Em seu quarto longa-metragem, a autora e realizadora paulistana Laís Bodanzky vai fundo no que, afinal de contas, mais importa na vida: as relações familiares, as relações afetivas. Pode haver tema melhor que a vida em família de gente comum, “normal” (se é que isso existe)? A vida em família de gente como você, eu, nossos parentes, amigos, conhecidos. Gente como a gente.
Como Nossos Pais. Nenhum brasileiro deixará de fazer a ligação entre o título do filme e a canção de Belchior que Elis Regina tornou parte da vida das pessoas de mais de uma geração.
“Minha dor é perceber / Que apesar de termos / Feito tudo, tudo / Tudo o que fizemos / Nós ainda somos / Os mesmos e vivemos / Ainda somos / Os mesmos e vivemos / Ainda somos / Os mesmos e vivemos / Como os nossos pais.”
“Como Nossos Pais” abre Falso Brilhante, o disco de Elis Regina de 1976 – e cada espectador do filme seguramente se lembra do que acontecia na sua vida na época de Falso Brilhante e de “Como Nossos Pais”. Para mim, por exemplo, foi um ano agitadissimo, conturbadíssimo, com a morte trágica do meu irmão, o tremor de terra da nova paixão e a decisão de sair de casa e acabar com o casamento, a filhinha pouco mais que bebê.
Como Nossos Pais, o filme, abre com um almoço domingueiro. Clarice (o papel de Clarisse Abujamra), mulher aí dos seus 60 e muitos anos, preparou numa grande panela de barro, como se deve, uma moqueca para a família, em sua casa simpática, confortável – provavelmente na Vila Madalena –, que tem um pequeno quintal. E foi no quintal que se pôs a mesa.
Estão ali os dois filhos de Clarice, um homem e uma mulher, cada um com seu par e seus filhos. A filha é Rosa (Maria Ribeiro), casada com Dado (Paulo Vilhena). Os dois têm duas garotas aí de uns 10 e 8, talvez 11 e 9, Juliana e Nara (Annalara Prates e Sophia Valverde).
O filho é José Carlos (Cazé Peçanha), casado com Alessandra (Gabrielle Lopez). O casal tem um filho, um garotinho aí de uns 4 anos.
Estão todos na foto abaixo, que não é uma cena do filme – é um still, uma foto feita para a publicidade, com todos os atores posados, direitinho. No almoço, no filme, não é nada tão certinho assim, de jeito nenhum.
O filme está só começando, e há um terremoto
Como em um típico almoço domingueiro de classe média mais para alta, gente de formação universitária, coisa e tal, fala-se dos mais variados assuntos. Lá pelas tantas, fala-se dos costumes de uma tribo de índios, e daí sobre a necessidade de preservação da Floresta Amazônica contra a sanha das grandes mineradoras…
Dá para o espectador perceber que Dado é antropólogo, trabalha em uma ONG voltada para os índios ianomâmis. E que Rosa está, naquele momento, trabalhando com a edição de textos de publicidade para uma empresa da área de produtos de aço para banheiros.
Veremos pouco depois que aquele trabalho a irrita profundamente. Tudo que ela gostaria de fazer na vida seria escrever peças de teatro – mas, como é preciso ganhar a vida, ela se viu obrigada a fazer aquele tipo de tarefa.
Dá para o espectador perceber também, naqueles primeiros minutos de filme, que as coisas entre Rosa e a mãe não são amorosas – nem suaves, tranquilas. Ao contrário, há entre elas alguma faísca, algum curto-circuito.
No meio do almoço, começa a chover – e toca todo mundo levantar correndo e levar travessas, pratos, copos, talheres para a cozinha, unida ao quintal por uma ampla porta.
O choque que houve ali na conversa entre Clarice e Rosa, e até a chuva, isso é absolutamente coisa pequena, mínima, ínfima, diante do que virá logo em seguida, ali na cozinha.
Vai ocorrer um terremoto naquela família – e o epicentro do terremoto, assim como do próprio filme, é Rosa.
Clarice faz, de repente, sem qualquer tipo de preparação, uma revelação que é de fato um terremoto, uma bomba atômica.
O que Clarice revela não chega a ser spoiler porque acontece quando o filme ainda não tem sequer 10 dos seus 102 minutos. Mas claro que é sempre melhor a gente ser surpreendido ao ver o filme, e não quando se lê um comentário sobre ele.
