3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2004, com complemento em 2008: Um filme bem acima da média das produções do cinemão americano. Forte, pesado, triste, desesperançado. A trama é inteligente, diferente, e terrível, cruel.
O lead do filme é um assalto a uma casa de fazenda no Texas – o pai ladrão (James Caan) primeiro faz o filho, garoto de uns oito anos, passar a noite na casa da família, para que depois abra a porta para ele entrar e roubar. Mas o dono da casa acorda, e o ladrão mata toda a família, menos o bebê, por não saber da existência dele.
Corta, e vemos o garotinho agora adulto, no personagem interpretado por Dennis Quaid. Veremos imediatamente que o crime cometido pelo pai o persegue e atormenta ao longo de toda a vida.
Por um mero acaso, ele vai conhecer uma moça de vida totalmente desestruturada, desequilibrada, interpretada por Meg Ryan. Quase no final do filme, e só lá, saberemos que essa moça é o bebê que sobreviveu ao massacre.
O personagem do pai, feito com competência por James Caan, é uma das coisas mais cruéis que o cinema já criou.
Vejo no iMDB informações sobre esse Steve Gloves – e o cara é muito interessante. É texano, nasceu em 1960, e só dirigiu dois filmes, até 2008: este aqui, de 1993, e, antes dele, o bom Susie e os Baker Boys/The Fabulous Baker Brothers, de 1989 – que, como este aqui, tem um clima triste e desesperançado. Nos dois únicos filmes que dirigiu, foi também o autor do argumento e do roteiro.
Trabalha mais como roteirista. Fez os roteiros de diversos filmes da série Harry Potter – que estranho – e fez também o de Garotos Incríveis/Wonder Boys, outro bom filme, dirigido em 2000 por Curtis Hanson, que teve canção inédita de Bob Dylan e acabou dando a ele seu primeiro e único Oscar.
Leonard Maltin não gostou muito do filme; deu 2,5 estrelas (em 4). Mas ao final da resenha admite que o filme tem duas coisas excelentes: a interpretação de Gwyneth Paltrow como uma presidiária sensual e a fotografia de Philippe Rousselot; e de fato me lembro bem que o filme tem imagens extraordinárias.
O Maltin não diz, mas Meg Ryan, na época casada com Dennis Quaid, também está muito bem, num papel totalmente diferente dos diversos que ela fez à la namoradinha da América em comedinhas românticas.
O iMDB lembra uma coisa óbvia que eu não havia anotado: o assalto a uma casa de fazenda, que termina com a chacina de uma família inteira, que abre o filme, evidentemente evoca o caso real acontecido no Kansas em 1959, que entrou para a história ao ser contado por Truman Capote no livro A Sangue Frio.
O Peso de um Passado/Flesh and Bone
De Steve Gloves, EUA, 1993.
Com Dennis Quaid, Meg Ryan, James Caan, Gwyneth Paltrow
Argumento e roteiro Steve Gloves
Fotografia Philippe Rousselot
Música Thomas Newman
Cor, 126 min
Um comentário para “O Peso de um Passado / Flesh and Bone”