2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 1999: Coincidência: a gente tinha pego o Wilde, de 1997, na 2001; acabamos não vendo para ver primeiro o filme de 1960, que passava na TV a cabo. O mais antigo não é propriamente um bom filme. É muito acadêmico demais, muito previsível, muito certinho, com os personagens todos muito maniqueistamente desenhados, na verdade caricaturados.
O Oscar Wilde do filme de 1960, dirigido por Ken Hughes, interpretado por Peter Finch, é soberbo, fraseur, orgulhoso o tempo todo; o lorde namorado, interpretado por John Fraser, é vão, gastador, perdulário, inconseqüente, abrupto; a esposa, Constance (Yvonne Mitchell) é dedicada, sacrificada – até o momento em que tem todo o apoio e beneplácito da sociedade para proibir o marido de ver os filhos; o lorde pai do namorado é brutal, revanchista, baixo.
Até a cenografia me pareceu ruim, com as cores berrantes demais, e a reconstituição da Inglaterra em 1890 com a mesma exatidão de figurino com que as velhas produções de Hollywood retratavam as histórias bíblicas – ou seja, nenhuma exatidão. Mas, embora isso seja chover no molhado, o filme demonstra, com seu jeitão brutamontes, como era imbecil e hipócrita aquela sociedade que dominava com maestria a arte de apertar o torniquete da repressão.
Vejo que o Maltin gostou, deu ao filme 3 estrelas em 4: “Crônica fascinante, com boas atuações, do processo de Oscar Wilde contra o Marquês de Queensberry e a trágica reviravolta em sua vida por causa dele. Finch está soberbo como o homem de inteligência brilhante que termina na prisão; fotografia cheia de estilo, em tela grande, de Ted Moore”.
O filme de 1997 pôde ser muito mais explícito que o anterior
O filme mais recente, Wilde, de Brian Gilbert, é de fato é muito melhor que o outro. Tá certo, é preciso colocar na perspectiva, de 1960 para 1997 mudou tudo em termos do que pode ser dito e mostrado pelo cinema. Mas não é por ser mais explícito – com as cenas de homossexualidade, com todas as referências às claras – que este Wilde é melhor que o anterior.
Ele é mais sólido, mais bem construído; não há o irritante maniqueísmo do outro. A própria figura do Wilde não é aquela coisa sempre forte, poderosa, um monumento, mesmo na adversidade, como é o de 1960; tem momentos de fragilidade, de dúvida, de angústia. Mas aí o que sobressai mais é o gigantesco ator; pobre Peter Finch – ele vira uma máscara dura, comparado com a interpretação desse Stephen Fry. É uma das grandes interpretações dos últimos anos, uma coisa absolutamente extraordinária.
E Stephen Fry ainda tem a seu favor uma incrível, fantástica semelhança física com o escritor irlandês.
Nas fotos abaixo, estão Oscar Wilde e seu amante, lord Alfred Douglas – no filme de 1960, com Peter Finch e John Fraser, na vida real, e no filme de 1997, com Stephen Fry e Jude Law.
Os Crimes de Oscar Wilde/The Trials of Oscar Wilde
De Ken Hughes, Inglaterra, 1960
Com Peter Finch, Yvonne Mitchell, John Fraser
Roteiro Ken Hughes
Cor, 123 min. Houve uma versão com 130 min.
e
Wilde/Wilde
De Brian Gilbert, Inglaterra, 1997.
Com Stephen Fry, Jude Law, Jennifer Ehle, Vanessa Redgrave, Michael Sheen, Tom Wilkinson
Roteiro Julian Mitchell
Baseado em Oscar Wilde, de Richard Ellman
Música Debbie Wiseman
Produção Samuelson Productions, Capitol Films, Dove Internacional, Pandora, BBC
Cor, 118 min.
Gostaria de adquirir os filmes.
Antes dessas duas versões sobre Oscar Wilde teve uma versão anterior, preto e branco, interpretada por Charles Laughton. Não me lembro do nome deste filme, nem de qual ano. Alguém poderia me dar alguma informação sobre esse filme?
Caro Ricardo,
Fiz uma pesquisa – está certo que não muito cuidadosa, completa – e não achei nada sobre esse filme sobre Oscar Wilde com Charles Laughton.
Se você mesmo ou um eventual leitor ficar sabendo sobre ele, seria ótimo se escrevesse uma mensagem aqui.
Um abraço.
Sérgio