista, estivesse o tempo todo pensando: vou ousar mais do que O Império dos Sentidos, mais do que os pornôs do Tinto Brass; vou chocar as platéias; vou fazer um filme que vai ficar marcado na história como o filme de sexo mais explícito da história de Hollywood.
Isso é posto de cara, já na primeira cena, a loura trepando com o sujeito, amarrando-o na cama com uma echarpe branca da Hermes, para em seguida matá-lo com o tal cortador de gelo. E é realçado logo em seguida quando a dupla de policiais, Nick (Michael Douglas) e Gus (George Dzundza) vai interrogar a namorada do morto, a escritora Catherine Tramell:
– Há quanto tempo você namorava o fulano de tal?
E ela:
– Eu não namorava o fulano de tal; eu trepava com ele.
E é tudo, tudo, tudo absolutamente exagerado, o over do over do over do over – essa tendência que muitos filmões de Hollywood passaram a perseguir especialmente a partir dos anos 1980. Catherine Tramell é inteligente demais, é rica demais, é safada demais, é promíscua demais, é debochada demais. As armações que ela apronta são perfeitas demais, brilhantes demais. Michael Douglas faz caretas demais – mais ainda que o normal dele, que já é bastante anormal. Seu personagem é violento demais. Tudo é demais, neste filme. OK – a beleza de Sharon Stone é demais, é verdade. Ela está estonteantemente bela.
Mas o fato é que o filme me pareceu disgusting, bastante disgusting – porque a palavra inglesa tem um som mais nojento que o adjetivo em português que melhor qualifica este filme.
Vamos ver outras opiniões.
Leonard Maltin diz que é um thriller de sexo explícito (usa a expressão “in-your-face sex thriller”); “audacioso, erótico e maior-que-a-vida”. E dá uma informação interessante: “Lançado fora dos EUA em uma versão sem classificação (etária) que é ainda mais explícita sexualmente!” Assim mesmo – com a palavra more em itálico e com ponto de exclamação.
O bom Guia de Vídeo e DVD da Nova Cultural diz que é “fita de bom gosto e de suspense crescente, repleta de reviravoltas e momentos eróticos”, que lançou Sharon Stone ao estrelato e “provocou protestos por parte da comunidade homossexual americana”. E corrobora com o que diz o Maltin: informa que a versão disponível em vídeo é “igual à exibida nos cinemas brasileiros, com 42 segundos a mais que a cópia censurada nos EUA”.
O AllMovie informa que “este thriller erótico, frio e estilizado” rendeu acima de US$ 100 milhões de bilheteria “apesar dos vigorosos protestos contra a forma como descreve gays e mulheres”; e diz que o filme provocou uma venda maciça de echarpes brancas da Hermes nos EUA. “Este aparente paradoxo está no cerne do apelo do filme, que mistura sexualidade pervertida com banhos de sangue eróticos de uma forma comum em thrillers europeus mas tabu na América.”
Forma comum em thrillers europeus? Não sei disso, não.
Instinto Selvagem/Basic Instinct
De Paul Verhoeven, EUA, 1992.
Com Michael Douglas, Sharon Stone, Jeanna Triplehorn, George Dzundza
Argumento e roteiro Joe Eszterhas
Música Jerry Goldsmith
Fotografia Jan de Bont
Cor, 127 min.
Não gostei.
Este género de filmes não me agrada e actualmente fujo deles a grande velocidade.
O último que vi foi em DVD e não reparei na capa que dizia “Thriller Erótico”.
É da Jane Campion e chama-se “Em Carne Viva”.
Detestei.
Sou um grande apaixonado de Michael Douglas e da sua persona gordon gekko/thriller erótico:
https://www.brightwalldarkroom.com/2021/07/23/michael-douglas-erotic-everyman/
As teses sobre o enigma Douglas me intrigam. Apesar de ter tido primeiro o sucesso nas comédia românticas, creio que a persona dele, a sua aura é a do conflito do homem traidor e corrupto. Como poderá ler no artigo acima, ele bebeu essa aura violenta de seu pai Kirk! Homem intempestivo e violento! Esse ingrediente Real me faz vibrar, porque a gente sente que as peles que ele viveu pelo final da decada de 80 e nos 90, têm parte do enigma que o representa!
No entanto, fiquei estupefacto que na maior parte destes thrillers eróticos, o Sérgio deu nota negativa!
Um abraço
Afonso Alão de Magalhães