É verdade que, se conselho fosse bom, não seria de graça. Mas aí vai um conselho para quem passar por aqui: evitem um filme chamado A Caça/Breakout, uma produção canadense de 2013.
Conto por que vi o filme: minha amiga Jussara me falou bem de A Caça, do badalado dinamarquês Thomas Vinterberg, e então programei para gravar. Hoje fui ver o filme – só que é um outro A Caça, de um sujeito chamado Damian Lee, com Brendan Fraser. Com cinco minutos já dava para saber que é porcaria; com meia hora, o filme mostra o que vai ser daí em diante – aquela bobagem, aquela idiotice de um assassino armado perseguindo quem presenciou um crime cometido por ele – no caso, duas crianças.
A cada momento vai ficando pior, mais grotesco, mais ilógico, mais insuportável. E não é que assisti até o fim? Aliás, um fim previsibilíssimo, é claro. Em minha defesa, só tenho a dizer que muitas vezes recorri à tecla de fast forward. Mas a tecla de stop, que demonstraria minha sanidade, essa só apertei depois que a porcaria terminou.
Como já aconteceu outras vezes, com filmes especialmente ruins, pensei em não escrever nada sobre este aqui – mas depois acabei mudando de idéia. Droga: se perdi quase 2 horas vendo essa asneira, por que não aproveitar para fazer uma anotação para o site?
Então lá vai.
Brendan Fraser faz um ativista verde que, sem intenção, mata um homem
O roteiro – de autoria do próprio diretor Damian Lee, com base em história criada por Christian Piers Betley e Deborah Wakeham – adia bastante a chegada ao cerne do filme, que é a tal perseguição, a caçada às crianças que presenciaram um crime.
Começa com imagens de um pai com uma filhinha aí de uns dez anos, no meio de uma bela mata, junto de uma cachoeira. O pai, veremos, se chama Jack – e é interpretado pelo grandalhão Brendan Fraser, num desempenho digno de um rosário de troféus Framboesa de Ouro, o anti-Oscar, o prêmio gozação para os piores. Enquanto vemos pai e filha naquele santuário ecológico, a voz em off de Brendan Fraser se dirige à filha, Jen (interpretada, aos 9 anos, por Arcadia Kendall, e por Holly Deveaux aos 17), pedindo perdão por ter estado longe dela e prometendo que no futuro vai se dedicar a cuidar dela.
Veremos que Jack é um ambientalista, um ativista verde. Vive numa região de florestas de Ontario, no Canadá, e luta contra uma empresa malvada que anda derrubando árvores com uma rapidez e uma fúria amazônicas. Numa das investidas de Jack – liderando um grupo de verdes – contra o desmatamento promovido pela empresa, ele acaba derrubando um empregado, que, ao cair no chão, bate com a cabeça numa pedra. Não se diz explicitamente, mas as indicações todas são de que o empregado morreu.
Jack é condenado a um monte de anos de prisão. Pula-se no tempo para o agora, quando Jen é uma adolescente de 17 anos – bela e confusa, perdida, sem diálogo com a mãe, distante do pai – e o filho mais novo do casal, Mikey (Christian Martyn), está aí com uns 10, 12, talvez.
A mulher de Jack, Maria (Amy Price-Francis), é advogado, e vem negociando um acordo com a tal empresa malvada desmatadora. A empresa quer mudar sua imagem, e, numa jogada de marketing, propõe um acordo a Jack, através de Maria: se ele aceitar trabalhar para a empresa, como consultor na área de preservação ambiental, ela retira as acusações contra ele e ele poderá então ser imediatamente solto.
Hãh… Péra lá: mas Jack não havia, ainda que acidentalmente, causado a morte de um homem? Como assim que um acordo com a empresa para quem a vítima trabalhava pode fazer soltar o sujeito que foi condenado por homicídio, ainda que não intencional?
Esse é só um dos muitíssimos furos do roteiro-queijo suíço desse Damian Lee.
Surge na história uma dupla de irmãos que acaba de sair da prisão
De repente, sem que nem por que, surge na história uma dupla que o espectador não sabe de onde veio. São dois irmãos, Tommy (Dominic Purcell) e Kenny Baxter (Ethan Suplee), que acabam de passar uma longa temporada atrás das grades na Georgia. Soltos, os irmãos criminosos estão indo de carro para o Canadá, onde Tommy alugou uma cabana no meio do mato para os dois descansarem.
Veremos que Tommy é um assassino compulsivo. Tretou, relou, nego olhou feio, ele mata. Kenny é um retardado mental, tadinho.
Os dois entram numa loja de conveniência junto de um posto de gasolina, Kenny pega uma revista em quadrinhos e fica rindo esquisito para ela. O rapaz do caixa pergunta para Tommy, quando este vai pagar a conta, se aquele rapaz é retardado, ou coisa assim. Tommy olha muito feio para ele, mas vai para o carro, senta-se. Kenny está olhando as figurinhas da revista. (Kenny ficará olhando as figurinhas da revista ao longo de umas quatro ou cinco sequências daí pra frente.)
Mas aí Tommy resolve que não vai deixar assim barato. Sai do carro, volta até a loja e espanca o rapaz do caixa até a morte.
Damian Lee. Um nome para guardar – e fugir dos filmes dele
O espectador sabe, é óbvio, que em algum momento as duas histórias, a do ativista verde e sua família e a dos dois irmãos, vão se cruzar.
