As Filhas de Marvin / Marvin’s Room


Nota: ★★★☆

Anotação em 1997: Um drama pesado, forte, extremamente sensível, sobre relações familiares, envelhecimento, doença; um suave panfleto a favor da solidariedade, do diálogo, da compreensão, da aceitação. Com o brilho de duas atrizes extraordinárias, as duas em momento de rara sensibilidade.

Diane Keaton (nascida em janeiro de 1946, portanto com 50 anos quando o filme foi feito) e Meryl Streep (três anos mais nova, de junho de 1949) fazem duas irmãs totalmente diferentes uma da outra, com escalas de valores totalmente diferentes uma da outra, que passam 20 anos sem se verem, até que a mais velha descobre que está com leucemia e precisa de um transplante de medula – que em geral é compatível com a de parentes.

Bessie (Diane Keaton) é frágil por fora, forte por dentro; nunca se casou; o único namorado que teve, ainda na juventude, morreu afogado, diante dela; dedicou a vida a cuidar do pai, que teve mais de um derrame e agora está totalmente preso à cama, com só um restinho de lucidez, e da tia, também muito idosa. É uma pessoa abnegada, generosa, que sente profundo prazer por amar o pai e a tia e por poder cuidar deles, e uma mulher levemente tímida, que se veste de forma conservadora, tradicional.

Lee (Meryl Streep), ao contrário, é mais egoista, mais centrada em si mesma, preocupada com a carreira, ganhar dinheiro; está no momento da ação terminando um curso de cosmetologia; não dá muita atenção aos dois filhos, Hank (Leonardo DiCaprio), de 17 anos, totalmente carente e bastante desajustado, e Charlie, de uns 10, também desajustado, mas de uma forma mais introvertida, sempre lendo. Veremos lá pelo meio do filme, que Lee saiu de casa assim que o pai teve o primeiro derrame, pra cuidar de sua própria vida, para não passar a vida cuidando dos velhos. É em tudo o oposto da irmã, veste-se de uma forma vulgar, tem diversos relacionamentos afetivos rápidos e insatisfatórios.

Bem no lead, enquanto um médico um tanto desajeitado, dr. Wally (o gigante De Niro, em papel pequeno, apenas emprestando sua fama a um filme que rema contra a maré das violências, perseguições e outras bobagens; foi um dos três produtores executivos, com sua empresa, Tribeca), examina Bessie, na Flórida, Hank, em sua casa em Ohio, junta fotos da mãe e da família, recorta uma do pai, para guardar de lembrança, e põe fogo. Irá para um hospital para delinquentes juvenis.

Ao saber da doença da irmã, Lee vai com os filhos para a Flórida. O reencontro das duas irmãs, o impacto de uma sobre a outra, são mostrados de forma extremamente sensível. É bonita a forma como se mostra o inevitável nascimento de algum tipo de sensibilidade em Hank, ao conhecer a tia carinhosa e generosa.

 

Se você não viu o filme, não leia a partir de agora

 Eventualmente, o espectador saberá, já perto do fim do filme, que Hank idolatra o pai sem motivos (num movimento muito semelhante ao da personagem de Jennifer Jason Leigh de Eclipse Total). O pai batia nele, e, assim que nasceu o segundo filho, Charlie, a mãe, Lee, abandonou o marido; entende-se, só então, o porque a preocupação dela com o emprego, a profissão, o ganhar a vida, um esforço grande para uma pessoa de classe média média, sem qualificação profissional; ou seja: não que Lee seja uma pessoa má, egoista; ela apenas, no movimento de ganhar a vida para ela e os dois filhos sem pai, se perdeu e perdeu a noção das coisas, da importância do diálogo, da conversa, das demonstrações de afeto, que a irmã manteve sempre.

Bem no fim do filme, o espectador saberá também que os testes de laboratório revelaram que nem Lee, nem Hank nem Charlie podem doar parte da medula para salvar Bessie, que terá que enfrentar apenas o tratamento convencional, quimioterapia, com chance apenas de conseguir uma sobrevida de alguns poucos anos.

As Filhas de Marvin/Marvin’s Room

De Jerry Zaks, EUA, 1996.

Com Diane Keaton, Merryl Streep, Leonardo diCaprio, Robert De Niro, Hume Cronyn

Baseado em peça de Scott McPherson

Produção executiva Robert de Niro (Tribeca)

Cor, 98 min.

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