Anotação em 2011: Este, na minha opinião, é um dos filmes mais fracos do diretor sueco Lasse Hallström, radicado em Hollywood desde o final dos anos 80. Faz tempo que a crítica xinga Hallström de coisas tipo piegas, sentimentalóide, e eu continuava gostando de todos os filmes dele. Neste aqui – tenho que admitir – ele abusou da pieguice, do sentimentalóide.
Tendo sempre a ser mais tolerante com filmes românticos, ou que beiram o sentimentalismo. Sou tão tolerante com eles quanto intolerante em relação aos filmes que exploram a violência – e a paixão que boa parte dos espectadores tem pela violência. Coisa de gosto pessoal. Mas este filme aqui beira demais o piegas.
Este Querido John é um tearjerker, como se dizia dos dramalhões das décadas de 30 e 40 – um fazedor de lágrimas, um lançador de lágrimas, um cebolão descascado. Seu propósito é este: fazer as pessoas chorarem.
Culpa (ou, para quem gostar do filme, virtude) de Nicholas Sparks, o autor de romances açucarados da vez. Nicholas Sparks, nascido em 1965, no Nebraska, está para a literatura chororô assim como Dan Brown está hoje para a de aventura, ou John Grisham para a de romances sobre crimes e tribunal. Tudo que ele escreve vira best-seller – e, em seguida, filme. O início do texto sobre ele na Wikipidia resume tudo: “Ele já publicou 17 romances, com temas que incluem a fé cristã, amor, tragédia e destino. Seis foram adaptadas para o cinema, inclusive Message in a Bottle, A Walk to Remember, The Notebook, Nights in Rodanthe, Dear John e The Last Song. True Believer e The Lucky One devem ser lançados no cinema em 2011”.
Vi vários deles (acho que ando vendo filmes demais). Uma Carta de Amor/Message in a Bottle tem um bom elenco – Kevin Costner, Robin Wright Penn, Paul Newman. Também tem bons atores Diário de uma Paixão/The Notebook (a grande Gena Rowlands, o veterano canastrão simpático James Garner, a jovem Rachel McAdams), um filme que, pelo jeito, muita gente adora. Assim como Noites de Tormenta/Nights in Rodanthe, com Richard Gere, Diane Lane, Viola Davis e Scott Glenn.
Todos os três anteriores, assim como este aqui, são produções caprichadas, bem cuidadas. Filmes corretos – e, a rigor, descartáveis.
Garoto encontra garota
É assim: garoto encontra garota, apaixonam-se perdidamente, ficam juntos durante um rápido período, apenas duas semanas, e ele vai embora – está no Exército, estava em licença rápida, tem que voltar para um daqueles países longínquos para onde o Império manda seus jovens. Correspondem-se loucamente, escrevem mais cartas que nossos avôs e avós escreveram a vida inteira. Ele tem uma nova licença, curtíssima, de apenas um fim de semana, volta, se reencontram – mas aí ele viaja de novo. Tinha acontecido o 11 de setembro, e ele se realistou, porque é um patriota, o Império precisa dele para combater o Mal no Oriente Médio.
E aí então…
Contar mais seria spoiler.
Será que não consegui engolir o filme porque o personagem central é esse patriota que troca o amor de sua vida pela opção de sair por aí combatendo o Mal segundo a doutrina Bush? Será que meu viés ideológico interferiu no julgamento do filme? Pode ser. Deve ser, ao menos em parte.
Jamais tinha ouvido falar do ator que faz o garoto John Tyree, um tal Channing Tatum, sujeito grandão, de uns dois metros de altura, como devem ser os soldados que o Império manda para os outros lados do mundo. Tem 25 filmes no currículo, segundo vejo no IMDb, inclusive Inimigos Públicos, no qual interpreta o lendário Pretty Boy Floyd – é um papel pequeno, por isso não guardei nem o nome nem a cara. (Por isso, e também porque estou velho, os neuroninhos estão cansados e o Alemão pode atacar a qualquer momento.)
