(Disponível em DVD da Cinemagia.)
Ao rever A Dança dos Vampiros agora, mais de meio século depois de seu lançamento em 1967, o que mais impressiona é a versatilidade de Roman Polanski, a capacidade do grande realizador de passar pelos mais diferentes gêneros, sempre com maestria.
É uma comédia absolutamente escrachada, escancarada, que não se leva a sério. Uma brincadeira, uma gozação. É propositalmente, intencionalmente, petulantemente encenada de uma forma brincalhona, matreira. As interpretações são todas estudadamente bobas, trapalhonas, como se fossem de uma turma de colegiais muito ruins de serviço se aventurando numa apresentação de fim de ano sem mais do que um ensaio rápido.
Fazia quase 40 anos que eu tinha visto o filme; assisti um pouco depois do lançamento, em meados de 1969, segundo anotei, e, ali por 1982, na época do VHS, revi várias vezes; as meninas, Inês e Fernanda, adoravam, viam e reviam, e volta e meia eu me sentava com elas e dava boas risadas diante das ótimas piadas. Rever agora, depois de tanto tempo, foi uma experiência interessante, porque eu me lembrava perfeitamente de muita, mas muita coisa – alguns diálogos inteiros, por exemplo –, mas ao mesmo tempo assistia àquilo com um bom distanciamento, pelo tempo passado e até porque era para poder fazer esta anotação.
A forma, o jeito de interpretação dos atores me surpreendeu: não me lembrava que era tudo tão – propositalmente, é óbvio – farsesco, tão absolutamente longe da naturalidade, da normalidade. Tudo tão afetado, tudo parecendo ruim mesmo – parecendo um bando de amadores juvenis mal treinados.
O jeito de atuar do próprio Polanski, como Alfred, o assistente do professor Abronsius (Jack MacGowran), o estudioso dos vampiros, do vampirismo. E o jeito de atuar desse Jack MacGowran, também – o mesmo do diretor do filme.
Polanski e MacGowran fingem que são colegiais sem qualquer talento – e, diacho, fingem bem pra cacete!
A sensação que tive, depois que revimos o filme agora, foi de que Polanski tinha resolvido fazer uma brincadeira com as antigas comédias do cinema mudo, as comédias pastelão de Hollywood.
Na verdade, ele estava fazendo uma paródia dos filmes de terror dos inglesérrimos estúdios Hammer.
A Hammer Film Productions foi fundada em 1934; ficou célebre, diz a Wikipedia, por realizar uma série de filmes de terror entre os anos 1955 e 1979. “Seu auge situa-se na década de 1960, quando realizou uma série de filmes sobre Drácula, Frankenstein e múmias.”
Não conheço os filmes da Hammer; fiquei sabendo que Polanski fez em seu quarto lonta-metragem uma paródia-homenagem aos filmes da produtora britânica porque o texto sobre Polanski da Baseline, uma base de dados sobre cinema americana, diz isso.
Um realizador que passou por todos os gêneros
Na Polônia de seus pais (ele nasceu em Paris, em 1933, mas a família retornou ao país natal quando o garoto tinha apenas três anos), Polanski havia estudado em Lodz, na grande escola de cinema dos países comunistas; havia trabalhado como ator, havia escrito e dirigido uns oito curta-metragens – um deles, Dois Homens e Um Armário (1958), recebera cinco prêmios internacionais, inclusive a medalha de bronze na Feira Mundial de Bruxelas.
É importantíssimo notar que, naquela época, final dos anos 1950, o cinema do bloco comunista estava afundado no realismo socialista dos sonhos do camarada Stálin, e, portanto, só produzia propaganda, zero de arte. Assim, qualquer obra saída dali que recebesse elogios na Europa Ocidental passava a ter respeito das autoridades.
Deve seguramente ter sido o reconhecimento no Ocidente que permitiu a Polanski criar com liberdade seu primeiro longa-metragem, A Faca na Água (1962), um thriller eletrizante, que esbanjava talento e fugia do realismo socialista como os vampiros do crucifixo – e conquistou o prêmio da crítica no Festival de Veneza e uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Não era nada comum artistas dos países comunistas serem autorizados a trabalhar nos países capitalistas decadentes – mas, com tantos prêmios no exterior, Polanski pôde ir para a Inglaterra, onde faria três longa-metragens, entre 1965 e 1967.
