Trapped – A Segunda Temporada / Ófærð

[rating:3;5]

(Disponível na Netflix em 5/2023.)

A segunda temporada da série islandesa Trapped, de 2018, trata de uma grande gama de temas – racismo, imigração, xenofobia, defesa do meio ambiente x grandes empresas, corrupção, terrorismo, abuso sexual. E, sim, crimes de morte. Assassinatos, vários assassinatos. Muito sangue.   

O que não é de se estranhar: os nórdicos – aquele povo extremamente educado, desenvolvido, que chegou mais próximo da justiça social do que o resto do mundo – adoram, quando fazem ficção, um excesso de problemas, em especial a violência. Talvez porque na vida real não existam por lá tantos problemas.

Uma enormidade de temas importantes, fundamentais – mas Trapped Temporada 2 demonstra que o tema mais importante, mais fundamental de todos, é a família, a vida familiar.

Cada temporada de Trapped é comprida, longa, imensa. Esta segunda temporada aqui, exatamente como a primeira, tem não seis, nem oito, mas a enormidade de dez episódios, de cerca de 50 minutos cada. Oito horas e vinte de drama islandês barra pesada.

No entanto, é tudo feito com tanto talento, é tudo tão bom, que passa depressa.

Na primeira sequência, a ministra da Indústria está caminhando em direção ao Parlamento na capital, Reykjavik, ao lado de três assessores. Veremos que ela se chama Halla (o papel de Sólveig Arnarsdóttir), De repente, um homem surge, chama por ela. Halla vai ao encontro dele – e, quando estão próximos, ele abraça a mulher e toca fogo nos dois.

Uau! Que abertura!

O sujeito que ataca morre na hora. Halla, a atacada, com queimaduras terríveis em todo o corpo, é socorrida bem rapidamente. Antes de ser colocada na ambulância, vê Andri Ólafsson (o papel de Ólafur Darri Ólafsson). um respeitado, conhecido policial que havia chegado rapidamente ao local. E diz para ela que devia alguma coisa ao homem que a atacou.

Bem rapidamente o atacante é identificado pela perícia. Chamava-se Gisli (Þorgeir Tryggvason), e era irmão gêmeo da ministra Halla.

O protagonista volta à sua cidade no Norte

Trapped é aquele tipo de série que tem muitos, mas muitos, mas muitos personagens com alguma importância na trama. Os nomes difíceis de se ler e pronunciar podem deixar o espectador um tanto confuso de início.

O policial Andri – que é o protagonista da série –, a ministra Halla e seu irmão Gisli são todos de uma pequena cidade do Nordeste da Islândia, do outro lado do país-ilha em relação à capital, Reykjavik. É naquela cidadezinha litorânea, Seyðisfjörður, de menos de mil habitantes, que se passa quase toda a ação desta e das demais temporadas de Trapped – a exceção são algumas sequências passadas na capital. (As filmagens foram, de fato, em Seyðisfjörður, que fica na parte mais interior de um grande fiorde e, por estar no trecho do litoral mais a Leste da ilha, e portanto mais próximo do continente europeu, recebe regularmente grandes ferryboats vindos da Dinamarca.)

Andri havia sido o chefe do pequeno destacamento policial da cidadezinha; tinha sido ele e sua pequena equipe que haviam investigado crimes acontecidos lá alguns anos antes do atentado contra a ministra Halla – os crimes focalizados na primeira temporada da série. Agora, quer dizer, na época em que a ministra é atacada, Andri trabalhava em Reykjavik, para onde havia sido transferido.

Seus superiores na polícia da capital decidem – com toda lógica – enviá-lo para lá, para investigar o caso. Afinal, o atacante era um fazendeiro daquela região – e ninguém melhor do que Andri conhecia o lugar, as pessoas de lá.

