Deliciosa diversão, este O Casamento do Ano, no original The Big Wedding. Um grande elenco, um monte de personagens interessantes, situações hilariantes.
Nada sério, nada profundo – mas um gostoso divertissement. Não ofende a inteligência de ninguém. Ao contrário: tem um monte de boas piadas, falas espertas, boas sacadas – e trata de sexo com alegria, bom humor, sem culpas, da forma mais saudável possível.
O início da narrativa é arrasador: Ellie (Diane Keaton, maravilhosa como sempre), a ex-mulher, chega à belíssima casa à beira de um lago paradisíaco que deixou muitos anos antes para o ex-marido Don. Chama, chama, ninguém atende. Ela pega a chave escondida no lugar de costume, e entra. Naquele exato momento, Don (Robert De Niro), está, na sala, enfiando a cara entre as pernas da atual mulher, Bebe (Susan Sarandon, linda, deslumbrante).
Bebe vê a ex-mulher do atual marido, fecha as pernas, Don cai no chão. Ela tenta se recompor, levantando a calcinha que havia sido baixada, e vai cumprimentando Bebe – tinham sido as melhores amigas, quando Don era casado com Ellie.
Uma elogia a outra, você está ótima, você está linda.
Don se levanta do chão e vai dar um abraço na ex-mulher – e, ops, ela sente a ereção. Brincam com o efeito da pilulinha azul.
Maravilha de início de comédia! E uma comédia não sobre adolescentes, mas sobre velhinhos e jovens adultos!
Religiosa, a mãe do rapaz adotado não aceita a existência do divórcio
O casamento de Don e Ellie havia acabado muitos anos antes. Don e Bebe passaram a viver juntos na casa esplêndida em Connecticut que ele e Ellie haviam construído aos poucos, à medida em que ele ganhava dinheiro vendendo suas esculturas. Ficaram com os dois filhos homens do primeiro casal: Jared (Topher Grace), que estudou Medicina, e o adotivo Alejandro (Ben Barnes, na foto abaixo), que foi aceito na exclusiva Harvard. O novo casal terminou de criar os dois rapazes.
Ellie tinha saído para viver a vida mundo afora, e a filha Lyla (a belíssima Katherine Heigl) tinha se mudado para Chicago. Como alguns filhos ainda fazem até hoje, mesmo nestes tempos em que há mais gente divorciada do que ainda no primeiro casamento, Lyla tinha ficado horrorizada com o fato de o pai ter traído a mãe, e justamente com a melhor amiga dela; a filha e o pai – embora tenham muitas características parecidas – haviam se afastado totalmente.
Ellie não tinha se casado de novo, mas levava uma vida boa, confortável, independente; viajou muito, foi ao Oriente, Camboja, Índia, virou budista, teve experiências com sexo tântrico.
O sexo é presença constante na trama de The Big Wedding.
Jared, o filho mais velho, o médico, trabalha num hospital próximo à casa do pai, onde continua morando. Aos 29 anos, ainda é virgem, por decisão própria, pessoal e intransferível: queria ter a primeira experiência com a mulher amada, e ela simplesmente ainda não tinha aparecido.
Alejandro, o filho adotado, está para se casar – e o casamento é o motivo pelo qual Ellie voltou até a casa da família, após muitos anos sem aparecer por lá, e é o que traz de volta ao lugar a filha desgarrada do pai, a bela Lyla.
Alejandro havia nascido na Colômbia, e dado em adoção para o casal americano Don e Ellie para ter a oportunidade de uma vida melhor. A noiva dele é Missy (o papel da zoiuda bela e talentosa Amanda Seyfried, na foto), garota liberada, tranquila, embora filha de descendentes de irlandeses católicos: Barry, o pai (David Rasche), está todo enrolado com negociatas financeiras e na mira do Fisco, e a mãe, Muffin (Christine Ebersole), é racista.
Racista! Ainda existe isso, mesmo hoje, mesmo entre gente de classe média alta, numa região paradisíaca de Connecticut!
Mas a questão principal é que a mãe biológica de Alejandro, Madonna (Patricia Rae), decidiu vir para o casamento. E ela é (ou pelo menos Alejandro tinha certeza de que ela é) uma católica absolutamente fundamentalista, que não aceita de forma alguma o pecado do divórcio.
E então Alejandro conta isso aos pais e decide-se que Don e Ellie fingirão que ainda estão casados.
Ao que Bebe, há uns dez anos vivendo com Don, embora não tivessem formalizado no papel a união, e uma autêntica, real segunda mãe dos dois filhos homens, pergunta: “Mas se vocês dois são casados, o que exatamente eu sou?”
E Don arrisca: – “Minha concubina?”
São 11 personagens, e os rolos entre eles não acabam nunca
Estamos aí com uns 15 minutos apenas de filme, e os rolos que vão surgir a partir daí são vários, os mais diversos possíveis – e absolutamente impagáveis.
Neste relato aí acima já apareceram nove personagens. Há ainda um décimo e uma décima-primeira. Há o padre Moinighan (o papel de Robin Williams, um tanto repetindo outro religioso casamenteiro que interpretou em Licença para Casar, de 2007), que deverá realizar a cerimônia de casamento. E há, finalmente, Nuria, a irmã biológica de Alejandro, que virá da Colômbia para o casamento com a mãe Madonna – um vulcão de sensualidade latina, interpretado por Ana Ayora, de beleza e sensualidade à altura da personagem.