E é na comparação com seus três primeiros filmes que Dança dos Vampiros assusta, impressiona – e demonstra o talento sem tamanho do seu autor. A Faca na Água, repito é um thriller – tenso, pesado, eletrizante. Me permito reproduzir o que escrevi ao rever o filme em 2010: “É um tour-de-force: em 94 minutos de ação, temos apenas três personagens – um homem, uma mulher, um outro homem. Desses 94 minutos, uns 85, talvez mais, se passam dentro de um pequeno barco no meio de um grande lago. Apesar de estarmos quase o tempo todo no meio da natureza, sob o céu aberto, é um filme absolutamente claustrofóbico, tão claustrofóbico como seria se estivéssemos dentro de um elevador fechado.”
Seu segundo longa, o primeiro dos três realizados consecutivamente na Inglaterra, é um drama ainda mais claustrofóbico, ainda mais apavorante, aterrorizante que o primeiro – e não apenas porque se passa praticamente o tempo todo dentro de um apartamento. Repulsa ao Sexo/Repulsion (1965) é o cruel retrato de como a loucura absoluta vai tomando a cabeça de uma bela e solitária mulher – uma interpretação fascinante de Catherine Deneuve, na beleza acachapante de seus 22 aninhos.
Aí, depois de dois dramas pesados, densos, apavorantes, Polanski se saiu com o que chamam de comédia de humor negro, sobre bandidos e um casal disfuncional em um castelo isolado. Armadilha do Destino/Cul-de Sac (1966), na minha opinião, é um filme em que a beleza fica por conta da atriz principal, Françoise Dorléac, a irmã um ano mais velha de Catherine Deneuve. Françoise, linda, maravilhosa, morreria dois anos depois do lançamento do filme, num acidente de carro – tinha apenas 25 anos.
No quarto filme, uma comédia escancarada, uma paródia dos filmes de terror de uma produtora britânica que flertava com os filmes B, de segunda linha, de orçamentos baixos.
Para, no ano seguinte, 1968, já nos Estados Unidos, dirigir uma obra-prima do horror, um drama sério, pesado, intenso, inquietante, sobre o Mal em Si chegando ao coração de Manhattan, a capital mundial do capitalismo. O Bebê de Rosemary é um filme absolutamente extraordinário.
Depois faria de tudo, de absolutamente tudo. Quando vi O Escritor Fantasma/The Ghost Writer, tentei elencar os estilos, os gêneros. “Vamos lá: fez, sempre com brilho, terror sério, aterrorizante, apavorante (O Bebê de Rosemary), terror cômico (A Dança dos Vampiros), drama psicológico de suspense (A Faca na Água, O Inquilino, Repulsa ao Sexo), drama de época, baseado em romance clássico (Tess, Oliver Twist), drama de época, baseado em peça de Shakespeare (MacBeth), guerra (O Pianista), policial noir (Chinatown), comédia (Piratas), drama psicológico político (A Morte e a Donzela).”
O cara não é fácil. É um dos maiores cineastas da História – simples assim.
A história é cheia de perseguições
A voz cheia, aveludada, empostada, antiquada de um narrador conta para nós, enquanto vemos uma dupla no assento de um trenó que o condutor faz avançar celeremente na paisagem nevada:
– “Aquela noite, penetrando fundo no coração da Transilvânia, o professor Abronsius não tinha consciência de que estava no ponto de atingir o cerne de suas misteriosas investigações. No curso das quais ele havia viajado através da Europa Central por anos, acompanhado por seu único e fiel discípulo, Alfred. Um acadêmico e cientista cujo gênio não era apreciado, Abronsius havia desistido de tudo para se devotar de corpo e alma ao que para ele era uma missão sagrada. Ele havia até mesmo perdido sua cadeira na Universidade de Königsberg, onde por muito tempo seus colegas costumavam se referir a ele como ‘O Doidão’.”
A voz do narrador é de Ferdy Mayne, o ator que faz o conde Von Krolock.
Que delícia de texto, que delícia de abertura de uma comédia de terror!