Cruzam-se quando o filme está aí, creio, com uma meia hora. (Como o filme é muito ruim, o tempo demoraaaaaava pra passar.)
Os dois filhos de Jack e Maria, Jen e Mikey, vão acampanhar com um grande amigo de seus pais, Chuck (Daniel Kash), no meio de uma floresta, junto de um rio. Por coincidência, bem perto da tal cabana que Tommy havia alugado.
Só que o dono da cabana resolve botar os irmãos pra fora, alegando que o cheque enviado por Tommy havia voltado. Aí Tommy dá uma surra no sujeito, que foge para o mato. Tommy, o assassino compulsivo, vai encontrar o pobre coitado perto do rio onde os garotos Jen e Mikey estão remando de caiaque. Tommy dá o tiro de misericórdia, Mikey o vê – e ele vê que foi visto.
Pronto. Depois de arrumar alguns pretextos, fingir que vai falar de defesa da natureza, o filme encontrou seu mote: assassino compulsivo vai perseguir dois garotos inocentes no meio do mato.
Argh.
Um nome para guardar: Damian Lee. Veterano – nasceu no meu ano, 1950 –, trabalhou como ator, produtor, roteirista, diretor. Como diretor, tem 21 títulos. Nunca tinha visto nenhum deles, e não vou ver nenhum outro depois deste desastre aqui.
Brendan Fraser – que figura. Não vi nenhum dos filmes da série A Múmia, iniciada em 1999. Achei que ele está bastante razoável em Decisões Extremas (2010), um bom drama sobre um jovem casal que descobre que o filho tem uma rara doença para a qual a ciência ainda não há tratamento. E, na deliciosa comédia irlandesa O Negociador/Whole Lotta Sole (2011), de Terry George, sua interpretação é correta, até boa. Aqui, ele está um pavor absoluto.
Ninguém tem boa atuação neste filme. Todos os atores estão inapelavelmente mal dirigidos. E o fantástico é que o diretor realça esse defeito ao insistir em usar big close-ups dos rostos dos personagens, em especial os dois irmãos criminosos. É a ruindade amplificada, examinada em lupa.
A única coisa boa do filme é a beleza dessa atriz Amy Price-Francis, que faz a mulher de Jack, a mãe dos dois garotos perseguidos pelo assassino feroz. Nasceu na Inglaterra em 1975, parece que foi criada no Canadá, participou de diversas séries de TV. É ruiva de olhos verdes, faz lembrar Maureen O’Hara. Benza Deus.
A garotinha Holly Deveaux (na foto acima), que faz Jen, a filha adolescente, também é bastante bonita. Aqui, não demonstra talento – mas isso não significa nada, já que todos os atores estão homogeneamente horrorosos.
Anotação em outubro de 2014
A Caça/Breakout
De Damian Lee, Canadá, 2013
Com Brendan Fraser (Jack Damson), Dominic Purcell (Tommy Baxter), Ethan Suplee (Kenny Baxter), Amy Price-Francis (Maria), Holly Deveaux (Jen), Christian Martyn (Mikey), Daniel Kash (Chuck), Arcadia Kendall (Jen aos 9 anos)
Roteiro Damian Lee
Baseado em história de Christian Piers Betley e Deborah Wakeham
Fotografia Curtis Petersen
Música jonathan Goldsmith
Montagem William Steinkamp
Produção Rollercoaster Entertainment, Split Decision Productions, Vortex Words Pictures.
Cor, 89 min
1/2
Por alguns segundos gelei e pensei que tivesse te passado o nome errado do filme, mas são homônimos. Ufa!
Se só de ler o texto eu achei o filme chato, imagina você que viu essa bomba até o fim?
Eu ia dizer que sinto vergonha alheia pelos atores, mas não sinto, não. Leram o roteiro antes de aceitar.
KKKKKKKKK!
Desculpa mais não da para começar a comentar com outra escrita.
Eu e minha esposa passamos pela mesma situação.
Vimos o trailer de A Caça e assisti esse ai.
E sim é um lixo
Lixo. Só assisti porque perdi o sono e estava passando no corujao da Globo.
De tudo o que tem de ruim, a pior parte se dá quando o cara sai do rio,, domina o assassino e foge com o filho, porém deixa a arma com o sujeito.
Qualquer enlatado de seção da tarde se sai melhor.
Só assisti a essa bomba porque sou fã do Brendan Fraser. Contudo, é lastimável ver um ator tão talentoso e carismático descer a esse nível!
O filme é hediondo em todos os departamentos. Roteiro ridículo e recheado de furos, atuações péssimas e clima de telefilme de quinta!
Só lamento pelo Brendan, pois o resto do elenco combina com o filme. Só não entendo o que leva alguém que já foi um astro a se prestar a participar disso.
Pra quem quiser ver o Brendan em um filmaço, eu recomendo “Deuses e Monstros” (Gods and Monsters, 1998), de Bill Condon.
Está passando agora na Globo….com a insônia da quarentena resolvi assistir, parece uma cópia mal feita do Rio Selvagem, com Kevin Bacon e Meryl Streep.
Parece que o programador da Globo gosta do filme, hoje 7/09/2020 está passando outra vez.
Acabei de assistir no corujão da globo eita filme ruim, mas fazer o que né? Insônia kkkkkk
Bem, o programador da Globo realmente gosta desse filme rs 14/12/2020 e passando agora
Pior filme de todos. O bandido tem pior mira que já vi em algum lugar. Minha vó com parkinson atira melhor…