4.0 out of 5.0 stars
O diretor Peter Weir disse esperar que os espectadores deste seu filme se perguntem, por um instante, ao sair da sala do cinema, se as pessoas que eles vêem nas ruas não seriam atores que recitam as falas de um roteiro.
Anotação em 1998: Este, sim, é um filme extraordinário. Extraordinário. Fiquei chapado na saída, em transe. Não me saiu da cabeça no dia em que vi (21/11/1998) e no dia seguinte.
Anotei no dia seguinte, à noite: “Um filme estonteante, extraordinário, belíssimo. Fiquei uns dez minutos parado na saída do Conjunto Nacional na Avenida Paulista nocauteado pelo filme, uma fantástica parábola sobre Deus, o sentido da vida, o livre arbítrio. O filme não saiu da minha cabeça desde então.”
Anotação pessoal em 1999: Meses depois de ter visto o filme, leio na Première francesa (de novembro de 1998) uma entrevista em que Ed Harris conta que o diretor australiano Peter Weir queria ele mesmo fazer o personagem Christof, que no fim ficou com Ed Harris. Um interessante signo.
Logo depois da entrevista com o Ed Harris há uma extraordinária com o próprio Peter Weir. Extraordinária. Ele confirma, sim, ter pensado em interpretar Christof ele mesmo. Conta que, ao ler o roteiro feito por Andrew Niccol, ficou frustrado: “O universo estava descrito de uma forma tão precisa que não correspondia à minha senbilidade.” Ele perguntou a Niccol se ele mesmo não gostaria de dirigir o filme, e Niccol disse que sim, mas que ele era jovem demais, tinha pouco mais de 30 anos, e o projeto era caro. Por isso Weir topou dirigir, mas, antes, retrabalhou profundamente o roteiro original de Niccol.
Weir conta que, a princípio, o personagem de Christof era um estereótipo do malvado, do tipo que se vê nos filmes de James Bond, sentado na sala de controle com um gato nos joelhos. Transcrevo: “Mas comecei a sentir simpatia por ele, por aquilo que ele tentava criar. É uma espécie de doutor Frankenstein das mídias, um artista cuja criação repousa sobre uma filosofia de vida e que tenta mostrar ao público aquilo que o mundo deveria ser, na sua opinião.”
Nessa entrevista fascinante, Weir fala do que seria O Capital se Marx o escrevesse hoje; do poder da TV; compara a TV ao carro (“Não se pode ser contra a televisão, assim como contra o carro. Você é livre para não dirigir ou não ver TV. Mas elas existem, e isso influencia a sociedade”); fala da paixão dos grandes ditadores pelo cinema; fala da importância de uma obra tão premonitória como 1984, de George Orwell; lembra que o público que culpou os paparazzi pela morte da princesa Diana é o mesmo que não passa um dia sem comprar os tablóides e as revistas que escancaram a vida privada das personalidades.
E diz uma frase fantástica: ele espera que os espectadores do seu filme se perguntem, por um instante, ao sair da sala do cinema, se as pessoas que eles vêem nas ruas não seriam atores que recitam as falas de um roteiro.
Sensacional, incrível: foi exatamente isso que eu senti, ao sair do cinema quando vi o filme pela primeira vez. Foi exatamente isso. Eu olhava para as pessoas, os prédios, na Paulista, e me perguntava se tudo aquilo não era apenas e simplesmente uma paisagem do grande filme do cineasta Deus.
Laura Linney, a boa atriz que faz a mulher de Truman, e que ainda não está no Cinemania (pelo menos no de 1997), trabalhou no Óleo de Lorenzo (não me lembro do papel dela), em Dave, do Ivan Reitman, e em Poder Absoluto, como a filha de Clint Eastwood.
A muito jovem Natascha McElhone, que faz um papel fundamental no filme, como a coadjuvante do show que se apaixona por Truman, é extremamente bonita. Vamos ver se pega ou some.