Esse texto de abertura me faz lembrar a palavra bookends, que deu o título a um dos únicos cinco álbuns de estúdio de Simon & Garfunkel. Literalmente, suporte de livros – mas a partir daí você pode fazer a imagem de duas extremidades, o que marca o começa e o que marca o fim. O voltar ao começo – a última sequência que faz um retorno à primeira, que fecha o ciclo como um círculo, uma bola. Depois de cerca de 107 minutos de piadas, a voz do narrador adverte, enquanto vemos um trenó em disparada na neve: – “Aquela noite, fugindo da Transilvânia, o professor Abronsius nunca poderia imaginar que…”
(Corto a frase porque, a rigor, ela seria um spoiler para o eventual leitor que chegou até aqui mas ainda não viu o filme. Embora… O que faria alguém chegar até aqui sem ter visto o filme?)
O Petit Larousse des Films faz uma sinopse clara, rápida, correta do filme, e então aproveito: “Acompanhado de seu discípulo Alfred, Abronsius chega à Transilvânia para destruir os vampiros. (O mais exato seria “para comprovar a existência dos vampiros e destruí-los”.) Ele descobre o castelo de Krolock, que capturou Sarah, uma jovem do vilarejo vizinho. Eles ficam presos para servir de repasto à reunião anual dos vampiros.” O ótimo guia prossegue e revela para onde a história vai.
Fiquei pensando que, a rigor, a trama de Dance of the Vampires é um desenrolar de perseguições. O professor Abronsius e seu assistente Alfred (os papéis, como já foi dito, de Jack MacGowran e Roman Polanski) perseguem a pista de vampiros. Abronsius tem certeza de que eles existem, e quer comprovar isso na prática. Na sua perseguição, os dois – sujeitos mais atrapalhados e trapalhões do que Jerry Lewis, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias juntos – vão parar numa hospedaria perdida no interiorzão da Transilvânia, pertencente a um tal Shagal (Alfie Bass).
Shagal parece ter dois objetivos na vida: proteger a filha, a linda Sarah, contra a perseguição a ela empreendida pelo conde Van Krolock (Ferdy Mayne), o vampiro-chefe da região, e perseguir sua empregada bonita e gostosa cujo nome o espectador não fica sabendo (o papel de Fiona Lewis).
Assim que bate o olho naquela Sarah de beleza deslumbrante – o papel de Sharon Tate –, o assistente Alfred, que é sonso e trapalhão, mas não é idiota, só pensa em persegui-la. Enquanto persegue Sarah, Alfred será perseguido por Herbert, o filho do conde (o papel de Iain Quarrier), seguramente o primeiro vampiro abertamente gay da História do Cinema.
A história foi criada por Polanski e Gérard Brach (1927-2006), roteirista e diretor que foi um freqüente colaborador do cineasta polonês. Seu nome está nos créditos de vários, vários dos filmes de Polanski: os já citados Repulsa ao Sexo e Armadilha do Destino, e mais O Inquilino (1976), Tess (1979), Piratas (1986), Busca Frenética (1988), Lua de Fel (1982).
Há aí uma pequena questão. Os créditos iniciais dizem literal e claramente “História e roteiro Gérard Brach e Roman Polanski”; o IMDb, no entanto, diz que a história é de Brach e o roteiro de Polanski.
Nos EUA, o filme foi cortado e teve seu nome mudado
Dance of the Vampires é, repito, uma produção inglesa; os produtores foram Gene Gutowski e Martin Ransohoff, através das companhias Cadre Films e Filmways Pictures. As tomadas internas foram em estúdios da Inglaterra, inclusive os famosérrimos Pinewood Studios, de onde saem pelo menos 90% dos filmes britânicos. Algumas externas foram feitas na Itália.
A distribuição, porém, ficou a cargo da Metro-Goldwyn-Mayer – e, no mercado americano, o maior e mais lucrativo do mundo na época, a MGM distribuiu uma versão sem cerca de 10 minutos da original exibida na Europa. A edição do diretor tem 107, 108 ou 110 minutos (o número varia levemente segundo as diferentes fontes). A edição que chegou aos cinemas americanos tinha 98 minutos.
E, como se isso não bastasse, os americanos mudaram o título, que passou do elegante Dance of the Vampires para o apelativo The Fearless Vampire Killers or: Pardon Me, But Your Teeth Are On My Neck. Os corajosos matadores de vampiros ou perdão, mas seus dentes estão no meu pescoço.
Polanski, naturalmente, ficou possesso, quis que seu nome fosse retirado dos créditos – segundo ele, a trama ficou incompreensível, devido aos cortes.