Virou moda não gostar de Robin Williams, dizer que Robin Williams é chato, careteiro. Careteiro ele é, de fato – um dos mais maravilhosos careteiros do cinema, na minha opinião. Ele está sensacional como o padre Moinighan, que se vende como tradicional mas está bem longe disso, e, entre outros pecadilhos, foi companheiro do ateu Don nas reuniões do AA.
É moda também, entre cinéfilos de fino gosto e nariz arrebitado, não gostar de filmes americanos de uma maneira geral e, em especial, filmes com festas de casamento em casas ricas.
Esse tipo de gente deve fugir de The Big Wedding como o diabo da cruz. O resto da humanidade tem no filme, como já foi dito, uma deliciosa diversão.
Um elenco de bons atores. Ver Diane Keaton e Susan Sarandon não tem preço
Também tem sido dito que Robert De Niro, que já foi um dos maiores atores de sua geração, nos últimos tempos ligou o piloto automático. Dedica-se a fazer cara feia nos thrillers e caretas nas comédias do tipo Entrando numa Fria (2000), Entrando numa Fria Maior Ainda (2004) e Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família (2010). Com esse juízo, até concordo bastante. tanto que nem me animei a ver nenhum dos três filmes dessa série, com medo de entrar numa fria.
De vez em quando, porém, De Niro desliga o piloto automático. Fez isso, por exemplo, em Estão Todos Bem, de 2009, refilmagem americana da obra de Giuseppe Tornatore com Marcello Mastroianni. Na minha opinião, desligou de novo o piloto automático para fazer The Big Wedding. Está ótimo como esse enroladíssimo, atrapalhadíssimo Don.
Ver Diane Keaton e Susan Sarandon, no esplendor de seus 67 anos (as duas nasceram em 1946), não tem preço.
E estão bem também os atores jovens e belos, Katherine Heigl, Topher Grace, Ben Barnes, Amanda Seyfried.
The Big Wedding já valeria apenas pela sequência em que vários desses personagens deliciosos – Don, Ellie, Jared, Alejandro – se confessam ao padre Moinighan. É uma absoluta delícia.
O filme, como tantos outros recentes, não tem créditos iniciais. Só nos créditos finais fiquei sabendo que o diretor é Justin Zackham, garotão novo, formado em cinema na New York University, e autor do argumento e do roteiro de Antes de Partir/The Bucket List, dirigido por Rob Reiner em 2007. Este aqui foi o segundo filme dirigido por ele, depois de Calouros em Apuros/Going Greek, de 2001, do qual foi também autor de argumento e roteiro.
Escreveu também o roteiro de The Big Wedding – mas não é uma história original, e sim a adaptação de um filme francês, Mon Frère se Marie, roteiro de Jean-Stéphane Bron e Karine Sudan, direção do primeiro. Jamais tinha ouvido falar nem do filme nem de Jean-Stéphane Bron; Mon Frère se Marie é de 2006, e do elenco só reconheço o nome de Aurore Clément. No filme francês, o casal original é suíço, e o filho adotivo é vietnamita.
E é isso aí. The Big Wedding é uma agradável diversão que recomendo com gosto aos amigos e ao eventual leitor.
Anotação em maio de 2014
O Casamento do Ano/The Big Wedding
De Justin Zackham, EUA, 2013
Com Robert De Niro (Don), Diane Keaton (Ellie), Susan Sarandon (Bebe), Katherine Heigl (Lyla), Topher Grace (Jared), Ben Barnes (Alejandro), Amanda Seyfried (Missy), Robin Williams (padre Moinighan), Christine Ebersole (Muffin), David Rasche (Barry), Patricia Rae (Madonna), Ana Ayora (Nuria), Kyle Bornheimer (Andrew)
Roteiro Justin Zackham
Baseado no filme Mon frère se marie (2006), roteiro de Jean-Stéphane Bron e Karine Sudan
Fotografia Jonathan Brown
Música Nathan Barr
Montagem Jon Corn
Produção Two Ton Films, Millennium Films. DVD Imagem Filmes.
Cor, 89 min
***
Vi esse filme sem esperar muito, e ele não tinha mesmo muito a oferecer. Achei tudo meio clichê, e só as atuações dos grandes salvaram (adoro a Susan Sarandon, e tiro o chapéu pra ausência de plástica da Diane Keaton).
O ator que faz o filho adotivo é fraquinho demais, assim como a atriz que faz a irmã colombiana dele (estereotipo de mulher latina). Amanda Seyfried e Topher Grace estão ok.
Tem alguns momentos engraçados, e só por falar em racismo já é um grande fato, mas não me cativou. Vale como diversão, não sou do tipo que torce o nariz pro cinemão americano, pelo contrário.
Agora que mundo é esse onde o nome de Diane Keaton vem depois do de Katherine Heigl nos créditos? Sinal dos tempos.
PS: vi esse filme ontem, e hoje essa notícia sobre o Robin Williams. Que triste. Depressão só quem tem sabe como é. Ele era novo ainda, e embora eu não fosse uma grande fã, algumas de suas atuações marcaram, como a do “Captain, oh my Captain!”, e para mim, particularmente, a de Gênio Indomável, um filme que amei na época em que assisti (citação honrosa também para seu personagem em Amor Além da Vida).