2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: Este filme de Luc Besson de 2005 tem duas características básicas, me pareceu. A primeira é que o visual é extraordinário. Tudo bem, é uma marca mesmo de Besson, mas neste aqui o visual é ainda mais acachapante que nos outros filmes dele que vi.
O fato de ele ter escolhido o preto-e-branco, hoje tão pouco usado, realça ainda mais a beleza da fotografia. E o que é fotografado ajuda: Paris, todos os pontos mais maravilhosos de Paris, as pontes, o Sena, as avenidas – e uma loura de um metro e 80 linda, sensacional, o tempo todo com uma microssaia preta curtíssima, colante, uma coisa absurda de gostosa.
A segunda característica básica do filme é o seguinte: a história é absolutamente boba, imbecil, idiota. Mais boba que qualquer piada babaca de Casseta & Planeta.
É preciso uma altíssima dose de abstração da realidade para se continuar vendo o filme, depois de uns dez, 15 minutos, quando o espectador já sacou qual é a trama. Mas quem conseguir essa façanha pode até se divertir um pouco – e, para os olhos, é uma festa.
Jamel Debbouze é um bom ator em drama – ele está ótimo em Dias de Glória/Indigènes, o belo filme de Rachid Bouchareb de 2006 sobre como os franceses recrutaram homens de suas colônias africanas para lutar na Segunda Guerra mas sempre os tratou como gente de segunda categoria. Mas na comédia ele é extraordinário. Sua atuação ajuda um pouco a amenizar a idiotice da trama.
Bem, a trama. André (o personagem interpretado por Jamel Debbouze) é um pobre coitado de um vigarista azarado, sonso, bobão, que está devendo uma fortuna para dois bandidos. Cada um de uma vez, mas no mesmo dia, os dois bandidos dão um ultimato: que ele pague a dívida até a meia-noite, ou será morto, com crueldade. Nosso anti-herói tenta ser preso, mas a Polícia não quer saber dele.
Não vê outra solução: vai se matar, pulando da ponte – a mais bela das belíssimas pontes parisienses, a Alexandre III, com mais dourado que a Igreja de São Francisco em Salvador. Na hora que ele vai pular – tcham-tcham-tcham-tcham… Aparece a louraça de um metro e 80, com a microssaia. Muito bem, qual é o nome do filme? Ah, sim, Angel-A. Claro, um anjo.
Afinal, se George Bailey, o personagem de James Stewart em A Felicidade Não se Compra/It’s a Wonderful Life, de Frank Capra, de 1946, tem Clarence, um anjo todo trapalhão, para acudi-lo quando ele está para se matar, na véspera do Natal, porque o André de Jamel Debbouze não pode ter Angel, uma anja loura deslumbrante de um metro e 80 e microssaia preta colante?
Mas então é isso. Estamos com 15 minutos de filme, e o espectador já sacou tudo. O pobre André é tão sonso que vai levar mais meia hora, ou 40 minutos, para descobrir quem é a louraça 30 centímetros maior que ele. A partir daí, seguem-se situações que podem parecer grotescas, ridículas, caso o espectador não entre na sintonia do filme, ou então até divertidas, se ele conseguir se abstrair de toda e qualquer lógica.
A louraça que faz o anjo de Besson é Rie Rasmunssen, uma dinamarquesa nascida em 1978 (estava, portanto, com 27 anos), que foi modelo da Gucci, teve um papel secundário em Femme Fatale, de Brian De Palma, em 2002, e depois disso escreveu e dirigiu dois curta-metragens.
Angel-A
De Luc Besson, França, 2005
Com Jamel Debbouze, Rie Rasmunssen
Argumento e roteiro Luc Besson
Fotografia Thierry Arbogast
Música Anja Garbarek
Produção Europa Corp. Estreou em São Paulo 23/11/2007
P&B, 90 min
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