2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Como bem indicam o próprio título brasileiro e as frases de marketing dos cartazes do filme e da capa do DVD, este aqui é mais um do subgênero Família Feliz Cai nas Garras de Bandido Cruel. É quase um bom thriller. Quase.
A principal questão, me parece, é exatamente o fato de que o filme pertence a um subgênero já muito explorado, congestionado. Então, quando se vai fazer uma nova produção, os caras procuram compensar a falta de novidade com excessos, exageros de todos os tipos. Pode ser até que funcione em termos de bilheteria – os produtores têm seus milionários departamentos de marketing, de pesquisa, devem saber o que estão fazendo, não queimam dinheiro. Mas, em termos de qualidade, a coisa complica muito. A mim e à Mary, pelo menos, essa tendência do cinemão padrão americano ao exagero enche profundamente o saco.
Para não meter o carro muito à frente dos bois, vamos primeiro a uma descrição de como o filme começa, antes que eu tente dar os exemplos dessa coisa do excesso, do over do over.
Como todos, ou quase todos os filmes do subgênero Família Feliz Cai nas Garras de Bandido Cruel, os primeiros minutos deste Encurralados mostra um mundo róseo. O espectador já sabe que, quanto mais róseo for o mundo da família, e quanto mais tempo demorar para o Bandido Cruel aparecer, pior será o sofrimento da Família Feliz.
Aqui, levam-se uns dez, 12 minutos para o horror começar.
Temos então a feliz família Randall: Neil (Gerald Butler) é um publicitário muito bem sucedido; sua bela, atraente mulher Abby (Maria Bello), é uma dona de casa que tem uma vida confortável, e, no momento da ação, está pensando em retomar o trabalho como fotógrafa, que tinha quando viviam em Denver, Colorado, antes do nascimento da filha; a filhinha do casal, Sophie (Emma Karwandy), de uns cinco, seis anos de idade, é uma gracinha total. A família vive numa confortável casa num bom bairro de Chicago; Neil acaba de fechar novo contrato para sua agência de publicidade com uma empresa importante, e é o funcionário predileto do patrão, Karl (Peter Keleghan).
Na verdade, Neil – que, como já se disse, está bem de vida – está para receber uma promoção. Ficamos sabendo disso numa cena em que Karl chama Neil para uma conversa em seu escritório, e ao fundo a secretária do patrão, Judy (Claudette Mink), recebe um telefonema de Abby, e diz que o marido não pode atender porque está em reunião com o chefe; Abby pergunta à secretária se ela acha que isso pode significar uma promoção, e a secretária diz que pode, sim. Numa das primeiras tomadas dentro da agência de publicidade, em que o patrão Karl está com seus principais funcionários discutindo o novo contrato, a câmara mostra a secretária Judy ao fundo, mas com o foco nela; as pessoas no primeiro plano, na sala de reuniões, estão desfocadas nesta tomada; o foco fica lá no fundo, em Judy, sentada à sua mesa sem tampo, de forma que podemos ver, sob a mesa, os joelhos da secretária. Essa tomada dura menos de um minuto, mas eu prestei atenção na coisa de o foco estar na secretária lá atrás.
Antes dessa seqüência passada dentro da agência de publicidade, havia aparecido um sujeito de binóculo, no topo de um alto prédio do centro de Chicago, observando lá embaixo, na rua, Neil chegando para o trabalho. O sujeito veste blusão de couro, tem a barba por fazer e uma cara de mau. É Pierce Brosnan, o Bandido Cruel. Não saberemos o nome dele ao longo de quase todo o filme. Corta, e temos Neil entrando no prédio da agência de publicidade.
Depois da seqüência no trabalho de Neil, temos mais uma seqüência na casa da Família Feliz. Neil está arrumando uma malinha – vai passar o fim de semana na casa de campo do patrão. Disse a Abby que preferiria não ir, e ficar com ela, mas explicou mais uma vez como é importante aceitar o convite do patrão. Abby, compreensiva, diz que entendia, sim. Estão para sair os dois juntos – Neil vai deixar Abby na casa de uma amiga, e em seguida vai tocar a vida, indo no final do dia para a casa de campo do patrão. Chega a babá que cuidará de Sophie naquele dia. Neil e Abby se despedem da filhinha, da babá, e entram no carro. Estão conversando no carro, a caminho da casa da amiga de Abby, sobre a iminente promoção dele, sobre a vontade dela de retomar o trabalho como fotógrafa, quando o bandido levanta-se do piso do carro atrás do banco do motorista e aponta o revólver para Neil.
O bandido diz ao casal que está com Sophie – e o espectador pensa, ah, a babá então não era a contratada via agência, era uma cúmplice! O bandido faz uma ligação no celular, passa para Abby – é Sophie do outro lado da linha. Sophie, avisa o bandido, morrerá se o casal não fizer tudo o que ele mandar nas 24 horas seguintes. A primeira tarefa a ser cumprida é passar no banco e retirar todo o dinheiro que o casal tem no banco. Dá-se o seguinte diálogo:
Neil: – Quanto você quer?
