Alta Sociedade, de 1956, tem uma das mais belas sequências da história do cinema. Na minha opinião, é claro – e a frase pode espantar muita gente. Como assim? Uma comedinha musical de Hollywood?
Mas tem. Não estou dizendo que é uma das mais importantes – estou dizendo uma das mais belas.
Plano americano – aquele em que vemos meio corpo das pessoas, tipo da cintura para cima. Plongée – a câmara está no alto, acima dos atores. Grace Kelly está no centro da tela, a cabeça recostada nas pernas de Bing Crosby, e ela está acariciando o rosto parceiro com a mão; eles estão num iate, no mar aberto, só eles no meio do marzão, e estão cantando “True love”, que Cole Porter compôs especialmente para o filme.
Um dos rostos mais lindos que já apareceram numa tela de cinema. Uma das mais belas vozes que apareceram no planeta depois que o som passou a ser gravado. Uma canção singela, simples, absolutamente bela, esplêndida, maravilhosa, criada por um dos maiores compositores da música popular dos últimos cento e tantos anos.
É uma das mais belas sequências da história do cinema.
A voz que se ouve é a da própria Grace Kelly, já então princesa prometida
Há um detalhe fantástico aí. Quem canta em dueto com Bing Crosby é mesmo Grace Kelly, que jamais foi cantora na vida.
Grandes atrizes já foram dubladas nas canções. É o óbvio: uma grande atriz não precisa necessariamente ser uma grande cantora. Natalie Wood foi dublada por uma cantora profissional em West Side Story – e isso não desmerece sua bela atuação como Maria. Audrey Hepburn foi dublada por uma cantora profissional em My Fair Lady – e isso não desmerece sua extraordinária atuação como Eliza Doolittle, embora na época muita gente tenha notado que a atriz que interpretou com imenso sucesso Eliza Doolittle no teatro no West End londrino, ao lado de Rex Harrison e outros atores que também atuaram na versão cinematográfica dirigida por George Cukor, poderia ter sido perfeita no filme. Até porque essa tal atriz, preterida pelos produtores do filme, seria a estrela do primeiro filme a desbancar … E o Vento Levou do primeiro lugar entre os filmes de maior bilheteria da história.
A tal atriz é Julie Andrews, e o filme que derrotou … E o Vento Levou é o maravilhoso The Sound of Music, no Brasil A Noviça Rebelde.
Mas voltando ao ponto em questão: o fato de terem sido dubladas não é um demérito para Natalie Wood em West Side Story nem para Audrey Hepburn em My Fair Lady. São dois filmes extraordinários, dos melhores musicais que já foram feitos.
Catherine Deneuve foi dublada no primeiro e até hoje, ao que eu saiba, único filme inteiramente cantado da história, Os Guarda-Chuvas do Amor. Não se ouve a voz de Catherine Deneuve uma única vez ao longo dos 91 minutos de puro encantamento do filme de Jacques Demy – e, no entanto, Les Parapluies de Cherbourg não seria o encantamento que é se não fosse por ela.
Pois muito bem.
Para fazer um dueto com Bing Crosby, uma das vozes mais absolutamente perfeitas do planeta, poderiam ter convocado uma cantora profissional.
Não convocaram. A voz que ouvimos no dueto, e que não se apequena ao lado da voz de Bing, é da própria atriz estrondosamente bela – que, à época das filmagens, já era princesa prometida: High Society seria o último filme de Grace Kelly. O príncipe foi visitar a noiva no estúdio. A estrela bela como o mais belo rosto criado por Botticelli iria deixar em seguida o cinema para ser a princesa do Mônaco.
Enquanto Grace Kelly virava princesa, o dueto que ela havia gravado – audaciosamente, soberbamente – com Bing Crosby, lançado como single, conquistava o Disco de Platina de mais de 1 milhão de cópias vendidas.
O único dueto que os dois maiores cantores da grande música americana fizeram no cinema
Acho que me alonguei…
Além de ter uma das sequências mais belas da história do cinema, Alta Sociedade tem também a única sequência de um filme em que Bing Crosby e Frank Sinatra cantam – e dançam – juntos.
Fiquei aqui pensando em alguma comparação possível para o fato de Bing e Frank cantarem (e dançarem) juntos, mas é difícil.
