Anotações em 2009, com atualização em 2010: Eis aí a quarta leva dos filmes que não consegui ver até o fim; as tentativas foram no segundo semestre de 2009.
São bem poucos. Sempre tive uma paciência de Jó, um estômago forte para agüentar abacaxis. Com a existência, nos últimos anos, deste site, passei a abandonar pela metade ainda menos filmes do que antes. É uma coisa insana, eu sei. Mas é pragmático: se vejo até o fim, posso fazer mais um post, e manter o compromisso (insano, eu sei) que assumi comigo mesmo de botar um post novo a cada dia.
É uma relação pequena, mas bem eclética, com filmes de diferentes estilos, vindos de diferentes países.
E não são só abacaxis. Alguns têm qualidades, são admirados por muita gente – mas não me bateram, só isso.
Tudo Isto é Fado
De Luís Galvão Teles, Portugal-Brasil, 2004
Com Ângelo Torres, Danton Mello, Ana Cristina de Oliveira, João Lagarto, Carlos Santos, Deborah Secco
Roteiro Suzanne Nagle
Produção Samsa Film, VideoFilmes, Fado Filmes
Cor, 102 min
Tudo Isto é Fado, co-produção Portugal-Brasil, começa com samba, e com belas imagens do Rio de Janeiro. Os protagonistas são dois rapazes, amigos, um português trambiqueiro e um brasileiro dono de uma loja de aluguel de DVDs e venda de livros.
Parece que eles vão depois de algum tempo parar em Portugal, onde conhecem uma garota e se apaixonam os dois por ela e partem os três para um grande golpe. Mas não chegamos à região do fado. Os atores são tão ruins, mas tão ruins, mas tão ruins, de dar vergonha na gente, de deixar o espectador embaraçado, sem jeito, que tiramos o filme com uns dez, 15 minutos.
Uma pena danada, porque o diretor Luís Galvão Teles havia me deixado uma impressão muito boa quando vi Mulheres – Amizades Simples, Vidas Complicadas/Elles, que ele dirigiu em 1997. Elles tem um elenco ótimo – Miou-Miou, Carmen Maura, Marthe Keller, Marisa Berenson, Joaquim de Almeida. Já este aqui tem Deborah Secco; ela aparece numa seqüência bem no começo do filme; encontra-se com o rapaz dono da locadora, em uma confeitaria linda do Rio – será a Colombo? É bonita, a moça; bela presença. Mas quem disse que um rosto bonito e um corpão dispensam saber atuar?
15 Minutos/15 Minutes
De John Herzfeld, EUA, 2001
Com Robert De Niro, Edward Burns, Kelsey Grammer, Avery Brooks, Melina Kanakaredes, Vera Farmiga
Roteiro John Herzfeld
Produção Industry Entertainment, New Redemption, Tribeca
Cor, 120 min
Parece que a intenção deste filme é nobre: denunciar, criticar essa coisa da sociedade moderna de transformar a violência em show, a indústria do infotainment da televisão – os programas que misturam informação e entretenimento para mentes pobres e/ou doentias.
Parece que é isso que o filme pretende. A questão é aquela antiga: ao tentar criticar uma realidade, ele acaba fazendo exatamente como aquilo que pretende criticar – o filme se diverte com a violência, brinca com ela.
A ação começa com dois sujeitos chegando a Nova York, um russo e um checo. O checo é o líder, o russo é um gozador, tira fotos de tudo; ao funcionário da alfândega que pergunta o propósito de sua viagem, faz um discurso gozativo sobre a América, terra dos bravos e da liberdade. Os dois vão à casa de um outro russo, ou checo, que evidentemente participou de um assalto com eles, acabou ficando com todo o dinheiro e fugiu para os Estados Unidos, enquanto os dois foram presos. Quando o checo ouve o antigo comparsa dizer que gastou o dinheiro, mata-o a golpes de faca, e mata também a mulher dele, enquanto o russo filma tudo com uma câmara que tinha acabado de roubar de uma loja.
