Indiana Jones e a Relíquia do Destino / Indiana Jones and the Dial of Destiny

3.0 out of 5.0 stars

Há três Indiana Jones bem diferentes, bem distintos no Indiana Jones 5. O primeiro é o cinquentão cheio de energia e sem um fio de cabelo branco que, ali por 1944, 1945, nos últimos meses da Segunda Guerra, enfrenta trocentos nazistas. O segundo é o professor de Arqueologia já bem velhinho, passado dos 80 anos, encurvado, um tanto trôpego, que está se aposentando da universidade em 1969. E o terceiro é, naquele mesmo ano da chegada do homem à Lua, o aventureiro incansável, forte, poderoso, que ressurge quando os vilões atacam.

Um Indiana Jones cinquentão cheio de energia como se tivesse 30 anos (na foto abaixo), um bem, mas bem velhinho, e um outro que é velhinho mas cuja força ressurge das cinzas feito um fênix, todos os três interpretado por Harrison Ford aos 81 anos – o mesmo Harrison Ford de sempre, que já havia nos encantado quando tinha 39 anos, depois 42, depois 47, depois 66, nos quatro filmes anteriores da saga maravilhosa, lançados respectivamente em 1981, 1984, 1989 e 2008.

Harrison Ford, com seu talento, sem empenho, seu esforço, sua absoluta entrega ao personagem Indiana Jones, é uma maravilha. É uma das melhores coisas, se não for a melhor de todas, deste Indiana Jones e a Relíquia do Destino. Boa parte dos espectadores pode se encantar com as cenas de ação (e, diacho, há cenas de ação demais, e são memoráveis), com os efeitos especiais, com a fotografia deslumbrante, com o som poderosíssimo, a trilha sonora sempre empolgante do mesmo John Williams de quase todos os filmes de Steven Spielberg.

Na minha opinião, porém, o melhor de Indiana Jones 5 é Harrison Ford – e depois dele essa extraordinária artista múltipla Phoebe Waller-Bridge, e o prazer de rever, ainda que por poucos minutos, a Marion Ravenwood na pele agora bem enrugadinha de Karen Allen.

Não importa se o espectador vê o filme na tela gigantesca e com o som surround total de um IMAX (como tivemos a sorte de ver), ou na tela na TV. O que torna um filme grande não é o tamanho da tela ou a potência dos alto-falante, muito menos os efeitos especiais. O que torna um filme grande é a história, a forma com que ela é contada, os personagens e os atores que dão vida a eles.

Sempre pensei isso; sempre achei uma perda de tempo essa coisa de se combater o home vídeo, o streaming, e dizer que cinema só é cinema em salas com o projetor e a telona. Ver Indiana Jones 5 no IMAX me deu, além da alegria de assistir ao filme, o prazer de constatar mais uma vez como o tamanho da tela não importa.

Bem, que o eventual leitor me perdõe por essa divagação, essa viajada. Volto ao filme.

Indiana Jones 5 repete várias características que já estavam nos anteriores – mas isso não é problema algum. Muito ao contrário. Indiana Jones 5 é uma absoluta delícia.

Chegar ao objeto preciso antes dos vilões

Se a gente simplificar ao máximo, dá para resumir assim:

* em Caçadores da Arca Perdida (1981), o importante, o objetivo era chegar à Arca Sagrada antes dos nazistas;

* em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989). Indy e seu pai, o professor Henry Jones interpretado por Sean Connery, tinham que chegar ao Cálice Sagrado, o Santo Graal, antes que os nazistas botassem as mãos sujas nele;

* em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), era preciso chegar à cidade de ouro perdida na Amazônia antes dos comunistas;

* e, neste Indiana Jones e a Relíquia do Destino de 2023, o desafio é possuir antes dos vilões as duas partes de um artefato poderosíssimo criado pelo matemático, filósofo, físico, engenheiro, inventor e astrônomo grego Arquimedes, uns 200 anos antes de Cristo. O artefato, o Antikythera mechanism em inglês, ou Máquina de Anticítera, que teria poderes para mudar o curso da História.

