O Amante / The Other Man


Nota: ★★½☆

Anotação em 2009: Um filme – como indica o título – sobre infidelidade conjugal, traição, ciúme. Em especial, sobre o ciúme. É uma produção de primeira; não é um filme ruim, de forma alguma. É quase um bom filme, mas não chega a entusiasmar muito.

Uma pena, porque de fato é uma produção toda extremamente bem cuidada, com muitos talentos envolvidos. Baseia-se numa história do alemão Bernhardt Schlink, o autor do belíssimo romance O Leitor, transformado em um filme igualmente belo pelo diretor inglês Stephen Daldry. O filme é dirigido pelo inglês Richard Eyre, autor dos ótimos Iris, A Bela do Palco/Stage Beauty e Notas sobre um Escândalo.

E tem no elenco o grande Liam Neeson, a sempre boa Laura Linney, a revelação Romola Garai (de Scoop – O Grande Furo, de Woody Allen, Angel, de François Ozon, e Desejo e Reparação/Atonement, de Joe Wright). E, como contrapeso, tem Antonio Banderas, careteiro demais para o meu gosto, mas nem tudo pode ser perfeito – as mulheres acham o Banderas lindo, fazer o quê?

O filme abre com cenas idílicas, que parecem de sonho: Laura Linney está passeando numa lancha no meio de um lago dourado – saberemos depois que é o famoso Lago Como. O diretor Eyre se permite uma rápida brincadeira formal: no meio daquela seqüência, congela-se algumas vezes a imagem do rosto da atriz. Bem mais tarde, o espectador perceberá que esse jogo formal tem todo o sentido, não é, em absoluto, gratuito. 

Corta, e estamos em um desfile de moda, em Londres. Lá estão Laura Linney, Liam Neeson e Romola Garai. Os dois primeiros são Peter e Lisa; são casados há 25 anos; ela é estilista badalada, criadora de calçados de grife; ele é bastante rico – veremos depois que é dono de uma companhia grande na área de informática. A moça representada por Romolo Garai é a única filha do casal, Abigail.

Temos um problema?, pergunta o marido

Depois do desfile, Abigail vai se encontrar com o namorado George (Craig Parkinson), sujeito que se veste bem desleixadamente; veremos depois que o pai não gosta nada daquele namoro da filha única com um sujeito meio hippie fora de hora. E Peter e Lisa vão jantar, num restaurante fino. Falam rapidamente do desfile, da filha Abigail, de Milão, o grande centro de moda, para onde Lisa está viajando mais uma vez dali a alguns dias. Antes mesmo de escolherem os pratos, ou a bebida, Lisa leva a conversa para uma área que visivelmente surpreende o marido. O diálogo é ótimo, e a seqüência, perfeita; os dois bons atores aparecem sempre em close, só seus rostos, alternadamente, enquanto vão falando.

Lisa: – “Você acha que duas pessoas podem viver juntas durante toda a vida?”

Peter: – “Nós conseguimos isso durante mais da metade da nossa. (Pausa.) Estamos com um problema?

Lisa: – “Claro que não.”

Depois de algum tempo, Lisa volta ao assunto: – “Você não queria uma chance de dormir com outra pessoa?”

Peter: – “Lisa, você está querendo me dizer alguma coisa?”

Lisa: – “Estou perguntando. E então?”

Peter: – “Não. Não quero dormir com outra pessoa. (Pausa; dá um meio sorriso.) Talvez eu ainda não tenha achado a pessoa certa. Não, nunca. Eu juro.”

Lisa: – “É uma escolha, não um juramento. Você conhece alguém, se apaixona, tem a oportunidade. E faz uma escolha.

Peter: – “Eu escolhi você.”

Lisa (depois de olhar para ele em silêncio durante alguns segundos): – “Eu amo você, sabe? Você sabe disso, não é? Se eu não te amasse, iria embora.”

Peter: – “Embora?”

Lisa: – “É. Sem levar nada. Só. Para recomeçar.”

         Uma tomada que se demora um pouco demais na porta

Corta, e segue-se uma cena de Peter e Lisa trepando. Logo em seguida há uma seqüência em que os dois se despedem; Lisa está indo para Milão. A câmara mostra ela saindo e fechando a porta. A tomada da porta depois que ela sai dura alguns poucos segundos a mais do que deveria – tive essa sensação na hora. Mais tarde revi, e a impressão se confirmou. Depois que Lisa sai da cena, fecha a porta atrás de si, a tomada da porta dura um pouquinho mais do que deveria.

Corta, e vemos Peter chegando em casa – não mora em Londres; mora numa gigantesca casa no interior; depois veremos que é na região de Cambridge. Ele junta roupa que era de Lisa; Abigail chega, ele quer que ela leve todas as roupas da mãe embora.

