2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2003, com complemento em 2008: Esta é uma daquelas comédias escrachadas, aberta, loucamente doidas, sem pé nem cabeça, que o cinema americano fazia às pencas nos anos 30 e 40. O filme é de 1950, mas é bem amalucado quanto os das décadas anteriores. Defende a moral de que os doidos são mais humanos, mais sensíveis e mais felizes do que o comum dos mortais.
Jamais seria feito agora, nesta época do politicamente correto, porque o personagem central é um sujeito que bebe pacas e não há nenhum problema nisso. Ele se chama Elwood P. Dowd (interpretado por um James Stewart brincalhão e alegre), que tem como companheiro inseparável um gigantesco coelhão de quase dois metros de altura, o Harvey do título.
Ao consultar os alfarrábios, percebe-se que o que eu interpretei como uma simples comédia maluca que defende uma moral deve ter parecido para os críticos americanos uma fábula cheia de significados. A peça ganhou um Pulitzer, James Stewart foi indicado para o Oscar e para o Globo de Ouro e Josephine Hull levou os dois prêmios como coadjuvante – o Oscar e o Golden Globe.
Muitos anos depois, este filme seria citado em outro, numa seqüência muito engraçada. A citação é feita em Missão Comédia/Looking for Comedy in the Muslim World, de Albert Brooks, 2005. Logo no começo do filme, o comediante Albert Brooks (que interpreta a si próprio) é chamado para um teste diante da diretora de elenco e da diretora, produtora e atriz Penny Marshall (também interpretando a si própria), que estão se preparando para fazer uma refilmagem deste Harvey original de 1950. Quando a diretora de elenco informa a Penny Marshall que o convidado seguinte para se submeter ao teste é Albert Brooks, ela fica irritada, reclama, diz algo do tipo “Mas ele não serve para esse papel, você ficou louca? Ele não tem nada a ver com o Jimmy Stewart, ele não presta pro papel”.
Meu Amigo Harvey/Harvey
De Henry Koster, EUA, 1950.
Com James Stewart, Josephine Hull, Peggy Dow
Roteiro Mary Chase e Oscar Brodney
Baseado na peça de Mary Chase
Produção Universal
P&B, 104 min.
Olá Sérgio,
Ao q tudo indica seu palpite estava errado; http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1253121-7086,00-STEVEN+SPIELBERG+VAI+DIRIGIR+NOVA+VERSAO+DE+CLASSICO+DE.html. Aparentemente o filme vai ter um remake.
Nunca tinha ouvido falar desse filme, entrei ao acaso nesse link da globo.com e resolvi procurar no google sobre o filme. Cai no seu site, que adoro muito, sempre passo por aqui pra descobrir filmes “novos”(ao menos para mim), pura coincidência. E quando li seu post sobre o filme, não teve como evitar o comentário!
Adoro seu trabalho!!!!
Com carinho,
Juliana
Veja só, Juliana, então haverá um remake? Bem, meu palpite estava errado. Mas eu seria capaz de apostar com você umas três cervejas que, na nova versão, o personagem central não vai beber nem um décimo do que bebia o Elwood P. Dowd original! Se é que vai beber alguma coisa.
E se é que vai haver esse remake. O iMDB mostra projetos de Spielberg para até 2001 e não consta essa refilmagem do Harvey.
Muito obrigado pelas referências elogiosas, Juliana. Um abraço.
Lembro que, embora o personagem beba bastante, mesmo essa questão é tratada com cuidado no filme. Vários personagens comentam o gosto de Elwood pelo álcool, ele admite que bebe bastante e está sempre em bares. Mas não demonstra “estar de porre” em nenhuma parte do filme. A bebida, de fato, parece torná-lo mais simpático, gentil e sábio!
Achei um bom filme no contexto geral. Muitos se perguntam se o tal coelho existia ou não, e acho que a interpretação é pessoal. Vale pelo grande desempenho de Stewart, que curiosamente dizia não gostar tanto dessa atuação em especial. Ele fez o papel também no teatro e, pelo que apurei, lá sim o alcoolismo é abordado de maneira mais aberta.