3.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: Este filme é fascinante por vários motivos. É dirigido e escrito por David Mamet, o que já é garantia de bons serviços prestados. Consegue ser um filme sobre artes marciais e ao mesmo tempo absolutamente cerebral, inteligente – o que é a união de duas coisas que jamais a gente poderia imaginar ver juntas. E, além disso, é cheio de brasileiros e referências ao Brasil.
Como é comum nas histórias de Mamet, a trama tem mais curvas do que a estrada de Santos e mais surpresas que o futebol. Nas primeiras seqüências, ele espalha diversos personagens.
O filme abre em uma academia de luta, com um homem ensinando jiu-jitsu como se estivesse dando uma aula de filosofia zen. Uma mulher passa por eles rumo aos fundos da academia. Dois homens estão lutando, seguindo as instruções do treinador. A seqüência é longa.
Corta, e temos um carro sob chuva forte; dentro dele, uma jovem fala ao telefone. Está agitada, nervosa; procura uma determinada farmácia, precisa de um remédio que só encontraria ali, mas sabe que o lugar fecha às 8 da noite, são 8 da noite. Ela vê um homem saindo em seu carro que estava estacionado diante da farmácia; perdeu a hora, não encontrará o remédio. Ela se distrai, bate o carro num outro que está parado junto à calçada.
Corta. A mulher que entrou na academia está diante do computador, ao telefone; está cuidando das contas a pagar.
Corta. O homem que estava lutando pega uma arma, coloca no coldre – vemos que ele é um policial. Está se preparando para sair da academia. O treinador vem conversar com ele, mostra um golpe. O policial tira o revólver e o deixa numa mureta.
Neste momento, entra na academia a mulher nervosa que estava lá fora na chuva. Explica, sem ser ouvida direito, que bateu o carro, está disposta a pagar pelo estrago. O treinador pede que ela se acalme, que tire o casaco encharcado, pede ao policial que tire o casaco dela. O policial se aproxima para ajudá-la a tirar o casaco, ela reage bruscamente, quase histericamente, pede que o outro se afaste e não encoste nela, vai andando para trás, encosta no revólver deixado na amurada, a arma dispara, quebra o vidro frontal da academia.
É muita informação para apenas cinco, oito minutos de filme. É de tirar o fôlego.
Veremos que a cidade é Los Angeles. O treinador é Mike Terry (Chiwetel Ejiofor), o dono da academia. O policial que aprende jiu-jitsu com ele chama-se Joe (Max Martini). A moça que cuida das contas é a mulher brasileira de Mike, Sondra (Alice Braga). A jovem nervosa é Laura (Emily Mortimer) – bem mais tarde veremos que ela é advogada, e ficaremos sabendo o motivo de seu pânico, suas reações quase histéricas.
Em seguida, surgirão diversos outros personagens – um famoso ator de cinema, Chet (Tim Allen); seu empresário, Jerry (Joe Mantegna); sua mulher, Zena (Rebecca Pidgeon). E várias outras pessoas envolvidas com jiu-jitsu, inclusive diversos brasileiros, com artes marciais e com luta-livre, uma grande paixão americana.
Todas essas pessoas vão se envolver numa trama cheia de ambição, cobiça e, sobretudo, corrupção, muita corrupção. A teia de corrupção tentará envolver Mike Terry – um homem de princípios absolutamente rígidos, moral firme, que ensina a seus alunos que o esporte deve ser usado para o autoconhecimento e para a autodefesa em momento de necessidade, e nunca como forma de competição. Um herói de retidão de caráter cercado de lei de Gérson, cobiça e lama por todos os lados.
O elenco está todo excelente. Não é surpresa, em se tratando de Mamet, um experiente diretor de atores no teatro e no cinema. Esse rapaz Chiwetel Ejiofor é ótimo. A inglesa Emily Mortimer, como a jovem advogada, dá um show. É uma maravilhosa atriz, que já havia me impressionado no belo e triste Querido Frankie/Dear Frankie; trabalhou com Woody Allen em Match Point, é uma artista a ser observada e seguida. Rodrigo Santoro se sai bem.
E Alice Braga está muito, mas muito bem – e seu papel é importante, decisivo na trama. Ela é bonita, é gostosa, o inglês dela é ótimo, tem talento e tem sorte. A carreira internacional dela promete. Na verdade, não é que prometa – já cumpriu. Essa moça já chegou longe, para a tão pouca idade que tem (é de 1983). O que vier daqui pra frente, e que venha muito, é lucro.
