Maluca Paixão / All About Steve

Nota: ½☆☆☆

Anotação em 2010: Esta comédia romântica não tem nem graça nem romance: é um daqueles sérios, seriíssimos candidatos ao título de pior filme de todos os tempos. Para ser péssimo, precisaria melhorar demais da conta.

É idiota. É um filme absolutamente idiota. Tem a inteligência de uma minhoca.

Não tem sentido perder muito tempo com ele – embora a ruindade seja tão irritante que dá vontade de execrá-lo bastante, para exorcizar.

A personagem de Sandra Bullock, Mary Horowitz, é uma completa imbecil, tadinha. Conversa animadamente com Carrol, seu hamster; bate longos papos com ela. Cria palavras cruzadas para um jornal de sua cidade, Sacramento, na Califórnia, e só pensa em palavras cruzadas. Colecionou todos os conhecimentos inúteis que é possível ter na vida, e fala sem parar, com qualquer pessoa que passe pela sua frente, sobre essas inutilidades todas – tipo o peso exato de uma agulha, o origem de uma palavra que ninguém usa, o nome do inventor de um aparelhinho desnecessário. Com mais de 40 aninhos de idade, mas uns quatro de idade mental, está vivendo na casa de papai e mamãe. Os quais, preocupados com a falta de homem na vida da moçoila, marcam um encontro dela com o filho de um casal de amigos.

Mary Horowitz vê o rapaz, o Steve do título original (interpretado por Bradley Cooper, um tipo que muitas mulheres, acho, chamariam de gatão), e apaixona-se perdidamente por ele, no ato. Vêem-se pela primeira vez na sala da casa dos pais dela.  Estão acabando de chegar ao carro dele, ele está dizendo o nome do restaurante onde pensa levá-la, e ela parte para cima dele, literalmente, e começa a tirar a roupa, a dela e a dele, ali mesmo, no carro estacionado diante da casa dos pais, enquanto ao mesmo tempo fala sem parar sobre a cultura inútil que é a razão de sua vida.

O rapaz, obviamente, casca fora o mais depressa possível, sob o pretexto de que foi chamado para uma matéria urgente – ele é cameraman de uma emissora de TV.

Eu também deveria ter cascado fora. Em parte, fiz isso, sim: dei umas boas avançadas no filme, pulando alguns trechos. Mas acabei vendo a meia hora final, onde o roteirista inventou uma trama que não poderia ser mais imbecil, idiota, envolvendo crianças que caem numa mina abandonada e no fundo da qual nossa panaca Mary Horowitz vai parar também.

Será que o diretor queria fazer uma gozação com o clássico A Montanha dos Sete Abutres, de Billy Wilder, uma profunda crítica ao sensacionalismo da imprensa marrom?

         La Bullock, uma figura – a melhor e a pior atriz do ano

Essa moça Sandra Bullock – de quem eu gosto, ao contrário de muita gente – é de fato uma figura. Em um ano, 2009, fez três filmes: este aqui, pelo qual ganhou a Framboesa de Ouro como pior atriz, mais A Proposta, outra comédia romântica, só que boazinha, grande sucesso de bilheteria (US$ 314 milhões entre junho de 2009 e fevereiro de 2010) e o drama Um Sonho Possível/The Blind Side (sucesso maior ainda, com renda de US$ 244 milhões em menos de três meses de exibição nos Estados Unidos). Ainda não tinha visto este último ao fazer esta anotação, mas já vi muita gente dizendo que foi a melhor interpretação da carreira da atriz. Ela ganhou o Oscar, o Globo de Ouro e o prêmio do Screen Actors’ Guild, o sindicato dos atores. Tornou-se, com A Proposta e Um Sonho Possível, a atriz número 1 dos Estados Unidos.

Neste filme aqui, ela está pavorosa – merece com folga a Framboesa de Ouro, o antiprêmio de pior atuação. Está até mais feia – parece que fez alguma plástica errada – e bem mais magra; passa o filme todo de minissaia e ridículas grandes botas vermelhas, deixando à mostra coxinhas finas, cambitinhos magros que não lembram em nada as pernas gostosérrimas que mostrou, por exemplo, em Miss Simpatia, de 2000. A atuação é uma lástima total. Faz mais caretas que Jim Carey fez na carreira toda; dá gritinhos que beiram a histeria; dá pulinhos e faz gestos largos que, na comparação, transformam os humoristas do pior programa da história da TV brasileira em grandes atores shakesperianos.

E ainda por cima foi produtora executiva do filme. Deve ter achado esse monte de imbecilidades uma coisa genial.

Tudo em um ano só. Como é que pode?

Maluca Paixão/All About Steve

De Phil Traill, EUA, 2009

Com Sandra Bullock (Mary Horowitz),  Bradley Cooper (Steve),  Thomas Haden Church (Hartman Hughes), Ken Jeong

Argumento e roteiro Kim Barker

Fotografia Tim Suhrstedt   

Música Christophe Beck   

Produção Fox 2000 Pictures, Fortis Films,

Cor, 99 min

Bola preta

4 Comentários para “Maluca Paixão / All About Steve”

  1. Sei que não vou ver o filme, mas não resisto, leio e me divirto com o texto.
    Eu tb gosto da Bullock, não a considero uma grande atriz, mas a acho esforçada.
    Estranho mesmo ela ter ganho um Oscar e a Framboesa de Ouro no mesmo ano. Será que foi a tal traição do marido que a fez ficar fora da casinha e aceitar produzir e atuar num filme horrível desse?
    Quando ela fez “A Proposta” já estava muito magra e abaixo do IMC. Também já estava com o rosto estranho devido a alguma plástica (na minha opinião desnecessária). Mas não sei qual dos dois filmes ela fez primeiro.
    Quero ver “Um Sonho Possível”, mas sempre tem outros na frente.
    BTW, eu sou das que não acha o Bradley Cooper um gatão, ele não faz o meu tipo ;D.

  2. Delícia de comentário, como sempre, Jussara.
    Legal que você tem a mesma impressão que eu – ela deve ter feito uma plástica. Desnecessária e de resultado ruim.
    Sobre a ordem dos três filmes, também não sei. O iMDB lista A Proposta, depois Maluca Paixão e depois Um Sonho Possível – mas não sei se isso é garantia de que ela filmou nessa ordem.
    Um abraço.
    Sérgio

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