Por isso, cabe aqui perfeitamente o aviso: se o eventual leitor ainda não viu o filme, pode (e deve) parar de ler por aqui.
A cabeça de Rosa entra em parafuso
Clarice estava bebendo durante o almoço, e continua a beber depois que a família termina de almoçar e fica conversando na cozinha. Tem diante de si um copo de vinho e um cigarro acesso. O cigarro tem importância na história, mas a bebida, não. Conforme o espectador verá bem adiante, ela não soltou a bomba atômica porque estava bêbada (e não estava mesmo), nem foi uma coisa que saiu sem querer. Ela queria mesmo dizer aquilo.
Diante de toda a família reunida, Clarice diz que Rosa não é filha de seu pai. Quer dizer, não é filha de Homero, o único marido que Clarice teve, o marido de décadas, de quem se separou nem fazia tanto tempo assim. Rosa – ela vai dizendo, as crianças andando ali na cozinha em volta dos adultos – foi concebida em Cuba, durante uma viagem que Clarice fez para participar de um congresso latino-americano de sociologia e educação. Homero não tinha ido junto. Ela teve um caso, um caso breve, com um brasileiro que também participava do congresso, homem fascinante, intelectual, sociólogo.
Alessandra, a nora de Clarisse, rapidamente reúne as crianças para irem embora o mais rápido possível. José Carlos, seu marido, está absolutamente chocado, assim como Dado, o marido de Rosa.
Rosa, é claro, está muitissimo mais chocada do que todos.
Como era possível que a mãe tivesse guardado aquilo em segredo ao longo de toda a sua vida, ao longo de 38 anos? E como era possível que ela afinal revelasse essa coisa chocante assim, inesperadamente, no meio da cozinha, as crianças zanzando por ali?
A cabeça de Rosa, evidentemente, obviamente, entra em parafuso.
A vida de Rosa já não ia lá muito bem
Na verdade, a vida de Rosa já não ia lá nada bem, como o roteiro bem elaborado – pela diretora Laís Bodanzky e por Luiz Bolognesi, os dois também autores do argumento – vai nos mostrando logo após aquela sequência inicial no almoço. Havia a insatisfação dela com o trabalho, a coisa desagradável de fazer algo de que ela não gostava nada.
A tensão causada pela revelação da mãe acaba fazendo que ela tenha uma explosão e abandone o trabalho. O que cria novo motivo de tensão com o dinheiro menor para manter a vida.
E há ainda, ou sobretudo, o fato de que o casamento com Dado não está bem. Não estava rolando sexo – Rosa estava sempre cansada ou ocupada demais com o trabalho fora, com o trabalho de manter a casa organizada, com o trabalho de cuidar das duas filhas. E ela começava a desconfiar que Dado poderia estar tendo um caso.
As coisas já não vinham nada bem – mas diante daquela revelação de que sei pai não era seu pai…
E ainda tem a questão que vai crescendo: mas então quem é, na verdade, o pai biológico?
Vemos Rosa ouvindo o telefone tocar e depois escrevendo esta mensagem para a mãe: “Já que você escolheu outro pai pra mim, eu escolhi não ser mais sua filha. Não me ligue mais.”
Claro que com tempo isso muda.
Como é mesmo aquela definição sobre as cinco fases diante da perspectiva da morte – mas que também podem ser aplicadas à reação ao luto, a qualquer notícia trágica?
No filme dentro do filme em All That Jazz (1979), Bob Fosse usou e abusou, de maneira irônica, engraçada, dolorosa, genial, da teoria das cinco fases elaborada pela psiquiatra suíça Elisabeth Kubler-Ross.
Negação. Raiva. Barganha. Depressão. Aceitação.
Na fase da negação, Rosa diz para o irmão José Carlos – mais para si mesma – que seu pai é Homero, e pronto, acabou. E vai visitar o pai.
Mautner rouba cena com o jeito Mautner de ser
Por algum motivo – talvez simplesmente porque sejam bons amigos –, Laís Bodanzky convidou Jorge Mautner para o papel de Homero, o ex-marido de Clarice.
O problema é que é dureza ver Jorge Mautner e tentar entender que ele é Homero, o ex-marido de Clarice, o cara que criou Rosa mas que agora, aos 38 anos, Rosa acabou de descobrir que não é seu pai biológico, de sangue, de DNA. Porque, diabo, Jorge Mautner é Jorge Mautner é Jorge Mautner é Jorge Mautner!
