Climas / Iklimler

2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2010: Michelangelo Antonioni, com toda certeza, adoraria este Climas, escrito, dirigido e interpretado pelo turco Nuri Bilge Ceylan.

Não poderia haver, imagino, maior elogio a este filme.

Não dá para saber ao certo, é claro, mas eu apostaria algumas fichinhas em que Ceylan viu, talvez várias vezes, a trilogia A Aventura-A Noite-O Eclipse, que o cineasta italiano realizou entre 1959, o ano em que nasceu o diretor turco, e 1961.

Com aqueles três filmes, Antonioni, que já vinha de uma bela carreira iniciada no neo-realismo, tornou-se o mestre maior da arte de retratar as dificuldades de comunicação, de relacionamento, entre as pessoas, especialmente os casais – gente madura, sem problemas financeiros prementes, mas fadada à infelicidade. A partir da trilogia, passou a ser impossível pensar no termo incomunicabilidade sem ligá-lo a Antonioni – e vice-versa.

Climas é um filme sobre a incomunicabilidade.

Não há comunicação possível entre Isa, sujeito egocêntrico, um tanto alheio a tudo que não diz respeito a seu umbigo, e Bahar, uma moça que parece não saber bem o que quer da vida.

O próprio diretor faz o papel do protagonista, Isa. Bahar é interpretada pela bela Ebru Ceylan. (O sobrenome indica: são casados na vida real, assim como Antonioni era casado com a intérprete de suas heroínas, Monica Vitti).

Isa é bem mais velho que Bahar; veremos depois que é professor universitário, na área de arquitetura, em Istambul, e está há tempos envolvido em um tese que não termina nunca; ela trabalha como diretora de arte em séries para a TV. Quando a ação começa, Isa e Bahar estão de férias, numa cidade em que há ruínas milenares; depois passeiam na praia, é verão escaldante.

Falam-se muito pouco, Isa e Bahar – quase nada. Fala-se muito pouco, durante o filme todo, e, quando se fala, são frases banais, das coisas do dia a dia. Nenhuma frase, de todas as ditas ao longo dos 101 minutos de filme, expressa sentimentos. Os personagens não conseguem exprimir o que sentem, o que pensam, o que desejam.

Com uns 15 minutos de ação, Isa diz a Bahar que acha melhor eles darem um tempo na relação. Não argumentam, não discutem, não conversam, não trocam sensações, emoções.

Separam-se. Isa retoma sua vida em Istambul.

Voltarão a se encontrar na cidade de Dogubeyazit, no meio de montanhas, no inverno geladíssimo.

Climas.

         Existe, sim, uma coisa mais chata que discutir a relação

A câmara do diretor Nuri Bilge Ceylan não gosta de movimento. (Nunca é demais lembrar: kinema é a palavra grega que significa movimento.) Fica paradona, em longas tomadas em que os personagens falam pouco. O filme abre com compriiiiiidos close-ups da atriz Ebru Ceylan, enquanto seu personagem Bahar e o namorado visitam ruínas de um milenar templo de visível arquitetura grega. Bahar olha para as ruínas, para o namorado lá ao longe, para o infinito, para o nada; sorri; boceja; depois uma expressão de tristeza cai sobre seu rosto, ela chora – tudo isso numa tomada só, a câmara paradona.

O diretor Ceylan já amealhou 40 prêmios e outras 13 indicações, em festivais ao redor do mundo, em uma carreira de cinco longa-metragens. Além de ator, argumentista, roteirista e diretor, também é produtor, diretor de fotografia e montador.

Pelo seu filme de 2008, 3 Macacos – sobre a dificuldade de comunicação entre os membros de uma família –, ganhou o prêmio de melhor direção em Cannes.

Enquanto via o filme – aquela coisa bem feita, elaborada com talento, mas com a óbvia, evidente intenção de agradar aos críticos, aos jurados de festivais, aos amantes dos “filmes de arte”, e matar de aborrecimento todos os demais seres humanos – fiquei pensando que, afinal de contas, existe, sim, algo pior do que a proposta da namorada, da mulher, da amante, da ex-mulher, para “discutir a relação”: é gente que não conversa. Casais que não se falam.

E, sim, existe alguma coisa mais chata do que “discutir a relação”: é o filme que pretende ser “de arte”.  

Climas/Iklimler

De Nuri Bilge Ceylan, Turquia-França, 2006

Com Ebru Ceylan (Bahar), Nuri Bilge Ceylan (Isa), Nazan Kirilmis (Serap), Mehmet Eryilmaz (Mehmet)

Argumento e roteiro Nuri Bilge Ceylan

Fotografia Gökhan Tiryaki  

Produção Pyramide Films, Imaj, NBC Film

Cor, 101 min

**1/2

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