A trama de Suíte Francesa é simples, pouco mais que um fiapo de história. Não há muitos fatos marcantes, extraordinários: este é um filme que se preocupa muito mais com os detalhes do comportamento dos personagens do que com os eventos.
O tema é o mesmo de dezenas e dezenas e dezenas de filmes que vieram antes dele – a vida na época da ocupação da França pelos nazistas.
É um tema que não se esgota nunca.
Desde o fim da Segunda Guerra, em 1945 o cinema francês vem abordando o tema. Dezenas de filmes enalteceram o heroísmo dos combatentes da Resistência Francesa. Em 1974, com Lacombe Lucien, Louis Malle ousou falar de um assunto até então tabu – o colaboracionismo. A partir daí, montes de filmes remoeram o passado tenebroso.
Entre os que exaltam a luta contra o invasor e os que denunciam a colaboração de muitos franceses com o nazismo, já estão neste site os seguintes filmes:
Paris Está em Chamas?/Paris Brûle-t-il?, de René Clément, França, 1966
O Último Metrô/Le Dernier Métro, de François Truffaut, França, 1980
Adeus, Meninos/Au Revoir les Enfants, de Louis Malle, França-Alemanha Ocidental, 1987
Herói por Acaso/Monsieur Batignole, de Gérard Jugnot, França, 2002
Viagens do Coração/Bon Voyage, de Jean-Paul Rappeneau, França, 2003
Enquanto Houver Esperança/La Maison de Nina, de Richard Dembo, França, 2005
Contratadas para Matar/Les Femmes de l’Ombre, de Jean-Paul Salomé, França, 2008
A Chave de Sarah/Elle s’appelait Sarah, de Gilles Paquet-Brenner, França, 2010
Amor e Ódio/La Rafle, de Rose Bosch, França-Alemanha-Hungria, 2010
Por uma Mulher/Pour une Femme, de Diane Kurys, França, 2013
De fato, é um tema que não se esgota nunca.
Michelle Williams faz uma jovem que é tiranizada pela sogra megera
Se a este Suíte Francesa falta talvez originalidade, há diversas qualidades que compensam o fato. O filme foge do maniqueísmo como o diabo da cruz: nem todo alemão é mau caráter sanguinolento, nem todo francês é santo e adere à Resistência. Muitos colaboram abertamente com os invasores. Alguns até aproveitam para denunciar ao invasor um desafeto como criminoso.
A protagonista da história, a narradora, Lucille, é uma personagem muitíssimo bem construída, e maravilhosamente interpretada por Michelle Williams, essa grande atriz.
Lucille é uma jovem mulher extremamente sensível, de bom caráter – mas é um tanto frágil, insegura. Casou-se – mais por pressão do pai, agora já morto – com Gaston, rapaz rico, bastante rico, que se alistou no Exército, foi para o front e deixou Lucille sozinha na grande casa da família, onde a moça passou a viver tiranizada pela sogra, Madame Angellier – o papel de uma Kristin Scott Thomas maquiada e penteada para parecer mesmo uma megera francesa como se vê em pinturas.
Madame Angellier é dona de terras, na região de Bussy. Bem no início da narrativa, a voz de Lucille em off nos conta que a sogra faz questão de levá-la, de carro, para fazer a ronda das propriedades da família e recolher o aluguel dos colonos e posseiros – e se para Madame Angellier cobrar o dinheiro daquela gente pobre, de vida dificílima, parece um prazer, para a sensível, delicada Lucille é uma tortura excruciante.
O filme abre com um letreiro – “Paris, 3 de junho de 1940” – e cenas reais da época, da chegada dos nazistas a Paris e das imensas filas de pessoas deixando a capital francesa rumo ao interior.
Novo letreiro informa: “Bussy, França Central, uma semana depois” – e vemos Michelle Williams acordando e se dirigindo ao piano.
O texto que a voz em off de Michelle Williams fala, enquanto vamos vendo as imagens do que ela vai descrevendo, é extremamente bem escrito, e de uma delicadeza extraordinária:
– “Começou com uma tempestade em abril. Nos dias anteriores, bombas alemãs tinham caído nos arredores de Paris pela primeira vez. Pessoas aterrorizadas fugiam da cidade como podiam. Mas, no campo, a guerra ainda parecia distante, e eu continuava preocupada com a que eu já travava bem mais perto de casa.”
Lucille ainda estava de camisola, tocando uma melodia erudita extremamente suave ao piano quando a sogra tirana chega para apressá-la. Vão em seguida sair para fazer a ronda de cobrança dos aluguéis.