Nos anos 1930 e 1940, os vilões eram os nazistas. Na aventura passada em 1957, portanto em plena Guerra Fria, os vilões eram os soviéticos. A Guerra Fria continuava a toda em 1969, o ano em que se passa este filme número 5 aqui, mas os realizadores – com grande sabedoria, na minha opinião – preferiram que o Grande Vilão, o dr. Jürgen Voller, fosse um nazista.

O dr. Voller (interpretado pelo ótimo dinamarquês Mads Mikkelsen, aqui descansando um pouco dos densos, pesados dramas nórdicos como Depois do Casamento, de 2006, e A Caça, de 2012), é o cientista, o arqueólogo que orientava os oficiais e soldados nazistas na busca pelo artefato inventado por Arquimedes. Indiana Jones e a Relíquia do Destino começa com uma longa, bem longa sequência em que Indy e seu grande amigo Basil Shaw (o papel do inglês sempre perfeito Toby Jones, na foto abaixo) estão presos em um trem ocupado pelos nazistas, em 1944. Depois de muitas cenas de ação nesse trem, Indy e Basil conseguem escapar dos nazistas, levando com eles uma das metades do artefato criado mais de 2 mil anos antes.

O arqueólogo Basil Shaw era o maior especialista do mundo sobre a Anticítera. Sabia absolutamente tudo sobre ele.

O que é mais uma das características que se repetem nos filmes da série: sempre há um estudioso que é super especializado em um tema específico que é fundamental na trama de cada aventura. No filme 3, o professor Henry Jones é a maior autoridade mundial sobre o Cálice Sagrado. No filme 4, o arqueólogo Harold Oxley (o papel de John Hurt) é a maior autoridade mundial sobre a cidade perdida de Akator, também conhecida como El Dorado.

Assim que Indy e Basil Shaw escapam do trem e dos nazistas, termina a longa sequência de abertura, há um corte no tempo, e estamos em Nova York, em 1969, quando o país estava recebendo em festa os astronautas que voltavam da primeira viagem tripulada à Lua.

Indiana Jones está se aposentando da universidade.

Quase ao mesmo tempo, vão reaparecer na vida dele a busca pelo outro pedaço perdido da Anticítera de Arquimedes, o mesmo cientista Jünger Voller e a lembrança de Basil Shaw.

Basil estava morto; quem ressurge na vida do agora octogenário Indiana Jones a filha única do amigo, afilhada de Indy, que não a via desde que ela era uma garotinha pré-adolescente. Helena Shaw vem na pele e no talento da inglesa Phoebe Waller-Bridge.

 

Uma mulher bela, inteligente, safa, fascinante

Steven Spielberg nunca foi um patrioteiro deslumbrado, e os filmes da saga Indiana Jones sempre dão umas cacetadinhas no Establishment, em mazelas da sociedade e do governo americano. Caçadores da Arca Perdida, por exemplo, termina com um brilhante, fortíssimo ataque ao gigantismo da máquina governamental e da insensibilidade da burocracia do governo federal. O filme 4 faz questão de citar e criticar a paranóia anticomunista do macartismo.

Neste filme 5 aqui, há uma ironia fina sobre o fato de o governo dos Estados Unidos ter usado, no pós-guerra, os serviços de cientistas que haviam servido ao nazismo, como foi o caso, por exemplo, de Wernher von Braun. Um dos criadores do foguete V-2 da Alemanha nazista, von Braun tornou-se um devotado servidor do governo americano – e foi um dos inspiradores do personagem do Dr. Fantástico de Stanley Kubrick.

O dr. Jürgen Voller é uma espécie de Dr. Strangelove. Em 1969, prestava serviços ao governo americano; tinha até um encontro agendado com o presidente da República. Mas, sob a capa de cientista a trabalho da Nasa, a agência espacial americana, chefiava um grande grupo armado que mantinha a ambição de encontrar e reunir as duas partes do artefato de Arquimedes para, com ela, mudar o curso da Segunda Guerra Mundial e os destinos da humanidade.

Helena, a filha do cientista que mais entendia da Anticítera, também está atrás do artefato, e procura o padrinho que não via desde a infância por saber que ele seria a pessoa ideal para encontrar a metade perdida da preciosidade.