Uma grande multinacional ligada ao Catar, American Aluminum, havia escolhido exatamente a remota região de Seyðisfjörður para instalar uma usina. E tinha planos de expandir as instalações; a ministra Halla tinha agendada uma viagem para lá, na época em que aconteceu o ataque. Poderia, talvez, haver alguma ligação entre a usina e o ataque à ministra, que havia sido a principal estimuladora para que a American Aluminum se instalasse na sua região natal.

Voltar “ao Norte” – como os personagens se referem àquela região – teria uma importância grande para Andri. A mais velha de suas duas filhas, Þórhildur, de 15 anos, era daquele tipo terrível de adolescente que se recusa a obedecer aos pais, até mesmo a falar com eles, e havia decidido voltar para a cidadezinha natal. Andri e sua ex-mulher Agnes (Nína Dögg Filippusdóttir), que haviam conseguido manter um bom relacionamento depois do divórcio, e moravam, os dois, na capital, não haviam conseguido impedir que a garota fizesse o que queria, e agora Þórhildur (Elva María Birgisdóttir, na foto abaixo) estava morando lá, na casa de sua tia Laufey (Katla M. Þorgeirsdóttir), irmã de Agnes.

Indo para Seyðisfjörður para investigar o atentado contra a ministra, Andri teria oportunidade de conversar com a filha rebelde. Pelo menos de tentar conversar…

“Quantos segredos uma família pode ter?”

Quando o primeiro dos dez episódios de Trapped Temporada 2 está com apenas 10 de seus 50 minutos, o espectador vê a adolescente rebelde de nome danado de difícil (como tantos outros de personagens e atores) entrando em um bar. Þórhildur não é uma garota muito bonita; é um tanto cheinha (Andri, o pai, é bem gordo, barrigudo, parece um urso), e usa maquiagem escura e bem pesada em volta dos olhos.

O bar está cheio de jovens; tem um grande pôster de Bob Dylan jovem na parede do fundo. O rapaz Aron (Stormur Jón Kormákur Baltasarsson, na foto abaixo), uns 18 anos de idade, cabelos longos amarrados em rabo de cavalo, está sentado sozinho em uma mesa junto da parede em que há um pôster do filme Bullitt, ouvindo música com fone de ouvido. Þórhildur chega perto da mesa e pergunta: – “Como você aguenta ficar aqui?”

Aron: – “Por quê?”

Þórhildur: – “Todo mundo está assistindo seu tio ateando fogo em si mesmo.”

(De fato, em todas as rodinhas de jovens há celulares ligados; a cena do ataque de Gisli à ministra Halla havia sido viralizado nas redes.)

Aron: – “E daí?”

Þórhildur: – “Eu não conseguiria simplesmente ignorar.”

O rapaz não responde, apenas faz um muxoxo. Þórhildur, sem perguntar se pode, senta-se à frente dele: – “Mas eu compreendo. Para eles, é entretenimento. Mas para você é real. É sua família.”

Aron: – “E você é algum tipo de especialista?”

Þórhildur: – “Eu não sou especialista, mas já passei por isso. Minha tia morreu no incêndio da fábrica de peixes há dez anos. (…) Mais tarde descobriram que o prefeito foi o responsável, e meu avô ateou fogo nele em seu galpão. Trancou ele lá e deixou ele queimar.”

Aron: – “Eu lembro. Ele era um cara legal. E seu pai o prendeu.”

Þórhildur: – “Sim. Acabou com ele.”

Aron dá um primeiro sorriso: – “Sua família é pior que a minha.”

Þórhildur concorda: – “Com certeza.”

Os dois garotos estão absolutamente equivocados. A família de Aron – e de seus tios Halla e Gisli – é a coisa mais complicada, cheia de problemas graves, sérios, pesados que possa existir.

No décimo episódio da temporada, o urso Andri – uma pessoa correta, bom caráter, por quem o espectador é levado a sentir grande simpatia – perguntará, mais para si mesmo do que para sua grande amiga Hinrika (Ilmur Kristjánsdóttir), que havia herdado a chefia da polícia da cidadezinha quando ele foi transferido para a capital:

– “Quantos segredos uma família pode ter?”