– “Minha sogra, Madame Angellier, não aceitava a possibilidade de derrota, mesmo com a chegada dos primeiros refugiados de Paris. Três anos antes eu tinha me casado com seu precioso filho, por insistência de meu pai, e me mudei para Bussy. Com Gaston lutando, ela achava que eu deveria aprender a administrar suas propriedades. Então, todo mês visitávamos nossos inquilinos, aos domingos, porque ela sabia que os fazendeiros estariam em casa.”
Os invasores alemães se instalam na pequena cidade francesa
O roteiro é assinado pelo diretor Saul Dibb e por Matt Charman, com base no romance de Irène Némirovsky – e há muito o que falar sobre a história da existência do romance, o que farei mais tarde.
Não dá para saber se os roteiristas foram fiéis à autora nesses trechos em que Lucille narra sua história, mas creio que é bem possível – o que demonstra que a Irène Némirovsky não faltavam talento e delicadeza.
Saul Dibb e Matt Charman, de qualquer forma, foram extremamente felizes nessa abertura da narrativa. Com concisão, em pouquíssimo tempo, eles nos dão diversas informações básicas, tanto sobre o macro, a Grande História, quanto sobre os personagens da história que vamos conhecer.
Já nessa ronda que sogra e nora fazem para recolher o pagamento dos aluguéis, nessa sequência inicial, ficamos conhecendo duas famílias de trabalhadores rurais. A primeira delas é a de Celine, moça linda (o papel de Margot Robbie); a família não havia conseguido juntar o dinheiro suficiente para pagar o aluguel, e Celine explica que, com a ausência dos irmãos, recrutados pelo exército, o trabalho está difícil.
Do casal Madeleine e Benoit Labarie (Ruth Wilson e Sam Riley), Madame Angellier e Lucille compram batatas. Esse casal – que terá importância grande na trama – mora em terras do visconde de Montmort, o homem mais rico da região e prefeito da cidadezinha de Bussy (o papel de um Lambert Wilson que parece muito mais velho que os 56 anos que tinha no ano de lançamento do filme, 2014).
Depois que passam pelo sítio ocupado pelos Labarie, sogra e nora se deparam com um gigantesco cordão de gente que saiu de Paris rumo ao campo, à procura não se sabe exatamente de quê, a não ser ficar longe da capital agora ocupada pelos nazistas.
Aviões nazistas vão sobrevoar a estrada apinhada de gente e lançar bombas.
Nos dias seguintes, os soldados alemães estão tomando conta de Bussy. Com menos de 15 minutos de narrativa, a situação básica do drama está dada, está exposta.
Os oficiais terão direito a se hospedar nas melhores casas da região. O invasor determinou isso, e não há o que discutir. Um jovem tenente, Bruno von Falk (Matthias Schoenaerts, na foto abaixo), vai se apresentar para uma crispada Madame Angellier e se instalar no escritório da casa, o aposento em que fica o piano que Lucille havia ganho de seu pai.
O tenente do exército nazista vai se revelar educado, de boas intenções.
Ele toca ao piano uma melodia que Lucille, que estudou música, não reconhece. É uma composição dele, na qual ele está trabalhando, e à qual dará o nome de Suite Française.
Os soldados alemães expõem seus corpos, as moças francesas têm tesão
O cinema já mostrou diversas vezes cenas de mulheres que, ao fim da ocupação nazista na França, tiveram seus cabelos cortados com máquina zero e suas cabeças pintadas ou agredidas com ovos e farinha. Eram mulheres acusadas de terem trepado com os invasores, das quais ao final da ocupação a população se vingava.
Sequer me lembro dos primeiros filmes que vi com essas cenas, ainda garoto, em Belo Horizonte.
São cenas profundamente tristes, chocantes, absurdas.
Este Suite Française não tem cenas como essas – mas mostra o que acontece antes delas. Há uma sequência impressionante mostrando como moças jovens de Bussy se sentiam fascinadas ao ver os jovens soldados alemães sem camisa, na praça central da cidade.
Lucille vai à cidade fazer compras, e observa a cena: os garotões alemães se molhando com a água do chafariz da praça, e as moças francesas ouriçadas diante deles. Não há ideologia alguma, patriotismo algum aí – só tesão.
