2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Este filme, o segundo do diretor mexicano Antonio Serrano, promete muito no começo. O rapaz mostra que tem talento, que é inventivo; fiquei entusiasmado com os cinco primeiros minutos. Mas depois o filme se enrola nas armadilhas criadas por sua própria criatividade e pretensão, e aí fica um tanto chato.
A ação começa no aeroporto da Cidade do México, onde Lucía (a personagem da ótima argentina e almodovariana Cecilia Roth, de Tudo Sobre Minha Mãe e do seriado de TV bem falado Epitáfios), num dia do final de dezembro, está prestes a embarcar com o marido Ramón para férias no Rio de Janeiro. Ramón vai ao banheiro – e desaparece.
Lucía é também a narradora da história – e já nestes minutos iniciais avisa o espectador que não é uma narradora muito confiável; escritora de livros infantis, ela confessa que mentiu sobre a data do desaparecimento de Ramón – não foi no dia 28 de dezembro, e sim no dia 30. Em seguida avisa que mentiu também sobre o seu apartamento – ele na verdade não é tão bonito, elegante, bem mobiliado como foi mostrado numa rápida cena, e aí o espectador vê o apartamento de outra forma completamente diferente. Depois avisa que mentiu também sobre própria aparência – e surge na tela um Lucía diferente da que tínhamos visto nas cenas anteriores.
Pouco depois, um telefonema avisa Lucía que Ramón foi seqüestrado, e os seqüestradores querem 20 milhões de pesos para libertá-lo. Um bilhete do próprio Ramón informará a ela, mais tarde, que ele omitiu dela a herança que recebeu de uma tia, e que possui, numa caixa de segurança de um banco, 20 milhões de pesos.
E aí surgem na história, vindos do nada, dois homens que se dispõem a ajudar Lucía na busca pelo marido. Félix (Carlos Álvarez-Nóvoa) é um velhinho que tem 20 mil histórias: combateu o regime de Franco, lutou ao lado de Fidel na revolução contra o regime de Batista, contrabandeou armas, fez de tudo. Adrián (Kuno Bécker), ao contrário, é um jovenzinho com pouca história para contar, mas muitas belas frases (de Confúcio, Thomas Jefferson) filosóficas para recitar e um rosto bonitão – o espectador percebe, de cara, que haverá um romance entre o garotão e a coroa.
Sim, porque Lucía vai confessando para o espectador, enquanto vão surgindo uma após outra seqüências aventurescas, engraçadas, um tanto misteriosas, que na verdade seu casamento de 12 anos com Ramón não ia lá muito bem. Ela estava mesmo, de fato, esperando que algo novo surgisse na sua vida um tanto sem graça.
Vão entrar na trama traficantes, seqüestradores, policiais e políticos corruptos, e reviravoltas atrás de reviravoltas – e uma tentativa de, no meio de tanta coisa, fazer uma séria denúncia sobre a profunda corrupção num México tomado pelos cartéis da droga. E é aí que a armadilha inicial acaba fazendo o filme se perder: são tantas as surpresas, as novidades, assim como são tantas as diferentes decorações do apartamento de Lucía e tantas as diferentes caras com que ela vai se apresentando, ora ruiva, ora loura, ora de cabelos longos, ora de cabelos curtos encaracolados, que o espectador acaba perdido naquele cipoal de informações. Mas péra lá (dá vontade de perguntar): afinal, o que é real e o que é exagero da narradora? Onde terminam os fatos e entra a imaginação da protagonista-escritora-criadora de histórias?
E mais: o relacionamento de Lucía com o velho e o garoto fica sempre beirando o insólito, o teatral, o inverossímil.
Não é um filme ruim, não; mas de fato promete mais no começo do que acaba entregando. O melhor de tudo acaba sendo mesmo Cecilia Roth. Ela está solta, à vontade, e o papel de Lucía – com cenas de choro, de tristeza, de ação, de riso, de sexo – dá a ela todo o espaço possível para aparecer, pintar, bordar, brilhar. E, além de talentosa, está bela, exuberante, gostosa, no esplendor dos 47 anos.
Aos Olhos de uma Mulher / La Hija Del Caníbal
De Antonio Serrano, México-Espanha, 2003.
Com Cecília Roth, Carlos Álvarez-Nóvoa, Kuko Becker, Margarita Isabel
Roteiro Antonio Serrano
Baseado no livro de Rosa Montero
Produção Conaculta, Fondo Ibermidia.
Cor, 110 min.
**1/2
gostaria de entrar em contato com o diretor mexicano antonio serrano.sou jorge do brasil meus telefones são 552122909441 ou 552175461797.meus emial são lejorge144@hotmail.com ou jorgelopesjms@oi.com.br.
desde já agradeço
jorge lopes