E aí me lembro do Karnak, o conjunto deliciosamente maluco de André Abujamra, em “A Alma Não Tem Cor”, uma das mais maravilhosas canções anti-racismo que já foram feitas: “Alma não tem cor / Porque eu sou branco / Alma não tem cor / Porque eu sou negro / Branquinho, neguinho / Branco, negão / Alma não tem cor / Porque eu sou branco /
Alma não tem cor / Porque eu sou jorgemautner / Percebam que a alma não tem cor / Ela écolorida / Ela é multicolor”.
Jorge Mautner, na canção de André Abujamra, vira adjetivo. Ser jorgemautner é ser acima dessas bobagens de discussão por causa da cor da pele. Ser jorgemautner é estar em estado de graça, zen, zenzão, a caminho do Nirvana. Pode até ser que quando Bob Dylan escreveu, nas liner notes do disco Bringing It All Back Home, “i accept chaos. i am not sure whether it accepts me”, ele estivesse se referindo ao livro Kaos que Mautner havia lançado exatamente um ano antes do disco, em 1963.
Ih, acho que aí dei uma viajada brava…
Se bem que, a rigor, nem tanto. Porque a verdade é que o Homero de Jorge Mautner é muito, mas é muito, mas é exageradamente Jorge Mautner. Homero fala umas idiotices, umas platitudes, umas bobagens, umas daquelas frases bobas que as pessoas falam quando estão doidonas de alguma droga, tipo “o ser humano é pura angústia, é angústia pura”… como se estivesse acabando de descobrir a mais profunda verdade do universo!
Fico aqui agora pensando que talvez Gilberto Gil tenha aprendido a falar essa língua do “revendo-o agora, assim em termos de coisa muito gente, assim muito íntima”, com Jorge Mautner!
Clarice conta quem é o pai biológico
Bem. Homero, então, é um sujeito assim igualzinho a Jorge Mautner. É um tipo que caminha com os pés pelo menos uns dois centímetros acima do chão. Artista plástico, não tem nada a ver com essa coisa de ganhar dinheiro para pagar as contas. (Naquela primeira sequência, Clarice já havia dito que se separara de Homero cansada de manter um marido “vagabundo”.) Está casado de novo, tem uma filha adolescente, absolutamente aborrescente, de uns 16, 17 anos, Caru (Antônia Baudouin), que, ao contrário da mãe, se demonstra feliz da vida porque o pai não pagou as mensalidades e ela está sem escola garantida para o ano seguinte.
Rosa sempre se deu melhor com o pai do que com a mãe, mas, agora que ela sabe que o pai não é o pai biológico, sente-se confusa, perdida, e ver o pai com aquele jeito de homem da Lua dele não a ajuda muito.
Depois que consegue suplantar a fase da negação, e ainda está com muita raiva, Rosa, é claro, procura a mãe.
É aí que Clarice conta para a filha – e para o espectador – que naquele almoço de domingo ela queria contar duas coisas para a família. O fato de que o pai de Rosa era outro, e o fato de que ela tinha um câncer no pâncreas, terminal, e poucos meses de vida.
Não sei se foi essa a intenção de Laís Bodanzky, mas a impressão que se tem é de que Rosa no primeiro momento fica muito menos preocupada com o fato de que a mãe está condenada à morte do que com a identidade do pai biológico.
Clarice conta logo: o pai dela é Roberto Nathan. O nome, claro, não significa nada para o espectador, mas os personagens da história o conhecem. Roberto Nathan, o pai de Rosa, era um político importante, proeminente – naquele momento, era nada mais nada menos que o ministro-chefe da Casa Civil.
Rosa irá a Brasília. Numa das mais belas tomadas feitas pelo diretor de fotografia Pedro J. Márquez, veremos em primeiro plano a silhueta de Rosa (e nessa tomada dá para perceber que a atriz Maria Ribeiro tem um corpo fantástio), diante de uma janela aberta para a Esplanada dos Ministérios. Dá para imaginar que a tomada tenha sido filmada ali pelo décimo andar do Hotel Nacional (onde, aliás, Mary e eu namoramos bem no comecinho, em 1990, mas isso não tem nada a ver).
Rosa irá ao Palácio do Planalto, será recebida pelo pai biológico, o chefe da Casa Civil Roberto Nathan – interpretado por Herson Capri.
Não, não é o fim da história. Isso aí, o encontro de Rosa com o pai biológico, acontece quando o filme está ainda pelo meio.
