A Duquesa / The Duchess


Nota: ★★☆☆

 Anotação em 2009: Uma jovem mulher da nobreza, bela, atraente, simpática, elegante, amada por todo o povo inglês – mas não pelo marido. Claro, já vimos este filme antes, e foi na vida real, nos jornais, nas revistas, na TV.

Uma das últimas seqüências foi acompanhada por milhões e milhões de pessoas no mundo inteiro, ao vivo, eu inclusive: em 1997, na Abadia de Westminster lotada, com mais uma multidão do lado de fora, Elton John cantou para a amiga morta Candle in the Wind, a música que ele havia feito para Marilyn e depois teve a letra adaptada em homenagem a Diana Spencer, a Princesa de Gales.

Depois, o cinema contou a história da morte dela no extraordinário A Rainha – a história da morte dela e daqueles momentos em que a secular monarquia britânica chegou a ser ameaçada pela insensibilidade da família real, e acabou sendo salva com a ajuda do jovem primeiro-ministro (do Partido Trabalhista!) que acabava de assumir o cargo.  

E agora temos essa história de outra jovem nobre bela, atraente, simpática, elegante, amada por todo o povo inglês, menos pelo próprio marido. Viveu no século XVIII (nasceu em 1757, morreu em 1806), e que, como Diana, também se chamava Spencer. É, na verdade, uma antepassada de Diana, Georgiana Spencer, duquesa de Devonshire.

 Baseado numa biografia escrita por uma Amanda Foreman, e publicada em 2000, que virou best-seller, A Duquesa foi produzido com a óbvia intenção de fazer o paralelo inevitável com a Princesa Diana, um dos maiores fenômenos midiáticos do século XX, um século, de resto, superpovoado por fenômenos midiáticos. Tem até a frase literal para fazer a comparação entre as duas: “O duque deve ser o único homem na Inglaterra que não está apaixonado por sua mulher”.

 É um filme de visual absolutamente suntuoso. Tem aquele capricho na reconstituição de época, aquela perfeição no vestuário, a direção de arte esplêndida, a fotografia primorosa que sabe aproveitar bem os palácios, os salões imensos, os perfeitos jardins ingleses.

 E é um filme danado de chato. Muitíssimo bem feito – e danado de chato. Pode até ser que eu estivesse num momento de mau humor – isso acontece, e pode até ser. Mas achei o filme danado de chato, e Mary também. 

aduchess2Quando a ação começa, estamos em 1774. (1774: no ano seguinte, nasceria Jane Austen, a mulher que escreveu sobre a vida comum das pessoas comuns da sociedade rural inglesa daqueles tempos.) A jovem Georgiana Spencer (o papel de Keira Knightley, presença constante nos filmes de época ingleses recentes), então com 18 anos, está num perfeito gramado do campo inglês em meio a inocentes folguedos com amigas e um grupo de rapazes, todos eles nobres, com um exceção de um único, que é quem merece as atenções da garotinha. Dentro da casa da propriedade, a mãe de Georgiana (Charlotte Rampling) negocia com o Duque de Devonshire, um dos homens mais ricos do império, os serviços de vaca parideira da filha. O Duque (Ralph Fiennes) quer saber se a garota vai lhe providenciar um herdeiro macho; a mãe garante que sim.

Aqui a história de Georgiana Spencer se distancia um pouquinho da da sua descendente Diana; esta deu rapidamente a Charles dois herdeiros varões; se ele próprio, Charles, não assume o trono para depois passá-lo aos filhos, o problema é da longevidade e das vontades férreas de Elizabeth, e não dela, Diana. Já a pobre Georgiana, sobre quem o marido trepa com o mesmo entusiasmo com que faz tudo na vida, ou seja, nenhum, esta tem a infelicidade de ter uma filha mulher, e depois outra, antes de finalmente produzir aquilo que se esperava dela, um ser humano dotado de um aparelhinho em cima de uma bolsa munida com dois bagos.

Depois a história volta a parecer com a de Diana, quando o Duque passa a ter uma amante fixa, Bess (Hayley Atwell), exatamente como Charles sempre teve Camila Parker Bowles. (Essa Hayley Atwell é uma bela jovem londrina nascida em 1982 que esteve também em O Sonho de Cassandra, de Woody Allen – ela faz a jovem atriz por quem o personagem de Ewan McGregor se interessa -, e em Mansfield Park, filmagem para a TV da novela de Jane Austen, em 2007.)

A essa altura, eu me perguntava: sei, mas o que eu tenho a ver com tudo isso? Para, em seguida, à medida em que a alegre, jovial e bela duquesa vai cada vez mais conquistando todos os corações do reino, à exceção do do marido bundão, me questionar: ué, mas por que eu me encanto com as histórias de Jane Austen, e estou achando tão chatas as histórias da vida real daquela mesma gente, naquela mesma época?

Não consegui resposta adequada a essas perguntas. Talvez seja porque as histórias de Jane Austen falam de pessoas comuns, e não de nobres muito ricos, e eu prefira as pessoas comuns aos nobres muito ricos. Sei lá. Vai ver que estava, de fato, de mau humor. Não consegui sequer achar que Keira Knightley, aquela gracinha que adorei ver em Orgulho e Preconceito e em Desejo e Reparação, estava trabalhando bem. Achei que ela estava oprimida demais dentro daquelas roupas, sufocada embaixo daquelas perucas ridículas. Até o grande Ralph Fiennes achei um tanto fosco – talvez apenas porque ele estivesse representando uma personalidade tosca, fosca, opaca, sem brilho mesmo.

 Aliás, Ralph Fiennes foi indicado ao Globo de Ouro por sua interpretação do Duque de Devonshire. O filme levou o Oscar de Figurinos, e foi também indicado ao de direção de arte. Teve um total de 14 indicações em festivais e prêmios oficiais.  

 Tá bom. Um dia quem sabe ainda revejo esse filme para ver se ele é mesmo chato ou se chato sou eu. 

A Duquesa/The Duchess

De Saul Dibb, Inglaterra-Itália-França, 2008.

Com Keira Knightley, Ralph Fiennes, Charlotte Rampling, Dominic Cooper, Hayley Atwell

Roteiro Jeffrey Hatcher, Anders Thomas Jensen e Saul Dib

Baseado no livro Georgiana, Duchess of Devonshire, de Amanda Foreman, publicado em 2000

Música Rachel Portman

Produção Paramount Vantage, BBC Films, Pathé. Estreou em São Paulo 21/11/2008.

Cor, 110 min.

**

6 Comentários para “A Duquesa / The Duchess”

  1. Meu querido,

    Estou rindo até agora do seu comentário sobre o filme. hahahaha.

    Adorei! Tem filmes que são mesmo assim, são bons apenas quando não estamos de TPM, ou num mau dia.

    Beijos,

    Michelle Fransan

  2. Eu adorei esse filme, pra mim foi um dos melhores que já ví. As paisagens, a maneira como tudo era, o machismo naquela época,um filme de uma mulher influente. adorei tudo nele, e não me canso de assisti-lo.

  3. A gente procura, procura (NET) e acaba vendo o se nos apresenta. Não sou muito dada a esses filmes de época, a não ser que sejam sobre personagens que despertm grande curiosidade. Tamém não gostei do filme. Ela era ousada mas nem tanto. Nadou, nadou e morreu na praia. O podoroso “maridão” obrigou-a, e ela aceitou, dispor do filho que deve com o amante… Não me liguei na provável comparação com Diana. Esta, também moreu na praia… só que literalmente…

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