Bandido: – Quanto você tem?
Neil: – 90, 95. Não sei exatamente.
Bandido: – 142.367 dólares.
O bandido sabe tudo sobre Neil, sobre Abby, sobre Sophie, sobre o trabalho de Neil, sobre as sacanagens todas que Neil fez para conseguir fechar o tal grande contrato para a sua agência. A intenção óbvia do diretor Mike Barker é deixar o casal seqüestrado – assim como o espectador – atônito, querendo saber quem é aquela pessoa, como foi possível que ele soubesse de tanta coisa sobre eles, por que ele quer se vingar. A intenção é boa; o bandido surge dentro do carro do casal quando não temos ainda sequer 15 minutos de filme, e então teremos daí para a frente a angústia de ver todo o sofrimento do casal e mais a curiosidade de saber quem é esse vingador. Lá pelas tantas, ele vai falar do trabalho de Neil, de modo que ficaremos todos sabendo que a vingança se deve a isso, ao trabalho.
A intenção é boa, mas aí é que os exageros prejudicam o filme. O bandido é competente demais, é firme demais, é mau demais; sabe perfeitamente todos os passos que suas vítimas darão em seguida, está sempre à frente deles no jogo de xadrez. As cruezas que comete com o casal são bárbaras demais, assustadoras demais. Tudo é tão over que às vezes a vontade de parar de ver o filme ficava maior que a curiosidade em saber por que, afinal, estamos vendo uma vingança tão violenta. Mary desistiu no meio do filme, foi fazer alguma outra coisa melhor; além de com todo o exagero, ficou irritada com o fato de o casal se negar – mesmo quando o bandido os deixa a sós – a avisar alguém sobre o que está acontecendo.
E os dois atores, o irlandês Pierce Brosnan e o escocês Gerard Butler, caem feito patinhos no exagero. Brosnan – que é um dos produtores executivos do filme – fica com a mesma cara de mau, muito mau, mas muito mau demais o filme inteiro; e, depois de em tantos outros filmes segurar o sotaque irlandês, aqui ele exagera até nisso. E Butler igualmente exagera na cara de assustado, aterrorizado, barbarizado, à beira de um ataque de nervos. Só Maria Bello consegue uma atuação matizada, balanceada.
O que diferencia este filme de tantos outros do mesmo subgênero virá no final – que, obviamente, não vou revelar aqui. É uma bela surpresa, uma bela sacada dramática. Pena que chegue depois de tanto exagero.
Encurralados/Buttefly on a Wheel
De Mike Barker, Inglaterra-Canadá, 2007.
Com Pierce Brosnan, Gerard Butler, Maria Bello, Emma Karwandy, Peter Keleghan, Claudette Mink
Argumento e roteiro William Morrissey
Música Robert Duncan
Produção Icon, Butterfly, Irish DreamTime
Cor, 95 min.
**
Título em Portugal: Atormentados
O filme é bonzinho, mas pecou mesmo pelo exagero. Apesar do Pierce Brosnan fazer “a mesma cara de mau, muito mau, mas muito mau demais”, rsrs, ele não me convenceu em nenhum momento de que era realmente mau, sempre achava que ele fosse fraquejar, ou que ele estivesse fazendo aquilo a mando de alguém. Ele me passava a impressão de que não oferecia perigo. Ao final do filme fica claro é que ele é um ator ruim. Aquele sotaque estava mesmo um saco; engraçado que parecia uma coisa do interiorrr. Já o muso Gerard Butler (pausa para suspiros) tb exagerou nas caretas, e não sei pra quê inventaram de pintar o cabelo do homem (e ele tb ainda tem um pouco de sotaque irlandês). Mas, estava pensando, e não deve ser fácil fazer cara de assustado e acuado o tempo todo; difícil não cair no exagero. A Maria Bello conseguiu um meio-termo pq ela estava atuando duplamente, hehehe. O final foi mesmo surpreendente. Vale a pena aguentar a enrolação pra ver o desfecho.
Mas quem é observador viu que no começo do filme ela não estava tããão entusiasmada assim com o marido. E outra: acho que ela tentou dar uma chance a ele quando falou que queria que ele ficasse com ela no final de semana. Muita sacanagem do cara ir “se encontrar com o chefe” justo no fim de semana pós-aniversário da mulher.
Agora, só malhando mais um pouco o filme: acho comédia demais a mulher acordar no meio da noite com o cabelo impecável e no lugar. E depois passar o dia inteiro, mesmo depois de todo suor , correria e desespero com os cachos super bem feitos e a maquiagem arrumadíssima.
Achei bizarro aquele cabelo loiro com os olhos escuros. Sem falar que ela tem a mão do tamanho de uma raquete de tênis. Prontodesabafei.
O filme é bonzinho, como diz a Jussara, mas não é grande espingarda.
Vê-se e pronto.
O comentário do Sérgio já aqui está há muito tempo e eu nunca o tinha visto, são tantos filmes!
Se conseguirem fazer algo melhor avisem-me