2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2001: Não sei se já tinha visto ou não esse filme tão incensado. O começo é de uma chatice atroz, depois engrena um pouco. O fato é que, ao contrário de todo o mundo, não caí de quatro diante do filme; na verdade, achei que ele tem mais glória do que merece. É um imenso show de cabotinismo explícito. Welles possivelmente ganha de Hitchcock no quesito marketing de si próprio.
Aí vai o verbete sobre o filme do dicionário de Georges Sadoul:
“Marinheiro (Orson Welles) conhece uma jovem (Rita Hayworth) que o embarca no iate de seu marido para um cruzeiro a Acapulco, depois San Francisco. Suspeita-se que ele tenha cometido um homicídio, mas ele descobre que a criminosa é sua amante. ‘Eu não tinha nem mesmo lido o romance quando aceitei adaptá-lo, e nunca entendi nada do que se passava ali’, disse (mais ou menos) Orson Welles, (…) A produção começou com uma sessão espetacular, em que Orson Welles mandou cortar, diante dos jornalistas, a famosa cabeleira de Rita Hayworth (então sua mulher). Mas o filme, estranhamente acusado de obscenidade, não teve o menor sucesso, e Welles logo depois teve que deixar Hollywood. Não lhe perdoavam ter feito de seu herói um antigo combatente na guerra da Espanha, nem esta definição exata: ‘Acapulco, lugar para turistas ricos, mas onde os nativos morrem de fome’, nem seu solilóquio final, amargo e clarividente. Nem, sobretudo, ter ‘desmistificado como um monstro, uma devoradora de homens, uma louva-a-deus que se revela criminosa pela pior das paixões, o dinheiro’.”
Bah.
A Dama de Shangai/The Lady From Shanghai
De Orson Welles, EUA, 1947
Com Orson Welles, Rita Hayworth, Everett Sloane,
Roteiro Orson Welles
Baseado no livro If I Die Before I Wake, de Sherwood King
P&B, 87 min.
De fato, um doce para quem entender o roteiro deste filme. Mas a gente que a história pouco importa. O filme é puro Welles, e por vezes é tão virtuosístico que atentar para a narrativa parece inútil. É um enorme labirinto expressionista e que tem muito de cabotino, realmente. Mas seduz. Rita está linda. O marido com as duas muletas é uma figura. Muito visual, o filme é saboroso como um confeito surreal, mas os que não apreciam muito o estilo de Welles vão odiar.
Em um texto melhor que o meu, mais claro, mais direto, Francisco disse tudo: se o espectador não se importar com a história (vixe, bobagem: pra que história??), e quiser uma aula de cabotinismo explícito, um confeito surreal, em que o que mais importa é o estilo do diretor, este é o filme. Divirta-se quem quiser.
Eu não adoro este filme mas ele é uma obra de arte! Visualmente e naraaticamente. A cena dos espelhos é de uma beleza suprema, puro Welles. Os diálogos espirituosos. Um filme excelente, o melhor de rita mas não o meu favorito