A voz em off de Michelle Williams diz, enquanto Lucille atravessa a praça, vendo a bela Celine, sua inquilina pobre, derretendo-se diante de um tedesco:
– “Tínhamos ficado muito tempo sem homens na cidade. As mães dos soldados franceses os olhavam com nojo. Mas as jovens olhavam para eles com desejo.”
Mais adiante na narrativa, Lucille, passeando pelo campo, irá flagrar a bela Celine dando para um alemão ao ar livre.
Uma quase relação, uma quase história de amor, que não chega a acontecer
A sinopse do filme no Now diz o seguinte: “No início da ocupação da França, floresce um romance entre uma camponesa e um soldado alemão.” É a tradução simplificada da sinopse que está no IMDb: “Durante os anos iniciais da ocupação nazista da França na II Guerra Mundial, um romance floresce entre Lucille Angellier (Michelle Williams), uma moça de uma pequena cidade francesa, e Bruno von Falk (Matthias Schoenaerts), um soldado alemão”.
Se se considerar que um tenente é, afinal de contas, um soldado, vá lá. O uso da palavra “camponesa” na sinopse do Now, no lugar de villager, no entanto, é um erro absoluto – Lucille não tem nada de camponesa.
Mas o principal erro dessas sinopses é – além de reduzir o escopo da história a apenas um dos elementos dela – que não se trata propriamente de um romance que floresce.
É uma relação complexa, complicada, a que vai se estabelecendo entre a jovem francesa sensível e frágil e o jovem alemão igualmente sensível mas afinal de contas tenente do exército nazista.
A rigor, a rigor, os dois nem chegam propriamente a estabelecer uma relação.
Há uma curiosidade, uma atração, há pontos em comum – a sensibilidade, o gosto pela música –, há o tesão, e um brevíssimo momento de encontro interrompido brutalmente.
A voz de Michelle Williams, em off, dirá: – “Sequer uma palavra de nossos verdadeiros sentimentos jamais foi dita. Nem uma única palavra sobre amor”.
É uma quase relação, uma quase história de amor, uma coisa que não chega a acontecer, e é danada de triste, e é contada de uma bela maneira.
A camponesa Madeleine Labarie, bela mulher (boa atriz, essa Ruth Wilson) diz uma frase impressionante, ainda no início da narrativa: “Meu pai sempre dizia: se quiser ver de que são feitas as pessoas, comece uma guerra”.
É um belo filme, mas tem um defeito gravíssimo: os franceses falam inglês!
Então, é um belo filme – certo?
É um belo filme, sim, mas tem um defeito gravíssimo, absurdo, grotesco: os franceses falam inglês.
Todos aqueles franceses, os ricos e os muito pobres, os donos de terra e os explorados pelos donos de terra, o padre, o camponês, a camponesa, a madame, a protagonista – todos os franceses falam em inglês!
Mas que cazzo carái é isso?
Suite Française – esse é o título internacional, inclusive nos países de língua inglesa – é uma co-produção Inglaterra-França-Canadá-Bélgica. Três países em que se fala francês.
E no entanto todos os personagens franceses falam inglês.
Por que isso, meu Deus do céu e também da terra?
Nada contra a escolha de Michelle Williams para o papel principal. A americana Michele Williams é uma das melhores atrizes de sua geração. Poderia ter sido dublada, por que não? A inglesa Kristin Scott Thomas já fez diversos filmes falando em francês quase sem sotaque. Consta que o belga Matthias Schoenaerts (de fala maternal flamenga, portanto) aprendeu alemão para falar ele próprio os seus diálogos no filme.
Sim, porque os alemães falam em alemão entre si. Quando fala com o major que chefia o destacamento alocado em Bussy (interpretado por Heino Ferch), o visconde-prefeito (o papel de Lambert Wilson) fala em alemão.
Quando os alemães falam com os franceses, falam em inglês.
Nos filmes antigos de Hollywood era assim – o mundo inteiro falava inglês. Mas isso é inaceitável num belo filme feito hoje, produção caprichada de 15 milhões de euros de orçamento, com a grife da BBC e da TF1.
É de fato lamentável, incompreensível, inaceitável.
As anotações pessoais da jovem judia ficaram guardadas por décadas
A história do livro Suite Française é fenomenal.
Irène Némirovsky escreveu a história, à mão, nas páginas de um caderno. É até difícil acompanhar o texto, porque há muitas rasuras, frases cortadas fora – nos créditos finais, vemos os nomes dos atores e dos principais membros da equipe tendo ao fundo o manuscrito deixado pela autora.