Acho que a melhor comparação possível seria uma jogada entre Pelé e Garrincha – Garrincha dribla um, dribla dois, centra para Pelé, que recebe no peito, bota no terreno, dribla outros dois e faz o gol.
Ahnn… A imensa maior parte das pessoas nasceu depois que Garrincha morreu, e então essa comparação não significa nada? Bem, poderia então ser uma dobradinha entre Neymar e Messi.
Um dueto de Bing e Frank é algo assim como reunir numa única sequência James Dean, Elvis Presley, Marilyn Monroe e Marlon Brando.
Bing e Frank fazem um dueto na biblioteca da imensa mansão do Tio Willie. Dexter, o personagem de Bing, já estava lá, sentado numa belíssima poltrona, folheando uma revista. Mike, o personagem interpretado por Frank, chega porque sabe que a biblioteca contém um bar escondido – algumas horas antes, Tracy, a personagem de Grace Kelly, havia aberto o bar para ele.
Dexter-Bing fica sentado onde está, e percebe de imediato que Mike-Frank está à procura do lugar do botão que abre o bar. Ensina para o rapaz mais novo o caminho das pedras: “Aí nas Seleções de Harvard. Aperte em Darwin.”
E em seguida os dois, Frank e Bing, Bing e Frank, fazem o único dueto que os dois maiores cantores da grande música americana jamais fizeram no cinema. Cantam “Well, Did You Evah”, uma canção deliciosa, alegre, brincalhona, em que o gênio de Cole Porter se antecipa aos pós-modernos todos e até inventa novas palavras: “Have you heard? It’s in the stars / Next July we collide with Mars. / Well, did you evah? / What a swell party, a swell party / A swelligant, elegant party this is!”
Swelligant! Uma mistura de swell e elegant!
E ainda por cima tem o grande Louis Armstrong interpretando a si próprio
Ter a beleza de Grace Kelly e as vozes de Bing Crosby e Frank Sinatra já é a glória. Mas o filme ainda tem Louis Armstrong fazendo o papel dele mesmo, à frente de uma belíssima banda e tocando e cantando.
Além de “True Love” e “Well, Did You Evah”, o filme traz outras sete canções, todas compostas por Cole Porter especialmente para o filme. Consta que ele chegou a criar 14 canções para Alta Sociedade, todas com letras que se encaixavam na trama – mas apenas nove acabaram sendo usadas. Gênio é gênio.
Com tudo isso, esses astros, e a música de Cole Porter, Alta Sociedade é uma delícia de musical, um filme gostosíssimo de se ver, uma diversão da maior qualidade. Como não poderia deixar de ser, foi um grande sucesso de público: segundo diz Celeste Holm, a atriz que faz o quarto papel mais importante da história, depois dos de Bing, Grace e Frank, em um especial que acompanha o filme no DVD, High Society custou US$ 2,7 milhões e rendeu nas bilheterias US$ 12 milhões.
Alta Sociedade só não pode ser comparado a The Philadelphia Story, no Brasil Núpcias de Escândalo, que George Cukor dirigiu e foi lançado em 1940, 16 anos antes, portanto. Os dois filmes se baseiam na mesma peça de teatro, escrita por Philip Barry e lançada em 1939.
Se o espectador fizer a comparação entre as duas filmagens da mesma história, aí então não tem jeito: Alta Sociedade sai perdendo.
Não tem jeito, sai perdendo mesmo. Até porque The Philadelphia Story é uma esplendorosa maravilha, é o mais perto da perfeição que uma comédia romântica pode aspirar a chegar. (Perfeito, como se diz, só Deus, certo?)
A Metro pediu ao roteirista John Patrick uma adaptação da peça para um musical, e encomendou as músicas a Cole Porter. Este fez um trabalho maravilhoso. Já aquele John Patrick…
Ele teve a esperteza de manter diversos diálogos, diversas falas idênticas às do filme de 1940. Mas, para transformar a história em um musical, teve que fazer várias adaptações, mexidas.
Não tem jeito: se você mexe em algo que chegou bem perto da perfeição, periga você estragar.
Revimos Alta Sociedade um dia depois de revermos The Philadelphia Story. Era absolutamente impossível não fazer comparações.
Mary, é claro, gostou demais de Alta Sociedade, assim como eu mesmo. Não tem como não gostar. Mas fez diversas observações sobre pequenos defeitos do roteiro, na comparação com o filme original.
