A melhor coisa de No Limite do Paraíso, no original Something Short of Paradise, disparado, sem qualquer sombra de dúvida, é Susan Sarandon, jovem, já talentosa, e linda, maravilhosa, acachapantemente bela.
Susan Sarandon foi o motivo pelo qual Mary pegou na locadora o filme do qual eu jamais tinha ouvido falar e é mesmo, acho, bastante obscuro, pouco conhecido.
Para checar se não estou falando asneira, consulto o Videobook, uma extraordinária obra que listava todos os filmes lançados no Brasil em VHS, e de fato o filme não está lá, assim como também não está no Guia de Vídeo e DVD da Nova Cultural, um bom guia que infelizmente deixou de ser relançado.
O filme foi lançado há pouco em DVD no Brasil por uma pequena empresa de nome presunçoso, Magnus Opus, muito provavelmente por não ter detentor de direitos autorais – é um filme independente, produzido pela American International e distribuído pelo Orion; a produtora deve ter desaparecido, assim como desapareceu a Orion, que faliu.
O filme é dirigido por um tal David Helpern; foi o primeiro e único longa de ficção que o cara fez na vida – antes, havia dirigido dois documentários. Argumento e roteiro são de Fred Barron, que tem 13 títulos no currículo, a imensa maior parte séries de TV.
Além de Susan Sarandon, o elenco tem apenas um ator famoso, o francês Jean-Pierre Aumont (1911-2001). O protagonista é David Steinberg, um canadense nascido em 1942 que trabalhou como ator em apenas dez filmes e/ou séries de TV, e cuja principal atividade é a direção: o IMDb mostra que ele já dirigiu mais de 50 títulos, na maioria séries de TV.
É. Acho que essas informações servem para confirmar aquela minha impressão de que este é um filme obscuro, pouco conhecido. (Acrescento, na hora de botar o post no ar, que uma busca no Google mostra poucas fotos do filme – mais uma confirmação de que é uma obra pouco conhecido.)
A moça não quer compromisso sério, quer ir devagar; o rapaz quer casar
A sensação que tive é de que a história que o filme tem para contar daria um bom curta-metragem. É um conto, não é uma novela, um romance. Embora seja curto, Something Short of Paradise dá a impressão de que o roteirista e o realizador tiveram que ficar enchendo linguiça, criando uns diálogos desnecessários (às vezes bem bobos), para chegar aos 87 minutos de duração.
É assim: Madeleine (o papel de Susan Sarandon) teve uma relação de muitos anos com um sujeito, em sua cidade, Seattle; a relação não acabou bem, e a moça – que acaba de se mudar para Nova York – não quer saber de se envolver em novo relacionamento. Mas fica conhecendo Harris (o papel de David Steinberg), sujeito simpático, boa pinta; saem algumas vezes, um vai conquistando o outro – e aí trepam. A trepada vem depois de Madeleine reafirmar que quer ir devagar, quer fazer as coisas passo a passo, não quer entrar numa relação séria, não está preparada para isso.
Na manhã seguinte, o panaca do Harris sugere que ela se mude para a casa dele. Exatamente tudo o que ele não deveria sugerir, certo?
Mas o cara é um panaca, está apaixonado, e quer definição rápida da moça que não quer saber de nada rápido.
Madeleine, claro, não se muda para a casa dele. Ficam namorando – e o babaca de vez em quando a pede em casamento. Panaca, babaca.
Fala-se de filmes no filme inteiro; há cartazes de filmes na casa do protagonista
A história – isso aí que consegui resumir em cinco parágrafos – é contada em flashbacks. Quando a ação começa, Madeleine já havia dado um pé na bunda de Harris, e Harris estava na fossa, tadinho.
O diretor David Helpern, o autor Fred Barron e o ator David Steinberg são, ao que tudo indica, cinéfilos de carteirinha, têm paixão por filmes, como eu, como os eventuais leitores destes textos tronchos aqui. E então há cartazes de filmes espalhados pela casa de Harris, fala-se de filmes em vários momentos.
Nos créditos iniciais, vemos um desfilar de fotos promocionais de velhos filmes de Hollywood, dos anos 30 e 40.
