O Céu de Lisboa / Lisbon Story


Nota: ★★★☆

Anotação em 1996: Virou moda: a cada novo filme de Wim Wenders, a crítica desce o pau. Foi assim com Até o Fim do Mundo, foi assim com Tão Longe, Tão Perto, a continuação de Asas do Desejo, que eu perdi, e agora com este Lisbon Story. A crítica que vá à merda. O filme prossegue na catilinária de Wenders sobre a banalização das imagens, mas é um belo – embora propositadamente lento e sem qualquer ação, mas cheio de monólogos – manifesto de amor ao cinema no ano do seu centenário, à Europa unificada, à interligação entre culturas diferentes.

Manoel de Oliveira, o veteraníssimo diretor português, faz um monólogo sobre imagem e vida, e depois imita Carlitos numa ladeira de Lisboa. Um sósia de Fernando Pessoa aparece sem que o cineasta e seu atrapalhado mas competente engenheiro de som percebam. Há longas leituras de textos de Pessoa, e cenas inteiras dedicadas à beleza da música do Madredeus e de sua solista, Teresa Salgueiro. Wenders se apaixonou pelo Madredeus e o lançou para o mundo, esse conjunto extraordinário que canta nesta língua bárbara.

E essa fantástica integração com a trilha sonora não é novidade na obra de quem pegou todos os mais importantes conjuntos de rock/pop para tentar entender qual será o som no final da década e do milênio em Até o Fim do Mundo. Portugal também não é novidade na sua obra, pois esteve presente em O Estado das Coisas e no próprio Até o Fim do Mundo.

O alemão que recusa o passado nazista do conceito de raça superior faz o elogio da cultura do país mais pobre da nova Europa. E termina com uma moral otimista: não interessa que a imagem tenha sido banalizada, é preciso procurar a bela imagem no meio de tanta asneira produzida pela indústria cultural.

O Céu de Lisboa/Lisbon Story

De Wim Wenders, Alemanha-Itália-Portugal-França, 1995.

Com Rudiger Vogler, Patrick Bauchau, Madredeus, Manoel de Oliveira

Argumento e roteiro Wim Wenders

Música Madredeus

Cor, 100 min.

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