2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 1996: Um road movie feminino, ao estilo de Thelma & Louise, que é de 1991, e de Mary & Darly/Leaving Normal, que é de 1992. São três mulheres de personalidades, passados e tipos de problemas pessoais extremamente díspares que viajam da Costa Leste para a Costa Oeste e então criam fortes laços. Uma (Whoopi) é bagunçada, até desleixada, com suas coisas, a outra (Mary-Louise) é absolutamente organizada na vida, a outra (Drew Barrymore) é jovem e só pensa em sexo e diversão. Cada uma tem um segredo que será revelado com o tempo. O filme quer englobar muitos assuntos ao mesmo tempo – aids, homossexualismo, crime, Justiça, relacionamento mãe-filha -, mas é agradável e sensível.
Whoopi Goldberg faz o papel de Jane, uma cantora da noite que se enche o saco de Nova York e resolve ir pra Los Angeles tentar um teste para um possível emprego. Lê num jornal anúncio de uma mulher que vai fazer essa viagem de costa-a-costa e quer companhia. Quem anuncia é Robin (Mary-Louise), corretora de imóveis, que de início parece ser muito certinha, com mania de limpeza e arrumação. No caminho, em Pittsburgh, passam na casa de uma amiga de Jane, Holly (Drew Barrymore), e presenciam um pouco da vida do casal: Nick, o marido dela, ex-drogado, hoje bêbado e sempre traficante, é o protótipo do homem brutal no retrato que as feministas americanas fazem. Numa seqüência de agressões físicas, a frágil Robin mostra-se mais firme e capaz de lidar com a situação de perigo do que as outras duas. E, ao revidar uma nova agressão de Nick, Holly o atinge com um bastão de beisebol. As três mulheres o deixam amarrado numa cadeira e fogem; mais tarde, ele se libera das amarras e se levanta para atender ao telefone, mas cai morto. Elas ficam sabendo disso na estrada, através dos jornais. E resolvem prosseguir viagem. Holly conta para Robin que Jane é gay (este é o segredo de Jane).
No Arizona, perto de Tucson, Robin desmaia, e é levada para um hospital. A médica informa que é pneumonia, coisa comum para quem tem aids (o segredo de Robin). Ao que Jane diz que agora as duas estão quites: cada uma tinha omitido alguma coisa para a outra. Resolvem ficar em Tucson; há um corte de alguns meses e na seqüência elas estão radicadas no lugar. Holly, grávida de Nick (mas poderia ser de outro; este é o segredo dela), namora um policial; Jane toca piano em uma banda em um bar; Robin trabalha (não se fala exatamente em que, mas possivelmente com imóveis, mesmo).
Há vários desenvolvimentos. Quando Holly conta para o namorado policial o que aconteceu com Nick, ele a entrega para a Polícia – não para fodê-la, mas por causa de seus preceitos sobre o certo e o errado. Mantém a determinação de casar com ela, mas quer tudo direito. Isso leva a algumas cenas de tribunal, onde se termina por fazer um acordo que permitirá que ela fique pouco tempo na prisão.
Se você não viu o filme, não leia a partir de agora
Robin encontra um barman que a procura, mas acaba não conseguindo transar com ele; Jane o havia alertado sobre a doença dela. O desencontro e a mágoa fazem com que Robin expulse Jane de sua casa. Robin depois recebe sua mãe em casa, que em princípio fica chocada com o fato de ela ter morado com uma mulher negra e gay. Há um belo diálogo entre as duas, mãe e filha.
A doença de Robin vai piorando, e só aí fica explícito, até para elas mesmas, que ela e Jane se amavam. Cenas da doença se misturam ao nascimento da filha de Holly – uns morrem, outros nascem.
Somente Elas/Boys on the Side
De Herbert Ross, EUA, 1995.
Com Whoopi Goldberg, Mary-Louise Parker, Drew Barrrymore,
Roteiro Don Ross
Música David Newman
Cor, 115 min.
De parecido com “Thelma & Louise” este filme só tem mesmo o fato de ser meio road movie (por pouco tempo). É muito aquém.
Para a década de 90, achei bastante corajosa a abordagem abertamente gay, mas como você disse, o filme tenta falar de vários temas ao mesmo tempo, só que não se aprofunda em nenhum deles, e isso enfraquece o roteiro. Não há como o espectador se afeiçoar aos personagens, porque as histórias são superficiais.