A história foi escrita durante a ocupação da França pelos nazistas. Irène, judia, escreveu em segredo.
Em 1942, ela foi presa; mandada para Auschwitz, morreu no campo de concentração.
O caderno com o manuscrito ficou guardado pela sua filha mais velha, Denise Epstein-Dauplé. Durante décadas, Denise não teve coragem de abrir o caderno para ler: imaginava que era um diário pessoal da mãe, e que seria doloroso demais ler aquilo. No final dos anos 1990, no entanto, Denise fez um acordo com um arquivo francês de doação dos papéis de sua mãe – e aí decidiu examinar o caderno.
As anotações pessoais de Irène Némirovsky eram uma beleza de um romance.
Suite Française foi publicado na França em 2004 e em seguida em diversos outros países. Tornou-se um best-seller internacional.
“É uma sensação extraordinária ter trazido minha mãe de volta à vida”, ela disse. “Mostra que os nazistas não conseguiram de fato matá-la. Não sei se é uma vingança, mas é uma vitória”.
O filme estava em pré-produção, as filmagens ainda não haviam começado, quando Denise Epstein-Dauplé morreu, em 2013.
Os créditos finais dedicam o filme a ela.
Anotação em abril de 2016
Suíte Francesa/Suite Française
De Saul Dibb, Inglaterra-França-Canadá-Bélgica, 2014
Com Michelle Williams (Lucile Angellier), Kristin Scott Thomas (Madame Angellier), Matthias Schoenaerts (tenente Bruno von Falk),
e Ruth Wilson (Madeleine Labarie), Sam Riley (Benoit Labarie), Margot Robbie (Celine Joseph), Eric Godon (Monsieur Joseph), Deborah Findlay (Madame Joseph), Lambert Wilson (Visconde de Montmort), Harriet Walter (Viscondessa de Montmort), Paul Ritter (Monsieur Dubois), Tom Schilling (tenente Kurt Bonnet), Heino Ferch (o major)
Roteiro Saul Dibb e Matt Charman
Baseado no romance de Irène Némirovsky
Fotografia Eduard Grau
Música Rael Jones
Montagem Chris Dickens
Produção The Weinstein Company, Alliance Films, Qwerty Films, Scope Pictures, TF1 Films Production.
Cor, 107 min
***
Eu li o outro livro de Irène Némirovsky, O Senhor das Almas, pois não achei um exemplar de Suite Francesa. Uau. Preciso me esforçar mais para encontra-lo.
Muito bom comentário, como sempre. Quanto a “os franceses falam em inglês” – salvo engano de memória, algo semelhante também acontece em O Leitor, com Kate Winslet e Ralph Fiennes, quando vemos os livros em que a personagem vai aprender a ler – uma personagem alemã – em inglês…
Filme bonito e delicado, apesar da temática super batida.
Quem diria que iríamos ver um cara humano e sensível debaixo da pele de um nazista… Isso me surpreendeu. Ele logo ganhou pontos comigo quando apareceu com o cachorro adotado de uma vila (para horror da madame), e depois no momento em que deu a Lucille um pedaço da partitura que estava escrevendo, como presente dentro de uma caixa, e ainda pediu desculpa por ter sido rude momentos antes.
E quando colocou uma música para tocar, e a tirou para dançar, assim, meio do nada, pedindo apenas que ela esquecesse tudo por dois minutos? Que cena maravilhosa e cheia de delicadeza!
Vi uma resenha em um blog português descendo a lenha no fato que você destaca, do filme ser falado em inglês, mesmo se passando na França; o autor critica muito também a adaptação, que chama de maniqueísta e vergonhosa.
Não li o livro, mas gostei do filme, apesar desse detalhe da língua. Fiquei tão concentrada na história dos dois, que a mim foi indiferente. O mais bizarro foi ver que mantiveram os pronomes de tratamento, os cartazes, folhetos e cartas em francês. No rádio, o pronunciamento do marechal é feito em francês. As duas músicas cantadas também são francesas.
E aqui, permita-me discordar de você, Sérgio, mas dublagem em pleno século XXI é difícil de engolir! Eu ficaria incomodada. Deixemos as dublagens para os filmes de Jacques Demy, os quais não pretendo mesmo ver. he
Se é inaceitável que nos filmes de hoje o mundo inteiro fale inglês, é igualmente inaceitável que os atores sejam dublados.