Estamos aqui com não mais que 15 minutos de filme. É então que Peter vai entrar no laptop da esposa que o deixou, e, nele, vai descobrir que Lisa tinha um amante. No que virá a seguir, o inglês Peter demonstrará ataques de ciúme dignos do mais apaixonadamente latino dos latinos.

Evidentemente, não é o caso de revelar mais nada. E o que foi revelado aqui é apenas o iniciozinho do filme. Quando a narrativa está já bem adiantada, bem para o final, o espectador vai notar que os roteiristas – o próprio diretor Richard Eyre e mais Charles Woods – usaram um truquezinho na narrativa. Lá, exatamente na passagem daquela tomada que durou um segundo a mais do que deveria para a tomada seguinte, em que Peter está chegando em casa.

Aliás, por falar em montagem, é preciso registrar que a montagem do filme é toda muito boa. A narrativa terá idas e vindas no tempo – tudo extremamente bem feito, sem exageros e sem tentar transformar isso numa dificuldade para o espectador.

Tirando Banderas, aquela bobagem, todo mundo trabalha bem

Segundo o iMDB, a atriz inicialmente escolhida para o papel de Lisa foi Juliette Binoche. La Binoche é uma grande atriz, mas não acho que o filme tenha perdido com a escolha de Laura Linney para substituí-la. É uma boa atriz. Todo o elenco – com a clara exceção de Banderas, esse bonitón que, tadinho, sabe atuar com o talento de uma tartaruga – está muito bem. A garota Romola Garai vai se firmando como uma boa atriz – e está belíssima aqui, mais do que nos anteriores todos. E Liam Neeson está espetacular.

O que me fez lembrar um fato tristíssimo, a coisa de a vida imitando a arte. Poucos meses depois que fez este filme, Liam Neeson perdeu a esposa na vida real: Natasha Richardson, grande atriz, filha do diretor Tony Richardson e da deusa Vanessa Redgrave, morreu jovem demais, em março de 2009, depois de um acidente imbecil, uma queda numa estação de esqui. Um absurdo.

 O filme? Ah, sim, o filme não é ruim, não. Trata de um tema importantíssimo na vida da gente, a infidelidade, a traição. A questão é que ele não acrescenta absolutamente nada. Se ele não tivesse sido feito, tudo no universo continuaria exatissimamente do mesmo jeito. Nenhuma folha de qualquer árvore balança porque o filme foi feito. É um filme desnecessário, tadinho.

O Amante/The Other Man

De Richard Eyre, Inglaterra-EUA, 2008

Com Liam Neeson (Peter), Antonio Banderas (Ralph), Laura Linney (Lisa), Romola Garai (Abigail), Craig Parkinson (George), Paterson Joseph (Ralph), Amanda Drew (Joy) 

Roteiro Richard Eyre e Charles Woods

Baseado em história de Bernhardt Schlink

Música Stephen Warbeck

Produção Ealing Studios, Rainmark, Gotham Films

Cor, 87 min (segundo a caixa do DVD; o iMDB diz que há uma versão de 90 min e outra de 85)

**1/2

Título em Portugal: O Outro Homem

6 Comentários para “O Amante / The Other Man”

  1. Realmente, o filme não acrescenta nada, acaba sendo uma bobagem. Como diz meu pai, ele não diz a que veio. Ainda mais quando ficamos sabendo quem o personagem do Banderas é realmente. Primeira vez que vejo vc elogiar (ainda que terceirizando) a beleza de um ator, mas infelizmente o gosto não bate com o meu, rs. Preciso dizer que não o acho bonito. Nunca achei, nem mesmo qdo ele apareceu no mundo do cinema, no auge e tal. A boca dele é pequena demais para a boca de um homem, não gosto, e ele é canastrão, não aprendeu a atuar. Sou mais o Liam Neeson, mesmo já coroão.

    Engraçado como essa Laura Linney é a cara da Jennifer Aniston daqui alguns anos. É daquele jeito que ela vai ficar.

    E o personagem namorado da Abigail? O que que aquele cara estava fazendo ali? Que criatura estranha, quase bizarra, e ainda só falou uma frase. Isso é o que eu chamo de fazer figuração.

    Gastaram cartucho num roteiro ruim. Nem tem-se o que falar do filme, é muito vazio. Coitado do Liam Neeson por ter aceitado o papel. Ele está ótimo, mas o filme é fraco.

    Triste mesmo o que aconteceu com a mulher dele. Lembro de ter lido a notícia no jornal. Morte estúpida.

  2. E filme precisa ser “ necessário”???? Eu quero que o filme me emocione, ou me faça rir, ou me faça pensar .., adorei esse filme! Romântico, verdadeiro ( sim pq casos extraconjugais Existem!) o Liam e a Laura divinos, os sapatos , o lago Como… e o Banderas , realmente canastrão nesse filme, mas lindo!!!

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