Gostei de viajar de volta aos anos 90, a fase da minha adolescência, e ouvir algumas músicas de sucesso da época, como “Why”, de Annie Lennox (tocou tanto que chegou a enjoar) e uma do grupo The Cranberries, que não consegui identificar. As outras canções deixaram a desejar, nenhuma me empolgou, a não ser a que Whoopi Goldberg canta no final, “You Got it”, que se não me falha a memória tocou também em “Pretty Woman”. Mas as roupas e os cabelos, que tristeza! Copiamos muita coisa dos breguíssimos anos 80, foi terrível. Mais terrível ainda é constatar que duas décadas se passaram, e como assim, eu já vivi 3 décadas inteiras? Socorro!
Foi legal ver Drew Barrymore super novinha, aos 20 anos (é oficial: estou velha!), embora a personagem dela seja uma doidivanas chatinha, que adora fumar maconha mesmo estando grávida. Ela está loiríssima, provavelmente por causa do papel, e passa o filme inteiro de batom vermelho, o que confere uma aparência vulgar à personagem.
Foi legal ver também Matthew McConaughey jovenzinho, com uns vinte e poucos anos, e um sotaque carregado do Texas, em um de seus primeiros filmes, num papel razoavelmente importante na trama (ele acaba sendo o responsável pela parte da justiça/tribunal, que eu achei fraca e desnecessária).
E não menos interessante foi ver um James Remar jovem e com um corpaço, aos 40. Confesso que não reconheci aquele ator bonitão de voz grave, dentes separadinhos e cabelo lambido. Sabia que o conhecia, mas o HD cerebral falhou.
Todos os atores estão bem, em especial as atrizes principais. Há um pouquinho de frases em espanhol, na fase em que elas passam a morar em Tucson, por causa da personagem Anna, amiga de Jane-Whoopi Goldberg, que tem um bar-restaurante com influência mexicana.
E há aí um erro tosco de falta de pesquisa: Alex, o barman que trabalha no restaurante, e é vivido por Remar, fala em uma determinada cena para Anna, que os “bambinos” dela estavam chegando. Só que bambino nunca foi uma palavra do espanhol. Ah, os americanos!
Por querer abordar vários temas de uma vez (até violência contra a mulher, o que não deixa de ser bom), o roteiro ficou superficial. A salada é tanta, que até uma “psychic reader” aparece na história.
Algumas curiosidades:
Em uma sequência em que Whoopi Goldberg discute com um colega no meio da rua, porque eles tinham sido demitidos do bar onde tocavam, um taxista com forte sotaque buzina e fala pra eles saírem do caminho. Ela se vira e fala que quem tem que sair do caminho é ele, e o manda voltar para o Paquistão. Se fosse hoje, com a problemática dos imigrantes pegando fogo, e os politicamente chatos de plantão, essa cena não seria possível. Não deixa de ser um momento engraçado do filme (e há outros nesse estilo). Me deu saudade da ausência do politicamente correto.
As poucas externas rodadas em Nova York mostram uma cidade feia e suja.
Há uma cena durante a viagem, em que a personagem de Mary-Louise Parker, Robin, vai até o quarto de Jane para saber se a TV de lá está funcionado, porque ela queria ver um filme com Robert Redford e Barbra Streisand, “Nosso Amor de Ontem”. Elas acabam vendo o filme juntas. Na sequência em que Robin conversa com sua mãe, ela também aparece vendo um outro filme de romance.
Pela foto que ilustra o texto, que era a mesma do VHS, acho que eu o vi na época em que foi lançado. Mas a única cena que me deu realmente a impressão de tê-lo visto foi uma em que as três mulheres discutem e pelejam com o namorado imbecil e violento de Holly. Vai entender! (Dizem que o ser humano tem tendência a se apegar mais ao lado negativo das coisas que ao positivo).
O diretor de “Somente Elas” é o mesmo de “Footloose”, o filme com a música tema mais chata e enjoativa de todos os tempos. Li que este aqui foi o último que ele dirigiu, o que não deixa de ser triste.
Para quem não gostou tanto assim do filme, escrevi pra caramba. hehe São os detalhes que me pegam. Ao fim e ao cabo, a história tem seu lado sensível e agradável, como você disse.
E Sérgio, acho que você contar o segredo de cada uma das personagens é spoiler. Mas como esse é um filme que pouca vai gente vai ver hoje, nem sei se vale a pena mexer no texto. Não é muito fácil encontrar filmes que foram feitos na década de 90.
PS: Você fala que não sabe resumir, mas olha aí: nos textos anteriores ao site, seus resumos são menores que meus comentários. Se é pra votar, voto sim para os textos longos. =D