Anotação em 1996: Uma bela surpresa. O filme, independente, dirigido por um garoto estreante de 28 anos com orçamento de US$ 25 mil, chegou ao Sundance Festival, promovido por Robert Redford, e ganhou o Grande Prêmio da Crítica. Por causa do sucesso (faturou US$ 10 milhões e foi proporcionalmente o filme mais rentável do ano), Edward Burns já fez um segundo filme, com orçamento de US$ 3,5 milhões.
É uma alegria ver um filme americano independente, muitíssimo longe dos padrões de Hollywood. E uma alegria ainda maior que ver um El Mariacchi, já que aqui não há tiros, trama policial, perseguições.
O filme é sobretudo honesto, íntegro, sensível, verdadeiro. É simples, claro, límpido. E fala daquilo que o cinemão americano mal consegue arranhar hoje em dia: as relações familiares, as relações humanas, as relações afetivas. Apenas e tão somente o que mais importa na porra da vida.
Basicamente, o filme trata da procura do amor, dos encontros afetivos, das expectativas e das frustrações das pessoas comuns quanto a amor e casamento. Começa com a mãe irlandesa, no cemitério onde se acaba de enterrar o marido, dizendo ao filho do meio (interpretado pelo próprio autor-diretor) que está indo de volta para a Irlanda, ao encontro do único homem que amou na vida. (Mais tarde, saberemos que ela casou com o marido – um bêbado prepotente e ausente – simplesmente porque ficou grávida dele, e, sendo católica, submeteu-se.) Deixa nos Estados Unidos os três filhos.
O mais velho, casado há cinco anos, tem dúvidas sobre se quer ter filhos, enquanto sua mulher tem a certeza de que quer. Vai eventualmente ter um caso com uma devoradora, o que lhe trará sentimento de culpa e trará, para a mulher, tristeza, insatisfação e depois a capacidade de perdoar. O do meio é escritor de roteiros; foge do amor e da possibilidade de se amarrar como o diabo foge da cruz. Eventualmente irá se apaixonar. O caçula é o que mais seguiu a religião católica da mãe, e se remói em culpas por comer a namorada judia antes do casamento, e depois porque a namorada resolve abortar. Eventualmente, reencontrará uma amiga do ginásio e partirá com ela para uma aventura, uma viagem através do país, costa a costa, até a Califórnia.
Tudo é simples, tudo é gente como a gente – exatamente o título do primeiro filme de Redford como diretor, embora, por ironia, naquele filme ele aborde a vida de uma família muito rica no país mais rico do mundo, e aqui se mostrem as experiências comuns de gente comum da classe média média. Tudo é simples e por isso, ao contrário do que escreveu o Luiz Zanin Oricchio, tudo é extremamente universal. Fala dos sentimentos mais universais de maneira extremamente universal.
Os Irmãos McMullen/The Brothers McMullen
De Edward Burns, EUA, 1995.
Com Edward Burns, Jack Mulcahy, Mike McGlone, Maxine Bahns, Connie Britton, Shari Albert,
Arg e rot Edward Burns
Música Seamus Egan
Cor, 98 min.
Acabei de assistir a este filme de forma despretensiosa e, apesar de ser meio datado em algumas cenas, achei que foi uma bela surpresa. Filme simples é super sensível.