Entre uma seqüência e outra sobre essa dupla, vemos uma discussão em um canal de TV sobre violência e ibope. Uma executiva do canal quer suavizar um programa tipo Datena; o Datena deles insiste em que o povo quer ver é violência. E rapidinho vemos que ele tem um contrato com um policial – interpretado por um Robert De Niro careteiro e preguiçoso – que se deixa filmar durante suas ações.
Aí aparece Edward Burns, esse bom diretor e ator que precisava de dinheiro, como todo mundo, e se sujeitou a trabalhar nesta josta. Ele anda no Central Park, é interceptado por um rapaz que quer assaltá-lo; avisa que é fria, o rapaz insiste, ele dá umas porradas no pivete e o algema em uma árvore e continua indo para onde está indo; é um investigador dos bombeiros, e vai examinar o que sabemos que é o prédio onde moravam o russo e sua mulher, assassinados pelo checo invocado, que em seguida ateou fogo no imóvel.
Eram uns 15 minutos do filme que pretensamente quer denunciar a busca frenética, louca pelos 15 minutos de fama que une policiais e gente dos meios de comunicação. Deu pra mim – tive a sanidade de apertar a tecla stop.
A Bela Junie/La Belle Personne
De Christophe Honoré, França, 2008
Com Léa Seydoux, Louis Garrel, Grégoire Leprince-Ringuet
Roteiro Christophe Honoré e Gilles Taurent
“Livremente inspirado” no livro La Princesse de Clèves, de Madame de Lafayette
Produção Arte France, Scarlett Productions
Cor, 90 min
A bela Junie (Léa Seydoux), uma garota de uns 16 anos que perdeu a mãe, chega a um novo colégio. Passeia pelos corredores e salas com seu rosto belo e triste e vira a cabeça de professores e alunos. As seqüências dentro e fora das salas de aulas são longas, entediantes, chatas, chatas – e apertamos a santa tecla de Stop com uns 15 minutos de chatice.
A capinha do DVD diz que Christophe Honoré é “um dos mais talentosos e intrigantes autores da nova geração do cinema francês” e que Anne Seydoux “tem algo de uma jovem Anna Karina, que foi uma das musas de Godard (e da nouvelle vague)”. Verdade, tem mesmo. Quando eu tinha 15 anos, adorava Godard e achava Anna Karina o máximo. Não tenho mais 15 anos.
Sonhos Tropicais
De André Sturm, Brasil, 2002
Com Carolina Kasting (Esther), Bruno Giordano (Oswaldo Cruz), Lu Grimaldi (Vânia), Flávio Galvão (Dr. Cardoso de Castro), Celso Frateschi (Sales Guerra), Ingra Liberato (Emília), Bukassa Kabengele (Prata Preta), Douglas Simon (Amaral), Cecil Thiré (Presidente Rodrigues Alves), Nélson Dantas (Prefeito Pereira Passos), Antonio Grassi (Vicente de Souza), Rubens de Falco (General Travassos), Antonio Petrin (Rotchilds), José Lewgoy (Tibério), Hugo Carvana (Macedo), Antônio Pedro (Sílvio), Cláudio Mamberti (Manoel Romão)
Roteiro Fernando Bonassi, Victor Navas e André Sturm
Baseado no livro de Moacyr Scliar
Música Eduardo Queiróz
Fotografia Jacob Solitrenick
Direção de arte Cristiano Amaral
Figurinos Marisa Guimarães
Produção Pandora Filmes
Cor, 126 min.
Sim, é uma raridade no cinema brasileiro dos últimos anos, e também uma ousadia: um filme de época, que reconstitui a vida no Rio de Janeiro de 1899.
São basicamente duas histórias paralelas: a de Oswaldo Cruz (Bruno Giordano), voltando ao Brasil depois de três anos de estudos no Instituto Pasteur, em Paris, e chegando a um Rio abandonado, sem as mínimas condições de higiene, assolado por epidemias, e a de Esther (Carolina Kasting), uma jovem judia polonesa atraída para uma terra distante pela promessa de um casamento, e que, ao chegar, descobre que está presa a um esquema de tráfico de escravas brancas e obrigada a trabalhar num bordel. Oswaldo Cruz e Esther chegam no mesmo navio, no início da ação – e a partir daí o filme vai mostrando, paralelamente, suas histórias.