Harris tem um cinema, uma sala de cinema “de arte”, de filmes cult. Quando a ação começa, ele está para inaugurar a sala, com um filme (fictício, é claro) chamado Primo Primo – assim, com as palavras em português, ou espanhol. É uma óbvia brincadeira com Cousin Cousine, um filme francês de 1975, dirigido por Jean-Charles Tacchella, com Marie-Christine Barrault, Victor Lanoux e Marie-France Pisier.
Para a abertura da sala e o lançamento do filme, Harris e seu sócio terão a presença do ator do filme Primo Primo, um galã famoso (fictício, é claro), chamado Jean-Fidel Mileau – o papel de Jean-Pierre Aumont, um ator de carreira longa e cheia: trabalhou em mais de 150 filmes, entre 1931 e 1996.
Haverá uma entrevista coletiva do tal Mileau – um danado de um mulherengo, cheio de frescuras –, e existe a possibilidade de Madeleine, repórter de uma revista, ir à coletiva. Harris sofre com a possibilidade de rever a mulher por quem está perdidamente apaixonado e que lhe deu um chute na bunda.
Susan Sarandon ainda não era estrela. E como era linda, jovem daquele jeito
Alguém escreveu no IMDb que o filme é uma tentativa de fazer um novo Annie Hall – uma história de amor de gente intelectualizada em Manhattan. Está certíssima a pessoa que escreveu isso. Dá exatamente a sensação disso: aqueles rapazes quiseram fazer uma comedinha romântica à la Annie Hall. Só faltou o talento de Woody Allen.
Mas há algumas coisas boas. Às vezes, Madeleine e Harris ficam sem assunto. Coisa mais comum do mundo entre casais, entre amigos. Legal ver isso em um filme.
Legal também ver uma mulher que não quer compromisso, commitment, e um homem que, ao contrário, quer porque quer casar. Em 99,99% das comedinhas românticas acontece o oposto.
Bem, e há Susan Sarandon.
Não era propriamente uma garotinha. Nascida em Nova York em 1946, estava com 33 anos, portanto, em 1979, o ano de lançamento do filme. Nem era uma iniciante; havia estreado em um dos principais papéis em Joe, de John G. Avildsen em 1970, e já havia feito vários filmes, inclusive The Rocky Horror Show, que se tornaria um cult, A Primeira Página, de Billy Wilder, O Outro Lado da Meia-Noite e Pretty Baby, de Louis Malle.
Mas ainda não era uma estrela.
E, meu Deus do céu, como era linda! É linda até hoje, claro, mas, jovem naqueles 33 anos, era um absurdo, com aqueles olhos imensos, os olhos mais imensos que já vi na vida (e que a filha, Eva Amurri, herdou).
Falta lembrar que o título original, Something Short of Paradise, quer dizer (se entendi direito meu dicionário de expressões idiomáticas) “algo perto do paraíso”, “algo não muito longe do paraíso”.
E faltaria explicar por que escrevo cem linhas sobre um filme tão pouco importante. Mas isso é simples: é porque eu sou doido mesmo.
Anotação em fevereiro de 2013
No Limite do Paraíso/Something Short of Paradise
De David Helpern, EUA, 1979
Com Susan Sarandon (Madeleine Ross), David Steinberg (Harris Sloane),
e Jean-Pierre Aumont (Jean-Fidel Mileau), Marilyn Sokol (Ruthie Miller), Joe Grifasi (Barney Collins), Robert Hitt (Edgar Kent), David Rasche (David Ritchie)
Argumento e roteiro Fred Barron
Fotografia Walter Lassally
Música Mark Snow
Montagem Frank Bracht
Produção American International. DVD Magnus Opus.
Cor, 87 min
*1/2
Gosto muito de ver filmes com a Susan . É uma ” senhora ” atriz, ótima, maravilhosa e, não se pode negar, uma mulher muito linda.
Não sei se vou encontrar nas locadoras por aqui, aquele problema da data.
Filmes de 2005 para tras é difícil de achar.
Vou tentar encontrar “via” online.
Vi na internet a foto da Eva Amurri muito bonita tal qual a Susan e os olhos,como voce disse .
Abraço !!