3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2006, com complemento em 2008: É o tal negócio: nem todo artista tem uma vida que dá um bom filme. Às vezes a cinebiografia de um grande e valioso artista é um tédio só, porque a vida do cara simplesmente não ajuda – como é o caso recente de Ray, a cinebiografia de Ray Charles.
Já o late great Johnny Cash, o Homem de Negro, este teve uma vida que de fato merece ser narrada em um filme. Tem droga, tem muita estrada, tem o fascínio que ele exerceu sobre os presidiários, suas constantes apresentações dentro de prisões, tem uma história de amor tumultuada, longa, com June Carter, herdeira de um clã absolutamente nobre no mundo da música country, que já era famosa quando ele estava começando a carreira. A vida dele tem movimento, ação, altos, baixos, romance – tudo para dar um bom filme.
O diretor James Mangold soube aproveitar toda essa riqueza. Ele pega o espectador (pelo menos aqueles que conhecem alguma coisa da música do grande Johnny Cash; e quem não conhece deveria ir atrás o quanto antes) já na primeira seqüência, ao longo da apresentação. Temos um presídio – uma legenda informa que é Represa, Califórnia, 1968 -, guardas armados por todos os lados; lá dentro, em um grande pátio, uma multidão de presos bate os pés no chão, bate palmas, bate as mãos nas cadeiras à frente, enquanto, no palco, um baterista, um baixista e um guitarrista vão repetindo e repetindo os poucos acordes iniciais de uma música, a música que dá o título original do filme, Walk the Line; os músicos estão ansiosos, o público também, e o público é perigoso, e o artista principal não entra em cena. O espectador o vê então, sentado diante de uma serra elétrica; um copo d’água na mesa treme com o barulho altíssimo no pátio ao lado. Um guarda se aproxima e tenta timidamente chamar o artista à razão; afinal, a tensão pode explodir: “Mr. Cash? Mr. Cash?”
Corte rápido, e estamos – um letreiro nos informa – em Dyess, Arkansas, 1944. Os músicos e os presos ansiosos, assim como o espectador, vão ter que esperar. Johnny Cash só vai entrar no palco daquele presídio bem mais tarde.
O garoto Joaquin Phoenix realmente encarnou o músico. A voz que se ouve, em todas as muitas músicas cantadas no filme, é dele mesmo. E Reese Witherspoon, depois de tantas comedinhas ligeiras, encontrou um belo papel na pele de June Carter, mais tarde June Carter Cash. É ela também que canta, com sua própria voz, as canções de June.
O filme teve cinco indicações ao Oscar – ator, atriz, figurinos, montagem e mixagem de som; Reese Witherspoon ganhou o prêmio. Ela, Joaquin Phoenix e o filme levaram os Globos de Ouro.
James Mangold, nascido em 1963, é daqueles que não fazem filmes sem parar, um filme a cada ano. É cuidadoso nas escolhas. Fez Cop Land, bom policial, em 1997, e Garota, Interrompida/Girl, Interrupted, em 1999, sobre jovens desajustadas em um hospital psiquiátrico. Bom sujeito.
Johnny e June/Walk The Line
De James Mangold, EUA, 2005.
Com Joaquin Phoenix (Johnny Cash), Reese Witherspoon (June Carter), Ginnifer Goodwin (Vivian Cash), Robert Patrick (Ray Cash), Dallas Roberts (Sam Phillips), Dan John Miller (Luther Perkins). Larry Bagby (Marshall Grant), Shelby Lynne (Carrie Cash). Tyler Hilton (Elvis Presley), Waylon Payne (Jerry Lee Lewis), Shooter Jennings (Waylon Jennings), Sandra Ellis Lafferty (Maybelle Carter), Dan Beene (Ezra Carter). Clay Steakley (W.S. ‘Fluke’ Holland), Johnathan Rice (Roy Orbison)
Roteiro Gill Dennis e James Mangold
Baseado nos livros Man in Black e Cash The Autobiography, de Johnny Cash
Música T. Bone Burnett
Cor, 136 min.
Só fui ver há duas semanas, apesar de gostar de cinebiografias; quando o filme saiu não me empolgou, já que eu não conheço o trabalho do Johnny Cash (me julguem) e não gosto de música country. Mas gosto dele cantando outros estilos.
Eu gostei, o filme é bom, só achei um pouco longo, meio cansativo, talvez por eu ter visto a versão estendida e por não gostar do gênero musical (música é das poucas coisas que ainda me emocionam nesse mundo cão, mas as do filme não me pegaram).
Joaquin Phoenix está mesmo muito bem, a chatinha Reese Whiterspoon também, talvez tenha sido a melhor atuação dela até hoje, só acho que não chegou ao ponto de ter merecido um Oscar. O fato dos dois terem cantado é um ponto alto, algo raro de se ver nos atores de hoje.
O moço Joaquin não faz meu tipo, mas estava bem bonito na época, com 30 anos, embora para mim o auge dos homens chegue aos 40. A pele dele fazia inveja à da Whiterspoon, que mesmo nova já estava com botox na testa.
Saber que a história de June e do [Hello, I’m] Johnny Cash durou, e que um morreu poucos meses depois do outro, impressiona. Durante o filme eu pensei que fosse apenas obsessão a insistência dele.