Conspiração Xangai / Shanghai

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2.5 out of 5.0 stars

Conspiração Xangai, no original só Shanghai (um nome que fica mais sonoro pronunciado em inglês, Shang-rrai, como o Krig-Ha, Bandolo! do Raul Seixas), é uma gigantesca, cara, produção do cinemão comercial. E cinemão comercial é mais ou menos a mesma coisa, seja qual for o país de origem.

No caso específico, são dois os países produtores – Estados Unidos e China. O que por si só já é algo interessante, fascinantemente mesmo, irônico. Produtoras dos dois países mais ricos do planeta hoje – e de há muito rivais em tudo por tudo, até pouco tempo atrás abertamente inimigos  – unidas para fazer um grande espetáculo.

E, sim, Conspiração Xangai é um espetáculo. Artesanalmente, é um brilho – fotografia, figurinos, direção de arte, tudo, nos quesitos técnicos, é de primeiríssima qualidade. As cenas de ação (e são muitas) são bem realizadíssimas, um assombro. Tem mais extras que Os Dez Mandamentos de Cecil B. de Mille: afinal, a narrativa se passa em Xangai, que, já no início dos anos 1940, a época em que passa a ação, era uma das cidades mais superpovoadas do mundo.

zzxangai0E aí não dá para não lembrar daquelas sequências memoráveis de Império do Sol, que Steven Spielberg fez em 1987; a ação se passava exatamente na mesma época, 1941, quando boa parte da China estava ocupada pelo Exército do Japão. No meio da multidão descomunal, da massa compacta de gente que lotava as ruas de Xangai, o menino James se desprende das mãos de seus pais – e, do paraíso que vivia, no setor inglês da cidade dividida em setores, o garotinho cai diretamente no pior inferno que pode haver, os campos de concentração mantidos pelos japoneses.

Neste Conspiração Xangai também há uma cena de multidão apertada como na saída de um show em estádio de futebol, como nas estações do metrô paulista às 6 da tarde, em que dois personagens tentam se segurar um ao outro, e por um momento parece que vão se perder, como o garotinho James se perdeu dos pais no filme de Spielberg.

Mas aí estou divagando um pouco.

Gong Li faz a mulher de um mafioso, e desfila com uns 57 vestidos no filme

Conspiração Xangai tem grandes astros internacionais, que é o que o que se pode esperar de uma produção gigantesca, cara. O americano John Cusak faz o papel de Paul Soames, um militar da marinha dos US of A com experiência em espionagem na Berlim nazista e com poderes quase de super-herói; Indiana Jones não ficaria muito acima dele. Ken Watanabe, bom ator de muitos filmes hollywoodianos, faz Tanaka, o chefe da inteligência japonesa na Xangai dividida em setores por acordo internacional, a única grande cidade chinesa ainda não inteiramente sob o jugo japonês.

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David Morse interpreta Richard, o cônsul americano na cidade. A ótima alemã Franka Potente faz Leni Mueller, a esposa infiel de um engenheiro nazista que vai ajudar os aliados japoneses a calibrar os mais potentes torpedos que jamais haviam destruído navios até então na história da humanidade.

Chow Yun-Fat, um chinês de Hong-Kong que fez filmes de ação com John Woo (e muito mais – tem cerca de cem filmes no currículo), interpreta Anthony Lan-Ting, um poderoso mafioso chinês que, como naquele momento são os japoneses que mandam, é pró-Japão desde criancinha.

E, sobretudo, o elenco tem Gong Li, no papel de Anna, a senhora Lan-Ting. Meu Deus do céu e também da terra, e que Gong Li!

Gong Li usa uns 57 vestidos diferentes, ao longo dos 105 minutos de duração de Conspiração Xangai. Parece que os figurinistas se impuseram o desafio de criar para Gong Li vestidos mais impressionantes, mais impactantes, que os criados em 1932 para Marlene Dietrich em O Expresso de Xangai.

Alguns dos vestidos longos têm aquelas fendas que permitem a gente entrever (embora muitíssimo rapidamente) o alto das pernas da deusa.

Alguns são justos, realçando as curvas quase brasileiras da chinesa nascida na cidade de Shenyang em 1965 que, graças à imensa quantidade de candidatos, naquele país que tem cerca de um quinto da população da Terra, não conseguiu entrar na mais prestigiosa escola de música chinesa em 1985 e acabou indo para a Academia Central de Drama de Pequim, onde se graduou em 1989 para virar estrela planetária nas mãos do diretor Zhang Yimou, em Amor e Sedução (1990) e Lanternas Vermelhas (1991).