A garota Savannah Curtis é interpretada por Amanda Seyfried, essa atriz que tem feito uns cinco filmes por anos. É bonita, engraçadinha, leva jeito; pela quantidade de papéis que tem recebido, em filmes bons, deve ser respeitada no meio.
O elenco tem também Henry Thomas, no papel de Tim, um amigo dos pais de Savannah, um bom sujeito que gosta muito dela, cuida dela – na primeira vez em que se encontra com John Tyree, e percebe que Savannah está interessada pelo rapaz, Tim o adverte: se alguma vez magoar Savannah, ele, Tim, o mata. Henry Thomas, quando tinha 11 anos de idade, interpretou o garotinho mais novo da família que recebe em casa o E.T., o Extra-Terrestre. Tenho simpatia por esse ator; deve ser muito difícil a vida de quem aos 11 anos é o personagem principal de um dos filmes de maior bilheteria da história.
Richard Jenkins rouba a cena como o pai do garotão
Mas o ator que rouba a cena, na minha opinião, é Richard Jenkins, eterno bom coadjuvante em dezenas de filmes, protagonista, que eu saiba, só de um, o excelente O Visitante, de Tom McCarthy, de 2007. Richard Jenkins faz o papel mais rico, mais interessante do filme, o sr. Tyree, o pai de John. O sr. Tyree tem um amor na vida, um hobby, uma mania, uma obsessão: coleciona moedas. Tem especial paixão pelas moedas defeituosas que, por engano, às vezes o Tesouro deixa escapar, e viram objeto de desejo dos colecionadores.
Filme para fazer chorar também é cultura, e com este Querido John aprendi que as moedas defeituosas são chamadas nos Estados Unidos de mule, mula – mula, afinal, é um animal defeituoso, cruzamento de duas espécies diferentes. Imagino que seja mesmo uma expressão americana, porque o Dicionário da Longman, inglês, não registra essa acepção.
Moedas, a cunhagem de moedas, as moedas defeituosas são citadas no texto de abertura do filme, ditas pela voz em off de Channing Tatum-John Tyree, contando sobre o tiro que levou durante uma missão num país longínquo. Foi uma bela sacada do roteirista Jamie Linden abrir o filme com essas frases sobre moedas, porque elas enganam o espectador. Só ficaremos sabendo para quem John Tyree está dizendo as frases quase ao final da narrativa.
Claro, e há a bem sacada lembrança da questão do autismo, a aproximação que se faz entre o personagem do pai de John com o do filho Tim. Não é um filme ruim. É só açucarado demais.
Os adolescentes românticos vão adorar o filme – e detestar críticas a ele
Vejo no IMDb que o filme teve duas indicações para os prêmios da MTV – Amanda Seyfried e Channing Tatum, para melhor atriz e melhor ator. Teve ainda cinco indicações para o Teen Choice Awards, um prêmio, como diz o nome, definido pelo público adolescente. Levou o prêmio de Química entre os atores que fazem os personagens centrais.
O IMDb também informa que o filme, com orçamento de US$ 25 milhões, rendeu US$ 80 milhões só no mercado interno americano. Pagou-se e deu bom lucro, portanto – e seguramente fará grande sucesso nas locadoras e sempre que passar na TV. Há uma legião de fiéis fãs de filmes românticos, e aqueles da legião que vierem parar aqui após consulta no Google seguramente ficarão desapontados com esta anotação. Fazer o quê? O tio aqui tá mais por fora que sambista em baile funk.
Querido John/Dear John
De Lasse Hallström, EUA, 2010
Com Channing Tatum (John Tyree), Amanda Seyfried (Savannah Curtis), Richard Jenkins (Mr. Tyree), Henry Thomas (Tim Wheddon), D.J. Cotrona (Noodles)
Roteiro Jamie Linden
Baseado no romance de Nicholas Sparks
Fotografia Terry Stacey
Música Deborah Lurie
Produção Screen Gems, Relativity Media e Temple Hill Entertainment. DVD Sony.
Cor, 108 min
**
Eu não gostei nada, nada, desse filme e, olha, eu tenho uma quedinha por filmes lacrimejantes… té hoje procuro nas sessões da tarde “Uma janela para o amor” (mas, claro, não passa mais).
Ah, eu sou dos que gostaram de Diário de Uma Paixão,muito pela química entre o Ryan e a Rachel; mas ainda mais pela forma lindinha como correm as coisas com o James Garner.
Lá para o fim do filme, quando desgraças sobram na tela, aparece o motivo dela ter dado o fora nele. Aí, para mim, o filme descamba. Tenta-se que o motivo seja chocante – mas não encaixa, pois haveria 10 mil possibilidades de resolver o problema sem a necessidade da quebra de contato entre os apaixonados.
O filme não arrebata – longe disso. Não li o livro, mas pelas críticas literárias segue exatamente o que está no papel. Menos um livro para ler.
Ai, nem vou me dar ao trabalho de ver; filmes baseados nos livros desse cara são todos água com açúcar, ou água com xarope da pior qualidade. Eu vi esses três que vc citou, mas nem prestei atenção que eram todos da mesma fonte. Esse tem a mesma pinta de Diário de Uma Paixão, filmeco que eu achei piegas, enfadonho e previsível até a última cena, mas que 100 entre 100 adolescentes amam. Isso explica muita coisa.
Ah, esqueci-me: você já viu Blue Valentine? Está lá o mesmo Ryan Gosling de Diário de Uma Paixão. E está lá um tanto dos outros motivos que me fazem amar o cinema 😉
Ainda não vi Blue Valentine. Como tem Michelle Williams, quero ver, sim…
Sérgio
Jussara, deixe os meninos curtirem os filminhos água com açúcar. Melhor isso que curtirem filmes sobre violência, serial killers…
Abração.
Sérgio
O filme é incrível! Amei assistir e indico. O romance é muito lindo e sempre que posso assisto novamente. Parabéns a todos que fizeram parte do elenco!
Obrigada pela atenção.
Eu amei o Filme,é uma coisa linda e me apaixonei por ele…
E esse filme é maravilhoso e recomendo também a história é linda!!
Eu já tinha dito que gostei deste filme quando comentei sôbre NOITES DE TORMENTA.
Não li nenhum livro do Nicholas mas vi todos os filmes baseados em seus romances, que citas aqui no texto, Sergio. E, gostei de todos.Quando peguntas se não conseguiste engolir o filme por causa do cara “patriota” deixar a mulher e ir à guerra, me lembrei do filme KATYN. O cara (oficial)tem a chance de fugir da guerra e se salvar e, não faz isso.
E ele já era prisioneiro. A esposa pede para ele fugir com ela e a filhinha e ele diz que não,que tem compromissos de guerra(não vou contar todo o diálogo)e ao final vira as costas e diz prá ela: cuiden-se.Pelo amor de Deus, é tão revoltante quanto.
Abomino tôda e qualquer guerra.
Veja só: voce faz elogios à Amanda Seyfried à Henry Thomas,à Richard Jenkis (concordo contigo,ótimo ator)e, dizes que este, assim como os outros filmes,são corretos,produções caprichadas, bem cuidadas. Então? São bons filmes, não são? Açucarados concordo mas,bons
filmes de se ver.
Eu assisti “O Visitante”, ótimo filme e o Richard Jenkis está maravilhoso nele. Quando assisti, ainda não tinha conhecimento do “50 anos de filmes”. Vou tentar rever para dizer alguma coisa sôbre.
Um abraço, Sergio !!
Só vi esse filme pela presença do maravilhoso Channing Tatum, o melhor galã surgido nos últimos tempos. Bonito, viril e carismático. Com ele, qualquer filme vale a pena. O filme em si não me emocionou.Só a cena em que John chora diante do pai moribundo chegou a ser um pouco forte. A maneira como o casal se apaixona em tão pouco tempo não convenceu (se bem que pra se apaixonar por Channing Tatum não é preciso mais do que um minuto de convívio). O motivo do afastamento do casal foi totalmente de contra ao que o filme vinha apresentando. Em suma, eu esperava um filme mais emocionante. Mas, para aqueles que, como eu, acham o Channing Tatum a oitava maravilha do mundo, é imperdível!