Anos mais tarde, a versão original – que foi sempre a exibida no Brasil, felizmente – passou a ser distribuída nos Estados Unidos. Leonard Maltin cita esse fato em sua resenha: “Quase brilhante mistura de humor e horror. O professor Abronsius e o assistente Alfred (uma grande dupla idiota e trapalhona) tentam destruír família de vampiros eslovenos. Versão completa de 107 minutos agora disponível. Também conhecido como Dance of the Vampires.”
Sim – ele diz tamhém conhecido como Dance of the Vampires porque usa, em seus guias, o título americano, aquele lá, The Fearless Vampirte Killers or: Pardon Me, But Your Teeth Are On My Neck. (A nota de Maltin para o filme é 3.5 estrelas em 4.)
A verdade é que esse acabou sendo o título em inglês do filme, e não o original. O IMDb cita isso na página de Trivia: “Ninguém parece saber por que o título foi mudado, e uma geração cresceu achando que ‘The Fearless Vampire Killers’ é de fato o título do filme”.
Títulos longos, com um “ou” no meio. Era moda naquela época. Basta lembrar de Dr. Strangelove Or: How I Learned To Stop Worrying and Love The Bomb, no Brasil Dr. Fantástico, a sátira genial de Stanley Kubrick de 1964. E Everything You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask, o filme número 3 de Woody Allen.
Dance of the Vampires – que os exibidores brasileiros, tão conhecidos por criar títulos ridículos, panacas, como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, tiveram a sabedoria de traduzir literalmente – em Portugal se chamou, por óbvia influência do título americano, Por Favor, Não me Morda o Pescoço. Mas que ninguém venha querer gozar os exibidores portugueses. No mínimo, há que admitir que eles não estavam sozinhos. Na Itália, o filme se chamou Per favore, Non Mordermi Sul Collo!
Um acaso fez surgir Sharon Tate na vida de Polanski
Consta que Roman Polanski, depois de haver dirigido consecutivamente Catherine Deneuve e Françoise Dorléac, desejava ter Jill St, John no papel de Sarah, a linda filha do dono da hospedaria.
Creio que dá para afirmar sem medo de errar que pouca gente hoje sabe de Jill St. John, além de velhinhos cinéfilos como eu. Quando garoto, jovem adolescente em Belo Horizonte, vi alguns filmes dela – uma moça bela, magrinha, ruiva, que, se não me engano, era contratada da 20th Century Fox e sempre tinha papéis de coadjuvante com alguma importância. Sim, é isso mesmo: ela está em Em Roma na Primavera (1961), com uma Vivien Leigh madura e um Warren Beatty jovem demais, em Suave é a Noite (1961), a adaptação de Henry King do romance de F. Scott Fitzgerald, em Tony Rome (1967), o policial com Frank Sinatra, entre muitos outros. E teve seu momento de Bond Girl em 007 – Os Diamantes São Eternos (1971).
São estranhos, fascinantes, loucos, fantásticos os caminhos da vida. Deus é um roteirista de mão cheia, o melhor do mundo – e, se o eventual leitor não acredita em Deus, troque o sujeito da frase por O Acaso, o Destino, que dá no mesmo. Diz o IMDb que “Jill St. John se retirou do projeto pouco antes do início das filmagens” – e então o produtor Martin Ranshoff falou para Polanski de uma outra ruiva que ele havia visto em A Família Buscapé/The Beverly Hillbillies, uma série de TV que durou de 1962 até 1971. Uma garota bem jovem chamada Sharon Tate.
Contam-se muitas histórias sobre os primeiros contatos entre o talentoso cineasta polonês de então 33 anos com a linda atriz americana de 23. (Ele é de 1933, ela, de 1943, e as filmagens foram em 1966.) A página de Trivia sobre o filme no IMDb conta, por exemplo, o seguinte:
“Sharon Tate inicialmente teve um encontro com Roman Polanski durante um jantar, mas eles conversaram muito pouco. Depois de um segundo jantar esquisito, Sharon foi convidada para ir ao apartamento de Polanski, e ele então desapareceu, deixando-a sozinha. Ele então surgiu de repente usando uma máscara apavorante, fazendo com que Sharon gritasse de medo. Sharon havia ganhado o papel.”
O filme teve a première em Nova York em 13 de novembro de 1967 – e estreou em seguida nos mais diversos países.
Sharon e Polanski se casaram, de papel passado, em 20 de janeiro de 1968.
