2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 1998: Uma comédia absolutamente sem lógica, irracional, previsível – e, no entanto, gostosa, engraçada, com um tom libertário (em termos de comportamento) que rema deliciosamente contra a maré tão anos 90 do comedimento, da caretice, do yuppismo.
Os atores estão todos over, fazendo caretas demais, sobretudo o casal central, Bette Midler e esse Dennis Farina (que, embora tenha trabalhado numa dezena de filmes, é mais conhecido no teatro e na TV).
O tema: Molly (Paula Marshall), uma jovenzinha careta formada em Yale, é pedida em casamento por Keith, um filho de político republicano e ele próprio um candidato. Molly diz que há um problema: há casais, como os pais de Keith, que se odeiam mas vivem juntos civilizadamente; e os próprios pais dela são diferentes; odeiam-se com intensidade nuclear, não se vêem e não se falam há 14 anos, desde que se separaram e casaram pela segunda vez. Pois bem: na cerimônia e na festa de casamento, os dois, Lilly, atriz (Bette) e Danny, escritor (Dennis Farina) começam a se insultar aos berros (tema: quem traiu quem primeiro), são postos pra fora pela filha para resolverem o problema no estacionamento – e dão uma trepada vulcânica num dos carros.
A partir daí, é claro que os dois atuais cônjuges de Lilly e Danny entram em parafuso total. Ele é um psiquiatra, autor de livros de auto-ajuda; ela é uma decoradora. Os dois são pintados como os tipos mais pentelhos do mundo, assim como Keith, o jovem maridão de Molly. De outro lado, os personagens dos pais de Molly são apresentados como loucos, irresponsáveis, fora dos padrões de educação e comportamento aceitáveis entre os muito ricos – mas, ao mesmo tempo, tremendamente fascinantes. A figura do papparazzo que está sempre na cola de Lilly de repente é mostrado como interessante – e, bingo!, sabe-se no meio do filme que se seguirá um caso com a bobinha da Molly, que, apesar de bobinha, é uma gracinha e no fim provará que filha de peixe peixinho é.
E é por isso que falei que o filme é absolutamente irracional, ilógico: como seria possível que Lilly tivesse agüentado por 14 anos um pentelho tão insuportável como o marido psiquiatra? E igualmente como seria possível que Danny tivesse agüentado por 14 anos uma pentelha tão insuportável como a mulher decoradora? E como seria possível que a pobre Molly tivesse agüentado um pentelho tão insuportável quanto o yuppinho republicano babaca?
Mas então que graça ou encanto pode ter um filme que é irracional, ilógico e previsível?
Bem. Em primeiro lugar, as situações provocadas pelo renascimento da paixão entre os pais de Molly são, apesar de previsíveis, engraçadíssimas. Bette Midler, apesar das caretas, tem grande carisma. E, sobretudo, a gozação que o veterano Reiner faz em cima da caretice dos anos 90 é extremamente saudável, gostosa, hilária.
Como sempre confundo os Reiner, lá vai. O Carl Reiner, diretor deste filme, é o pai, nascido em 1922, veterano ator de comédias, que fez Cliente Morto não paga/Dead Men don’t wear plaid e outros com Steve Martin (All of Me e The man with two brains e The Jerk). Ou seja: nunca foi mesmo assim um diretor de filmes finos e muito matizados; é mais do tipo grosseirão, sem sutilezas, à la Mel Brooks.
Já Rob Reiner, o filho, nascido em 1947, ao contrário, é mais sutil, mais versátil; é o autor de comédias finas, woody-allenescas (Harry e Sally – Feitos um Para o Outro/When Harry Met Sally…) e dramas poderosos e de implicações políticas (Questão de Honra/A Few Good Man e Fantasmas do Passado/Ghosts in Mississipi).
Guerra dos Sexos/That Old Feeling
De Carl Reiner, EUA, 1997.
Com Bette Midler, Dennis Farina, Paula Marshall, Gail O’Grady, David Rasche, Danny Nucci
Roteiro Leslie Dixon
Produção Universal Pictures e The Bubble Factory
Cor, 105 min
**1/2
filme muitooo bom…nossa!!
vale a pena e muito assisti-lo,mas é dificil pra caramba achar…