Só que a motivação de Helena – Indiana Jones e o espectador vão descobrir ao mesmo tempo – não é nem fanática, ideológica, como a do eterno nazista Voller, nem meramente científica, como a de seu pai e de seu padrinho. Helena quer o troço valioso para, em bom e cru Português, passa-lo nos cobres. Vendê-lo e ganhar uma fortuna. Helena Shaw – surpresa! –

não é uma garota boazinha. É uma mulher que gosta de jogar, perde fortunas no jogo, fica devendo pra Deus e o mundo, e, para conseguir dinheiro para pagar as dívidas, não vê nenhum problema em fazer umas bandidagens.

Uma mulher bonita, atraente, inteligentíssima, cultíssima (domina, só para dar um exemplo, o grego arcaico), não muito honesta… e safa, uma perfeita aventureira à la Marion Ravenwood ou o próprio Indiana Jones. Essa Helena Shaw feita por Phoebe Waller-Bridge é uma mulher fascinante.

Daria até para o espectador, ali pelo meio do filme, suspeitar que poderia rolar um lance entre Indiana e Helena – como havia rolado, por exemplo, entre Indiana e a cantora de boate Willie Scott (o papel de Kate Capshaw, que viria a ser a senhora Steven Spielberg) no filme 2, e entre Indiana e a cientista austríaca Elsa Schneider (Alison Doody) no filme 3. Mas não, não seria possível. A diferença de idade é grande demais – afinal, Indy havia sido padrinho da garota. E agora, em 1969, quando se passa a ação, o cara ainda está absolutamente apaixonado por Marion, que o havia abandonado depois que o filho dos dois alistou-se e morreu em combate.

Atriz, escritora, roteirista, produtora. Phoebe é danadinha

Helena tem um… Um… Diabo, como definir o que o personagem do garoto Teddy (o papel de Ethann Isidore) é de Helena? Mascote? Companheiro, parceiro, comparsa, assistente? Acho que o certo seria isso tudo ao mesmo tempo.

Helena tem um garoto, Teddy, que é seu mascote-companheiro-parceiro-comparsa-assistente. Teddy está para Helena exatamente como o garoto Short Round, o Baixinho (o papel de Ke Huy Quan) estava para o próprio Indiana no filme 2, Indiana Jones e o Templo da Perdição. E o personagem Teddy está para este Indiana Jones 5 exatamente como o Baixinho esteve para o Indiana Jones 2: serve para criar situações estranhas, perigosas, arriscadas – e engraçadas, divertidas.

Helena Shaw é uma mulher fascinante como a atriz que dá vida a ela. Phoebe Waller-Bridge é um fenômeno. Nascida em Londres em 14 de julho de 1985 (exatamente dez anos depois da minha filha), não havia completado ainda 38 anos quando Indiana Jones 5 foi lançado mundialmente, em 30 de junho de 2023.

Dez anos antes, formada na prestigiosa Academia Real de Artes Dramáticas de Londres, mas sem convites para peças ou filmes, Phoebe resolveu escrever uma peça para ela mesma estrelar – e, em 2013, no Fringe do Festival de Edinburgo, um espaço livre para novos criadores, estreou Fleabag, sobre uma jovem um tanto desajustada, um tanto inadequada, louca por sexo, na Londres do terceiro milênio. Fleabag – literalmente saco de pulgas, pulgueiro, e também, na gíria, pessoa ou animal sujo, desprezado por todos – é o apelido da protagonista da peça e, não por coincidência, o apelido familiar da própria Phoebe.

Fleabag, a série de TV escrita e estrelada por ela, estreou na Amazon Prime Video em setembro de 2016, com seis episódios; a segunda temporada veio em 2019. Ganhou 64 prêmios, inclusive 6 Emmys, fora outras 69 indicações.

Em 2018, também na Amazon Prime Video, estreou a série Killing Eve, que teve quatro temporadas, até 2022. Phoebe foi a criadora e produtora executiva da série, mas nela não trabalhou como atriz – os astros são Sandra Oh, Fiona Shaw e Jodie Comer. Foram 44 prêmios e 168 indicações.

Em dez anos de carreira, Phoebe Waller-Bridge escreveu os roteiros de 7 produções, estrelou 35 séries e/ou filmes, ganhou 33 prêmios, inclusive 3 Emmys.

