2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: O casal Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli faz uma viagem ao fundo das muitas misérias da vida na metrópole – a dor da solidão destas capitais, como dizia a canção. É um filme duro, pesado. A São Paulo que eles mostram é profundamente feia, infinitamente triste.
É um grande mosaico de personagens, todos de alguma forma ligados a Teca, o personagem da própria Bruna, que também assina o roteiro – a direção é do marido. Teca é astróloga: lê cartas tarô e faz mapa astral; tem um programa de rádio, em que recebe ligações dos corações solitários que pedem que ela fale de seu futuro, ou simplesmente pedem algum conselho.
Teca mora sozinha em um pequeno apartamento, adornado com os símbolos todos de quem foi bicho-grilo jovem nos anos 70 e hoje (o filme é de 2007) mantém os mesmos gostos. Abandonada pelo pai quando tinha 11 anos, um casamento desfeito, sem filhos – no início do filme, o ex-marido conta ao telefone que vai ser pai com a atual mulher -, ela carrega nos ombros frágeis peso demais. Às vezes não sabe bem que conselho dar aos aflitos que a procuram; às vezes não se sente à vontade para ler nas cartas e nos astros o que eles dizem estar escrito para o futuro das pessoas. Quer ajudar os outros – mas é muita miséria demais ao redor dela, é impossível ajudar a tantos no meio de tanta dor.
Quando a ação começa, o pai (Juca de Oliveira) está internado, gravemente doente. A mulher que a criou juntamente com a mãe, Adélia (Eva Wilma) diz que ela não deve ir ver o pai, que ele não merece isso, já que a abandonou e nunca mais a procurou.
Um rapaz, Gil (Malvino Salvador) se muda para o apartamento ao lado do de Teca; ela se sente atraída por ele, e Mônica (Graziella Moretto), sua amiga e assistente no programa de rádio, acha que o rapaz caiu do céu e a incentiva: “Você vai ter que comer ele”. Quando Teca resolve enfim se aproximar de Gil, vê que ele é casado – Lydia, a mulher dele (Denisa Fraga), logo depois vai pedir que Teca leia seu futuro, e confessa que está tendo um caso. Lydia depois terá sérios problemas com drogas.
A galeria das pessoas de alguma forma ligadas a Teca inclui um adolescente problemático, depressivo – ele provocará um grande trauma em Teca. Há também o enfermeiro que cuida de seu pai no hospital; o enfermeiro é homossexual, mas, crente, não faz sexo. Ele é amigo de dois outros homossexuais, um deles um travesti – que mais tarde será brutalmente espancado na rua por dois rapazes bêbados.
Um outro enfermeiro tem um dom: atende feridos e doentes como se tivesse curso de Medicina – mas terá um destino trágico. E um acaso fará Teca conhecer Júlia (Laís Marques), uma adolescente que engravidou e também tem tendências autodestrutivas.
É um tristíssimo mosaico de criaturas infelizes e solitárias na cidade grande. Em alguns momentos, durante o filme, me lembrei de Vivendo no Limite/Bringing Out the Dead, de Martin Scorsese, que também mostra uma galeria de gente que sofre na loucura de uma metrópole, no caso Nova York.
O Signo da Cidade não chega a ser um grande filme. Boa parte dos atores trabalha muito, muito mal – achei que Malvino Salvador e Graziela Moretto estão bem em seus papéis, e Bruna acerta o tom em vários momentos, mas a maioria está ruim, um defeito recorrente no cinema brasileiro. Mas o filme tem muitas qualidades; é muito sensível, extremamente bem intencionado; percebe-se que foi o resultado um grande esforço de Bruna e Riccelli. Há algumas seqüências bastante bem feitas, bonitas – a fotografia de Marcelo Trotta é excelente. A música funciona muito bem, pontua a tristeza da narrativa. E, de sobra, há a beleza acachapante de Bruna Lombardi, esplendorosa na idade madura como foi sempre, a vida inteira, e ainda as presenças augustas, na trilha sonora, de Caetano Veloso e Maria Bethânia, cada um deles cantando uma canção escrita especialmente para o filme.
O Signo da Cidade
De Carlos Alberto Riccelli, Brasil, 2007
Com Bruna Lombardi, Malvino Salvador, Graziella Moretto, Luís Miranda, Juca de Oliveira, Denise Fraga, Eva Wilma, Kim Ricelli, Fernando Alves Pinto, Sidney Santiago
Roteiro Bruna Lombardi
Fotografia Marcelo Trotta
Música Zé Godoy e Sérgio Bartolo
Produção Pulsar Cinema. Estreou em São Paulo 25/1/2008
Cor, 95 min
**1/2
Um dos melhores filmes brasileiros que já vi…
Excelente filme. Discordo do artigo que diz que: boa parte do atores “trabalham mal, muito mal”.
Vale a pena ver o filme.