Pacto de Silêncio / Bond of Silence

Nota: ★★½☆

Uma boa surpresa, este filme feito para a TV americana. Nada extraordinário – mas sólido, muito bem realizado, e sério. Baseia-se em um caso real que envolve álcool, violência e crime entre adolescentes bem de vida, wasps – brancos, anglo-saxões e protestantes –, numa cidade pequena da Costa Leste.

Começa num dia 31 de dezembro, e o espectador é apresentado, nos primeiros dez minutos de filme, a mais de uma dezena de personagens. Entre os adolescentes, um grupo de estudantes que está terminando o colegial, às vésperas da faculdade – garotos e garotas bem alimentados, sadios, aí na faixa dos 17, 18 anos –, há um grande frisson: vai ter festa de arromba na casa de Shane (Calum Worthy). Os pais dele vão viajar, e ele aproveita para dar a festa, com promessa de muita bebida e talvez uma ou outra coisinha mais.

A garotada se fala sem parar pelo celular. Meninas do segundo ano dão um jeito de serem convidadas também.

Entre os adultos, é o dia da corrida anual de bicicleta.

Entre os diversos personagens que vão sendo mostrados pela primeira vez, há o casal 20 Bob e Katy McIntosh (David Cubitt e Kim Raver). Estão aí com quase 40 anos, se amam, são felizes, têm um casal de gêmeos de uns seis anos lindinho.

Bob, hoje advogado, com um passado de atleta, vence fácil, pelo terceiro ano, a corrida de bicicleta.

Três casais se reúnem para o réveillon; na casa em frente, há festa de arromba com uns cem adolescentes

Bob e Katy recebem em sua casa dois casais de amigos para festejar o réveillon.

O garoto Shane mora do outro lada da rua.

Os seis adultos vão bebendo, conversando – e de vez em quando olham pelas janelas para a casa dos vizinhos. Veio tanta gente para a festa de Shane que já não cabem tantos adolescentes dentro da casa espaçosa – alguns ficam diante da casa, o número de carros estacionados na rua é imenso. O barulho é ensurdecedor.

Quando está faltando bem pouco para a meia-noite, Bob resolve ir dar uma conversadinha com Shane; ele conhece os pais do garoto, conhece o garoto. Quer ver se ele consegue baixar um pouco a bola dos seus convidados.

Vai com os dois amigos; as mulheres ficam em casa. Os três entram na sala – não vêem Shane. Há uns cem adolescentes ali, enchendo a cara, dançando, conversando, se agarrando. Bob sobe as escadas, vai tentar achar Shane no andar de cima. Entra no quarto do casal de vizinhos – há uns dez adolescentes lá dentro, e Shane não está.

Bob pede aos garotos que saiam do quarto, que desçam para o primeiro andar – eles não podem ficar ali, diz.

Do outro lado da rua, Katy se impacienta com a demora do marido. Um dos amigos do casal desistiu, já voltou para a casa dos McIntosh. Katy liga para o celular do marido, cai na secretária. O outro amigo, que ficou na casa, sobe as escadas à procura de Bob.

Encontra-o deitado no chão do quarto do casal vizinho.

Vêm a polícia, a ambulância.

Bob morre no hospital. A primeira informação é de uma parada cardíaca.

Será feita a autópsia. Os exames iniciais do legista indicam que Bob foi espancado até morrer.

Estamos com uns 15, no máximo 20 minutos de filme.

Os adolescentes que estavam no quarto dos pais de Shane fazem o pacto de silêncio do título.

Um belo exemplo de como enfrentar uma tragédia sem a lei do talião

Kim Raver, a atriz que faz Katy, a protagonista do filme, tem currículo grande, com participações em diversas séries de TV, inclusive Law & Order, 24 Horas e Grey’s Anatomy, em que participou de 47 episódios. Está bem, assim como os demais atores, inclusive os adolescentes.

O diretor Peter Werner é um veterano da TV, com 76 títulos no currículo. Já até ganhou um Oscar, por um curta-metragem de 1977, In the Region of Ice. É bastante competente, pelo que mostra neste filme.

O roteiro é sólido, bem conduzido O tema importante, forte, necessário, sobre a violência entre adolescentes bem nutridos, bem educados, é muito bem explorado.