Helena chega de repente e muda a vida do padrinho

A atriz, escritora, roteirista e produtora contou que, quando recebeu o telefonema em que perguntaram “Você gostaria de fazer Indiana Jones?”, a garotinha Phoebe de 6 anos que existe nela, e já queria ser atriz, disse: “Acho bom você fazer isso, porque tudo o que você tem feito até agora tem sido bem chato para mim”. A atriz contou isso em entrevista em videoconferência a Mariane Morisawa, de O Estado de S. Paulo. E acrescentou: “O sentimento foi esse, de que todos os sonhos daquela garota se tornaram realidade nesse filme”.

E também: “Eu amei poder usar meu corpo, é libertador para um ator. Adorei cada machucado que ganhei fazendo este filme”.

Na reportagem sobre Phoebe Waller-Bridge publicada no Estadão em 19 de julho de 2023, dias antes da estréia do filme em São Paulo, a atriz e a jornalista Marine Morisawa fazem uma bela análise sobre o momento que Indiana Jones está vivendo, naquele ano de 1969, quando Helena Shjaw reaparece em sua vida. Vale a pena transcrever:

“A atriz de 37 anos interpreta Helena Shaw, a afilhada de Indy que reaparece depois de muitos anos. É arqueóloga como seu padrinho, inteligente e bem-humorada, mas sua natureza e motivações são diferentes. ‘Quando ela aparece, Indy está em um beco sem saída emocional’, afirmou Waller-Bridge sobre o arqueólogo, que deixou as aventuras de lado e encara a aposentadoria, arrastando-se em seu último dia como professor universitário, em 1969. Ele está solitário e desmotivado. ‘O foco mudou. As pessoas estão olhando para o futuro, para a Lua. Indy está preso ao passado. Helena chega e traz de volta para ele sua paixão pela arqueologia, pela aventura, embora suas intenções sejam um tanto nefastas.’

“Ela está atrás da Relíquia de Arquimedes, deixada por seu pai, Basil (Toby Jones), com Indiana Jones anos atrás e capaz de localizar fissuras no tempo. Helena está disposta a vendê-lo para quem oferecer mais. Um dos interessados no artefato é Jürgen Voller (Mads Mikkelsen), um nazista abrigado nos Estados Unidos que deseja mudar o rumo da história. Como os nazistas são os inimigos clássicos de Indiana Jones, que teve seus dias de glória nos anos 1930, ele deixa os planos de aposentadoria de lado e embarca rapidinho na tentativa de recuperar a criação do cientista grego. Às vezes a personagem parece uma vilã, mas também é capaz de atitudes heroicas. Sua relação com Indy é complicada, e ela certamente é a personagem feminina mais complexa da série.”

É bem isso mesmo. Gostei muito de ler a matéria de Marine Morisawa, com belas frases dessa fascinante Phoebe Waller-Bridge. Deu vontade de ver o filme de novo.

A carreira do filme nos cinemas estava começando

Escrevo esta anotação em meados de julho de 2023, antes de se completarem sequer três semanas da estréia mundial do filme. (Isso é

algo raríssimo de acontecer; tenho visto pouquíssimos filmes assim logo depois do lançamento.) O fato é que tudo sobre Indiana Jones e a Relíquia do Destino é recente demais – bilheteria, aprovação de crítica e público, tudo. Por exemplo: o filme ainda não teve, nestas duas semanas e pouco, indicação a prêmio algum.

Até aqui, neste início de carreira mundo afora, o filme, que custou quase US$ 300 milhões, mais de um terço a mais que os US$ 185 milhões de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, havia rendido nas bilheterias US$ 255 bilhões, ante US$ 790 bilhões do anterior.

No IMDb, a média das notas dadas por quase 70 mil leitores era de 6,9 em 10.

No Rotten Tomatoes, o site agregador de opiniões, o filme tinha 68% da aprovação dos críticos e 88% de aprovação do público. Este era o “consenso da crítica”: “Não é tão emocionante quanto as aventuras anteriores, mas a vontade nostálgica de ver Harrison Ford em ação novamente ajuda Indiana Jones and the Dial of Destiny a encontrar alguns pedaços de tesouro cinematográfico”.

A tabela abaixo compara alguns dados fundamentais sobre cada um dos cinco filmes da saga.