Naquele ano de 1968, o polonês nascido em Paris que havia feito seus longa-metragens de números 2 a 4 na Grã-Bretanha fez seu primeiro filme nos Estados Unidos, O Bebê de Rosemary.
Em março de 1969, foram os dois para a Europa – ela para a Itália, onde filmaria 12 + 1, uma comédia com Vittorio Gassman e Orson Welles, e ele de volta à Inglaterra, para tocar a pré-produção de The Day of the Dolphin. Sharon voltou para casa mais cedo – a casa era uma mansão em Los Angeles que o casal havia comprado. Estava grávida, e um casal de amigos fazia companhia para ela.
E aí então, no dia 8 de agosto, a mansão foi atacada por um grupo de fanáticos, loucos, seguidores de um guru, Charles Manson.
Foi uma das maiores tragédias envolvendo gente da comunidade de Hollywood. Os fanáticos mataram todas as pessoas que estavam na casa do casal Sharon-Roman.
Filmes que falam sobre o Mal em Si
Tento voltou ao início deste texto – a coisa de que A Dança dos Vampiros impressiona sobretudo porque mostra essa fantástica capacidade de Polanski de ser eclético, fazer de tudo, passar por todos os gêneros.
Bookends. De volta ao começo – o final fechando um círculo, voltando ao princípio.
Há grandes realizadores que passam por todos os gêneros com brilhantismo. John Huston é talvez o melhor exemplo; fez de tudo, de absolutamente tudo – e até se orgulhava de não ter propriamente um estilo, uma especialidade.
Têm pontos em comum esses dois, Huston e Polanski. Sim, são grandes realizadores que gostam de passar pelos mais diferentes gêneros – e que gostam de, vez por outra, trabalhar como ator. Polanski dirigiria Huston como ator em um dos mais brilhantes de seus filmes, Chinatown (1974).
Há, no entanto, uma diferença fundamental entre os dois.
A obra de John Huston de fato parece não ter um fio condutor, um mínimo múltiplo comum.
(Diacho: seria máximo divisor comum? Eta aluno ruim que eu sempre fui das Matemáticas…)
A extraordinária obra de Roman Polanski tem um fio condutor, um máximo divisor comum. Em boa parte de seus belos filmes, Polanski fala sobre o Mal em Si. Chama a atenção dos espectadores para o fato de que o Mal em Si está entre nós, e cresce, e se espalha.
O final do seriíssimo, apavorante de O Bebê de Rosemary é um primo bastante próximo no final deste hilariante A Dança dos Vampiros.
Diacho, se um eventual leitor que ainda não viu o filme chegou até aqui, dane-se ele.
Vai aqui a fala do locutor que encerra o filme:
= “That night, fleeing from Transylvania, Professor Abronsius never guessed he was carrying away with him the very evil he had wished to destroy. Thanks to him, this evil would at last be able to spread across the world.”
Ou: – “Aquela noite, fugindo da Transilvânia, o professor Abronsius nunca poderia imaginar que estava levando consigo o próprio mal que ele desejava destruir. Graças a ele, o mal iria finalmente ser capaz de se espalhar pelo mundo inteiro.”
Anotação em outubro de 2021
A Dança dos Vampiros/Dance of the Vampíres ou The Fearless Vampire Killers
De Roman Polanski, Ingtaterra, 1967
Com Jack MacGowran (professor Abronsius),
Roman Polanski (Alfred, seu assistente)
e Alfie Bass (Shagal, o dono da estalagem), Sharon Tate (Sarah Shagal, a filha), Jessie Robins (a senhora Shagal), Ferdy Mayne (conde Von Krolock), Iain Quarrier (Herbert Von Krolock, o filho do conde), Terry Downes (Koukol, o criado do conde), Fiona Lewis (a empregada da estalagem), Ronald Lacey (o idiota da aldeia), Sydney Bromley (o condutor de trenó)
História e roteiro Gérard Brach e Roman Polanski
Fotografia Douglas Slocombe
Música Krzysztof Komeda
Montagem Alastair McIntyre
Coreografia Tutte Lemkow
Figurinos Sophie Devine
Produção Gene Gutowski, Martin Ransohoff, Cadre Films, Filmways Pictures. Distribuição MGM.
Cor, 108 min, cortado nos EUA para 98 min
R, ***1/2
Título na França: Le Bal des Vampires. Em Portugal: Por Favor, Não me Morda o Pescoço. Na Itália: Per favore, non mordermi sul collo!