O Seqüestro do Metrô 123 / The Taking of Pelham 123


Nota: ★★½☆

Anotação em 2010: Para quem gosta de filme de ação, é um prato cheio, este O Seqüestro do Metrô, dirigido por um especialista no assunto, Tony Scott, o irmão de Ridley mais chegado a uma adrenalina do que a um sentimento humano.

Fiz essa definição sobre Tony Scott depois de ver seu filme anterior, também estrelado por Denzel Washington, Déjà Vu, de 2006. É uma frase divertida, e então me permito usá-la de novo agora.

Déjà Vu tem um problema muito sério: carece de qualquer tipo de lógica. Nele, um agente do governo, interpretado por Denzel Washington, viaja no tempo para salvar a vida de uma mulher. A lógica das histórias em quadrinho aplicada a um filme teoricamente sobre pessoas normais, e não super-heróis.

Para seu projeto seguinte, parece que o diretor preferiu um terreno mais sólido, menos fantasioso: filmou uma história que já havia rendido dois filmes, os dois com o mesmo título original deste aqui, The Taking of Pelham 123. O primeiro deles foi feito em 1974, por Joseph Sargent, com Walter Matthau, Robert Shaw e Martin Balsam. O segundo foi feito para a TV americana em 1998, dirigido por um Felix Enriquez Alcala, com Edward James Olmos. Todos se baseiam num livro de John Godey.

Visual espetacular, grande elenco em boas atuações

Decisão acertadíssima, essa, de pisar em terreno sólido. Trabalhando com uma história já testada e retestada, Tony Scott se dá muito bem – até porque o domínio técnico, artesanal, para filmar cenas de ação, ele tem de sobra. O visual do filme é magnífico, espetacular.

Tem um monte de exageros – essa tendência cada vez mais presente no cinemão hollywoodiano, em especial nos filmes de ação, nos thrillers. Tem as inevitáveis perseguições de carros pelas ruas, aquele monte de batidas, tudo que parece constar do cardápio dos filmes atuais do gênero. 

O elenco, cheio de grandes nomes, está todo muito bem. Denzel Washington está ótimo como Walter Garber, um veterano funcionário do metrô de Nova York, que já passou por várias funções, chegou a ser diretor, mas naquele dia específico está trabalhando no centro de controle operacional, uma posição de fundamental importância mas abaixo, hierarquicamente, do que ele já havia sido. Calha de caírem na mesa dele as ligações do líder dos seqüestradores de um dos trens do metrô, um sujeito que se identifica como Ryder.

Não vi as versões anteriores da história, nem li o livro, e portanto não sei se o roteirista Brian Helgeland mexeu muito no desenho do personagem de Walter Garber. Mas o fato é que é um belo personagem, bem composto, e valorizado pela interpretação de Denzel. É fascinante a história ocorrida no seu passado que fez com que ele fosse rebaixado em suas funções – mas não teria sentido adiantar a história aqui, já que ela vai se revelando somente na metade do filme.

É igualmente bem construído o personagem de Ryder, o líder dos seqüestradores – e a interpretação de John Travolta só o engrandece. Sua história pessoal, que, só será plenamente revelada bem perto do fim da narrativa, é também muito rica.

John Turturro, outro grande ator, está ótimo como o experiente policial especializado em negociar com seqüestradores. Vi recentemente Turturro num papel em que ele exagera nas caretas, Segredos de Estado/Quelques Jours en Septembre – mas o papel, o de um assassino psicopata, era exagerado. Aqui, ao contrário, ele está contido, sério, eficiente.         

James Gandolfini faz um prefeito de Nova York que, ao contrário dos dois personagens centrais, é construído de maneira bem esquemática; é o protótipo da figura do político que aparece em vários filmes que aparentemente não conhecem a política – egoísta, desleixado, sem genuíno interesse em servir à população. Mas o personagem vai surpreender no seu gesto final.

Os diálogos – em especial aqueles entre o veterano funcionário do metrô e o seqüestrador – são ótimos, funcionam muito bem, e adicionam um pouco de inteligência no meio deste filme de visual caprichadíssimo.

É um filme que vale a pena ver – mesmo para quem não é especialmente chegado a um filme de ação.

Vejo na revista Studio CinéLive (que dá ao filme 2 estrelas em 5) a seguinte descrição: “um filme B estival testosteronizado”. Mas no final da curta resenha o francês diz que “o suspense funciona”.

O Seqüestro do Metrô 123 / The Taking of Pelham 123

De Tony Scott, EUA-Inglaterra, 2009

Com Denzel Washington (Walter Garber), John Travolta (Ryder), John Turturro (Camonetti), Luis Guzman (Phil Ramos), James Gandolfini (o prefeito)

Roteiro Brian Helgeland

Baseado no livro de John Godey

Fotografia Tobias Schliessler 

Música Harry Gregson-Williams

Produção Columbia Pictures, MGM e Relativity Media

Cor, 106 min

**1/2

7 Comentários para “O Seqüestro do Metrô 123 / The Taking of Pelham 123”

  1. Em termos de ação o filme é bom e muito bem feito, mas o roteiro deixa a desejar; eu não fiquei grudada na tela nem interessada em saber o que iria acontecer.
    Denzel Washington está bem, como sempre, mas o Travolta está over em várias cenas, em outras ele está correto e até me fez rir.
    Quem me chamou a atenção foi o John Turturro, que assim como você, achei que está ótimo.
    Do desfecho da história até o final, o roteirista perde a mão, colocando um personagem pra fazer algo que nem é do feitio dele, um herói de última hora. Sem falar em várias coisinhas inverossímeis. Uma delas é o papo bem nada a ver entre o casal de namorados adolescentes, pela internet. O carinha lá com a vida em risco, e a namorada querendo saber se ele a ama (e o pior é ele responder, mesmo correndo o risco de levar bala).

    Uma pena que o Tony Scott tenha cometido suicídio (a depressão não poupa ninguém). Vi vários de seus filmes, e Top Gun fez história. Sem falar que era produtor executivo junto ao irmão, de The Good Wife, a melhor série no ar atualmente.

  2. Eu sei que “junto com” é pleonasmo, mas pelo adiantado das horas e a preguiça eu quis fazer um remendo e coloquei “junto ao”, e acho que ficou tão feio quanto “junto com”. Shame on me!
    Então reescrevendo a frase:
    “Sem falar que era produtor executivo de The Good Wife, a melhor série no ar.”
    Tirei “o irmão” e o “atualmente” da jogada, pois acho que “no ar” e “atualmente” também é pleonasmo. Quem disse que português é fácil? Não é para amadores.

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