Sou muito ignorante. Não tinha a menor idéia de que o jiu-jitsu brasileiro tivesse tamanho reconhecimento nos Estados Unidos. O Brasil é citado diversas vezes; São Paulo é tida como uma cidade importante no panorama do jiu-jitsu mundial. Numa seqüência ainda do início do filme, logo após aquelas que tentei descrever acima, Terry irá a um bar de brasileiros, chamado São Paulo, onde uma cantora de voz macia, suave, se apresenta – é Luciana de Souza, a brasileira radicada nos Estados Unidos que tem sido muito elogiada e respeitada lá, tem belos discos feitos lá cantando em inglês e em português.
Quem aparece muito pouco no filme é outra cantora e compositora nas horas vagas, a bela atriz Rebecca Pidgeon, mulher de Mamet na vida real. Quase não a reconheci – e sou fã dela, como atriz e como cantora.
Em um dos vários especiais do DVD do filme, David Mamet conta que fez luta livre no ginásio, praticou boxe e um pouco de kung fu. Cinco anos antes de fazer este filme, começou a praticar o que ele chama de “Brazilian jiu-jitsu”, com um professor brasileiro, Renato Magno. “Conheci todos os caras ao lado de quem ele cresceu em São Paulo”, diz o diretor, “e acabou que eles eram a família Gracie e os Machado, que revolucionaram o jiu-jitsu e inventaram o fenômeno das artes marciais misturadas”.
Quantos brasileiros sabem disso, dessa importância do Brasil e de brasileiros nas artes marciais? Ou será que a ignorância é só minha?
Bem, os outros, não sei, mas que é ignorância minha, lá isso é mesmo. Algumas semanas depois que vi o filme (e vi em 2008, o mesmo ano da estréia nos cinemas brasileiros), morreu, no dia 29 de janeiro de 2009, aos 95 anos de idade, Hélio Gracie, e vejo nos jornais que ele foi o fundador do que é chamado de Gracie Jiu-Jitsu, “um estilo totalmente seu de lutar e de ensinar a milhares de alunos e discípulos da milenar arte japonesa”. O Gracie Jiu-Jitsu é o que David Mamet chama de Brazilian jiu-jitsu. Mamet sabe tudo sobre os Gracie – eu é que não sabia nada. Santa inguinoransa.
Cinturão Vermelho/Redbelt
De David Mamet, EUA, 2008
Com Chiwetel Ejiofor, Emily Mortimer, Alice Braga, Ricky Jay, Tim Allen, Randy Couture, Joe Mantegna, David Paymer, Rodrigo Santoro, Rebecca Pidgeon
Argumento e roteiro David Mamet
Produção Sony Pictures Classics. Estreou em São Paulo 20/6/2008
Cor, 99 min
***1/2
Título em Portugal: Redbelt – Código de Honra
Não consegui ver esse filme até o final, achei chatérrimo e forçado. Tentei retomar duas vezes de onde tinha parado, mas não engatou. Me lembrou aqueles filmes que passavam na Sessão da Tarde, com o Van Damme ou o Chuck Norris. Ao contrário de vc, achei que todo mundo estava mal (com exceção do Chiwetel Ejiofor, que está muito bem tb em Filhos da Esperança, diga-se de passagem); mas não posso falar nada da Emily Mortimer pq só vi algumas cenas com ela. Não entendo pq superestimam o Rodrigo Santoro; ele só tem feito pontas ou papéis pequenos; não acho que ele seja tudo isso que dizem. Alice Braga idem; faz muitas caras e bocas.
Estranho mesmo vc não saber da importância dos brasileiros no jiu-jitsu. Não deve ser muito ligado em esportes; é? A família Gracie é super conhecida aqui e lá fora, e inventou uma técnica diferente e até uma dieta especial.
Mas, voltando ao filme, achei tudo fake demais. Parecia uma novela mexicana com atores ruins. Só faltou ser dublado, rsrs.
..
Vc tava muito chapado de sucrilhos para achar esse filme fascinante,ele é horrível..não é toa que os cinemas daqui do RJ colocaram ele bem longe e só tinha 2 salas,como jiu jitsu é uma droga,aquela coisa dos japas se inclinarem no final é digna de RISO..,não existia emoção nenhuma…nem nas lutas que faziam um…sei lá escolher uma bola e ficar com braço preso e APANHAR…fala sério, DIGNO DE $ JOGADO FORA…RSRSR
Vi hoje e achei bastante interessante, embora seja um filme com fraquezas a nível de argumento; pareceu-me confuso e o final deixou-me perplexo.