2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2001, com complemento em 2008: Esse é outro filme famosão que eu nunca tinha visto na vida, e só vim ver quando ele já tinha 30 anos de idade. É extremamente bem feito, com extraordinária fotografia em San Francisco e arredores, boa música de Lalo Schifrin. E fascistão, fascistão, como os Duro de Morrer da vida.
É muito estranho ver como Clint Eastwood fez filmes truculentos, cheios de violência gratuita, tanto os western-spaghetti com Sergio Leone quanto os policiais com Don Siegel, antes de, a partir de Os Imperdoáveis, de 1992, passar a fazer exatamente o oposto, filmes cada vez mais humanistas. E o mais louco e fascinante é que ele dedicou Os Imperdoáveis exatamente aos dois diretores, Leone e Siegel.
Os dois parágrafos acima foram o que eu anotei logo depois de ver o filme. Ao rever em 2008 o que anotei, para colocar no site, fui ver o que Pauline Kael dizia do filme – e constatei que ela usa exatamente o mesmo qualitificativo que eu usei:
“Esta fantasia de direita sobre a força policial de San Francisco como um grupo desprotegido (emasculado por liberais irrealistas) faz propaganda do poder policial paralelo e dos justiceiros”.
Pauline Kael, “a mais incisiva crítica de cinema do mundo, como diz a capa da edição inglesa do seu livro 5001 Nights at the Movies, era mesmo brilhante. Ela admite: “Como artesanato de suspense, o filme é enxuto, brutal e emocionante; foi dirigido no estilo mais certinho pelo veterano diretor de ação urbana Don Siegel, e os truques eletrônicos da música pulsante, jazzística, de Lalo Schifrin empurram o filme para a frente”. Para então voltar a descer o pau: “É também um ataque obstinado aos valores liberais, com cada detalhe prejudicial no lugar certo. (…) O gênero de ação sempre teve um potencial fascista, e este vem à tona neste filme”.
Perseguidor Implacável/Dirty Harry
De Don Siegel, EUA, 1971.
Com Clint Eastwood, Harry Guardino, Reni Santoni
Música Lalo Schifrin
Produção Malpaso, Warner.
Cor, 102 min.
Não concordo com esse radicalismo em cima do filme. Sim, “Perseguidor Implacável” é um filme truculento que mostra a justiça de um homem só, mas não por isso, ele seria fascista e que levanta uma bandeira à violência… essa, por si só, já era exaltada no banditismo e no mundo do crime.
Se o filme emprega esse tema com rudeza, é porquê em 1971, o clima urbano já estava começando a se tornar o que vimos nos filmes de José Padilha! Não falamos de “milícia” ou de “justiceiros anônimos” que saem por aí matando marginais… falamos de um policial que no filme teve todos as suas ações LEGAIS inibidas pela burocracia lenta, pelos direitos humanos que protegem os criminosos e até pela política rebuscada e passiva que não se chegava a lugar nenhum.
Ao meu ver, isso não prejudicou em NADA a narrativa do filme… e sua mensagem ficou clara para quem entendeu que, muitas vezes, a dependência aos órgãos e serviços públicos, atrasam muito a JUSTIÇA!!!
Nos inícios dos setenta também eu conotava os filmes do Eastwood com ideias fascizantes e cedência à gratuidade da violência. Mas hoje já não. Hoje, 40 anos depois (puxa vida, a gente envelhece mesmo!), milhares de filmes vistos e após ter lido muitas entrevistas do homem (actualmente considero-o mesmo um dos últimos realizadores clássicos do cinema americano ainda em actividade), vejo e revejo todos esses filmes do agente Harry Callahan sempre com um sorriso nos lábios. E que grande gozo todos eles me dão!
Condordo dom o Rato, também eu tinha a ideia de que os filmes do Clint Eastwood desta altura eram fascizantes, mas já não penso isso felizmente.
Recordo-me de não ter visto de início o Taxi Driver” de Scorsese, porque tinha a fama de ser perigosamente fascizante.
Felizmente algém me disse que o filme era excelente eu fui vê-lo logo a seguir.
Ainda agora é um dos meus filmes favoritos.
É curioso que sendo o Sérgio um admirador de Clint Eastwood nunca tenha colocado aqui um comentário sobre um dos filmes mais louvados da sua carreira de realizador “Million Dollar Baby”. Como muitos críticos referem eu também penso que este é um dos melhores filmes que fez a par de “Unforgiven”. Para mim, pessoalmente até é o melhor, sendo eu particularmente sensível ao tema da eutanásia.
Mas o Sérgio não tem obrigação de comentar tudo, não é?