2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Abandonada pelo marido, que a trocou por uma moça bem mais jovem, mulher de classe média para alta fica absolutamente desestruturada.
O filme vai fundo, mas muito fundo, no sofrimento de Olga, a personagem central, muito bem interpretada por Margherita Buy, nos dias de inferno do abandono. O abandono, como bem sabem todos os que já passaram por isso, ou fizeram alguém passar por isso, é uma das piores situações que uma pessoa pode enfrentar. Aquela boutade de Oscar Wilde – “oh, Deus, livrai-me da dor física, que da moral eu me ocupo” – vira uma brincadeira sem qualquer graça, uma piada de humor negro de muito mal gosto – e o filme mostra isso muito bem.
Ele me fez lembrar, e muito, outro filme italiano desta primeira década do século XXI, No Limite das Emoções/Ricordati di Me. O que comecei a escrever sobre aquele vale em tudo por tudo para este aqui:
Famílias da classe média para cima infelizes são uma tradição no cinema italiano do pós-guerra: os aristocratas e os burgueses de Visconti, os burgueses de Antonioni, os ricos de uma maneira geral do jovem Bertolucci, os ricos e corruptos de Scola em Nós Que Nos Amávamos Tanto, os ricos de alguns dos De Sica, os poderosos de Elio Petri. A lista não terminaria nunca.
Parecia que, para aquela geração de cineastas que veio depois do fascismo, estar acima do limite da pobreza trazia o inferno para dentro de casa. Petri chegou a fazer um filme – A Classe Operária Vai ao Paraíso – para afirmar que até mesmo os operários, quando seu salário ultrapassa o nível das necessidades de subsistência, perdem seu valor e seus valores.
Esse diretor Roberto Faenza, italiano de Turim, de 1943, foi o autor de Jornada da Alma/Prendimi l’Anima, de 2002, bom filme que conta a interessantíssima história real de Sabina Spielrein, uma judia russa rica que foi enviada pela família, nos primeiros anos do século XX, para tratamento na Suíça, onde chegou doida de pedra e de onde saiu curada pelo então jovem Carl Gustav Jung. Foi também o autor de Páginas da Revolução/Sostiene Pereira, de 1996, um excelente filme passado em Portugal durante a ditadura salazarista, com belas interpretações de Marcello Mastrianni e Daniel Auteil e música magnífica de Ennio Morricone.
Dias de Abandono/I Giorni Dell’Abbandono
De Roberto Faenza, Itália, 2005
Com Margherita Buy (Olga), Luca Zingaretti (Mario), Goran Bregovic (Daniel), Fausto Maria Sciarappa (Franco), Gaia Bermani Amaral (Carla)
Roteiro Gianni Arduini, Simona Bellettini, Roberto Faenza, Dino Gentili, Filippo Gentili
Baseado em romance de Elena Ferrante
Música Goran Bregovic
Cor, 96 min
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