A bela milionária vai se casar pela segunda vez
Certo – mas seria necessário fazer uma sinopse da trama, antes, e ainda não fiz.
Tracy Samantha Lord (o papel de Katharine Hepburn no filme original, de Grace Kelly aqui), a filha de um multimilionário da exclusivíssima Newport, está para se casar pela segunda vez. O felizardo chama-se George Kittredge (John Howaees no original, John Lund aqui), um homem que já foi muito pobre e subiu na vida em uma das empresas pertencentes ao pai da moça.
Tracy havia tido um casamento rápido e tempestuoso com outro milionário, C. K. Dexter-Haven (Cary Grant no primeiro filme, Bing Crosby aqui). Foram amigos de infância, são vizinhos. Hoje, Tracy detesta, despreza o ex-marido. Este, por sua vez, continua absolutamente apaixonado pela ex-mulher.
O multimilionário pai de Tracy, Seth Lord (John Halliday no original, Sidney Blackmer aqui), anda tendo um caso com uma bailarina de alguma fama. O editor da Spy, uma revista vagabunda que fala da vida de multimilionários e celebridades, faz uma chantagem: quer mandar uma dupla de repórter e fotógrafo para cobrir o casamento de Tracy – ou então publica uma reportagem já prontinha que conta tudo sobre o affair de Seth Lord com a bailarina.
E então Tracy e sua mãe (Mary Nash no original, Margalo Gillmore aqui), absolutamente contra sua vontade, são obrigadas a permitir que entrem na fabulosa mansão e na intimidade de suas vidas os repórteres Mike (um James Stewart parecendo mais jovem que Shirley Temple no original, Frank Sinatra aqui) e Liz (Ruth Hussey no original, a bela e competente Celeste Holm aqui). Mike é o homem do texto, Liz é a mulher das fotos.
O roteiro de Alta Sociedade não explica fatos que o original deixa claros
Bem, esta é a base da trama, é o que o espectador vê aí até uns 15, no máximo 20 minutos de filme. A partir daí, rola muita água sob a ponte – e rolam doses industriais de champagne goela abaixo dos personagens. A trama é deliciosa, envolve piadas finíssimas, situações hilariantes.
Toda a ação se concentra em dois dias – a véspera do casamento de Tracy, a longa noite de loucuras que se segue e o dia seguinte.
Nos dois filmes, aliás, a profunda, abissal ressaca que se segue à longa noite de loucuras é tema de piadas – visuais e de texto – sensacionais.
Mary reparou que o roteiro de Alta Sociedade não sabe explicar muito bem por que, afinal, o casamento de Tracy e Dexter não deu certo, e terminou de maneira tão rápida, e com Tracy com tanto desprezo por ele. De fato, isso não fica muito claro. No filme de 1940, Dexter é bonito, charmoso, sedutor – mas bebe demais, e chegou até mesmo a dar umas pancadinhas na mulher. Nada violento demais – mas um leve tapa, a gente sabe, já é o suficiente, mais do que o suficiente,
Ainda a argumentação de Mary: o roteiro de Alta Sociedade não mostra por que Tracy passa a achar que o repórter, o intruso, o invasivo espião filho da mãe da imprensa marrom é uma pessoa interessante. E de novo Mary tem razão. Em The Philadelphia Story, o repórter é um escritor, já havia publicado um livro de contos; Tracy vai à biblioteca (na livraria mais próxima não havia exemplar do livro), lê alguns dos contos e acha que eles têm grande qualidade. Em Alta Sociedade não há isso – o Mike de Sinatra, ao contrário do Mike de James Stewart, não havia escrito coisa alguma. Ele apenas canta para Tracy “You’re Sensational” – e só por isso ela começa a vê-lo sob uma perspectiva diferente, não apenas como o intruso, o invasivo espião filho da mãe da imprensa marrom.
Tempos em que os ricos e famosos gostavam de manter privada sua vida privada
Faço aqui rapidíssimo parênteses. Como já foi dito, High Society é de 1956 (e The Philadelphia Story é de 1940). Para os garotos de 20 anos, uma coisa velhíssima, pré-antiga. Em termos de História, da grande História, é bem menos do que a poeira do cocô do cavalo do bandido – foi outro dia mesmo.