Me esforcei para ver, mas não consegui passar de uns 20 minutos. Apesar das boas intenções, da coragem de fazer um filme de época, de até conseguir bons resultados com o figurino e a direção de arte, infelizmente tudo me pareceu muito, mas muito ruim, com atuações horrorosas dos atores principais, situações de dar vergonha no espectador, em especial nas cenas no bordel.
Foi o primeiro filme do diretor André Sturm, que fundou a produtora e distribuidora Pandora Filmes. Foi também a estréia no cinema da atriz catarinense Carolina Kasting, que fez vários trabalhos na TV (Hilda Furacão, Cabocla).
[rec]
De Jaume Balagueró e Paco Plaza, Espanha, 2007
Com Manuela Velasco, Ferran Terraza, Manuel Bronchud, Jorge-Yamam Serrano, Martha Carbonell
Roteiro Jaume Balagueró, Paco Plaza e Luis A. Berdejo
Fotografia Pablo Rosso
Música Carlos Ann
Produção Filmax Entertainment
Cor, 75 min
Tenho o estômago forte – ou, no mínimo, não tão fraco quanto muita gente. Não sou apaixonado por filmes de terror, mas gosto. No entanto, não fui longe neste filme espanhol que, parece, tem sido muito bem falado.
Vi uns 20 minutos de filme, e aí não agüentei mais. Desliguei o DVD bastante assustado.
Não é que o filme seja ruim. De forma alguma. Muito ao contrário: é bom, bem feitíssimo. Mas a violência é forte demais.
A idéia inicial é de fato excelente – o novo cinema espanhol é rico em idéias inteligentes, grandes sacadas. Uma jovem repórter de TV, Angela Vidal, interpretada por Manuela Velasco, bonita e ótima atriz, que trabalha para um programa chamado “Enquanto Você Dorme”, está fazendo uma reportagem sobre uma noite na vida de uma equipe de bombeiros. Vai a um quartel dos bombeiros, com seu cinegrafista, Pablo, e começa a fazer entrevistas lá. No meio da noite, surge um chamado: moradores de um prédio de apartamentos ouviram gritos pavorosos no apartamento de uma senhora; a porta estava trancada. Uma unidade da polícia já estava lá, mas os bombeiros vão também.
A grande sacada é que o filme que estamos vendo é o que o cinegrafista Pablo está filmando. É como se a câmara dos cineastas Jayme Balagueró e Paco Plaza fosse exatamente a câmara do cinegrafista Pablo. E os movimentos da câmara são ótimos, os atores são bons, é tudo rápido, nervoso.
Mas a violência é assustadora. Agüentei a primeira onda de violência – quando policiais e bombeiros entram no apartamento, a mulher morde o pescoço de um dos policiais, que vai perdendo sangue rapidamente, ali, diante do espectador. Mas, quando veio a segunda onda – um policial caindo de um andar para outro, abrindo um buraco no teto do térreo –, foi demais para mim.
Quem tiver coragem deveria ver. O filme é de fato bem feitíssimo, os caras têm talento.
Filmes que não consegui começar a assistir:
Avatar: Não é filme, nem desenho. Não é nada.
Ou melhor, é moda.
Guerra ao Terror: Diariamente assisto no Datena.
Como já disse: É a decadência de Hollywood.
Viva Bollywood.
Que me lembre nunca consegui assistir a um filme Português, até ao fim.
Aliás vi, ou tentei ver tão poucos…
Talvez há muitos anos e não me lembre. Nem me lembro do nome do último que tentei ver, apenas me recordo que tinha um actor de que gostava muito e que já faleceu – Mário Viegas.
Teve um programa na tv sobre poesia (ele dizia muito bem poesia) e no YouTube há algumas poesias retiradas desse programa. Recomendo uma mirada.
Pelo visto não é só americano que é infantil a vida toda. Espanhol também. Ou se esforça pra ser, imitar los ianques.