Caçadores da Arca Perdida Indiana Jones e o Templo da Perdição Indiana Jones e a Última Cruzada Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal Indiana Jones e as Relíquia do Destino
Direção Steven Spielberg James Mangold
Lançamento: 1981 1984 1989 2008 2023
Ano da ação:

1936

1935 1938 (com flashback para 1912) 1957 1944 e 1969
Harrison Ford estava com… 39 42 47 66 81
Local da ação: EUA, América do Sul, Nepal, Egito China, Índia EUA, Itália, Alemanha, Oriente Médio EUA, Peru, Brasil Alemanha, EUA, Grécia, Itália
Os vilões: os nazistas Uma tribo selvagem na Índia Os nazistas Os comunistas Os nazistas e os neonazistas
História: George Lucas & Philip Kaufman George Lucas George Lucas & Menno Meyjes George Lucas & Jeff Nathanson Jez Butterworth & John-Henry Butterworth
Roteiro: Lawrence Kasdan Gloria Katz & Willard Huyck Jeffrey Boam David Koepp Jez Butterworth& John-Henry Butterworth e David Koepp e James Mangold
Total de prêmios e indicações: 38 e 24 11 e 21 9 e 22 10 e 42
Oscars, prêmios e indicações: 4 de 9 1 de 2 1 de 3 Nenhum
Orçamento (em US$ milhões): 18 28 48 185 294
Bilheteria (em US$ milhões): 389 333 474 790 255 (nas quatro primeiras semanas)
Aprovação da crítica no Rotten Tomatoes: 93% 76% 84% 77% 68%
Aprovação do público no Rotten Tomatoes: 96% 82% 94% 53% 88%
Nota no IMDb: 8,4 7,5 8,2 6,2 6,9

Spielberg não dirigiu, Lucas não escreveu

Há uma característica importantíssima neste Indiana Jones 5, visível na tabela acima, e que a Wikipedia soube muito bem realçar: além de ser o único da série que não foi dirigido por Steven Spielberg, é também o único que não foi escrito por George Lucas.

Os dois garotos prodígios que criaram, nos anos 70 e 80, alguns dos filmes de maior impacto e bilheteria da história de Hollywood limitaram-se, neste filme que encerra o ciclo Indiana Jones, ao papel de produtores executivos. Os produtores foram os dois companheiros de sempre de Spielberg, Kathleen Kennedy e Frank Marshal, mais Simon Emmanuel.

(As companhias produtoras foram a Paramount, a Lucasfilm e mais a Walt Disney Pictures. Isso seria mais ou menos um time, um combinado com os craques de Corinthians, Flamengo e Palmeiras, ou das seleções de Brasil, Alemanha e Inglaterra.)

Os créditos mostram que o filme foi “escrito por Jez Butterworth & John-Henry Butterworth e David Koepp e James Mangold, Baseado nos personagens criados por George Lucas & Philip Kaufman”.

Os “&” e os “e” indicam, segundo os padrões do Writers Guild, o sindicato dos roteiristas, que Jez Butterworth & John-Henry Butterworth escreveram juntos, a quatro mãos, o roteiro original, ou seja, o argumento, a história, a trama, e a forma como contá-la cinematograficamente. Plano tal, mostrando tal coisa, fulano e sicrano fazendo sei lá o que, com ruído tal ao fundo e música de tal tipo; corta, entra plano tal, mostrando isso e aquilo… e assim por diante.

Aí então David Kopp – que já havia escrito, sozinho, o roteiro original e definitivo de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal – pegou o que havia sido escrito pelos dois Butterworth e mexeu, fez alterações. E depois o diretor James Mangold pegou o roteiro que havia sido parcialmente reescrito por David Kopp e deu a forma final.

Pois é, James Mangold. Nova-iorquino da classe de 1963 – quatro anos mais jovem que a Mary. Assinou 11 roteiros, dirigiu 19 filmes e/ou séries – entre eles Encontro Explosivo/Knight and Day (2010), um filme de ação daquele tipo de diversão ideal para pessoas que não exigem seriedade, reflexão, inteligência no cinema, com Tom Cruise e Cameron Diaz; Cop Land (1997), um bom filme sobre um policial honesto no meio de um monte de colegas corruptos, com Sylvester Stalone, Robert De Niro, Harvey Keitel, Ray Liotta; e Johnny & June/Walk the Line (2005), bela, sensível cinebiografia do gigante da música country Johnny Cash e sua mulher June Carter.

