2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 1999, com complemento em 2008: Eis aí um filme que me deixou perplexo, sem saber muito bem o que pensar dele. Não sei se é um horror ou, ao contrário, um bom filme. A beleza estonteante dessa menina Julia Ormond talvez ajude a criar essa perplexidade.
É uma daquelas histórias de amor bandido – que em geral são meio duras de se digerir. Truffaut fez troça desse tema antigo no delicioso e cruel-irônico Uma Jovem Tão Bela Como Eu/Une Belle Fille Comme Moi, de 1973, com a história de um sociólogo trouxa-inocente que se apaixona por seu objeto de estudo, uma presidiária, que faz dele gato e sapato.
Aqui não se faz troça alguma. Rachel (Julia Ormond) é uma dentista formada pela Universidade de Londres, que passa a cuidar de presidiários. Conhece Philip (Tim Roth), sente compaixão por ele ao receber um bilhete que diz que tem cinco anos que ele não recebe visita; passam a ter intensa atração física um pelo outro; trepam pela primeira vez em um banheiro de bar, numa cena de grande poder, beleza e tesão. Ela mais tarde descobre o crime dele: matou a mulher, ao perder a cabeça numa discussão sobre ciúme. A revelação não a afasta dele. Colega de prisão dele a envolve em contrabando de arma para dentro do presídio, ameaçando soltar para cima dela e da maior amiga o ataque de estuprador.
Os dois atores são extraordinários. Tim Roth já chegou a ser chamado de o jovem De Niro por críticos, e tem filmografia com grandes e respeitados diretores – inclusive Woody Allen, que o colocou como o criminoso saindo da prisão em Todos Dizem Eu Te Amo.
Essa moça Julia Ormond é uma coisa muito, muito estranha. Um dos rostos mais belos de toda a história do cinema, com talento testado no teatro inglês e em filmes e minisséries da TV inglesa, ela ainda não aconteceu – ao contrário de tantas outras jovens nem tão belas nem tão talentosas quanto ela, como Julia Roberts, Sandra Bullock, Cameron Diaz, para citar só algumas.
Só no ano de 1995, em que completava 30 anos de idade, apareceu em três filmões do cinemão de Hollywood: First Knight, com Sean Connery e Richard Gere, no papel de Guinevere, Lendas de Uma Paixão/Legends of the Fall, no papel da mulher que muda as vidas de quatro homens de uma mesma família, e Sabrina, de Sydney Pollack, na qual teve a audácia de recriar o papel que era de Audrey Hepburn. Como diz muito bem o Cinemania: não importaria se ela estivesse brilhante no papel – todos iriam compará-la a Audrey, e meter o pau nela. Depois desses três filmes, apareceu apenas em O Mistério na Neve/Smilla’s Sense of Snow – um filme do qual gostei basicamente por causa dela, de sua presença fascinante.
Este filme Captives foi rodado em Londres em 1994, mas lançado apenas em 1996, segundo o Cinemania, um ano depois de Julia Ormond aparentemente ter atingido o estrelato. Me peguei pensando que esse filme – assim como Sabrina – deve ter ajudado a atrapalhar a carreira dela. Sabrina fez todo mundo compará-la a Audrey Hepburn, com evidente e óbvia má vontade para com ela. E neste Captives ela ousa fazer um papel forte demais para os padrões sempre conservadores do establishment. A cena da trepada no banheiro deve ter incomodado muita gente no negócio.
Chequei no IMDB. De fato, depois desses filmes citados aí, feitos entre 1994 e 1997, Julia Ormond não fez nenhum outro filme importante ou de sucesso. Trabalhou em várias produções para a TV, ganhou prêmios no teatro, mas não estourou como merecia. Uma grande pena, uma grande injustiça.
Paixão de Alto Risco/Captives
De Angela Pope, Inglaterra, 1994.
Com Julia Ormond, Tim Roth, Keith Allen
Roteiro Frank Deasy
Música Colin Towns
Produção BBC Films e Distant Horizon.
Cor, 100 min.
Um comentário para “Paixão de Alto Risco / Captives”