Um Lugar na Platéia / Fauteuils d’Orchestre


4.0 out of 5.0 stars

Anotação em 2007, com complemento em 2008: Delícia de filme, que virou cult imediatamente, primeiro no Rio, e depois também em São Paulo, apenas por causa da propaganda boca-a-boca. É, muito possivelmente, o filme francês mais inventivo, gostoso e simpático desde Amélie Poulain.

A diretora Danièle Thompson, nascida no Mônaco, em 1942, é autora também de Três Irmãs/La Bûche, de 1999, outro belo filme que vi na mesma época, com uma visão de mundo muito amarga e ao mesmo tempo carinhosa, suave e doce. Este filme aqui é a terceira parceria da diretora com seu filho Christopher Thompson, que também trabalha como ator; eles assinam juntos o roteiro – como já haviam feito em Três Irmãs e Fuso Horário do Amor/Décalage Horaire, de 2002.

E o roteiro é uma maravilha, um primor. Ele entrelaça diversas histórias, diversos personagens, três acontecimentos que estão para ocorrer num mesmo dia e no mesmo local, a Avenue Montaigne – um concerto, um leilão de obras de arte e a estréia de uma peça teatral. No meio disso tudo está uma garota recém chegada a Paris, Jessica, não Djéssica, é claro, mas Jessicá – interpretada com charme, graça e brilho por Cécile de France, essa gracinha de atriz da mesma geração de Audrey Tautou, de Amélie Poulin

alugar1Jessica é órfã, foi criada pela avó (a veterana Suzanne Flon), e ouviu mil vezes a história que ela conta na abertura do filme, antes mesmo dos créditos iniciais: “Adoro jóias. Um belo dia fez as malas e fui para Paris. Como não tinha qualificação, acabei no Ritz, como atendente de banheiro. Eu sempre adorei o luxo. Como não tinha condições de viver no luxo, resolvi trabalhar no meio dele”.

 Como a avó, Jessica chega a Paris sem qualificação, mas com muita sorte: logo arranja emprego como garçonete no Café des Theatres, na elegantérrima Avenue Montaigne, entre o Sena, diante da Pont de l’Alma, e a Champs-Elysées. Pelo pequeno restaurante, situado junto de um teatro, uma sala de concertos e uma casa de leilões, circularão nossos personagens.

A atriz Catherine Versen (Valérie Lemercier, excelente, ela também diretora de cinema) parece estar sempre à beira de um ataque de nervos; trabalha numa novela de TV, está nos ensaios finais para a estréia de uma peça, um clássico de Feydeau (1821-1873), e fará de tudo para conseguir um papel na nova produção de um diretor americano famoso, Brian Sobinski (interpretado por Sydney Pollack, esse diretor que adorava trabalhar como ator). O novo filme de Sobinski será sobre Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, e ele está neste momento em Paris, hospedado no Plaza, também ali na Avenue Montaigne, à procura da atriz que interpretará a grande escritora.

(Aliás, o título do filme nos Estados Unidos foi Avenue Montaigne. Em Portugal, foi O Lugar Ideal.)

alugar2O pianista Jean-François Lefort (Albert Dupontel, ótimo) também está ensaiando; dará dentro de poucos dias um concerto ali ao lado do teatro e do restaurante. Famoso, aclamado, paparicado, com todos os seis meses seguintes tomados por apresentações já marcadas por sua  empresária e mulher Valentine (Laura Morante), ele está num momento de profunda crise: cansou-se daquilo tudo, das elegantes salas de concerto, da obrigação de usar smoking; quer viver a vida, livrar-se das turnês, talvez tocar para o povo, em apresentações gratuitas.

 O milionário Jacques Grumberg (Claude Brasseur) também tem urgência em viver os meses ou semanas que lhe restam; viúvo, muito doente – doença que esconde de todos, em especial do filho, Frédéric (Christopher Thompson), com quem tem uma relação conturbada, problemática -, resolveu leiloar a riquíssima coleção de arte que acumulou ao longo da vida inteira, para gastar dinheiro sem culpas com a amante que tem metade de sua idade.

E ainda tem Claudie (interpretada por Dani, ótima, maravilhosa), que trabalhou durante décadas no meio artístico como arrumadeira, concièrge, faz-tudo, passou pelo Olympia, conheceu Gilbert Bécaud – de quem ouve velhas canções durante o tempo todo -, trabalha agora na sala de concertos e está prestes a se aposentar.  

 Jessica vai conhecer todos esses personagens, cujos caminhos se cruzarão diante dela.

 Quando o filme termina, o espectador se sente mais leve, flutuando, a uns cinco centímetros do chão.

Um Lugar na Platéia/Fauteuils d’Orchestre

De Danièle Thompson, França, 2006.

Com Cécile De France, Suzanne Flon, Valérie Lemercier, Albert Dupontel, Claude Brasseur, Christopher Thompson, Sydney Pollack, Dani, Laura Morante

Música Nicola Piovani

Produção Alain Sarde, Radis Films, Studio Canal, TF1 e Thelma Films. Estreou em São Paulo 11/5/2007.

Cor, 105 min.

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Título em Portugal: O Lugar Ideal

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