Referia-se, é claro, à família do garotão Aron e seusa tios Halla e Gisli.

Um garoto descomplicado em uma família complicadíssima

Bem diferentemente de Þórhildur, Aron é um adolescente descomplicado, tranquilo. Mas a família dele…

O rapaz tem vários tios – é uma família grande. O pai havia desaparecido muitos anos antes da época em que se passa a ação – nunca mais tinha sido visto, não se sabia o que havia acontecido com ele. (O segredo do desaparecimento dele, um dos muitos segredos daquela família, só será revelado no último episódio desta Segunda Temporada.)

Halla, a tia de Aron que se tornaria ministra da Indústria, era, como já foi dito, irmã gêmea de Gisli, o fazendeiro que a atacou em Reykjavik. Gisli estava mal de vida – devia muito dinheiro, e sua mulher, Steinumm (Elva Ósk Ólafsdóttir), o havia trocado… por seu irmão Ólafur (Valdimar Örn Flygenring).

E havia outra irmã, Elín (Unnur Ösp Stefánsdóttir), casada com Finnur (Guðjón Davíð Karlsson). Aron era filho desse casal.

Esse Finnur, como vários outros personagens da história, trabalha na usina. No final do primeiro episódio, ele aparece morto, assassinado brutalmente e pendurado de cabeça para baixo no galpão de sua fazenda.

Também trabalha na usina Víkingur (Aron Már Ólafsson), primo de Aron, filho de Gisli e Steinunn. Esse Vikingur é um sujeito aí de uns 27, 28 anos, muito bonito, muito forte fisicamente – e homossexual, em um lugar bem pequeno, com muita gente preconceituosa, homofóbica e xenófoba. Lá pelas tantas veremos que já teve problema sério com álcool; havia ficado um longo tempo a seco, limpo, mas, durante o funeral do pai (no episódio 5), Vikingur tem uma recaída, enche a cara, e faz um discurso cheio de ofensas a várias pessoas da família, inclusive a própria mãe, por haver abandonado o pai e se casado com um irmão dele.

Como problema pouco é bobagem, Vikungur havia se apaixonado por um colega da usina, um imigrante africano, Ebo (Kingsford Siayor). Os dois se esforçam para manter o caso em segredo – mas isso é, evidentemente, impossível.

Uma cidadezinha que reúne todas as mazelas possíveis

Como seria de se esperar, Þórhildur e Aron vão ficando próximos e começam a namorar. Numa noite em que estão procurando bebida na casa de Finnur, o pai de Aron que havia sido assassinado, os dois garotos encontram uma mala com uma fortuna em notas de euro. Não contam para ninguém sua descoberta – e Þórhildur, a filha do policial Andri, esconde o dinheiro no seu quarto, na casa da tia.

Um atentado com fogo, um assassinato brutal, uma mala com muito dinheiro – o que indica algum tipo de crime. As coisas vão se complicando mais e mais.

Trabalhando juntos nas investigações, Andri, sua amiga Hinrika e o simpático, boa gente policial Ásgeir (Ingvar Eggert Sigurðsson, à direita na foto acima) suspeitam que Finnur tenha sido assassinado por alguns dos habitantes da região que fazem manifestações contra a usina e os planos de ampliá-la. Entre os que protestam contra a usina estão fazendeiros, como Ketill (Steinn Ármann Magnússon), gente preocupada com o meio-ambiente, como Bárður (Guðjón Pedersen), um velho hippie, marido da policial Hinrika, e também um grupo radical, que se auto-intitula o Martelo de Thor.

O fazendeiro Ketill é um dos líderes dos protestos; ele, os dois filhos e outros fazendeiros colocam os corpos de dezenas de ovelhas mortas na praça central da cidade, e fazem manifestação diante da prefeitura, com cartazes e palavras de ordem dizendo que a usina vai poluir a região e matar os animais.

