O Poder do Ódio / Slightly Scarlet

Nota: ★☆☆☆

(Disponível no YouTube em 12/2023.)

O diretor Allan Dwan é um nome de respeito. O roteiro se baseia em um livro do grande James M. Cain, autor dos romances que deram origem a dois dos maiores clássicos do cinema noir, Pacto de Sangue (1944) e O Destino Bate à Porta, com duas das mais perfeitas femmes fatales do cinema, interpretadas por grandes estrelas, Barbara Stanwyck e Lana Turner.

E é estrelado por duas belas atrizes que, na época do lançamento do filme, 1956, estavam no auge da beleza e da fama – Rhonda Fleming e Arlene Dahl (as duas na foto abaixo, nessa ordem, da esquerda para a direita).

Experiente, diretor de mais de 400 filmes ao longo de seis décadas, de todos os gêneros – musicais, comédias, dramas, aventuras, policiais –, Allan Dwan (1885-1981) aproveita e abusa da beleza das moças, expõe as coxas delas à vontade. Há uma longa sequência em que a personagem de Rhonda Fleming, June Lyons, desfila diante da tela usando um shortinho.

Pois é. Com tudo isso, no entanto, este Slightly Scarlet, no Brasil O Poder do Ódio, me pareceu bem ruinzinho. Bem ruinzinho mesmo.

Até a exibição do corpo das atrizes, que, claro, me deixou boquiaberto e de queijo caído, me pareceu artificial demais, forçado demais – apelativo.

E John Payne não convence, de jeito algum. Ele faz Ben Grace, o sujeito mais esperto da fictícia cidade de Bay City, que passa de conselheiro do grande mafioso do lugar a seu inimigo, e atrai as atenções de June e de sua irmã Dorothy (o papel de Arlene Dahl).

Um prefeito corrupto e um candidato honesto

Em geral me divirto em narrar o início da trama dos filmes – é algo que faço de fato com prazer. No caso deste Slightly Scarlet, no entanto, estou com preguiça, e por isso vou usar como base duas sinopses feitas por leitores do IMDb, tirando e acrescentando algumas coisinhas, claro.

Em Bay City, Califórnia (uma cidade fictícia, com o mesmo nome da criada por Raymond Chandler em seus livros, um antro de corrupção), é sabido que a administração do prefeito Robbins faz vistas grossas para a máquina de corrupção chefiada pelo gângster Sol Caspar (o papel de Ted De Corsia). As eleições municipais estão chegando, e Norman Marlowe, o editor do Bay City Journal, está fazendo campanha pelo opositor do prefeito Robbins, um rico empresário sem experiência na política mas tido por todos como um homem honesto e empreendedor chamado Frank Jansen (Kent Taylor).

O gângster Sol Caspar fica irritado, agastado com seu conselheiro Ben Grace (John Payne), que chamava de Gênio – e rompe relações com ele. O Gênio resolve passar para o outro lado: sabendo que Caspar vai mandar matar o editor do jornal, ele coloca um gravador no escritório de Marlowe – e apresenta a prova do crime à secretária e namorada do candidato Frank Jansen, a bela June Lyons (o papel de Rhonda Fleming, como já foi dito). Com isso, pretende passar a influenciar nas decisões de Jansen na Prefeitura, caso ele seja eleito – e o novato na política é de fato eleito.

O plano vai dando certo: através de June, Ben Grace indica para o posto de chefe de polícia um amigo seu, Dave Dietz (Frank Gerstle). Com Sol Caspar fugido para o México, para escapar da Justiça no caso da morte do editor do jornal, Ben Grace pretende assumir a chefia dos negócios do gângter.

Paralelamente a todas essas questões envolvendo Prefeitura, Polícia e corrupção, há a história da bela June e sua irmã mais nova, Dorothy (o papel da outra ruiva, Arlene Dahl). Dorothy é cleptomaníaca, e acaba de sair da prisão depois de cumprir pena por roubo. June a recebe em casa, e faz tudo para ajudar a irmã.

Eventualmente, as duas irmãs vão se envolver com Ben Grace.

O projeto era ter Barbara Stanwyck e Robert Ryan

As indicações são de que as colunas de fofocas dos jornais da época do lançamento do filme – 1956 – fizeram a festa com a história das duas atrizes ruivas e rivais trabalharem juntas.

E originalmente não era para ser um veículo para Rhonda Fleming e Arlene Dahl. A princípio, os produtores queriam Barbara Stanwyck e Robert Ryan nos papéis de Ben Grace e June Lyons. Consta que a maravilhosa atriz não pôde aceitar ao papel porque na época teve uma vértebra quebrada, resultado de uma queda. O diretor Allan Dwan, então, escolheu Rhonda Fleming e John Payne, que haviam estrelado seu filme imediatamente anterior, A Audácia é a Minha Lei/ Tennessee’s Partner (1955).

Eis aqui dois itens da página de Trívia do IMDb sobre o filme:

* “Quando Barbara Stanwyck não pôde assumir o papel da ‘irmã boazinha’, Arlene Dahl, que faria a ‘irmã má’, sugeriu que Rhonda Fleming herdasse a tarefa. Segundo Dahl, já que as pessoas tendiam a confundir as duas, ‘queríamos fazer um filme juntas para que as pessoas vissem que tínhamos em comum os cabelos vermelhos, mas só isso’.”

Me parece típico de notinha de coluna de jornal da época… Assim como o outro:

* “Arlene Dahl ofereceu jogar cartas com Rhonda Fleming para determinar quem seria a primeira nos cartazes. Dahl ganhou o jogo, e em troca pediu que Fleming fosse a primeira nos créditos do filme. Fleming ficou muito tocada pelo gesto e as duas atrizes viraram boas amigas.”

Então tá.

Leonard Maltin deu 2.5 estrelas em 4. Não concordo de forma alguma com as duas afirmações que ele faz, mas lá vai:

“Eficiente estudo (de um romance de James M. Cain) sobre corrupção na grande cidade; Payne envolvido com duo dinâmico de irmãs (Fleming, Dahl). Arlene rouba o show como a alegre irmã ex-presidiária. Superscope.”

Não acho que seja um estudo eficiente da corrupção, de forma alguma. E, se é que alguma coisa rouba o show, me parece que é a beleza de Rhonda Fleming.

Filme ruim.

Anotação em dezembro de 2023

O Poder do Ódio/Slightly Scarlet

De Allan Dwan, EUA, 1956

Com John Payne (Ben Grace),

Arlene Dahl (Dorothy Lyons),

Rhonda Fleming (June Lyons)

e Kent Taylor (Frank Jansen, o honesto), Ted De Corsia (Sol Caspar, o bandidão), Lance Fuller (Gauss), Frank Gerstle (Dave Dietz, o policial), Buddy Baer (Lenhardt), George E. Stone (Roos), Ellen Corby (Martha),

Roy Gordon (Norman Marlowe, o editor do jornal)

Roteiro Robert Blees

Baseado no livro “Love’s Lovely Counterfeit”, de James M. Cain

Fotografia John Alton

Música Louis Forbes

Montagem James Leicester

Direção de arte Van Nest Polglase

Set designer Alfred E. Spencer

Figurinos Norma Koch

Produção Benedict Bogeaus, Filmcrest Productions. Distribuição RKO Radio Pictures.

Cor, 99 min (1h39)

*

 

Um comentário para “O Poder do Ódio / Slightly Scarlet”

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *