O Amor Acontece / Love Happens

2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2010 (postada em janeiro de 2011): O Amor Acontece é uma comedinha romântica assim-assim. Uma bobagenzinha passável, uma diversãozinha razoável, uma sessãozinha da tarde. O interessante é que ela pretende ser bem mais do que isso. A pretensão é seu diferencial, e, acho, também o elemento que a impede de ser um bom filme e a transforma em não mais que mediana.

Os autores do argumento e do roteiro – o diretor estreante Brandon Camp e Mike Thompson, que é também um dos produtores – não quiseram apenas contar a historinha básica homem-conhece-mulher-surgem-problemas-mas-no-final-dá-tudo-certo. Todos os elementos da historinha básica estão lá, mas, além deles, há toda uma discussão sobre o que fazer com a dor da perda de um ser amado – mulher, marido, filho, filha – e ainda a questão dos livros e cursos de auto-ajuda.

Há boas coisas no filme. Mas, na minha opinião, eles acabam eclipsados pelo defeito básico da saída otimista demais, a solução triunfal de todos os problemas, essa característica que faz muitas pessoas torcerem o nariz diante do que definem como “filme americano” – aquela coisa de que, nos filmes americanos, “os pobres ficam ricos, os ricos têm uma vida dura, os sem-documento encontram os documentos, as guerras terminam, os mortos voltam a viver e as putas se casam com milionários”, como sintetizou com charme e graça a francesa Danièle Thompson em Fuso Horário do Amor.

         Atrás do sorriso aberto, do otimismo cego, há feridas

O protagonista da história é Burke (o papel de Aaron Eckhart), um sujeito que, três anos antes de a ação começar, havia perdido a mulher num acidente de carro. Depois da tragédia, escreveu um livro de auto-ajuda com o título de A-Okay, ensinando como superar a dor das tragédias, como reagir bem diante das adversidades, como transformar problemas em soluções, como fazer do amargo limão uma saborosa limonada.

O livro, obviamente, tornou-se um gigantesco sucesso. E Burke, com a ajuda de seu amigo, assessor de imprensa e empresário Lane (Dan Fogler), industrializou o sucesso do livro, fazendo work-shops país afora para ensinar pessoalmente a pessoas atormentadas como superar os traumas, seguir em frente, ser feliz.

Quando a ação começa, Burke está chegando a Seattle – uma cidade de que ele não gosta – para fazer mais um de seus work-shops, e autografar mais e mais livros.

Mas Burke – e a ótima interpretação de Aaron Eckhart, um ator de fato muito bom, vai mostrando isso pouco a pouco – tem problemas. Atrás da máscara do sorriso aberto, do otimismo cego, há feridas.

No entanto, apesar dos seus problemas, que a trama vai revelando pouco a pouco, Burke é um bom vendedor de suas idéias, um bom curandeiro. Tem presença, tem carisma, é eloqüente, sabe argumentar. Consegue passar confiança para as pessoas.

         A heroína acaba de descobrir que é traída pelo namorado

Poderia resultar daí uma boa crítica aos livros de auto-ajuda, ao curandeirismo que é uma praga universal, mas nos Estados Unidos, em especial, parece se espalhar mais que chuchu em cerca.

Há alguma crítica à mania das obras de auto-ajuda e do curandeirismo, sim, mas ela acaba se perdendo, se dispersando no meio dos outros elementos da história.

Porque, claro, há o inevitável ingrediente homem-encontra-mulher-etc, etc, etc. A mulher, Eloise (a personagem de Jennifer Aniston, bonitinha, gostosinha e suavemente insossa, como sempre), é dona de uma floricultura. Fornece as flores para o belo hotel em que Burke realiza seu work-shop. Tem uma vida afetiva complicada, como deve ser a vida das heroínas de comedinhas românticas antes de encontrar o Homem Certo. Sempre namora sujeitos que a sacaneiam. No momento, está acabando de descobrir que o atual namorado, um roqueiro – estamos em Seattle, a cidade do grunge – a trai com uma fãzinha qualquer.

Segue-se a historinha mais ou menos padrão de homem-encontra-mulher-etc, etc, etc. Os roteiristas tiveram, no entanto, algumas boas idéias. O primeiro jantar dos dois protagonistas é uma delas: dá tudo errado – não porque o cara fale demais, como acontece em tantas outras comedinhas românticas, mas porque, ao contrário, o bicho trava, não consegue se demonstrar interessante, inteligente, nem sensível, nem nada.

         Será que estou vendo comédia romântica demais?

Sei lá. Não me sentei para ver o filme com má vontade, de forma alguma. Como já escrevi tantas vezes aqui, gosto de comedinha romântica. Prefiro uma comedinha romântica previsível e até meio boba a um filme de ação, tiros, perseguições de carro, sangue jorrando. Como dizia Lenny Bruce: melhor sexo que violência; melhor um travesseiro sob a bunda da mulher no meio da trepada do que um travesseiro para sufocar alguém.

Mas o fato foi que, em especial do meio para o fim, o filme me pareceu bobo demais. “Filme americano” demais.

De novo, sei lá: posso estar vendo comédia romântica demais.

         “Buddy Holly still goes on”

O filme termina com uma nova gravação de “Everyday”. Se não tivesse valido por absolutamente mais nada, valeria por fazer a gente ouvir de novo “Everyday”. Assim que o filme terminou ouvi a gravação original de Buddy Holly, depois a de Don McLean, depois a de James Taylor.

A trilha sonora é uma das boas coisas do filme – tanto a trilha original, composta por Christopher Young, quanto as canções escolhidas como músicas incidentais. A trilha, assim como a trama, é uma justaposição de tons leves, suaves, com outros mais pesados, beirando a música de câmara. As canções, imagino que uma homenagem a Seattle, a terra do grunge, do som que era surpreendentemente novo nos anos 90, são alegres – mas ao mesmo tempo suaves, próximas do folk.

São todas canções recentes, imagino, tocadas por grupos e artistas mais novos. E aí, no início dos créditos finais, eles me saem como uma nova, e gostosa, simpática, agradável versão de “Everyday”.

“Buddy Holly still goes on”, dizia Paul Simon, na maravilhosa canção “Old”, de seu disco de 2000: “A primeira vez que ouvi ‘Peggy Sue’ eu tinha 12 anos, os russos lá em cima com seus foguetes, e a guerra era fria. Quantos anos já se passaram, e o genocídio continua. Buddy Holly continua, mas seu catálogo foi vendido.”

Coisa de louco. Quem comprou o catálogo de Buddy Holly foi seu grande fã inglês, Paul McCartney; já o catálogo de Lennon-McCartney foi comprado por Michael Jackson. Mas essa é outra história.

Foi uma bela escolha a dos autores do filme, colocar “Everyday” nos créditos finais. Que coisa boa – nesta época de coisas absolutamente descartáveis – uma reverência a uma bela canção pop composta há mais de 50 anos. Não é saudosismo, apego ao passado, não. É só admiração pelas coisas boas, duráveis. Como dizia Bob Dylan: “Nesta era da fibra de vidro, continuo procurando por uma pérola”.

O Amor Acontece/Love Happens

De Brandon Camp, EUA, 2009

Com Aaron Eckhart (Burke), Jennifer Aniston (Eloise), Dan Fogler (Lane), John Carroll Lynch (Walter), Martin Sheen (o sogro de Burke), Judy Greer (Marty), Frances Conroy (a mãe de Eloise)

Argumento e roteiro Brandon Camp e Mike Thompson

Fotografia Eric Edwards

Música Christopher Young

Montagem Dana E. Glauberman

Produção Camp/Thompson Pictures, Stuber Productions,

Relativity Media, Universal Pictures. DVD PlayArte

Cor, 109 min

**1/2

Título em Portugal: Amor por Acaso

8 Comentários para “O Amor Acontece / Love Happens”

  1. Achei esse filme deprê, o fato de ter um autor de livro de auto-ajuda na história, deixou o filme ruim, na minha opinião. E o protagonista, embora passasse aquela imagem de ter dado a volta por cima, não era nada daquilo. Enfim, o clima no filme é um pouco pesado pra uma comédia romântica, acabou ficando forçado. Querer fazer crítica a alguma coisa num filme desse tipo, só pode acabar mal. Parei de ver na metade.
    Se vc acha que daí pra frente só fez piorar, fiz bem em ter parado de assistir.

  2. Quando uma coisa termina outra começa.
    Nem sempre é facil lidar com nossos medos.
    As vezes a vida nos da limões, podemos fazer carreta ou uma limonada.
    Estas são algumas das frases que coletei assistindo ao filme, ajudou-me a tbem compreender que mesmo as pessoas que escrevem sobre auto ajuda têm seus medos, mas tbem tem a habilidade de escrever sobre problemas que elas mesmas tem a dificildade de ultrapassar, sanar… pois o ser humano é uma caixa com muitas surpresas e mesmo vivendo entre tantas tecnologia ter atitudes ainda da pré-história. Indico o filme pra quem estiver disposto a vê-lo com os olhos e ouvidos da alma.

  3. Procurei muito sua opinião sobre o filme, pois lembro de já tê-lo visto na sua lista. Queria muito ver sua opinião, Sérgio, pois achei o filme muito chato e de conteúdo falso. Burke ensinava os outros a irem pra frente, mas ele era uma farsa. Atolado em sua culpa ele mentia muito mal.Entretanto, não perdeu a oportunidade de fazer dinheiro.Como “nada se perde, tudo se transforma”, adorei a sugestão de uma das discípulas dele que mandou fazer uma cópia “daquilo”, dizia ela, para manter viva a lembrança do seu amado marido! O cinama é danado para produzir “carneiradas”… Se a moda pega!!!!

  4. O Burke embora buscase passar o melhor para as pessoas seguirem enfrente ele mesmo não conseguia. Ate o momento em que apareceu alguém para lhe estender a mão e levalo ao encontro da sua verdade. Muitas pessoas não conseguém fazer algo que necessitão por falta de estimulo.Bom filme para um final de dia sozinho.

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