Há um errinho na aritmética
Me ocorreram algumas interrogações, ao ver o belo filme dessa diretora que só fez coisas importantes, de qualidade – Bicho de Sete Cabeças (2000), Chega de Saudade (2007) e As Melhores Coisas do Mundo.
Por que, raios, inventar que o pai biológico de Rosa é o ministro-chefe da Casa Civil – de um governo obviamente “popular”, de esquerda?
Chefe da Casa Civil, e com passagem por Cuba. Isso remete diretamente a José Dirceu. Mas por que isso? Para quê?
Precisava meter a política tão diretamente assim, num filme que é sobre família, relações familiares?
Se Laís Bodanzy queria deixar clara sua própria postura político-ideológica, uma postura de esquerda, progressista, isso já estava posto ao longo dos diálogos todos, em especial os de Clarice, mas a rigor os de todos os personagens.
Por que botar Brasília no meio de forma tão explícita? Por que tão claramente fazer a remissão a José Dirceu?
Para além dessas questões, independentemente delas, me peguei no papel daquele personagem que Nelson Rodrigues chamava de O Idiota da Objetividade. Idiota da Objetividade, fiz umas continhas – e fica fácil de ver que Laís e seu marido Luiz Bolognesi falharam na aritmética.
O filme é de 2017. A ação se passa nos dias de hoje, o presente. Claro, como é uma ficção, o presidente da República não era o ”traidor”, o ”golpista’ Michel Temer. Na ficção, não tinha havido o “golpe”, e o presidente, felizmente, era um homem de esquerda, que tinha como chefe da Casa Civil um sujeito bom pra cacete, o protótipo do Hombre Nuevo que a Revolução Cubana se propôs a criar.
Quando tinham estado em Cuba para um congresso de sociologia e educação, Nathan e Clarice tinham se comido e então concebido Rosa. A qual tinha 38 anos em 2017, o hoje, a época em que se passa a ação.
2017 menos 38 dá 1979 – e aí ferrou. 1979 ainda era ditadura militar. Ninguém, nenhuma professora, pedagoga, o que fosse, podia viajar a Cuba, participar de um congresso e voltar na maior boa, como se tivesse ido até uma Disneylândia da vida. Se Clarisse tivesse ido a Cuba em 1979, na volta teria ido parar no Dops, ou no DOI-Codi.
“Mamãe, eu quero ir a Cuba, / Quero ver a vida lá. / Mamãe eu quero ir a Cuba / E voltar”, Caetano cantou em Uns, seu disco de 1983. Ainda em 1983 não se podia ir a Cuba e voltar. Foi preciso o fim da ditadura militar, em 1985, para que isso passasse a ser possível de novo.
Claro, isso é só um detalhinho, besteira, bobagem – é a Idiotice da Objetividade. Mas me ocorreu, e quis registrar.
O que ficou me incomodando é: por que essa homenagem a José Dirceu?
Minha cabeça não consegue admitir a possibilidade de uma artista sensível como Laís Bodanzky ter admiração pelo grande organizador da maior quadrilha que já houve neste país.
Ser como nossos pais não é o horror dos horrores
A maior das qualidades de Como Nossos Pais, na minha opinião, é como o filme trata as relações das mães com as filhas, das filhas com as mães.
Rosa e Clarice nunca foram apaixonadas uma pela outra, grudadas, íntimas. Muito ao contrário. Como foi dito lá no início, entre as duas havia sempre o risco iminente de uma faísca, um curto-circuito. Tanto que a filha era muito mais próxima do pai que da mãe.
Depois que Clarice lança a bomba atômica na cozinha de sua casa, acontece de Rosa começar a enfrentar questionamentos sem fim da filha mais velha. A garota queria, por exemplo, ir para a escola de bicicleta – e a mãe tem que ser enérgica para dizer que não, que não pode, que é perigoso, e que ela é que decide. Esse tipo de coisa – embates entre a mãe e a filha que se aproxima da aborrescência e contesta tudo.
Quando volta a procurar aa mãe depois do terremoto, da bomba atômica, Rosa ouve dela que a própria Clarice tinha embates com a mãe dela – embates semelhantes ao que ela teve com Rosa, semelhantes aos que agora Rosa tem com as filhas. É coisa natural, comum, normal – não é um fardo que a vida deu exclusivamente a Rosa.
E mais: não é o horror dos horrores. Dá para levar, dá para tentar melhorar, ajustar, acertar, azeitar a relação.