(Laura Linney deu no que deu, uma atriz muito respeitada e requisitada. Natascha McElhone pegou; não estourou, não virou estrela, mas vi vários bons filmes com ela, nos anos seguintes.)
Anotação pessoal em 12/12/1998: Não tenho visto muitos filmes no cinema, este ano. Mas este fiz questão de rever, com um pequeno intervalo de apenas 20 dias (tinha visto em 21/11, sozinho, e desta vez levei Marynha).
Gostei tanto quanto da primeira vez, agora já sabendo de toda a história. É um espanto. Da primeira vez, achei o filme curto. Da segunda, achei curtíssimo. Dá vontade de ver mais. Um espanto, realmente.
O Show de Truman – O Show da Vida/The Truman Show
De Peter Weir, EUA, 1998.
Com Jim Carrey (Truman Burbank), Ed Harris (Christof), Laura Linney (Meryl, a mulher de Truman), Noah Emmerich (Marlon, o maior amigo de Truman), Natascha McElhone (Lauren/Sylvia)
Roteiro original Andrew Niccol
Música Burkhard Dallwitz, Philip Glass
Fotografia Peter Ziziou
Cor, 103 min
hoje foi a 3a vez em que vi o filme. é incrivel. ficaria na minha lista dos 10 mais… talvez no topo.
Simplesmente brilhante o argumento. Certamente um dos roteiros mais acachapantes que ja pude presenciar. Sempre lembro do filme quando falo (geralmente comentarios negativos) com os amigos sobre reality shows. Sempre fico divagando enquanto tomo uma cerveja ou observo o ceu, uma cachoeira ou uma garota bonita se aquilo e daquela forma porque assimilo como especial, um pequeno Thruman Negao e tupiniquin sendo observado por alguma coisa. Bom metodo de exercitar o ateismo. Bom texto, o filme e mesmo inesquecivel.
Acabei de ver este filme há minutos e estou completamente siderado. É uma maravilha. Há anos que não via algo assim.
Não é agradável de ver, pelo contrário, é uma distopia, embora não decorra no futuro como “1984” ou “Admirável Mundo Novo”.
Eu não vejo televisão há vários anos, só ligo o aparelho para ver DVDs.
Há uns atrás estive internado num hospital e para meu azar tinha em frente à minha um televisor que estava ligado horas a fio e eu gramei com todo o lixo que lá apareceu.
Deu para ver um desses reality shows.
O Show de Truman é o horror televisivo elevado à enésima potência.
Perfeito.
Há um novo serviço em Portugal de video em streaming – chama-se Rakuten TV e encontrei lá este filme extraordinário.
Fiquei de novo maravilhado, acho que nunca vi nada parecido.
O argumento, as interpretações, a realização, é tudo um primor.
É também arrepiante, pavoroso, esmagador, pior que o pior filme de terror já feito.
Amanhã vou voltar a vê-lo.
Voltei a ver o filme. Já não sei quantas vezes o vi. É uma maravilha.
Peter Weir é um grande realizador. Vi (várias vezes) o seu filme Master & Commander que é um simples filme de aventuras mas que está extremamente bem feito e é prazer ver.
Peter Weir foi um grande realizador infelizmente retirado. O seu último filme foi The Way Back.
Ele tem 78 anos mas pode não estar bem de saúde.
Lamento muito.
Em contrapartida temos por exemplo Manoel de Oliveira que realizou o seu último filme com mais de 100 anos.
Não vi nenhum dos filmes dele, apenas uns minutos num canal de televisão.
Pelo que li das suas críticas seria um chato de primeira louvado pelos críticos e detestado pela maior parte do público.
Lembro-me de um artigo de Miguel Esteves Cardoso que dizia mais ou menos isto:
“Gosto muito dos filmes de Manoel de Oliveira – podemos sair, comer uma sandes e beber uma cerveja – quando voltarmos o filme está no mesmo sítio”.