Para o Resto de Nossas Vidas / Peter’s Friends

4.0 out of 5.0 stars4.0

Anotação em 1995, com complemento em 2008: O filme segue aquela linhagem nobre de histórias que mostram uma reunião de velhos amigos, onde se passa a limpo o que aconteceu na vida de cada um, e se faz um painel de época.  

Um dos filmes mais expressivos dessa linhagem é Nós Que Nos Amávamos Tanto, de Ettore Scola, de 1974, que, através da história de quatro amigos, faz um afresco sobre quase meio século de Itália.

Não dá para saber se o diretor Kenneth Branagh, um grande talento que consegue filmar Shakespeare e logo em seguida fazer um dos grandes filmes de suspense de todos os tempos, Voltar a Morrer, viu Nòs Que Nos Amávamos Tanto e aprendeu com ele. Deve ter visto, certamente. Mas é garantido que ele bebeu na fonte de O Reencontro/The Big Chill, de Lawrence Kasdan, de 1983, em que vários amigos se reencontram para o enterro de uma pessoa do grupo e, durante um longo fim de semana, comparam suas experiências e examinam o que restou dos sonhos que tinham quando eram mais jovens e suas vontades, portanto, eram mais fortes.

Feito 12 anos depois, e do outro lado do Atlântico, o filme de Branagh tem um tema bem semelhante. O motivo da reunião dos bons amigos da juventude não é um enterro – é o aniversário de um deles, o Peter do título original, uma figura adorável, maravilhosa, rico, gordão, bonachão, bem humorado. Peter é interpretado pelo grande Stephen Fry, num elenco só de grandes atores ingleses – e não há outro país no mundo que tenha tantos grandes atores. (A mãe da extraordinária Emma Thompson, Phyllida Law, tem um pequeno papel como a empregada da gigantesca casa de Peter. Na época, Emma e Kenneth Branagh eram casados.)

Só bem para o final os amigos de Peter – assim como o espectador – saberão que, embora Peter seja um homem de bem com a vida, a vida não está bem para ele.

O clip de abertura do filme, jogando em rápidos flashes para o espectador o que aconteceu de mais importante na história de 1982, o ano do último grande encontro daqueles amigos, até 1992, o ano da ação, é brilhantíssimo; faz lembrar os clips que mostram a passagem do tempo em Tudo Bem no Ano Que Vem/Same Time Next Week, de Robert Mulligan.

É um daqueles filmes que me fazem dizer que o melhor cinema do mundo, na última década do século XX e nestes primeiros anos do novo século, é feito nas Ilhas Britânicas.

Para o Resto de Nossas Vidas/Peter’s Friends

De Kenneth Branagh, Inglaterra, 1992.

Com Kenneth Branagh, Emma Thompson, Rita Rudner, Stephen Fry, Hugh Laurie, Imelda Staunton, Alphonsia Emmanuel, Tony Slattery, Alex Lowe, Richard Briers

Roteiro Rita Rudner e Martin Bergmann

Produção BBC.

Cor, 101 min