O protesto contra a usina tem um componente racista e xenófobo: muitos dos operários contratados pela empresa de capital árabe são imigrantes, negros e muçulmanos.

Andri e Hinrika prendem Ketill; os dois filhos dele fogem, o que provoca uma grande caçada policial.

Em paralelo, os terroristas do Martelo de Thor sequestram a prefeita Hafdís (Jóhanna Vigdís Arnardóttir), uma aliada da ministra Halla e defensora da ampliação da usina.

Há uma mortandade de peixes no lago de onde é retirada a água que abastece a cidade – e a suspeita, claro, é de que a causa da poluição sejam dejetos da usina.

A pequenina cidade de Seyðisfjörður reúne praticamente todas as grandes mazelas da humanidade.

E haverá ainda mais um assassinato e um rapto – e as vítimas serão pessoas bastante próximas de Andri e Hinrika (nas fotos acima e abaixo, Ilmur Kristjánsdóttir, que interpreta Hinrika).

“Não importa onde meus filmes se passam”

Cada uma das duas temporadas de Trapped conta uma grande história policial, que tem princípio, meio e fim – ao mesmo tempo em que vai fundo no acompanhamento do dia a dia do protagonista, esse competente, simpático policial que parece um urso manso, Andri Ólafsson, e das relações afetivas das pessoas em torno dele.

Como a grande trama policial fica redonda dentro de cada temporada, a rigor, a rigor, cada uma tem vida independente, pode ser vista independentemente de o espectador ter visto a anterior. Mas só bem “a rigor” – na prática, não faz sentido ver, por exemplo, esta segunda sem ter visto a primeira. Porque dá para entender a trama policial – mas tem muito mais sentido ver a segunda compreendendo o que rolou na vida de Andri, sua ex-mulher, suas filhas – e também na de sua grande amiga Hinrika).

A primeira temporada da série – uma absoluta maravilha – foi lançada em dezembro de 2015 e fevereiro de 2016. Esta segunda temporada aqui começou a chegar aos assinantes da Netflix em dezembro de 2018, com o último episódio em fevereiro de 2019.

Em setembro de 2022, surgiu a terceira temporada desta saga. Só que os realizadores resolveram dar um novo título. Sei lá como é em islandês, mas em inglês é Entrapped. A Netflix não se deu ao trabalho de procurar alguma palavra da Antiga Flor do Lácio, Inculta e Bela, e, assim como havia lançado no Brasil as três primeiras temporadas de Ófærð como Trapped, distribuiu a terceira temporada como Entrapped.

Na verdade, trapped ou entrapped que dá exatamente na mesma.

Vamos ao Dicionário Exitus, para ser preciso, cirurgicamente correto. Trapped, particípio passado de trap: capturado ou apanhado em armadilha – também no sentido figurado. Entrapped, particípio passado de entrap: apanhado numa armadilha ou num laço; ludibriado, atraído, induzido.

Agora, por que, raios, o senhor Baltasar Kormákur, criador, roteirista e diretor da série, e demais realizadores resolveram mudar o nome do troço de branco para alvo, de casa para lar, ah, isso vá lá saber. Marketing, talvez.

Baltasar Kormákur é de Reykjavik, de 1966; a mãe é islandesa, o pai, Baltasar Samper, um artista de fama na Islândia, é espanhol de nascimento. Baltasar filho tem no currículo 25 títulos como produtor, 19 como diretor e 10 como autor/roteirista. Coleciona 34 prêmios em festivais mundo afora, inclusive os de Edinburgh, Bruxelas, San Sebastián e Mar del Plata.

O IMDb traz uma declaração interessante do cara: “Não importa onde meus filmes se passam. Neste momento, tenho um roteiro que se passa no Canadá e é em inglês. Só porque eu nasci nesta ilha não significa que eu queira passar o resto da minha vida contando histórias para 300.000 pessoas. O fato de eu ser meio espanhol ajuda, porque o mercado que posso alcançar é bem maior.”