Dá saudades dos tempos tão recentes em que os ricos, os famosos, detestavam ter sua vida particular, privada, tornada pública, transformada em privada no sentido de vaso sanitário. Hoje, os famosos, ou aspirantes a famosos, torcem loucamente para ser perseguidos por paparazzi. Uma das mais famosas cantoras do Brasil dá entrevista explicando pormenorizadamente como faz para fazer xixi enquanto está em cima do caminhão do trio elétrico.
Credo em cruz. Acho que não estou preparado para este admirável mundo novo.
O roteirista inventou falas para defender que milionários não paguem altos impostos
Tenho ainda uma outra objeção ao roteiro de Alta Sociedade, além daquelas feitas pela Mary. As objeções de Mary são puramente racionais. A minha é, digamos, um tanto mais de visão de mundo, de escala de valores.
Como pano de fundo da trama, há, evidentemente, a questão da profunda diferença entre as classes sociais dos personagens. O classismo. A injustiça social.
O incômodo que o repórter Mike sente naquele mundo de milionários no filme original é mais explícito, e mais justificado na construção do personagem. O desprezo que ele sente por aquilo é mais crível, mais explicável.
Mas isso não é o pior. O pior é que o roteirista de High Society, esse John Patrick, inventou falas (que não estão no filme original) para defender a existência dos milionários. No passeio de Tracy com o repórter Mike, ela faz e repete e repete um discurso contra os altos impostos cobrados dos milionários.
Isso, para mim, é a pior coisa do filme. É um nojo, é absolutamente disgusting.
Parece discurso de republicano, beirando o Tea Party.
Milionário tem que pagar imposto altíssimo, sim. Porque a existência de milionário é tão absurda, tão chocantemente nojenta quanto a existência de absolutos miseráveis.
Bem, mas aí talvez eu tenha viajado demais. Meu amigo Elói Gertel às vezes me diz que, a respeito dos filmes, a gente deve falar apenas de filmes – ideologia, política, isso não cabe.
Discordo. A arte tem tudo a ver como a maneira com que a gente vê o mundo.
O certo seria ver ou rever primeiro o musical, e depois o original
Leonard Malin deu 3 estrelas em 4: “Gostosa refilmagem de Philadelphia Story é agradável, mas perdeu a força doo original. Kelly está para se casar com John Lund quando ex-marido Crosby chega, junto com os repórteres Sinatra e Holm. As canções de Cole Porter incluem ‘True Love’, ‘Did You Evah?’, ‘You’re Sensational’, mais Bing and Satchmo em ‘Now You Has Jazz’. Último papel de Grace Kelly.”
O Guide des Films de Jean Tulard desprezou o filme. Deu apenas 1 estrela, resumiu a sinopse em uma única frase, e, no segundo parágrafo, em que geralmente faz a apreciação da obra, disse apenas: “Uma excelente canção: ‘True love’.”
Bem, então resumo a minha opinião: Alta Sociedade é uma delícia. Só não dá para compará-lo a The Philadelphia Story. Se o eventual leitor me permite uma sugestão, é o seguinte: faça o contrário do que Mary e eu fizemos. Veja (ou reveja) primeiro o musical. E só depois veja (ou reveja) o original.
Quem fizer isso terá o prazer de ver dois bons filmes, sem decepção alguma.
Anotação em março de 2014
Alta Sociedade/High Society
De Charles Walters, EUA, 1956.
Com Bing Crosby (C.K. Dexter-Haven), Grace Kelly (Tracy Lord), Frank Sinatra (Mike Connor),
e Celeste Holm (Liz Imbrie), John Lund (George Kittredge), Louis Calhern (Tio Willie), Sidney Blackmer (Seth Lord), Louis Armstrong (ele mesmo), Margalo Gillmore (Mrs. Seth Lord), Lydia Reed (Caroline Lord)
Roteiro John Patrick
Baseado na peça The Philadelphia Story, de Philip Barry
Fotografia Paul C. Vogel
Montagem Paul Keast
Canções por Cole Porter
Música Johnny Green e Saul Chaplin
Coreografia Charles Walters
Figurinos Helen Rose
Produção Sam C. Spiegel, MGM. DVD Warner Bros.
Cor, 107 min
R, ***
Como assim, 3 estrelas somente???