Michelle Williams é uma boa atriz, mas ninguém é insubstituível. A personagem poderia sim ter sido feita por alguém que falasse francês, se fosse o caso, e até mais jovem (o papel pede). No começo do filme ela tentou colocar um pouco de sotaque inglês nas suas falas, mas depois vai “perdendo”. Não sei por que fez isso.
No mais, achei Matthias Schoenaerts bem melhor que ela, que na minha opinião estava um tanto irregular, às vezes preocupada em mudar o sotaque; e olha que o personagem dele é mais complexo (até no piano se saiu melhor; e tem mãos bonitas, diga-se de passagem). Ele soube se expressar diversas vezes somente com o olhar, em cenas bem difíceis.
E que homem bonito! (Mesmo com o corte de cabelo ridículo do exército alemão, e com o uniforme duas vezes maior que ele, o que aliás, é uma pena, pois dei um google e vi que o moço tem o corpo todo trabalhado). Talvez tenha sido a forma com que ele viveu o personagem, que o deixou mais atraente, mas ele tem borogodó.
Matthias pode até não ter a fama de Williams nem a experiência de Kristin Scott Thomas, porém, para mim o filme é dele. É ele quem brilha.
K. Scott Thomas está mesmo super maquiada, e na minha opinião, quase caricata. Ela anda perdendo a mão em algumas atuações. Malévola por Malévola, a Viscondessa era pior. Além de ter mandado o outro tenente pusteminha ir morar com os Labarie, entregou Benoit só porque descobriu que ele furtava galinhas; ainda mentiu para o marido que ele a havia ameaçado com a espingarda. Só que para toda ação existe uma reação, e a que ela provocou veio de uma maneira que nem em seus piores pesadelos ela poderia ter sonhado.
É, não chegou a acontecer uma relação, mas para mim houve sim uma história de amor, ou houve amor, simplesmente. De uma maneira mais etérea que carnal, sem pronunciar uma palavra sobre o assunto, com Lucille sendo julgada por todo mundo na cidade.
Achei a história bem tocante. O diretor demonstrou ter tato e sensibilidade, principalmente nas raras cenas de beijo e contato físico, ou nos momentos em que os dois ficavam juntos, sem poder conversar direito. Mérito dos dois atores também, claro.
Que façam mais bons filmes, todos eles.
Gostei bastante da trilha sonora, que pegou carona no piano da trama (filmes que têm piano ganham cadeira especial no meu coração).
As poucas opiniões que consegui pescar na internet foram de portugueses revoltados com a adaptação e com o reducionismo da narrativa. Pode até ser que a adaptação para o cinema tenha ficado aquém, mas isso é comum e até esperado. Eu gostei bastante. Essa década me atrai (nota 10 para o figurino de Michelle Williams).
Li uma resenha sobre a edição em inglês do livro, e o comentarista diz que ele é dividido em duas partes, sendo que a segunda é justamente essa que o filme aborda. Ele não cita o filme (ainda não havia sido lançado), mas pelo comentário me pareceu que o diretor quis ficar apenas com esse lado do enredo; e eu acho que ele fez muito bem.
O livro está esgotadíssimo no Brasil (não sei por que não o reeditaram quando o filme foi lançado – Cia das Letras vacilona!), mas se eu ficar com muita vontade de lê-lo, vou comprar a edição em inglês, e ler somente essa parte que o filme nos trouxe.
Errata: Em “No começo do filme ela tentou colocar um pouco de sotaque inglês nas suas falas, mas depois vai “perdendo””, eu quis escrever foi perdendo, em vez de vai.
Eu achei incrível a história. Pretendo ler o livro, mas o filme em si já me fascinou. Triste mesmo é que nos raros momentos que o quase “Casal” tiveram juntos, eram interrompidos. Mas tanto Michelle quanto Matthias deram um show! Acredito que o fato de os atores não falarem em francês nem de longe tira os méritos do filme, é uma licença poética aceitável. Ruim mesmo seria ter substituído Michelle, que soube conduzir a personagem com delicadeza e primor! Que encanto! Matthias também me surpreendeu. Ator que encarna o personagem, adere à trama e nos permite vivenciar os sentimentos dele. Fenomenal aquela cena, ao fim do filme, em que ele está sentado, provavelmente bêbado, com um aspecto totalmente diferente por ter executado o Visconde. Ele fala com a Lucille e enquanto diz que havia ganhado de presente o tabaco da esposa, esboça um sorriso como quem quisesse ferir a personagem de Michelle. Mas no geral, todos trabalharam muito bem e o filme é um encanto. Sensível, brilhante, bonito.