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Gong Li aparece em Operação Xangai como uma jogadora num cassino para quem todos querem oferecer vitória nas mesas, depois como a mulher do mafioso milionário recebendo trocentas pessoas em festinha íntima caseira, depois como uma quase adúltera, depois como uma lutadora da resistência chinesa contra os invasores japoneses. Aparece com mil caras diferentes, em mil situações diferentes.

Em grande parte por causa de Gong Li – e de resto pelo capricho artesanal de todos os envolvidos na produção –, Conspiração Xangai é um filme bonito de se ver.

É uma diversão bem realizada e de visual belo, nada mais que isso

Como manda o figurino dos filmes de ação/espionagem/mistério do cinemão comercial dos dias de hoje, a trama é complexa, cheia de surpresas. Tem muito tiro, sangue esguichando dos corpos baleados, socos, valentia. Tem pistas falsas, reviravoltas, revelações de última hora.

O roteirista Hossein Amini, um iraniano que já foi o autor de um roteiro baseado em Henry James (Asas do Amor, de 1997), bem que tentou dar um pouco de seriedade à história. Pretendeu dizer (a menos que eu não tenha compreendido direito) que os americanos poderiam ter tido informações suficientes para não serem surpreendidos, como foram, pelo ataque japonês à base militar de Pearl Harbor, no Havaí, em dezembro daquele ano de 1941.

Além de fazer essa afirmação séria e pesada, ele se esforçou para juntar na sua história um naco de Casablanca, um tanto dos filmes americanos dos anos 1930 e 1940 passados na China, um tantinho de O Terceiro Homem de Carol Reed que dizem ser mais de Orson Welles do que do realizador inglês, um tanto das histórias de espionagem de John Le Carré.

Apesar de todo esse esforço de Hossein Amini para temperar o filme com alguma seriedade (ou alguma cópia de clássicos), para mim o que ficou foi que é um filmezinho de ação do cinemão comercial – mais uma de tantas variações dos 007 mais sem graça, os Missão Impossível.

Bem. Talvez eu estivesse sendo muito exigente por ter visto, horas antes, um filme sério, adulto, importante – Tudo o que Desejamos/Touts Nos Envies, de Philippe Lioret.

Mary, que tinha passado a tarde do sabadão trabalhando enquanto eu via o filme sério de Lioret, gostou de ter visto Conspiração Xangai. Diz ela que descansou.

É isso. Como um divertissement, Conspiração Xangai cumpre seu papel.

Vê-se, e três minutos depois não se lembra mais daquilo.

Bem, acho que de Gong Li vou me lembrar por muito tempo.

Shanghai

Anotação em março de 2013

Conspiração Xangai/Shanghai

De Mikael Håfström, EUA-China, 2010

Com John Cusack (Paul Soames), Gong Li (Anna Lan-Ting), Chow Yun-Fat (Anthony Lan-Ting), Ken Watanabe (Tanaka), David Morse (Richard Astor),  Franka Potente (Leni Mueller), Jeffrey Dean Morgan (Conner),

Argumento e roteiro Hossein Amini

Fotografia Boinoît Delhomme

Música Klaus Badelt

Montagem Peter Boyle e Kevin Tent

Produção Living Films, Phoenix Pictures, TWC Asian Film Fund, The Weinstein Company. DVD Imagem Filmes.

Cor, 105 min.

**1/2

4 Comentários para “Conspiração Xangai / Shanghai”

  1. Quando aluguei o DVD,não sabia nada do filme.
    Coisa difícil de acontecer pois sempre gosto de ler algo sôbre os filmes.
    Neste aqui o título por si só me seduziu.
    Vou ser bem honesto . Que decepção !!
    Com 35 minutos desisti do filme . Imaginei ver algo bem mais sério e não,como disseste, aquele monte de tiro, sangue e o escambau.
    Não foi o drama , suspense que eu esperava e sim, pura ação e chata.
    Posso estar dando a maior “bola fora” mas é a minha opinião, sincera.
    Foi uma decepçaõ total. Esperei tanto deste filme.
    Tem um visual bonito sim mas,não era só isso que eu esperava.
    A Gong Li de fato é muito linda e sensual.
    Um abraço !!

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