Diretor de relativamente poucos títulos, o que indica cuidado na escolha dos projetos, com atuação em vários gêneros, James Mangold já teve duas indicações ao Oscar, como produtor de Ford vs Ferrari (2020), na categoria de melhor filme, e como um dos roteiristas da ficção científica Logan (2018), na categoria de melhor roteiro adaptado.

Fez aqui um belíssimo trabalho.

Certo, certo. Mas… por que Spielberg abriu mão de dirigir a última aventura do seu maravilhoso, delicioso herói?

A decisão de ele não dirigir o filme foi anunciada na Variety, a bíblia do showbiz americano, ainda em fevereiro de 2020, na fase inicial de pré-produção. Havia uma frase do mago entre aspas: “Um desejo de passar o chicote de Indy para uma nova geração, para trazer sua perspectiva para a história”.

Naturalmente, houve todo tipo de interpretação para essa decisão de Spielberg. Falou-se que poderia ter a ver com a compra da Lucasfilm pelo conglomerado Disney – sem Spielberg na direção, teorizavam os defensores dessa teoria, os executivos da Disney poderiam ficar mais livres para moldar o quinto filme de acordo com seus interesses, suas visões, seus entendimentos.

John Ford – o sujeito que o jovem Spielberg admirava como a um Deus, conforme ele mesmo mostrou em seu autobiográfico Os Fabelmans – disse na obra-prima O Homem Que Matou o Facínora que, se a lenda é melhor que a verdade, publique-se a lenda. Os teóricos das teorias conspiratórias que teorizem e publiquem o que bem quiserem. Para mim, a explicação é a mais simples: hoje um senhor idoso, de 76 anos, mais interessado em coisas sérias que em magias, o mago Steven Spielberg não estava a fim de gastar muita energia dirigindo. Como justificativa, apresentou a idéia absolutamente inatacável de que, pô, é hora de passar o chicote e o chapéu fedora de Indy para os mais jovens.

Fez muito bem, mestre Spielberg! Valeu. Muitíssimo obrigado! Agora, vem cá: em vez de mexer com esse negócio de minissérie sobre Napoleão (pra que isso, diabo?), que tal fazer coisas sérias, para adultos, tipo Os Fabelmans?

Não?

Tá bom. O que o mestre fizer, veremos todos, veremos todos.

Anotação em julho de 2023

Indiana Jones e a Relíquia do Destino/ Indiana Jones and the Dial of Destiny

De James Mangold, EUA, 2023

Com Harrison Ford (Indiana Jones)

e Phoebe Waller-Bridge (Helena Shaw)

Mads Mikkelsen (dr. Voller), Ethann Isidore (Teddy, o garoto), John Rhys-Davies (Sallah), Shaunette Renée Wilson (a agente Mason), Thomas Kretschmann (coronel Weber), Boyd Holbrook (Klaber), Olivier Richters (Hauke), Martin McDougall (Durkin), Alaa Safi (Rahim, o mafioso do Marrocos), Francis Chapman (jovem oficial da SS), Alfonso Mandia (vendedor de tíquetes italiano), Chase Brown (Larry, o poeta beat), Nasser Memarzia (Arquimedes), Anna Francolini (Mandy),

e, em participações especiais, Toby Jones (Basil Shaw), Antonio Banderas (Renaldo, o dono do barco na Grécia), Karen Allen (Marion Ravenwood, a mulher da vida de Indiana)

Argumento e roteiro Jez Butterworth & John-Henry Butterworth e David Koepp e James Mangold    

Baseado nos personagens criados por George Lucas & Philip Kaufman

Fotografia Phedon Papamichael

Música John Williams

Montagem Andrew Buckland, Michael McCusker, Dirk Westervelt

Casting Nina Gold

Desenho de produção Adam Stockhausen  

Figurinos Joanna Johnston      

Produtores executivos Steven Spielberg, George Lucas, Blake Simon, Nathan Woods

Produção Kathleen Kennedy, Simon Emmanuel, Frank Marshall, Walt Disney Pictures, Lucasfilm, Paramount Pictures

154 min (2h34)

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