Quem Está Cantando Nossas Mulheres / Greetings


2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 1997: A caixinha do vídeo do lançamento brasileiro já define que o filme é visto como uma raridade. Tem um título enorme, sobre foto de Robert De Niro, do tipo: “Você imaginaria este homem fazendo uma comédia? E dirigida pelo célebre Brian De Palma?” Ou seja: é um filme que foi lançado agora, nos últimos anos, aproveitando a estatura dos dois nomes. Na época, passou despercebido.

Eu nunca tinha ouvido falar dele. Mary descobriu na 2001, assim como tinha descoberto meses atrás outra relíquia do início da carreira dos dois, De Niro e De Palma. Essa outra relíquia é Festa de Casamento/The Wedding Party; foi filmada em 1963, embora só lançada em 1969; De Palma dividia a direção com dois outros prováveis alunos de escola de cinema, Cynthia Munroe e Wilford Leach; no elenco, quem aparecia mais era a jovem Jill Clayburgh, De Niro fazia papel pequeno. Era um exercício de jovens aprendizes; seria o mesmo que, 30 anos depois de Tubarão, pegar os primeiros exercícios de Spielberg aos 18 anos.

Este aqui aparentemente foi mesmo filmado em 1968, quando De Palma já estava com 28 anos e De Niro, com 25. Foi lançado um ano antes do anterior, Festa de Casamento. Este, De Palma já dirigiu sozinho, além de ser o co-roteirista e o montador. Ganhou o Urso de Prata em Berlim. Mas ainda é um trabalho de juventude, com tudo o que isso significa: é irreverente, antipadrões comerciais, anti-establishment, e ainda imaturo, mostrando que ele via bastante os filmes dos jovens diretores europeus, especialmente os da nouvelle vague. A divisão em capítulos, que vários da nouvelle vague faziam, em especial Godard, mostra isso claramente.

Não há propriamente uma história; são esquetes, alguns mais divertidos do que os outros, alguns mais bem trabalhadinhos, outros com a câmara parada, coisa típica de orçamento baixíssimo – e coisa tão estranha se se pensar que a câmara de De Palma depois passou a se mover sempre, sempre, sem parar, como a de Hitchcock, quase como a de Lelouch. O que une os esquetes são os personagens, três jovens amigos nova-iorquinos em 1968, tentando arrumar jeito de fugir da convocação militar, e trepando sem parar. (De Niro foi o único dos três que ficou no cinema; os outros desapareceram completamente.)

É uma coisa bem 1968: a sombra da guerra do Vietnã, a crítica ao establishment (via crítica à convocação e via crença em que Kennedy foi assassinado como parte de um gigantesco complô; um dos personagens é obcecado com a história do assassinato de JFK), o deslumbre diante do que na época se chamava de amor livre, o fato de que as moças, ao contrário de suas mães, davam para quem bem entendessem – e como davam, as moças.

É gostoso, divertido. Para alguém que nasceu por volta de 1950 é uma delícia de ver, 1968 com os olhos de quem estava lá e era jovem em 1968. Para os mais jovens, não sei; acho não entenderiam. Ou só entenderiam como peça de museu.

Leonard Malting, que meteu o pau no anterior Festa de Casamento (como se ele fosse um filme sério, e não um exercício de estudante), entendeu melhor este aqui: “Loose, informal, improvisational satire about the draft, sex, the counterculture. Exudes a late ’60s N.Y.C.-Greenwich Village ambience not to be found in any Hollywood feature. Sequel: HI, MOM! Originally rated X.”

Segundo o Dicionário de Cineastas do Rubinho Ewald, o filme chegou a ser exibido na TV brasileira com o título copiando o original, Saudações. Assim, aparentemente, o ridículo título em português Quem Está Cantando Nossas Mulheres saiu da cabeça de algum louco quando a Abril resolveu lançar o filme em vídeo (a edição 96 do Videobook já traz o filme).

Depois que ficaram famosérrimos, De Palma e De Niro, pelo menos que eu me lembre, só trabalharam juntos uma vez – em Os Intocáveis, de 1987, em que De Niro faz um Al Capone absolutamente caricatural.

Quem está cantando nossas mulheres/Greetings

De Brian de Palma, EUA, 1968.

Com Jonathan Warden, Robert De Niro, Gerrit Graham, Richard Hamilton, Megan McCormick, Allen Garfield

Roteiro Brian de Palma e Charles Hirsch

Cor, 88 min.

2 Comentários para “Quem Está Cantando Nossas Mulheres / Greetings”

  1. Sérgio, assisti hoje e vim buscar alguma explicação aqui. Não gostei. Talvez exatamente pelo motivo que você indica. Não passei pelos anos 1960. E achei chato demais.

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