Contando histórias para 300.000 pessoas. Aí Baltasar Kormákur menosprezou a população de seu país. É verdade que a Islândia é o país europeu com menor densidade populacional, mas também a população não é tão pequena assim quanto ele falou. São 387.800, segundo o Censo de 2022.

A Islândia, os islandeses… Que coisa incrível. Como é possível que haja tanta gente de talento para fazer cinema num país cuja população é menor do que a do meu bairro?

Anotação em maio de 2023

Trapped – A Segunda Temporada/Ófærð

De Baltasar Kormákur, criador, roteirista, diretor, Islândia, 2018

Direção Baltasar Kormákur, Börkur Sigþórsson, Ugla Hauksdóttir, Óskar Thór Axelsson

Com Ólafur Darri Ólafsson (Andri Ólafsson, o policial)

e Ilmur Kristjánsdóttir (Hinrika, a chefe da polícia da cidadezinha de Seyðisfjörður), Ingvar Eggert Sigurðsson (Ásgeir, policial), Björn Hlynur Haraldsson (Trausti, policial), Elva María Birgisdóttir (Þórhildur, a filha de Andri e Agnes), Guðjón Pedersen (Bárður, o marido de Hinrika), Katrín Halldóra Sigurðardóttir (Guðrún, a perita da polícia), Nína Dögg Filippusdóttir (Agnes, a ex-mulher de Andri, mãe de Þórhildur), Jóhanna Vigdís Arnardóttir (Hafdís Magnúsdóttir, a prefeita), Sólveig Arnarsdóttir (Halla, a ministra da Indústria), Valdimar Örn Flygenring (Ólafur, irmão da Halla, Gisli e Elín, novo marido de Steinunn), Þorgeir Tryggvason (Gísli, irmão de Halla, Ólafur e Elín), Unnur Ösp Stefánsdóttir (Elín, irmã de Halla, Ólafur e Gisli), Stormur Jón Kormákur Baltasarsson (Aron, o filho de Elín, namorado de Þórhildur), Guðjón Davíð Karlsson (Finnur, marido de Elín, pai de Aron), Elva Ósk Ólafsdóttir (Steinunn, a mãe de Vikingur, ex-de Gisli, agora casada com Ólafur), Aron Már Ólafsson (Víkingur), Kingsford Siayor (Ebo, operário da usina, namorado de Vikingur), Steinn Ármann Magnússon (Ketill, o fazendeiro anti-usina), Vignir Rafn Valþórsson (Torfi, filho de Ketill), Sigurbjartur Atlason (Skúli, filho de Ketill), Katla M. Þorgeirsdóttir (Laufey, a irmã de Agnes), Baltasar Breki Samper (Hjörtur), Sigrún Edda Björnsdóttir (Kolbrún), David Lenneman (Chinua), Leo Sankovic (Pawel, funcionário da usina), Sólveig Guðmundsdóttir (Heiðrún), Arnmundur Ernst Björnsson (Stefán, da empresa que recolhe o lixo da usina), Íris Hólm (Hanna Stína, a cabeleireira da prefeita)

Roteiro Sigurjón Kjartansson & Sonia Moyersoen e Clive Bradley

Baseado em história de Baltasar Kormákur. Klaus Zimmermann, Margrét Örnólfsdóttir

Música Hildur Guðnadóttir, Rutger Hoedemaekers

Montagem Sigvaldi J. Kárason

Direção de arte Hulda Helgadóttir

Figurinos Helga Rós Hannam 

Produção Baltasar Kormákur, Magnús Viðar Sigurðsson, RVK Studios, RÚV, France Télkévisions, DR, NRK, Svenska Yle & BBC.

Cor, cerca de 500 min (8h20)

***1/2

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