Qualquer filme, mas qualquer filme mesmo, é automaticamente classificado na cotação máxima quando Frank e Bing aparecem juntos e começam a cantar “Well did you evah!”. 🙂
Todos os comentários de Senhorita – sempre sobre clássicos, e sempre sintéticos, curtíssimos – merecem cotação máxima.
Obrigado, Senhorita!
Sérgio
Já vi The Philadelphia Story, agora quero ver este (deveria ter sido o contrário, mas quando o texto foi publicado eu já tinha visto o outro).
Tenho um pouco de birra do Frank Sinatra atuando, acho-o fraco, mas só o vi em filmes com o Gene Kelly, ainda novo, não sei se depois dessa fase ele melhorou e foi fazer um curso de teatro. De todo modo, mesmo cantando (em vídeo) eu o acho pedante, afetado. Gosto da voz, mas não gosto da cara dele, nem o considerava bonito, haha, go figure! (ele tinha um olhar meio de louco, às vezes, e pelo que já li ele sofria de alguns transtornos mesmo, mas infelizmente na época não existiam os medicamentos que existem hoje, e acredito que a bebida só piorava tudo. Mas como personalidade acho interessante, gosto das histórias – sem falar que foi amigo de Gene Kelly, com direito a brigas e reconciliações).
Quero ver mais alguns filmes com ele pra tentar entender como conseguiu ganhar um Oscar – ele era canastrão até nas atuações que fazia cantando (algumas confesso que acho engraçadas, ele tinha um quê de latin lover. E o anel no dedo mindinho, pra que aquilo? O cara era milionário, não precisava ser brega).
Pronto, já vi High Society, e mesmo tendo visto The Philadelphia Story antes, acabei gostando mais do musical, até para minha surpresa, pois não sou fã de musicais. Mas ele é mais divertido e dinâmico. Claro que não deixei de me ‘surpreender’ em todas as sequências em que pensava que sairia uma fala da boca do ator, mas depois de uma pausa vinha uma música.
Concordo com todas as diferenças que a Mary e você apontaram entre os dois filmes, neste aqui fica tudo mal explicado e superficial, mas eu nunca espero profundidade de musicais, então até que achei normal. E por ter visto o outro filme antes, na minha cabeça a história ficou clara, apesar das falhas.
Concordo plenamente com o que você disse sobre injustiça social e existência de milionários.
O ponto alto para mim é a sequência em que Bing Crosby e Frank Sinatra cantam juntos (conhecia do YouTube). Além da música, a atuação dos dois é ótima, até nos detalhes, como quando Crosby fecha a garrafa com o cotovelo. Pode ser viagem minha, mas tem um pequeno trecho de “Did You Evah?” que me lembra de leve “Aquarela do Brasil”.
Dizer que eles dançam é um pouco de exagero… Frank dá uns passinhos de sapateado (que ele aprendeu com ninguém menos que Gene Kelly) e Crosby dá uns pulinhos, nada mais que isso (também se com aquela voz, o cara ainda soubesse dançar, seria muito injusto com o resto da humanidade).
Sinatra (a quem eu chamo “carinhosamente” de canalha quando falo dele com algumas amigas) está canastrão como sempre, mas bem à vontade nessa cena em que aparece bêbado (por que será, hein?!).
E o que dizer da voz de Bing Crosby? Quando a música está acabando e ele canta “Next July we collide with Mars”, num tom diferente ao anterior, humilha qualquer um (Bing parece que tinha machucado o dedo indicador da mão direita, dá pra ver a marca de sangue “pisado” em algumas cenas. Isso me fez lembrar do dedão de uma das mãos do Rock Hudson em “Pillow Talk”; tem um close que mostra bem, a unha estava feia, achei o close desnecessário — fim do compartilhamento de detalhes inúteis, mas que mostram que estrelas de cinema também são de carne e osso).
Louis Armstrong tocando com sua banda, e Bing Crosby cantando, também valem a pena. Grace Kelly está mais mimizenta que Katharine Hepburn, mas tão anoréxica quanto, e não entendi por que ela faz um sotaque impostado (sotaque de milionário?).
Gosto da atuação de Celeste Holm, apesar de ter achado o papel dela menor que o do filme original.
Obrigadaaaa pelas explicações! Adorei. Vou ver o -philadelphia-story depois dr ver high society!