No fim, haverá um belíssimo exemplo de que há outras formas de enfrentar uma tragédia que não a lei do talião, a do olho por olho, dente por dente, a vingança como única saída. E o exemplo é real, conforme mostrarão as legendas ao final esclarecendo o que aconteceu com os personagens da história.

Que maravilha haver filme sobre violência que não apela para a lei do talião. Que aponta a existência de outras saídas.

Anotação em dezembro de 2011

Pacto de Silêncio/Bond of Silence

De Peter Werner, EUA, 2010

Com Kim Raver (Katy McIntosh), Greg Grunberg (detetive Paul Jackson), Charlie McDermott (Ryan), Haley Ramm (Jordan), Rebecca Jenkins (Sandra), Nicole Oliver (Pat), Calum Worthy (Shane), Reila Aphrodite (Andrea), David Cubitt (Bob McIntosh)

Roteiro Brian D. Young, Edithe Swensen, Teena Booth

Fotografia Attila Szalay

Música Richard Marvin

Produção Bauman Productions, Jaffe/Braunstein Films, Lifetime Television

Cor, 98 min

**1/2

4 Comentários para “Pacto de Silêncio / Bond of Silence”

  1. Gostei bastante deste filme, mais pelo quê de investigação que pelo tema das drogas, vícios etc, que não são meus preferidos nem me atraem.

    Conheço a Kim Raver da série Grey’s Anatomy e a considero uma boa atriz, concordo com você que ela está bem, mas também nada acima da média.

    Fiquei um pouco triste ao assistir ao filme, acho que estava emotiva, mas é horrível ver alguém perder um ente querido por causa de uma estupidez. Quando a morte é causada por uma tragédia, uma fatalidade, algo que digamos, não poderia ter sido evitado penso que é “mais fácil” aceitar. Mas por causa de uns jovens babacas que têm como esporte a violência gratuita? O cara morreu de graça, por absolutamente nada. Fico chocada com isso.

    Acho que além da questão dos vícios e drogas tem também a questão da influência, no caso do filme a má influência dos amigos. A própria namorada do cara já tinha dado um toque de que ele ficava diferente na presença deles. Aliás, essa menina foi a única que agiu corretamente; não sei se por coincidência ou não, era a única da turma que já trabalhava e que parecia ter uma ligação mais próxima aos pais, até mais ao pai do que à mãe.
    Aliás, me espanta que os pais protejam os filhos de uma maneira negativa, que os faça (façam?) esconder a verdade da própria polícia. Nesse ponto este filme e outros que abordam o tema mostram muito bem como a relação entre pais e filhos fica conflituosa quando chega a adolescência; há aquele afastamento que considero natural, mas muitos pais perdem a mão, tornam-se omissos, ausentes, não sabem o que os filhos fazem nem como agem na rua.

    Adorei o papel do detetive Jackson, o ator também é mais conhecido pelas séries que fez. Achei que ele tá bonitão e atuou também corretamente.
    E por falar em detetive, achei as penas das duas pessoas envolvidas leves demais, tá até parecendo o Brasil … me surpreendeu.

  2. Meu comentário ficou enorme mas esqueci de falar uma coisa. Não acho que bebidas e drogas em excesso sejam desculpa para alguém cometer um ato violento, e espero que não sejam atenuantes, pelo contrário. Tudo bem que a pessoa fica doidona e adquire uma coragem que fora das drogas e do álcool talvez não tivesse. Mas acho que alguém só comete um ato violento porque já tem aquela semente ou tendência dentro dela; o que acontece é que ela acaba ficando apenas mais “corajosa”, ou melhor seria dizer covarde?
    É como usar a desculpa de que ofendeu alguém numa discussão pq bebeu. Aham, conta outra. Ofendeu porque quis, pq sóbrio não teria coragem. É como falar algumas verdades no calor das emoções. A pessoa sempre quis falar aquilo, e a raiva, o ciúme, a humilhação ou o que quer que seja apenas a impulsionou. Não quero com isso dizer que o álcool em excesso e as drogas não são prejudiciais, só acho que sozinhos não são os responsáveis pelos atos ilegais/imorais dos outros. Acho que uma pessoa de boa índole pode encher a cara que não vai sair batendo nem matando.

  3. Jussara, você é demais.
    Me impressionam a clareza das suas idéias, a clareza com que você as expõe, o seu texto límpido.
    Seu comentário, dividido em duas partes, é melhor do que o que eu escrevi sobre o filme.
    Grande abraço.
    Sérgio

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