Belchior compôs em meados dos anos 70 a canção que reclamava que a geração dele, apesar de ter feito tanta coisa, ainda parecia tanto com a geração dos pais. Era um momento de rebeldia, em que o conflito de gerações criava abismos profunds entre pais e filhos. Não é preciso ser sempre assim.
Creio que o que o filme de Laís Bodanzky nos diz é que a gente se parece mesmo com nossos pais, e nossos filhos – mesmo que não queiram isso – necessariamente se parecerão conosco em um bando de coisas.
Porque as coisas são assim. That’s the way things go. Não há rodas a serem inventadas. Não dá para discutir com dados da realidade.
Não pode ir de bicicleta para a escola porque é perigoso – e pronto, acabou.
São truísmos. São coisas que não mudam nunca, venha o que vier, como diz a canção de Ian Tyson que Neil Young tranformou em quase sua.
E ser como nossos pais em algumas, ou mesmo em muitas coisas, não é necessariamente ruim. É a herança que recebemos, e que vamos passar adiante. Cabe a cada um aprender a cultivar o que considerar correto e deixar de lado o que considerar errado na herança que recebeu.
E seguir em frente, sem ficar culpando os pais por todos os problemas que cada um tem.
Um tipo de filme que abre o leque
Isso aí era um bom final de texto – mas ainda gostaria de registrar alguns pontos.
A começar por uma inside joke, uma piada interna, que só tem sentido para os paulistanos: a escola dos filhos de Dado e Rosa só poderia ser mesmo o Equipe, não é? (Minha filha fez o segundo grau no Equipe. Como nossos pais.)
Como Nossos Pais foi o grande vencedor no Festival de Gramado de 2017. Levou seis prêmios: melhor filme, direção, atriz para Maria Ribeiro, ator para Paulo Vilhena, atriz coadjuvante para Clarisse Abujamra e Montagem para Rodrigo Menecucci.
E o filme foi convidado para exibição no Festival de Berlim de 2017, uma baita honra.
Teve também um razoável sucesso de público no Brasil. Nada como os milhões de espectadores das neochanchadas tipo De Pernas Pro Ar e Loucas Pra Casar, é claro, mas teve mais de 200 mil espectadores nos cinemas, o que é um número bastante positivo para um drama sério dirigido a platéias adultas.
O co-roteirista Luiz Bolognesi falou coisas interessantíssimas, fascinantes, numa entrevista a Cristina Fibe, de O Globo, em dezembro de 2017, dentro de uma reportagem de balanço do cinema brasileiro naquele ano. “Estamos fazendo filmes que não eram esperados, que não são apenas para falar dos excluídos. Não é que o cinema brasileiro tenha se desengajado. Ele continua comprometido, mas não para falar só do excluído. Essa não é a nossa única voz. Não sabíamos, por exemplo, que o nosso cinema tinha algo a dizer da classe média alta. Achávamos que só a Europa podia falar disso. Estamos fazendo filmes que não têm nada a ver com periferia, violência social. É bom abrir o leque e falar das nossas intimidades.”
É isso aí! Tem que haver de tudo. Claro, tem que haver os filmes-denúncia sobre miséria e violência tipo Cidade de Deus. Tem que haver os De Perna Pro Ar, os Minha Vida em Marte. Policiais como Bellini e a Esfinge, Berenice Procura, infantis como Turma da Mônica: Laços. E tem que haver filmes autorais, dramas adultos, sobre gente como a gente, como este aqui.
Que maravilha que os realizadores de hoje estejam percebendo isso -e fazendo filmes como Como Nossos Pais. Deo gratias!
Anotação em julho de 2019
Como Nossos Pais
De Laís Bodanzky, Brasil, 2017
Com Maria Ribeiro (Rosa)
e Clarisse Abujamra (Clarice, a mãe), Paulo Vilhena (Dado, o marido), Annalara Prates (Juliana, a filha), Sophia Valverde (Nara, a filha), Antonia Baudouin (Caru, a meia-irmã), Jorge Mautner (Homero, o pai), Cazé Peçanha (José Carlos, o irmão), Gabrielle Lopez (Alessandra, a cunhada), Felipe Rocha (Pedro), Gilda Nomacce (Didi),
e, em participação especial, Herson Capri (Roberto Nathan, o chefe da Casa Civil)
Argumento e roteiro Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi
Fotografia Pedro J. Márquez
Montagem Rodrigo Menecucci
Casting Alessandra Tosi
Produção Gullane, Buriti Filmes, Globo Filmes.
Cor, 102 min (1h42)
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