Mentiras Sinceras / Separate Lies


Nota: ★★★★

Anotação em 2006, com complemento em 2008: Beleza de filme do cinema moderno inglês, o melhor cinema do mundo, na minha opinião. Um filme triste, melancólico, pesado, denso, numa história boa, séria, interessante, estupidamente bem contada e com atores nada menos que brilhantes.

Pelas aparências – e que sociedade, neste planeta louco, consegue ser mais apegada às aparências que a inglesa? -, James e Anne são um belo casal, um exemplo de felicidade. James é um bem colocado advogado numa boa firma na Londres de hoje em dia, uma das cidades mais fascinantes do mundo; Anne é jovem e bela. Eles dividem o seu tempo entre um apartamento na cidade e uma bela casa no campo – e que campo existe mais maravilhoso que o inglês?

Com Tom Wilkinson como James e Emily Watson como Anne, o espectador já sai no lucro na primeira tomada. São dois atores brilhantes, excepcionais. Ele tem aquela postura do homem comum, igual a qualquer outro, gente como a gente. Ela tem aquela beleza profunda e aquela expressão de uma tristeza igualmente profunda.

Pois bem. Então temos que a jovem e bela Anne trai o marido com um conhecido dele, Bill (Rupert Everett), o que por si só já seria uma tragédia. Mas é muito pior: teremos que, num momento em que Anne está com Bill, os dois atropelam e matam um homem, bem perto da casa de campo do aparentemente belo e feliz casal. E então James, o advogado bem de vida, pessoa íntegra, honesta, terá que enfrentar, ao mesmo tempo, a descoberta da infidelidade e o dilema moral de mandar a mulher para a cadeia ou acobertar um crime.

Mas não é só isso; ainda tem muito mais.E aí fico pensando, aqui com a minha visão careta dos 58 anos de idade: ainda bem que a juventude é uma doença que o tempo cura. Diante da sólida beleza de um filme como este aqui, que os meninos novos chamariam de acadêmico, as bobagens experimentalistas parecem tão babacas, tão imbecis. Será que esse povo tipo Karim Ainouz algum dia vai aprender que o que de fato vale é contar bem contada uma boa história, sem encher o saco do pobre do espectador com maneirismos, bobagismos, floreios, babaquices? Será que algum dia eles terão talento suficiente para fazer um filme adulto, sério, profundo, como este aqui?

Mentiras Sinceras/Separate Lies

De Julian Fellowes, Inglaterra, 2005.

Com Tom Wilkinson, Emily Watson, Rupert Everett

Roteiro Julian Fellowes

Baseado no livro de Nigel Balchin

Música Stanislas Syrewicz

Cor, 85 min.

5 Comentários para “Mentiras Sinceras / Separate Lies”

  1. também gosto muito de cinema inglês, mas não precisava destruir o Karim Ainouz. Madame Satã é horrível, mas Céu de Suely é bom.

  2. Cláudia, fico bem contente por você defender o Karim Ainouz. E espero que eventualmente outras pessoas também falem bem dele. Porque serão os únicos elogios que ele receberá neste site. De mim mesmo, só sairão críticas. Acho o cara ruim – fazer o quê? Agora há pouco, quis ver, com a maior boa vontade, a estréia de Alice, a nova série da HBO. Não dá: o cara é ruim mesmo, um filme atrás do outro. É tudo sem lógica, sem a mínima consistência, e ainda vem carregado daquela coisa ideológica atrasada, babaca, de retratar todo mundo da classe média pra cima como idiota, perverso, pervertido, estragado, ruim.

  3. Encontrei, Sérgio. Esqueci o ano que v. deu no mail, mas minha neta(ela adora cinema e… imagine é paleontóloga) achou rapidinho o “dito cujo”.Como tenho aquela preferência pelas relações humanas, dissequei ao máximo este maravilhoso inglês. Concordo com seu comentário. É perfeito. O padrão de exigência dele,só atirando a “malfadada” travessa no chão!!!!

  4. Assisti ontém a noite. Meu Deus, aquilo não é uma casa , é uma mansão . Aquela imensidão tôda só para duas pessôas ?
    Tudo bem que cada um tem o que conseguiu, lutou, suou e conseguiu , fêz por onde. Mas, sei lá, uns com tanto e outros com tão pouco quase nada. Às vezes pode-se ter tudo o que eles tinham e não precisar daquela mansão.
    Não sei me entendes mas fica meio parecido quando falas sôbre o tanto de milionários que existem em comparação com a pobreza, com a necessidade.
    Interessante como o discurso dele mudou quando sua mulher lhe disse que ela dirigia o carro e , como tiro de misericórdia , que tinha um caso com o Bill.
    Aliás esse Bill era um irresponsável ao volante.
    ” As pessôas são destruidoras . . . todos somos, fazemos escolhas pelos mais variados casos possíveis mas não vemos o estrago que causamos “.
    A secretária do James era “caidinha” por ele.
    ” Será que o espaguete ainda está de pé “? E o rosto dela se ilumina.
    Um ótimo filme . De fato , Tom Wilkinson e Emily Watson dois atores maravilhosos e que dispensam quaisquer comentários.
    Acho que o adultério da Anne não teria a intensidade que teve se não fôsse aquele homicidio. Aliás , muitos homens não iam encarar aquele adultério do mesmo jeito que o James .
    Há uma cena em que o James está no banheiro e, ali valeu o “comercial” da Gillette ?
    Se não me engano era um Sensor. Bem, o meu é um Mach 3.
    Fellowes é o autor do roteiro de “Assasinato em Gosford Park” um filme que há muito tempo venho tentando encontrar e , onde a Emily também está. E outras damas do cinema como Maggie Smith,Kristin S.Thomas e Helem Mirren.
    Também gosto muito do cinema Ingles.
    Um abraço, !!

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